terça-feira, março 18, 2008

Militares da GNR em Díli, recordam Nassíria, onde "havia tiros todos os dias"

Pedro Rosa Mendes, da Agência LUSA, em Díli

Díli, 18 Mar (Lusa) - Há sítios, como Timor-Leste, onde a GNR lida com "adversários". Noutros, como o Iraque, a Guarda enfrentava "inimigos". Entre Díli e Nassíria, vai a mesma distância que entre poder vestir à civil ou ter de comer à mesa de capacete e colete anti-bala.

Vários militares do subagrupamento Bravo da GNR, em Timor-Leste, integraram o subagrupamento Alfa, em Nassíria, no Iraque.

"São situações diferentes mas estamos preparados para ambas", recordou à agência Lusa o capitão João Martinho, que comanda o subagrupamento Bravo e que foi 2º comandante do segundo contingente dos "Alfas" em Nassíria.

Em Timor, os militares da GNR fazem operações de ordem pública, centradas em "missões não-letais", explicou o comandante.

"No Iraque havia tiros todos os dias. Tivemos de usar técnicas e tácticas de secção militar com ameaça armada, nas quais nós temos formação mas que não treinamos regularmente", explicou o oficial da GNR.

A diferença de missões reflectia-se no equipamento e no uniforme. Em Nassíria, todos os "Alfas" usavam sempre coletes com placas balísticas, capacete, em muitos períodos e mesmo dentro do quartel, e usavam uma espingarda automática "G36" com 150 munições.

Os "Bravos" em Timor-Leste usam um equipamento mais ligeiro, não-letal, incluindo armas como a "shotgun" (uma caçadeira com munições de borracha ou "bagos de feijão"), as pistolas Cougar ou as "flashball".

Uma e outra missão revelam, no entanto, a natureza de uma força que "está no meio-termo entre a tropa e a polícia", como resume o capitão Martinho, sublinhando o conceito operacional aplicado pela primeira vez pela Itália na Somália.

No Iraque, os cerca de 130 militares da GNR constituíam um batalhão MSU (unidade especializada multinacional), integrado num comando militar, no caso uma brigada do Exército italiano por sua vez integrada numa divisão britânica.

"Em Nassíria, o risco era serviço normal", resumiu à Lusa um elemento da Secção de Operações Especiais (SOE) do contingente da GNR em Timor-Leste, que prefere não ser identificado.

O ambiente da missão ficou bem claro quando um atentado contra as forças italianas em Nassíria provocou quase duas dezenas de mortos, na véspera do desembarque dos "Alfas" no Iraque.

"A nossa saída de Portugal foi atrasada. Chegámos no dia a seguir ao atentado. Há quem diga que a intenção inicial (dos terroristas) era dar um 'cartão de boas-vindas" à GNR", recorda o mesmo elemento da SOE.

Rajadas ocasionais à passagem das patrulhas eram "habituais", assim como ameaças de bomba, recordam os "Bravos" que estiveram no Iraque, mas o risco era ainda mais grave numa "cidade desarticulada" de meio milhão de habitantes.

Certa vez, uma visita a um bastião de milícias, numa aldeia onde a estrada não tinha saída, acabou numa emboscada frontal durante quase 20 minutos, "uma eternidade" quando se está debaixo de fogo, diz o capitão Martinho.

Os "Alfa" efectuaram também a extracção dos últimos soldados italianos do quartel de Nassíria, antes de a brigada italiana e os militares portugueses mudarem do quartel no centro da cidade para uma base logística americana em Talil.

"Foi uma troca de tiros durante várias horas. O Exército italiano não foi lá buscar os seus próprios homens. A GNR foi", recordou à Lusa o capitão Martinho.

Num cenário assim, não havia roupa civil nem ocasião de a usar, "mas a GNR era a única força sempre de barba feita e bota engraxada. Marcámos a diferença também pela nossa postura", diz o comandante do subagrupamento Bravo.

"A disciplina é ainda mais importante em sítios de grande tensão, onde é fácil 'descambar'", como em Nassíria, onde os militares estavam sujeitos a perigo constante, grande tensão e nenhuma oportunidade de lazer "fora dos jogos de cartas ou dos matraquilhos dentro da própria base", sublinha João Martinho.

A "diferença" foi também marcada no quartel: em Talil, onde as casas não tinham de início água nem luz, os militares construíram tudo, recorda o cabo Russo, "porque só há uma maneira de estar, que é melhorar constantemente as condições".

O cabo Russo, um veterano das operações especiais que passou "dois natais no Iraque e três em Timor", país onde fez parte da primeira operação da GNR no estrangeiro, recorda de Nassíria o grande risco das operações apeadas dentro da cidade, num cenário hostil.

"Mas o espírito é sempre o mesmo: servir e ajudar. Com isso sempre presente, o que custa é só o primeiro dia. Depois a máquina engrena, como uma roda dentada. Aqui, no Iraque ou em qualquer cenário", resumiu à Lusa no bar dos "Bravos", também feito por ele.

A distância entre as duas operações é também vincada pelas diferenças culturais de um país católico com um país islâmico. O capitão Martinho resume com um exemplo: "Um dia íamos causando um incidente grave ao oferecer biberões para os bebés de Nassíria. É coisa proibida nos hospitais iraquianos".

Lusa/Fim

3 comentários:

Anónimo disse...

Fretilin quer saber quem é suspeito de impedir a rendição de Salsinha

Público, 18.03.2008
Jorge Heitor

A bancada da Fretilin no Parlamento timorense pediu ontem que o Presidente interino, Fernando Lasama de Araújo, e o procurador-geral, Longuinhos Monteiro, esclareceçam quem é que é suspeito de estar a impedir activamente a rendição do antigo tenente Gastão Salsinha e do seu grupo armado, que chegara a estar prevista em 4 de Março.
O principal partido na oposição pediu um procedimento criminal contra a pessoa ou pessoas que estarão a criar obstáculos à prestação de contas dos indivíduos tidos como responsáveis dos incidentes de 11 de Fevereiro, nos quais o Presidente José Ramos-Horta ficou gravemente ferido a tiro, pelo que já teve de ser submetido a seis intervenções cirúrgicas.
O próprio bispo católico de Baucau, D. Basílio do Nascimento, considerou que a afirmação de Longuinhos Monteiro segundo a qual há sectores a impedir os rebeldes de se entregarem abre a porta a especulações e rumores. Isto numa altura em que o jornal australiano The Age perguntou o que teria estado a fazer no país, em 21 de Janeiro, três semanas antes do ataque a Ramos-Horta, um criminoso timorense, Hércules Rosário Marçal, que vive na Indonésia e é aí chamado pela imprensa "o rei dos gangsters", estando envolvido em negócios de jogo e prostituição. De acordo com o articulista, o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, e outros membros do Governo timorense receberam então "Hércules", que é particularmente notado porque só tem uma vista e um braço.
Enquanto isto, o comandante da GNR em Timor-Leste, capitão João Martins, esteve no Hospital Particular de Darwin a falar durante uma hora com Ramos-Horta sobre os misteriosos incidentes de Fevereiro, tendo aproveitado para lhe transmitir mais uma mensagem do Chefe de Estado português, Cavaco Silva. Bem como pastéis de Belém, que ele solicitara, mal saíra do coma induzido em que estivera. Além disso, em nome do comando-geral da corporação, levou-lhe vinhos, queijos, mel e azeite.

Anónimo disse...

Cavaco envia carta a Ramos-Horta

Diário de Notícias, 18/03/08

Alfândega australiana não deixou passar os enchidos portugueses
O capitão Martinho, comandante da GNR em Timor-Leste, entregou ontem ao Presidente Ramos-Horta uma mensagem e vários presentes do Chefe do Estado português, Cavaco Silva. O comandante do Subagrupamento Bravo foi recebido pelo responsável timorense no Hospital Particular de Darwin, Austrália.

"Tenho acompanhado a recuperação do atentado de que foi vítima e dou graças a Deus pela melhoria do estado de saúde que tem vindo a registar", afirma Cavaco Silva na carta que, através do capitão Martinho, enviou a Ramos-Horta e em que diz ainda esperar que este "em breve possa regressar a Timor e reassumir a Chefia do Estado".

No final do encontro, durante o qual Ramos-Horta recebeu ainda uma encomenda de vinho do Porto e pastéis de Belém, o capitão disse à imprensa que o Presidente timorense "está bem", "ainda um pouco debilitado, mas psicologicamente tem um discurso coerente e lúcido".

Ramos-Horta esteve "cerca de uma hora" a falar com o militar sobre os atentados de 11 de Fevereiro contra a sua residência - e que quase lhe custavam a vida - e sobre a segurança de Dili.

O capitão Martinho entregou ainda a Ramos-Horta uma outra encomenda, esta do general comandante da GNR, com produtos tradicionais portugueses, entre eles vinhos, queijos, mel e azeite. Em Timor-Leste ficaram os enchidos, que não passaram na alfândega devido ao crivo apertado dos australianos em matéria de saúde pública.

"Diz que este mês ou no que vem estará em Timor", disse o responsável da GNR ao ser inquirido pela imprensa sobre a data do regresso de Ramos-Horta a Díli. Com Lusa

Anónimo disse...

Cavaco oferece pastéis de Belém a Ramos-Horta
Jornal de Notícias, 18/03/08

Cavaco Silva expressou numa mensagem ao seu homólogo timorense, José Ramos-Horta, o desejo de que possa reassumir a chefia de Estado. "Tenho acompanhado a recuperação do atentado de que foi vítima e dou graças da Deus pela melhoria do estado de saúde que tem vindo a registar", começa a carta dirigida por Cavaco Silva a José Ramos-Horta e que foi entregue no Hospital Particular de Darwin, Austrália, pelo comandante do agrupamento da GNR destacado em Timor-Leste, capitão João Duque Martinho, juntamente com uma garrafa de vinho do Porto e pastéis de Belém. "Envio-lhe, caro amigo, um contributo para reforço do seu ânimo e prazer do paladar um porto de 1949 (ano da sua graça) e pastéis de Belém", adianta ainda Cavaco Silva. José Ramos-Horta foi baleado em 11 de Fevereiro, num ataque à sua residência, e transferido no mesmo dia para a Austrália onde tem vindo a recuperar dos ferimentos. Um outro ataque foi dirigido no mesmo dia contra o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, que saiu ileso. "Ramos-Horta está bem. Fisicamente vê-se que ainda está um pouco debilitado, mas psicologicamente tem um discurso coerente, lúcido. Teve alguma curiosidade em falar comigo sobre os atentados e estivemos cerca de uma hora a falar sobre os atentados e a questão de segurança em Díli. Discutimos sobretudo pontos de vista", disse o comandante do subagrupamento Bravo, capitão Martinho.

O oficial entregou outra encomenda do general-comandante da GNR com produtos tradicionais portugueses, entre os quais se contavam vinhos, queijos, mel e azeite. O regresso a Díli, segundo lhe foi transmitido pelo próprio Ramos- -Horta, deverá acontecer "em breve". Entretanto, segundo o comandante da operação "Halibur", o major Alfredo Reinado "queria matar ou fazer refém" o presidente quando atacou a sua residência. "Reinado não foi lá para ser morto, de certeza, porque não contava com o que lhe aconteceu", disse o tenente-coronel Filomeno Paixão, das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL).

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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