quarta-feira, abril 02, 2008

Deslocados "fonte potencial de mais problemas" - relatório

Díli, 02 Abr (Lusa) - Os deslocados internos, dez por cento da população de Timor-Leste, são "uma fonte potencial de mais problemas" se as causas da crise de 2006 não forem resolvidas, alerta um relatório do International Crisis Group (ICG).

O relatório, datado de 31 de Março e divulgado em Díli e Bruxelas (Bélgica, sede do ICG), relaciona a situação dos deslocados com as causas da crise de 2006 e com a possibilidade de erupção de mais violência.

A fragilidade da situação timorense, recorda o ICG, ficou patente nos ataques de 11 de Fevereiro de 2008, contra o Presidente da República, José Ramos-Horta, e o primeiro-ministro, Xanana Gusmão.

"Para evitar mais tragédias deste nível, é tempo de Timor enfrentar tanto as causas como as consequências da crise de 2006. Resolver o problema dos deslocados é uma parte essencial para se ultrapassar 2006", afirma o ICG.

"Os deslocados são uma prova muito visível do falhanço em providenciar segurança e fazer respeitar a lei. Tanto quanto tragédia humanitária, os deslocados são um risco de conflito em si mesmos", alerta.

"Reinado era uma manifestação, não a causa, das divisões de Timor", acrescenta o ICG ao recordar que muitos deslocados justificavam a permanência nos campos com a existência dos peticionários e do major fugitivo, morto a 11 de Fevereiro, no ataque à casa de José Ramos-Horta.

"O governo precisa de enfrentar as causas profundas de conflito, como as tensões comunitárias, os problemas dentro das forças de segurança e a falta de oportunidades económicas - antes que apareça o próximo Reinado", alerta o ICG.

Cerca de cem mil deslocados continuam a viver em campos nas duas principais cidades, Díli e Baucau, e junto de famílias e comunidades de acolhimento.

A continuidade desta situação "corrói a confiança no governo. Põe em evidência a incapacidade de lidar com as razões que levaram as pessoas a fugir das suas casas - incluindo a cisão este-oeste, a violência entre grupos, as disputas de terra e uma tendência para usar a queima de casas para resolver disputas pessoais e políticas", escreve o ICG.

"Demonstra também a ineficácia da polícia e dos tribunais. Uma cultura de impunidade continua a prevalecer. Dirigentes acusados de orquestrar a grande crise política de 2006 não são responsabilizados pelas suas acções", acusa a organização.

"A crise de deslocados reduziu temporariamente as tensões, uma vez que muitas comunidades se segregaram de facto, mas é previsível que os problemas voltem a emergir quando os deslocados regressarem às suas casas", alerta o ICG ao analisar a complexidade do problema.

Para o ICG, "com a divisão 'loromonu'-'lorosae' perigosamente vulnerável a manipulação política, o governo precisa de dar atenção urgente à necessidade de reconciliação nacional".

O relatório identifica várias razões para a inamovibilidade dos deslocados, dois anos após a eclosão da crise - sem esquecer que a população deslocada aumentou entretanto.

"Os campos de deslocados, por muito desagradáveis que sejam, são em muitos aspectos mais atraentes do que a alternativa - como prova a chegada, desde Agosto de 2007, de jovens de fora de Díli que não são deslocados mas estão apenas à procura de um sítio para viver enquanto estudam ou procuram emprego", nota o documento do ICG.

O relatório enumera também o medo de mais agressões nas comunidades de origem e a politização e criminalização dos campos.

O ICG refere situações de aquisição de poder, enriquecimento ilícito e oportunidades de ganho e de abusos de vária ordem proporcionadas pela existência dos campos, exemplificando com o que designa por "máfia do arroz", constituída por grupos que controlam a venda no mercado negro da ajuda alimentar aos deslocados.

No topo das recomendações do relatório, o ICG coloca a criação de um sector de segurança credível e despolitizado, a aprovação urgente de um corpo legislativo coerente de terra e propriedade, a criação de mecanismos de arbitragem e o aumento do parque habitacional.

"O governo precisa de reconhecer que Díli é agora uma cidade de 200 mil habitantes - e a crescer - e planear de acordo com isso para fornecer habitação adequada e serviços básicos", sublinha.

"Os acontecimentos de 11 de Fevereiro vieram tirar algumas pessoas da sua complacência", nota o ICG para justificar "algum optimismo" com a estratégia integrada do governo para os deslocados.

O ICG assinala, contudo, que "pouco foi feito em 2006-2007 para lidar com a crise dos deslocados para além de ajuda humanitária".

"O governo que tomou posse em Agosto de 2007 tem uma abordagem mais vigorosa", sublinha.

O ICG refere, porém, que o governo não atribuiu recursos para nenhuma das alíneas do seu programa de realojamento que não têm a ver com infra-estruturas.

O documento acrescenta que, do lado do governo timorense, é necessário aplicar no presente ano orçamental recursos nacionais "que estão disponíveis", diminuindo a dependência dos doadores internacionais.

Quanto às agências das Nações Unidas, o ICG critica a ineficácia dos programas até agora seguidos, a dependência de organizações não-governamentais e a inconsistência de muitas actividades devido à rotação frequente de funcionários.

O relatório do ICG refere a longa história de agressões contra a propriedade e a deslocação forçada de populações em Timor-Leste, desde a invasão japonesa na II Guerra Mundial.

"A maior parte dos indivíduos em Timor-Leste ainda vivos experimentaram pelo menos um período em que foram desalojados. Muitos tiveram vários períodos", lê-se num dos estudos citado pelo ICG.

Fundado em 1995, o ICG é uma organização não-governamental que produz análises e relatórios sobre prevenção e resolução de conflitos.

O ICG é presidido pelo ex-ministro australiano Gareth Evans e tem como vice-presidentes o antigo comissário europeu Chris Patten e o embaixador norte-americano Thomas Pickering, contando ainda com o ex-presidente moçambicano Joaquim Chissano entre os membros do conselho executivo.

PRM
Lusa/fim

1 comentário:

Anónimo disse...

A unica maneira de resolver os problemas de Timor Leste, e exonerar o Xanana e o Ramos Horta que sao completamente incompetentes na materia de leadership. Isto tao pouco quer dizer que se volte ao passado da Fretilin. A Fretilin tem que mudar e mudar mesmo, sem o Alkatiri. Os jovens sem os cadastros de Ramos Hortas e Xananas e Alkatiris. So assim Timor vivera em paz e prosperidade. Querem apostar?

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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