segunda-feira, setembro 11, 2006

A remoção de Mari Alkatiri

Tradução da Margarida.

Vannessa Hearman

O Major Alfredo Reinado e outros 56 escaparam-se da Prisão de Becora em Dili em 30 de Agosto. Nesse dia, uma reportagem de David O’Shea e John Martinkus na Dateline da SBS alegou ligações entre o Presidente Xanana Gusmaão e os desertores militares Reinado e Comandante Railos.

Reinado liderou um bando de desertores em Maio depois de tiros numa manifestação de protesto ao tratamento de soldados do oeste do país. Reinado tornou-se vocal na exigência da resignação do então Primeiro-Ministro Mari Alkatiri. Foi preso por posse ilegal de armas em 26 de Julho.

A Railos foi dado tratamento de estrela na reportagem de Liz Jackson, Four Corners na ABC para testemunhar que Alkatiri conhecia a existência de esquadrões de ataque da Fretilin. Não foram feitas acusações contra Alkatiri relacionadas com esta alegação.

Martinkus e O’Shea argumentaram que por detrás da remoção de Alkatiri em Julho está uma embaraçosa rede de interesses domésticos e internacionais. Alegam que as preparações para um golpe político para remover o governo da Fretilin começaram antes da crise violenta de Maio-Julho Dili e que para o final do ano passado o chefe das Forças Armadas Taur Matan Ruak e o altamente respeitado ex-comandante das Falintil Falur Rate Laek foram contactados por Timorenses e estrangeiros falantes de Inglês, possivelmente Australianos ou dos USA, para remover o governo.

Dateline detailhou os esforços da Igreja Católica para remover o governo da Fretilin porque a Fretilin estava “completamente alheia e separada das raízes das nossas realidades culturais, sociais e históricas”. Líderes da igreja e subscritores da carta de Abril de 2005 enviada para o Presidente do parlamento, argumentando para a remoção de Alkatiri, recusaram ser entrevistados. Comandantes de alto nível militar também relataram serem encorajados por líderes da igreja para remover Alkatiri.

No magazine online New Matilda, Martinkus realçou a existência de uma nota escrita à mão por Gusmão datada de 29 de Maio dando instruções a Reinado para onde ele e os seus homens se deviam instalar com a chegada das tropas Australianas. Tal como os líderes da igreja, também Gusmão recusou ser entrevistado pelo Dateline.

Martinkus e O’Shea também sugeriram que o líder do Partido Democrático Fernando de Araújo contava com o apoio do antigo operacional das Forças Especiais da Indonésia Rui Lopes e do antigo líder das milícias Nemecio de Carvalho. O Partido Democrático organizou algumas das mobilizações anti-Alkatiri e fez circular alegações de sepulturas de massas feitas pelas forças do governo.

Dateline relatou que Railos e Reinado estiveram envolvidos em provocar e iniciar confrontos armados em Fatu Ahi e Taci Tolu. Reinado abriu o fogo em Fatu Ahi, o que foi captado em câmara por O’Shea para a SBS.

O Procurador-Geral Timorense Longuinhos Monteiro confirmou que se tinha descoberto que Railos tinha começado um confronto armado em Taci Tolu nos subúrbios oeste de Dili.

Também se descobriu que o Comandante da Polícia Paulo Martins entregou armas a polícias da unidade da reserva em Liquica, Aileu e Dili — três distritos com uma grande concentração de forças anti-Fretilin. Estas armas ainda não estão completamente computadas.

Ao contrário da fanfarra que recebeu a Four Corners da ABC TV quando emitiu as alegações de Railos, os relatos da Dateline focaram-se na ameaça de Reinado para disparar contra alguém que tentasse recapturá-lo. Num telefonema para O’Shea, que passou na Dateline em 6 de Setembro, Reinado indicou a sua insatisfação com o modo como está a ser tratado pelo governo de José Ramos-Horta, sugerindo que o seu papel foi crucial para a mudança no topo.

Alkatiri concluiu que a sua postura independente sobre os recursos do petróleo e do gás no Mar de Timor poude ter levado a tentativas para o remover do interior e do exterior do país. Disse à Dateline, “O único primeiro-ministro no mundo que me estava realmente 'a avisar’ quote-unquote, para sair, foi o primeiro-ministro da Austrália”.

Da Green Left Weekly, Setembro 13, 2006.

1 comentário:

Anónimo disse...

Alkatiri tinha 10 armas em sua casa e nao foi detido. As forcas internacionais em Timor nao tem qualquer credibilidade incluindo a GNR.
Esta visto que a lei so se aplica a alguns e nao a outros.

"todos os animais sao iguais, mas alguns sao mais iguais que outros"

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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