terça-feira, agosto 14, 2007

Vítimas do próprio sucesso

Tradução da Margarida:

Guardian Unlimited – Agosto 13, 2007 3:30 PM
Simon Tisdall

Timor-Leste mostra sinais de se desmoronar às mãos dos homens que lideraram a luta pela independência.

Esporádica violência de gang violações e ataques de fogos postos depois da nomeação de um novo governo em Timor-Leste enfatizaram a continuidade fragilidade do país oito anos depois da comunidade internacional, improvisando num tema desenvolvido por Tony Blair, ter intervido para pôr fim ao controlo Indonésio.

Tal como noutras notadas "intervenções humanitárias" no Kosovo e na Serra Leoa durante o mesmo período, Timor é um negócio seriamente não acabado – mas deixou de ter a atenção política que por um pequeno período fez dele uma causa celebre internacional. Como resultado, a agenda de construção da nação marcada depois da sua independência formal em 2002 mantém-se tão afastada como sempre, e pode ainda falhar.

Factores internos são apenas tão importantes. A sociedade Timorense está profundamente dividida não apenas entre o leste o oeste, o coração do movimento pré-independência da Fretilin contra a governação Indonésia, e as áreas do oeste. Apesar do potencial considerável dos rendimentos do petróleo e do gás assegurados por um acordo em 2006 com a Austrália, a maioria dos Timorenses permanece desesperadamente pobre, com 80% desempregados.

A língua é outra barreira. Tétum, a língua dominante local, rivaliza com o Indonêsio e o Português, agora designado, estranhamente, língua oficial de Timor.

As feridas do motim militar do ano passado e a violência subsequente e revelações políticas não se curaram ainda. De acordo com a ONU, cerca de 150,000 Timorense – cerca de 15% da população – foi desenraizada e muita gente ainda permanece assim. Esta crise formou um amargo cenário para as eleições legislativas em Junho.

A Fretilin emergiu com o partido com mais lugares mas foi-lhe usurpado o poder por uma coligação mais numerosa liderada pelo seu antigo comandante da guerrilha Falintil, Xanana Gusmão. O Sr Gusmão, o primeiro presidente de Timor-Leste, foi nomeado primeiro-ministro a semana passada pelo seu aliado e corrente presidente, José Ramos Horta.

Na sua tomada de posse o Sr Gusmão prometeu aproximar as divisões do país: "Nenhum partido político, nenhuma instituição, nenhum cidadão será excluído do processo político ... A primeira prioridade do novo governo é reganhar a confiança das instituições do Estado." Mas o líder da Fretilin, o antigo primeiro-ministro Mari Alkatiri, declarou que o novo governo é ilegal e anunciou um boicote parlamentar.

Apesar de o Sr Alkatiri ter condenado a violência relacionada com as eleições, incluindo ataques a pessoal da ONU e a tropas Australianas, a ONU pôs a culpa nos apoiantes da Fretilin. Até agora a Fretilin tem ignorado os apelos de ONG's e de observadores eleitorais para regressar ao processo político.

Conquanto os problemas de Timor já não preocupam directamente o Sr Blair e outros que viram a sua solução como essencial para uma nova ordem internacional, eles mantém-se como uma causa de preocupação em Canberra, o dador que lidera a ajuda bilateral. A Austrália tem ainda cerca de 1,000 tropas no país, parte da força internacional de estabilização de apoio à missão da ONU, e não há perspectiva de uma partida breve .

Greg Sheridan, o editor de assuntos estrangeiros do jornal Australian, acusou a Fretilin de responsabilidade pelo levantamento num comentário recente . "Os seus líderes dizem que não estão a ordenar nem mesmo a sancionar a violência. Mas estas foram multidões da Fretilin que se amotinaram e os líderes da Fretilin podiam ter parado os motins ... a Fretilin está a enfrentar um momento parecido com o Hamas. Deve decidir s é essencialmente uma milícia armada ou um partido político respeitável comprometido com a democracia."

A presente insegurança no processo político estava a minar tentativas para atrair investimento estrangeiro ou para desenvolver indústrias que criam postos de trabalho como o turismo, acrescentou o Sr Sheridan. A Austrália terá de ficar engajada durante muitos anos - ou arrisca ser testemunha de uma guerra civil.

Há outras maneiras de ver o envolvimento externo. A dependência crónica de Timor-Leste do apoio militar, numa estimativa d $3bn em ajuda estrangeira nos anos recentes, e numa espantosa série de missões da ONU (a quinta desde 1999, a Unmit, foi organizada no ano passado ) foi uma questão eleitoral quente, com muitos eleitores a perguntarem-se o que é que exactamente significava a duramente conquistada soberania.
De acordo com Loro Horta, escrevendo em Democracia Aberta, tais preocupações apontam para um dilema mais fundamental: o que ele chama "a perda de confiança do povo nos seus líderes até há algum tempo quase míticos ".

Tal como a Fretilin estava crescentemente a ser vista não como um movimento nacional mas um partido dominado por gente do leste, ele argumenta que:

"O próprio Xanana Gusmão - o até há pouco tempo líder de guerrilha reverenciado e pai da nação visto como um pilar da unidade nacional e da imparcialidade – sofreu também uma desmistificação significativa.

"Horta e Gusmão enfrentam as consequências de terem feito vários negócios e concessões para assegurarem apoios ... Podem manter-se como os políticos mais respeitados da nação, mas algum do prestígio deles foi severamente mordido pelas dificuldades dos anos pós-independência."

Em resumo, os homens que lideraram a luta pela libertação estão a lutar para assegurar a sua conquista – ao mesmo tempo que antigos apoiantes internacionais viram as costas e o vizinho gigante, a Indonésia,com uma longa memória, observa calmamente do outro lado da fronteira de 1999 .

Se falharem, não é claro quem ou o que é que se seguirá.

3 comentários:

Anónimo disse...

I am an Australian and I am reading a book by an Australian, J. Gert Vondra, Timor Journey, 1968. He writes:

Only one thing saved the Portuguese from complete expulsion from the East Indies: their enlightened and practical theory of racial integration. Afonso de Albuquerque, a Portuguese Royal wrote in the decades after the 1500, at a time when Dutch and English and not to mention Spanish excesses were ravaging the new world, and not so new world of Africa and Asia, "Colonies are not mere possessions to be exploited, together with their native inhabitants for the advantage of the colonising power. They are to be regarded as extensions of Portugal and the object to be aimed at , is that those who live in them, whatever their colour, should feel and believe themselves to be Portuguese; enjoy the same liberties and inspired by the same ideals, upholding the same traditions and governed by the same constitution. In such a conception, colour is nothing more than an accident."

I wish those who had found my land, Australis, would have been sp enlightened....but alas....I am left instead to listen to the incessant qinging and moaning from the Ex Pat Australian community in Dili about the Portuguese. The same racism their forefathers showed is exactly the reason they do not like the Portuguse as well. The Australians really feel superior to all fo you foreigners who are here in Timor-Leste....only they have the right to rule this country.

Anónimo disse...

ONU detém suspeito de violação em Timor
Público, 14.08.2007
Jorge Heitor
Jovem de 16 anos teria violado uma rapariga de 11 num orfanato mantido pelo convento salesiano de Baguia, em Baucau

A polícia das Nações Unidas e a de Timor-Leste anunciaram ontem ter detido um rapaz de 16 anos que é suspeito de ter violado, sexta-feira, uma rapariga cinco anos mais nova, aluna de um orfanato anexo ao convento salesiano de Baguia, no distrito de Baucau, parte oriental do país.

O representante especial do secretário-geral das Nações Unidas na cidade de Díli, Atul Khare, anunciou
que o suspeito ficará ao cuidado das autoridades judiciais, tendo sublinhando que "tais casos necessitam ser fortemente condenados".

A falta de segurança tem sido nas últimas semanas uma constante em parte do território timorense, designadamente nos distritos de Viqueque e Baucau, mas ontem não houve notícia de grandes incidentes, tendo-se vivido ainda no rescaldo dos incidentes da semana passada junto ao convento de Baguia.

Nas últimas 24 horas, duas viaturas da ONU foram apedrejadas perto do aeroporto de Díli, a capital, e um polícia ficou ligeiramente ferido, tendo sido detido um suspeito, a juntar a algumas dezenas de detenções efectuadas desde há uma semana.

Durante uma reunião que houve domingo em Baucau, a segunda cidade do país, a direcção da Fretilin, de Mari Alkatiri, avisou os seus militantes e simpatizantes de que os regedores das aldeias serão responsabilizados por qualquer acto de violência que se saiba ter ocorrido nas áreas sob a sua tradicional jurisdição.

No mesmo dia, em Viqueque, outros quadros do partido vencedor das legislativas de 30 de Junho pediram ao eleitorado descontente por não se ver representado no novo Governo que se comporte com civismo, acatando os conselhos que têm vindo a ser dados pelo Presidente, José Ramos-Horta, e pelo primeiro-ministro que este designou fez ontem uma semana, Xanana Gusmão.

A polícia da ONU, a sua congénere timorense e a Força Internacional de Estabilização, essencialmente constituída por australianos e neozelandeses, têm procurado controlar a situação, avisando toda a gente de que não deve viajar de noite para as zonas onde tem havido tumultos.

Devido à agitação com que em algumas zonas do país foi acolhida a tomada de posse do Governo de Xanana, milhares de pessoas das aldeias de Afaloicai, Babulo, Macadique, Matahoi e Uatamae, no distrito de Viqueque, fugiram para as montanhas, onde tanto existem florestas como grutas. Só na primeira daquelas povoações foram incendiadas 112 residências.

Também da área de Veninale, no mesmo distrito, fugiram mil pessoas, depois de meia centena de casas
ter ficado destruída, segundo os dados fornecidos por organizações humanitárias.
O representante da ONU declarou que serão as autoridades judiciais de Timor a encarregar-se
do adolescente

Anónimo disse...

Ramos-Horta desmente acusações da FRETILIN
Jornal de Notícias, 14/08/07

O presidente timorense, José Ramos-Horta, desmentiu, ontem, as alegações que lhe foram imputadas, anteontem, pela FRETILIN, partido maioritário, de que teria ameaçado de despedimento os funcionários públicos que participassem em manifestações antigovernamentais. Em comunicado enviado ontem à Comunicação Social, o gabinete do presidente da República desmente as acusações da FRETILIN e lamenta que aquele partido, vencedor das eleições legislativas de 30 de Junho, "tenha feito tais alegações (...) sem ter averiguado se teriam alguma veracidade".

As acusações da FRETILIN foram expressas num comunicado de Imprensa assinado pelo vice-presidente, Arsénio Bano, e pelo deputado José Teixeira. No texto, a FRETILIN manifesta ainda a sua disponibilidade para colaborar numa "investigação conjunta sobre a violência" registada nos últimos dias. A onda de violência avolumou-se com a escolha de Xanana Gusmão por Ramos-Horta para liderar o IV Governo Constitucional.

A FRETILIN, apesar de ter vencido as legislativas, elegeu apenas 21 dos 65 lugares do Parlamento, pelo que Ramos-Horta entendeu convidar Xanana Gusmão, indicado por uma coligação pós-eleitoral de quatro partidos, que garante a maioria absoluta no hemiciclo, com 37 assentos.

Depois de Díli, os confrontos estenderam-se ao Leste do país, tendo o incidente mais grave sido referenciado no sábado, em Baguia, junto ao orfanato dos Salesianos, em que uma menor terá sido violada.

A UNPOL, polícia das Nações Unidas, anunciou ontem que o suspeito do crime, um jovem de 16 anos, foi detido anteontem. Basílio Maria Ximenes, superior da ordem dos Salesianos, disse aos jornalistas que cerca de uma centena de timorenses participaram no ataque, afirmando que algumas alunas da escola foram violadas. "Estas pessoas, maioritariamente jovens, que consideram freiras e a Igreja Católica os seus inimigos, não só violaram as minhas alunas mas danificaram e destruíram a escola", disse. Atul Khare, chefe da missão da ONU em Timor-Leste, condenou o ataque, afirmando que qualquer pessoa considerada culpada deste tipo de crimes terá de responder perante a Justiça. O ataque foi um dos incidentes que marcaram os últimos dias no Leste do país onde já foram detidas dezenas de pessoas, destruídas cerca de centena e meia de casas e várias infra-estruturas públicas e privadas.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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