sábado, agosto 12, 2006

Timor-Leste precisa de paz

Tradução da Margarida:


The Guardian 9 Agosto, 2006
Alex Tilman

Sou um membro da FRETILIN, o maior partido político de Timor-Leste. Fui recentemente nomeado o seu porta-voz em Melbourne. A FRETILIN tem também a maioria no Parlamento de Timor-Leste, com 55 dos 88 lugares.

No ano passado, os candidatos da FRETILIN tiveram em média cerca de 80 por cento dos votos nas eleições locais democráticas por todo o país, assim pode ver-se que, apesar dos problemas que o nosso povo enfrenta, ele respeita e confia na FRETILIN.

Portanto a FRETILIN não pode ser subestimada ou posta de lado quando se procura um futuro para Timor-Leste e para soluções dos tristes eventos que vimos desenrolaram-se nas últimas semanas.

Agora Timor-Leste precisa de paz na sua capital, Dili; precisa de assistência humanitária para muita gente que vive deslocada e precisa de assistência para reconstruir as casas e negócios destruídos pelos amotinados anti-governo.

Peço-lhes, mais uma vez, que ajudem o povo de Timor-Leste que teve de fugir das suas casas nos tumultos que agitaram Dili nas últimas seis semanas. Não precisamos da sua ajuda para sempre, mas precisamos dela agora.

Estes eventos são um recuo terrível para Timor-Leste, mas podem ser ultrapassados e podemos voltar ao trabalho duro de construir um país forte e vibrante.

Primeiro de tudo, precisamos de todos os líderes de Timor-Leste — FRETILIN, nosso Presidente Xanana Gusmão e Ministro Ramos Horta, os líderes da igreja e os líderes de todos os outros partidos políticos e organizações — para apelar ao fim da violência de modo a que o parlamento se possa reunir tão cedo quanto possível para que um novo Primeiro-Ministro possa ser nomeado de acordo com a constituição e o governo possa aprovar o Orçamento de 2006/2007 previsto ser votado em meados de Julho. (Nota: este artigo foi escrito antes da nomeação de Ramos Horta como Primeiro-Ministro)

Devemos unirmo-nos para mostrar ao mundo que juntos podemos restaurar a paz e a segurança e realizar as nossas eleições nacionais no princípio do próximo ano em paz e no respeito pela democracia.

Manifestações violentas não são a maneira para resolver problemas políticos. A FRETILIN está comprometido com o povo decidir quem está no governo pelo voto, não pela violência ou intimidação.

Nos últimos dias, os membros e apoiantes da FRETILIN vieram pacificamente à capital apelar ao Presidente Xanana Gusmão para não ignorar a FRETILIN na busca da solução para a crise. Este é o modo de mostrar sentimentos políticos, não com tumultos.

Contrastemos o seu comportamento [dos manifestantes da FRETILIN] com os manifestantes anti-governo que mataram, queimaram e pilharam em Dili nas últimas passadas semanas. Nem um edifício foi queimado pela FRETILIN e nenhum gang de ladrões rugiram nas ruas. Viemos a Dili mostrar a nossa força e o nosso compromisso com a constituição e para acabar a violência através de meios pacíficos e constitucionais.

Penso que Mari Alkatiri mostrou real liderança ao sair de Primeiro-Ministro. Pessoalmente, penso que as histórias de que ele armou um esquadrão de ataque não são verdadeiras, mas deixemos que a investigação prossiga e deixemos que prevaleça a regra da lei.

Mas façamos que todos os que quebraram a lei, que todos os que mataram ou queimaram ou pilharam, as pessoas que aterrorizaram os seus vizinhos e visaram os meus amigos, os membros e líderes da FRETILIN, sejam chamados à responsabilidade, para que todos em Timor-Leste saibam que a violência é respondida com a justiça.

E deixemos que o inquérito da ONU às queixas dos soldados desde Abril prossiga de modo pacífico, e que não se tente resolver os nossos problemas ou mudar Primeiro-Ministros estimulando a violência. E então o governo, juntamente com o nosso Presidente e ministro da Defesa e dos Estrangeiros, pode responder e consertar os problemas que a investigação encontrar.

Activos para gerações futuras

Mari Alkatiri fez um bom trabalho na negociação do tratado do petróleo e gás do Timor Gap com a Austrália. Certo que ele regateou duramente para o seu país, mas valeu a pena. Temos agora o Fundo de Petróleo de Timor-Leste que recebe 90 por cento de todas as royalties, investidas num continuado, crescente activo para as gerações futuras. Vale correntemente mais de US$500 milhões e cresce rapidamente.

Timor-Leste é um país pobre. Lembremo-nos que começámos em 1999 com virtualmente nada — a maioria das infra-estruturas e muitas, muitas casas tinham sido destruídas. O Orçamento deste ano, que está previsto este mês, será de mais de US$230 milhões. É o começo do resultado do trabalho dos últimos seis anos.

Sei que soa a muito pouco em termos Australianos, mas viemos de muito longe e o governo trabalhou bem e construiu bons alicerces.

E tenho orgulho em dizer que Timor-Leste é o único terceiro país no mundo SEM dívida estrangeira.

O governo anunciou recentemente educação pública grátis desde 1 de Julho deste ano. Temos cuidados de saúde grátis que estão agora a ser estendidos a todo o país, graças em parte aos 250 médicos Cubanos que chegaram no princípio deste ano. Nalguns locais é a primeira vez que as pessoas tiveram acesso a um médico. E o orçamento deste ano inclue fundos para providenciar uma refeição quente grátis diária a cada estudante das escolas públicas em Timor-Leste, uma maneira fantástica de espalhar a riqueza por todo o país, especialmente dado o facto de metade da população de Timor-Leste ter menos de 14 anos de idade.

Esta política tem outras consequências porque o governo pagará às mulheres para cozinharem e servirem as refeições. Comprarão os ingredientes nos mercados locais e assim o dinheiro irá parar às algibeiras dos agricultores locais por todo o país. É uma grande ideia e não é a única do governo.

A FRETILIN cometeu erros e está pronta a aprender com o que aconteceu nos últimos meses e a fazer as mudanças que forem necessárias para consertar os problemas.

Deixei Timor-Leste com a minha mãe e irmã em 1990 e viemos para Melbourne em 1992. A primeira vez que regressei a Timor-Leste foi no princípio de 1999 e no final de 2001 regressei para trabalhar como intérprete/tradutor da Unidade de Investigações dos Crimes Sérios, da ONU. Desde então tenho feito visitas regularmente e espero regressar a Timor-Leste para trabalhar, mais tarde, neste ano.

Tenho orgulho no meu país e no meu partido, a FRETILIN. Trabalhámos no duro e temos muito mais trabalho para fazer, ao lado de todos os que querem construir o nosso país e que, como nós, não querem o regresso de vivermos com medo.

(De uma conferência de imprensa por Alex Tilman em Melbourne, 2 de Julho, 2006.
Alex Tilman, juntamente com David Wenham, teve um papel importante na ABC TV mini-series Answered by Fire, acerca do referendo de 1999 em Timor-Leste.)

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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