Tradução da Margarida:
Observação e cronologia da crise de Timor-Leste em 2006 (VIII)
Análise dos Media Timorense e Regional (CONT)
Março 2006
Em 1 de Março, o deputado António Ximenes apoia o criticismo dos soldados sobre a equipa de investigação e acusa o Presidente Gusmão de usar a estratégia errada com os soldados. O Departamento da Defesa Australiana diz que os seus formadores se mudaram de Metinaro para Dili.
Em 2 de Março, o Vice-Presidente do partido KOTA, o deputado Clementino Amaral disse que se os soldados objectaram ao painel de investigação deviam apresentar as suas queixas por escrito à autoridade própria. Opõe-se a um 'diálogo nacional' para resolver o problema.
O Coronel Lere diz que os soldados ausentes não mais serão pagos se não regressarem a Metinaro até Quarta-feira. O Tenente Salsinha nega que os soldados se estão a amotinar contra os seus comandantes, somente a protestar por erros na recruta e nas promoções.
A 3 de Março, o Primeiro-Ministro Alkatiri falou aos media acerca do seu encontro semanal com o Presidente no dia anterior. A questão principal foi a disputa nas F-FDTL, e o Presidente Gusmão pediu para haver representantes do governo e do parlamento na comissão de investigação.
Os representantes do governo lidarão com aspectos políticos, os oficiais militares com aspectos técnicos. Alkatiri disse que o uso do 'leste-oeste' não dividirá a FRETILIN, mas dividirá o Estado e a constituição, e foi um grande erro. O Coronel Lere tem declarado que alguns partidos políticos estão envolvidos na disputa dos soldados, mas não disse quais. Os deputados do PSD e da ASDT objectaram. A deputada do PSD Maria Paixão diz que o seu partido está confiante que os comandantes militares resolverão a questão. A Associação dos Advogados de Timor-Leste apelou ao envolvimento da ONU na comissão de investigação, que deveria ser composta pelo Presidente, as igrejas, a ONU e conselheiros internacionais.
O Ministro dos Estrangeiros Horta está nos USA e Europe, discutindo a nova missão da ONU em Timor-Leste e também a sua possível candidatura a Secretário- Geral da ONU.
O Tenente Gastão Salsinha agora reclama que 593 soldados estão envolvidos nos protestos sobre promoções e condições de emprego. O governo pensa que são 403. O Presidente Gusmão escreveu ao comando das forças armadas exigindo a rápida restauração da disciplina. Os formadores militares Australianos retiraram-se para a Austrália e o Programa de Apoio da Defesa foi suspenso.
Em 4 de Março, Lu-Olo declarou que não haverá golpe de Estado porque o povo não quer outra guerra. Discorda com Taur Matan Ruak acerca do envolvimento dos partidos políticos, e diz que têm de ser as próprias forças armadas a resolver o problema, não elementos políticos.
Os Membros do Conselho Superior da Defesa e da Segurança Gregório Saldanha e Paul Assis declararam que os soldados das F-FDTL que têm sido investigados não têm sido sujeitos a qualquer intimidação e que declarações nesse sentido são simplesmente rumores. Os dois confirmaram que até à data foram investigadas dezassete pessoas, mas que as investigações estão suspensas correntemente porque alguns soldados não regressaram aos seus quartéis. O processo pode demorar outro mês.
Disseram que não há perigo de golpe. Lu-Olo diz que a crise não afectará as eleições de 2007 porque é um problema no interior das forças armadas, não é um problema politico.
Em 4 de Março, o Primeiro-Ministro Alkatiri é relatado ter dito em Liquica que alguns estrangeiros e alguns partidos têm esperança de dividir a FRETILIN no seu Congresso de Maio. Anotou que se tem sentado muitas vezes com Mário Carrascalão (PSD) e assinado muitas propostas juntamente com ele mas no fim a oposição vota contra, realçando que na realidade eles não querem o desenvolvimento mas sim que a FRETILIN forme um governo de unidade nacional. É também relatado ele ter dito que não se envolverá pessoalmente na disputa dos soldados visto que a petição original não o mencionava. Por isto foi bastante criticado pelos deputados Xavier do Amaral (ASDT) e Leandro Isaac, que avisaram que podia haver más consequências se a disputa correr mal. A FRETILIN respondeu que o Primeiro-Ministro não pode intervir em cada questão e que as forças armadas têm de resolver este problema.
O Presidente Gusmão está de partida para Portugal e África, regressando em 28 de Março.
Em 8 de Março, o Ministro do Interior Rogério Lobato comentou sobre a falta de líderes do calibre de Alkatiri e Lu-Olo, e diz que a FRETILIN precisa de desenvolver a próxima geração. Ele não contestará a liderança no próximo Congresso.
Em 10 de Março, o Presidente Gusmão disse que não se apresentará a um segundo termo como Presidente. O ministro dos estrangeiros disse que tem encorajado Gusmão a concorrer outra vez. Muita gente quer que Horta concorra se Gusmão não o fizer.
O Primeiro-Ministro Alkatiri argumenta que não é porque não queira resolver a disputa dos soldados, mas porque existe uma comissão estabelecida para o fazer, e que nem o Presidente nem o Primeiro-Ministro devem estar nela, porque isso é demasiado centralista. Pensa que os soldados que não percebem o que é estar nas forças armadas se devem retirar.
Entretanto o Tenente Salsinha diz que é só um rumor que os peticionários se juntarão à Polícia e em particular à Unidade de Patrulha da Fronteira. Diz que são patriotas.
O de putado do PSD Riak Leman começa por criticar o despedimento dos 400 soldados por ser mau para futuros recrutamentos. O comentador Aristides Alfonso diz que o Presidente Gusmão não tentou realmente resolver a questão, que podia ter feito se despedisse os instigadores e desse ordens à maioria para regressar ao trabalho.
O Coordenador do CPD-RDTL Antonio “Aitahan Matak” foi relatado ter dito que os 400 não sabiam o que era disciplina militar, e que nenhumas forças armadas no mundo podiam autorizar o que aconteceu fosse num Estado capitalista ou comunista.
Entretanto o PD anuncia que se ganhar as eleições de 2007 nomeará os Bispos de Dili e Baucau como conselheiros.
No fim de semana, realizou-se a Conferência de Distrito da FRETILIN em Oecussei. O Secretário-Geral da FRETILIN, Mari Alkatiri, é relatado ter dito que ter um partido grande significa que os escolhidos para liderar devem ser conscienciosos e terem perspectivas claras para avançarem. Lembrou aos participantes que o papel da liderança durante a guerra acabou e que os seleccionados devem ser as pessoas correctas para o tempo próprio, acrescentando que um bom comandante durante a guerra não é necessariamente um bom ministro ou qualificado para se tornar Presidente ou Secretário-Geral de um partido. Alkatiri acrescentou que um grande partido tem a responsabilidade de fortalecer a paz, estabilidade e democracia para a nação. Oecussei. Foi a última das conferências de distrito de preparação para o congresso nacional marcado para Dili em meados de Maio.
Em Oecusse, o Primeiro-Ministro Mari Alkatiri lançou a primeira pedra para a construcção do hospital regional para Oecusse. O projecto, a RTTL relatou, vale cerca de US$3.1 milhões. O Prime Ministro também inaugurou alguns centros de saúde nessa região.
Em 14 de Março foi relatado que o Ministro do Ambiente Abel Ximenes contestará o posto de Secretário-geral da FRETILIN com Mari Alkatiri.
Durante a semana de 14 de Março há muitas reportagens nos media sobre o significado do relatório do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas sobre Timor-Leste, em particular sobre se o governo ou a alta taxa de nascimentos é responsável pela pobreza crescente. O governo realça uma expansão maior do orçamento para 2006-07, com o objectivo de atingir uma taxa de nascimento de 6%, para responder a esses desafios.
Em 16 de Março, o Comandante Taur Matan Ruak diz que relatará no dia seguinte no Parlamento sobre a disputa das F-FDTL. O seu relatório dirá que a investigação já decorre há mais de um mês e os soldados não querem resolver a questão porque não participam no processo de investigação.
O deputado Leandro Isaac pede ao Ministro da Defesa Roque Rodrigues para resignar porque não consegue manter a disciplina nas forças armadas. Outros media relatam que Ruak despediu os soldados e que o seu salário será cancelado desde 1 de Março. O Coronel Lere é relatado ter dito que a ausência dos soldados dos quartéis é ilegal e que por isso é legal despedi-los. O Tenente Salsinha é relatado ter dito que o despedimento é errado porque não se lidou com as queixas deles.
No dia a seguir, o Comandante Taur Matan Ruak diz que não pode haver compromisso na decisão de despedir os 594 soldados, nem mesmo pelo Presidente Gusmão. Disse que eles foram despedidos por não terem regressado aos quartéis, e não por terem assinado uma petição. Disse que as forças armadas eram compostas de voluntários. Explicou que recebeu uma petição anónima em 11 de Janeiro e que o Presidente lhe escrevera para ele resolver o assunto tão depressa quanto possível. Ruak convocou uma reunião de sargentos e soldados em Baucau em 2-3 de Fevereiro, mas alguns soldados disseram que somente o Presidente podia resolver o assunto. Respondera que isso tinha de ser resolvido no interior das forças armadas. Quando regressou a Dili em 4 de Fevereiro, muitos dos soldados tinham fugido de Baucau e Metinaro para organizar o protesto em 8 de Fevereiro.
Em termos largos, a decisão de Matan Ruak é apoiada publicamente pelo Primeiro-Ministro e o Ministro dos Estrangeiros. É também apoiada criticamente pelo deputado do PSD Riak Leman. O advogados dos Direitos Humanos Adérito de Jesus diz que acredita que o Presidente Gusmão, como Comandante Supremo, conhece e apoia a decisão. O Primeiro-Ministro diz que foi consultado sobre a decisão e que concorda com ela. O antigo comandante da FALINTIL para a Região III, Cornelio Gama aliás L-7, também apoia a decisão e condena fortemente a conversa da divisão leste-oeste. Acusa alguns líderes de tentarem destruir as F-FDTL. A deputada do PSD Lúcia Lobato apelou a L-7 e a alguns comandantes das F-FDTL para indicarem os nomes dos líderes políticos envolvidos.
Em 21 de Março, Matan Ruak e Horta comentam a necessidade do recrutamento par substituir os soldados despedidos.
Em 22 de Março, Deputados da FRETILIN votaram para remover Xavier do Amaral da ASDT do posto de vice-Presidente do parlamento, depois dele ter declarado que, “Se escolhemos uma pessoa islâmica para governar esta nação, isso significa que somos anti-Cristo”. O deputado Francisco Branco (FRETILIN) disse que a declaração de Amaral é racista, anti-democrática e inconstitucional. “A decisão é justa porque a nossa nação é baseada no pluralismo, e não discriminamos com base na raça, religião ou classe. Um líder duma instituição soberana está a saltar sobre a nossa constituição”.
Em 23 de Março, o Presidente Gusmão regressou mais cedo do que o previsto, e foi-lhe fornecida segurança pesada do aeroporto para a cidade. O Tenente Salsinha disse que o seu grupo esperava pacientemente pelo regresso do Presidente para resolver os problema deles.
Tarde nesse dia, o Presidente fez um discurso à nação no qual declarou que o despedimento dos soldados como 'errada' e 'injusta', criticou Taur Matan Ruak e o Ministro de Defesa Roque Rodrigues, pelo falhanço em lidar com os soldados, e depois reafirmou que os soldados estavam despedidos e deviam procurar outros empregos.
Durante o fim de semana de 25-26 de Março, houve distúrbios em oeste de Dili, sete pessoas foram presas, e 16 casas estragadas. Dois dos soldados peticionários estavam entre os presos.
Os rumores eram muitos. O Primeiro-Ministro regressou duma visita ao Japão no fim de semana e reconfirmou o seu apoio à decisão de despedir os soldados, a quem congratulou por mostrarem disciplina e se manterem em paz. Pediu às pessoas para se manterem calmas, e não permitirem a repetição do incidente de 4 de Dezembro de 2002.
O advogado Adérito de Jesus disse que as instituições principais, a Presidência, o Governo e o Parlamento Nacional não tinham mostrado maturidade politica para resolver o problema e agora o país estava preocupado.
Na Terça-feira, 28 de Março, o Chefe da Polícia Paulo Martins disse que Dili permanecia tensa, e que duas pessoas foram feridas com gravidade no Sábado anterior. A deputada do PSD Lúcia Lobato quer chamar o Comandante Taur Matan Ruak ao parlamento para explicar a diferença entre o seu relatório e o discurso do Presidente. Há pânico em Comoro causado por gangs usando a questão 'leste-oeste', e 61 pessoas refugiaram-se na igreja de Comoro.
Entretanto em Liquica, o Primeiro-Ministro falou à Polícia para dizer que não seria autorizada a instabilidade, lembrando como a polícia tinha gerido bem os protestos da igreja em Abril – Maio de 2005. Joaquim Fonseca da Yayasan Hak também declarou que Dili estava tensa.
Sonny Inbaraj da Internews relatou que os 600 soldados fariam um protesto em Dili nesse dia, exigindo que o Presidente os demitisse formalmente, Não aceitam a demissão verbal por Taur Matan Ruak. Inbaraj disse que se o Presidente não dissipasse a questão num dia ou dois, a situação podia 'explodir'. O protesto não se materializou, e Inbaraj mais tarde disse que foi adiado, mas tornou a declarar que a cidade estava tensa, as ruas desertas, e gangs de jovens prontos para causar problemas para o governo.
Em 29 de Março, um oficial de polícia da Unidade de Resposta Rápida foi esfaqueado com gravidade e roubaram-lhe a pistola quando ele visitava uma casa em Dili.
O deputado Xavier do Amaral criticou a decisão de despedir os 600 e apelou aos líderes fracos para resignarem dos seus postos.
O Presidente Gusmão expressou tristeza com os incidentes violentos e pediu para pararem. Criticou a polícia por operar patrulhas à noite, porque não se estava num estado de emergência. Lembrou ao público que os 591 soldados não eram criminosos, que não tinham levado com eles as armas quando saíram dos quartéis, e que a maioria não se tinha envolvido na violência.
A deputado do PSD Lúcia Lobato pediu para o conselheiro legal da UNOTIL no conselho de Ministros Domingos Tristão para sair do país porque o seu conselho sobre as F-FDTL tinha contribuído para a instabilidade doméstica. O deputado Leandro Isaac disse que Tristão devia aconselhar os Ministros que não havia base judicial para a decisão.
O Ministro do Interior Lobato visitou os sítios das casas estragadas com o Chefe da Polícia Martins e apelou às pessoas para não entrarem em pânico. A Polícia foi destacada por toda a cidade de Dili para tentar re-assegurar o público.
O Presidente Gusmão convocou uma reunião de emergência com os comandantes militares para tentar resolver a disputa com os 600 soldados. Agora foi relatado que 12 dos antigos soldados foram presos depois do fim de semana de violência. Lu-Olo fez uma declaração da FRETILIN sobre a questão dos soldados, discordando com o seu comportamento em abandonarem os quartéis e ameaçando as forças armadas como uma instituição. Alguns residentes queixaram-se ao parlamento que se sentem inseguras desde o discurso do Presidente em 23 de Março. Há algumas ameaças ao Presidente e de muitos lados declaram que a sua segurança deve ser apertada.
Em 30 de Março, o Ministro dos Estrangeiros José Ramos Horta emitiu um forte araque à Agência France Presse, Lusa e à ABC por terem selvaticamente exagerado reportagens sobre os incidentes violentos em Dili. Frisou que eles não têm repórteres residentes. E que a Internews foi uma fonte usada pela ABC, e que a Internews foi fundada pela Embaixada dos USA.
Lindsay Murdoch relatou para o Sydney Morning Herald que o Ministro Horta disse que a liderança tinha de assumir a responsabilidade pela greve dos soldados, e que iria propor uma nova comissão para investigar as queixas quando se encontrasse com o Presidente e o Primeiro-Ministro mais tarde nesse dia. Preferia que fossem reinstalados até a comissão fazer o seu relatório. Murdoch entrevistou o Tenente Salsinha que disse que ele e os seus 594 colegas soldados foram heróis da luta pela independência. Contudo, disse que o desassossego em Dili continuaria porque ninguém tinha escutado o grupo.
Em 31 de Março, o Primeiro-Ministro Alkatiri disse que as visões contraditórias do governo e do Presidente acerca dos soldados continuariam, que os soldados não seriam reinstalados, mas as questões levantadas na petição deles seriam ainda resolvidas. Disse que a tensão estava a declinar e que não afectaria a próxima Conferência dos Dadores.
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terça-feira, agosto 08, 2006
Observação e cronologia da crise de Timor-Leste em 2006 (VIII) - trad.
Por Malai Azul 2 à(s) 12:11
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
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