Público, 9/12/06
Por: Adelino Gomes
Recém-chegado de Díli, o comandante da companhia da GNR em Timor-Leste faz um balanço dos últimos seis meses de violência no país. Os timorenses encontram-se divididos e isso contrasta com a unidade que ali encontrou na sua primeira missão, há seis anos. Recentes iniciativas de diálogo entre políticos - opina - indicam que se pode estar num ponto de viragem.
Por Adelino Gomes (texto) e Nuno Ferreira Santos (foto)
Só nos próximos dias - duas semanas depois do seu regresso a Portugal - é que o comandante do contingente da GNR em Díli, entre Junho e Novembro, vai gozar férias com a mulher. Depois de seis meses de intensa actividade operacional (a unidade registou mais de 350 acções), Gonçalo Carvalho foi ainda solicitado a deslocar-se a Bruxelas, para explicar a forma como a GNR se organiza em teatros como o de Timor-Leste. Na revista Pública de amanhã, a faceta mais pessoal deste capitão de 32 anos, natural de Alpiarça e residente no Montijo, com duas missões em Timor-Leste e uma no Iraque e o Euro 2004 no seu currículo de comandante operacional da GNR.
PÚBLICO - Acaba de chegar de Timor-Leste. Como está aquilo?
GONÇALO CARVALHO - Muito mais calmo. No entanto, existem agora acções esporádicas mais violentas.
PÚBLICO - Quer dizer o quê, isso?
GONÇALO CARVALHO - Que eles se vão adaptando conforme a actuação das forças. Qualquer grupo que se dedique ao crime procura estar sempre um passo à frente das forças de segurança.
PÚBLICO - Acha mesmo que se trata de criminosos? Ou não serão antes pessoas politicamente motivadas?
GONÇALO CARVALHO - Estou convencido de que são grupos de jovens que se dedicam à violência porque não têm qualquer ocupação. Acredito que parte seja também motivada por outros factores, entre eles um incentivo à violência vindo, se calhar, de outros grupos. A base são grupos de artes marciais, onde sempre existiu esse espírito de confronto.
PÚBLICO - Mas os grupos de artes marciais não usam armas de fogo.
GONÇALO CARVALHO - Há diferentes ameaças: grupos de jovens ligados às artes marciais; acções de vingança - pessoais, familiares, históricas; e grupos constituídos por peticionários ou ex-polícias. Estes são os mais perigosos, ainda que menos activos. Permanecem como uma ameaça latente. O grupo de Alfredo Reinado, embora controlado pelas forças australianas, está armado.
PÚBLICO - Não acha ridículo que três mil homens armados não consigam prender um major com 10 ou 15 homens com uma bazuca e umas metralhadoras?
GONÇALO CARVALHO - Tenta-se fazer um equilíbrio a nível da sociedade, para que não haja um grande choque, e aguardar os acontecimentos.
PÚBLICO - O recente assassínio de um pastor evangélico brasileiro marcou o início da caça ao estrangeiro?
GONÇALO CARVALHO - Não acredito que tenha sido uma acção contra estrangeiros. Ele foi apanhado num incidente de grande violência, tinha aspecto de timorense e falava muito bem tétum. Apesar de haver uma versão que diz que na altura gritavam "australiano! australiano!", alguém atirou um dardo, mas penso que não foi propositadamente contra um estrangeiro. Acções contra viaturas (por exemplo, à noite) penso que não devem ser consideradas como especificamente dirigidas contra estrangeiros, pois com os faróis dos carros não é fácil distinguir quem vem lá.
PÚBLICO - A GNR esteve primeiro, com comando próprio; depois, dependeu, numa relação tensa, dos australianos; e finalmente foi integrada na ONU. O que é que resultou melhor?
GONÇALO CARVALHO - (Longa pausa) É possível trabalhar em todas as situações. Depende dos parceiros. Inicialmente, não foi fácil trabalhar com os australianos. No entanto, conseguimos criar uma estrutura de coordenação que funcionou perfeitamente. Quando integrámos as Nações Unidas (NU), estávamos a trabalhar [com os australianos] quase na perfeição. Trabalhar nas NU não é difícil mas requer alguma adaptação e o seu tempo - estamos a falar de mais de 20 países, com culturas diferentes. Não há a solução ideal. Dizem que para uma estrutura militar funcionar tem de haver um só comando. Nós provámos, na primeira fase, que não.
PÚBLICO - Já tinha estado em Timor entre 2000 e 2002. Quais as diferenças?
GONÇALO CARVALHO - A grande diferença é que neste momento existe uma divisão na sociedade timorense. Desde o início da crise, morreram pessoas devido à confrontação entre lorosae e loromunu. Penso que demorará alguns anos a resolver se não for rapidamente sanado. O nível de violência é também superior. Na primeira missão sentia-se que todos - timorenses e internacionais - estavam a trabalhar para colocar de pé um país novo; agora não, precisávamos de andar a reprimir confrontos. Mas a GNR não se dedicou só à actividade operacional: distribuímos toneladas de alimentos, oferecidos pela Fundação Oriente; a nossa equipa médica prestou apoio às populações; demos sangue, a pedido do hospital; organizámos eventos desportivos.
PÚBLICO - Notaram diferenças entre os timorenses de Díli e os outros?
Não se sente o problema, fora de Díli. As pessoas querem fazer a sua vida normal e contentam-se com muito pouco. Querem viver em paz. O problema de Timor-Leste, de qualquer maneira, é mais global. É preciso dar melhores condições a nível do emprego, do saneamento básico e ao mesmo tempo deixar sarar as feridas.
http://jornal.publico.clix.pt/noticias.asp?a=2006&m=12&d=09&uid=&id=111488&sid=12299
O país está numa fase de viragem
Público, 9/12/06
Por: Adelino Gomes
O diálogo promovido pelo Governo entre os timorenses está a resultar, sustenta o ex-comandante da GNR em Timor-Leste.
PÚBLICO - Antes de a força portuguesa chegar, dizia-se: "Logo que se saiba que a GNR chegou, isto acaba." Não acabou. Houve um fracasso da GNR?
GONÇALO CARVALHO - Se considerarmos que havia violência generalizada, pilhagens por toda a cidade, um sentimento de impunidade, veremos que a GNR fez muito. A GNR tinha 90 operacionais, era impossível cobrir tudo, 24 horas por dia. Além disso, a GNR tinha uma missão partilhada com outras forças. Agora, estamos numa fase de viragem.
PÚBLICO - Em que sentido?
GONÇALO CARVALHO - Houve diálogo entre os políticos, promovido pelo Governo, que tem resultado, e está constituída, praticamente, a estrutura da polícia das Nações Unidas, UNPOL. O processo de triagem da Polícia Nacional também está a avançar. Quando regressei, havia já 150 a trabalhar com as patrulhas das NU. A vantagem dos polícias timorenses nas ruas é óbvia: eles sabem quem é quem, conhecem os locais, a cultura e falam o tétum, naturalmente, além de conhecerem o inglês e o bahasa indonésio, que é a língua usada também pelos polícias da Malásia. E há o sentimento dos timorenses, ao verem que há também polícias seus na rua.
http://jornal.publico.clix.pt/noticias.asp?id=111487&sid=12299
sábado, dezembro 09, 2006
O problema de Timor demorará anos a resolver, se não for rapidamente sanado
Por Malai Azul 2 à(s) 19:18
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
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