Diário Digital / Lusa
23-10-2007 15:39:00
Um oficial português das Nações Unidas apresentou hoje um testemunho diferente do comandante das Forças Armadas timorenses sobre o incidente mais grave da crise de 2006.
O comissário Nuno Anaia, oficial da Polícia de Segurança Pública ao serviço da Polícia das Nações Unidas (UNPol) em Timor-Leste, declarou hoje que o brigadeiro-general Taur Matan Ruak concordou com um cessar-fogo na manhã de 25 de Maio de 2006.
Nesse dia, militares das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL) dispararam sobre uma coluna de 103 elementos da Polícia Nacional (PNTL) desarmados e sob escolta das Nações Unidas.
«Sei que o coronel Fernando Reis chegou a acordo com o brigadeiro-general Taur Matan Ruak para um cessar-fogo com algumas condições», declarou hoje o comissário Nuno Anaia no Tribunal de Recurso, em Díli.
«As condições eram que os PNTL entregassem as armas, que saíssem do quartel-general da Polícia a pé e que saíssem com as Nações Unidas», explicou o comissário da UNPol.
O oficial português referia-se ao contacto entre o coronel português Fernando Reis, assessor das F-FDTL, e o comando das Forças Armadas timorenses, no antigo quartel da missão internacional (PKF), em Caicoli.
O brigadeiro-general Taur Matan Ruak, ouvido há uma semana no mesmo processo, afirmou que o tiroteio em Caicoli, junto ao ministério da Justiça, parou a pedido do coronel Fernando Reis e elementos da ONU, porque elementos das PNTL desejavam render-se.
«Os membros das Nações Unidas não pediram ou não ordenaram às F-FDTL para se desarmarem e retirar do Ministério da Justiça e outros locais», explicou o brigadeiro-general Taur Matan Ruak ao colectivo de juízes.
«Continuavam a dizer que a PNTL desejava render-se, sem explicar os pormenores da rendição», acrescentou Ruak.
«Os dois membros da ONU seguiram para o quartel-general da PNTL, dei ordens aos membros (das F-FDTL) para pararem os tiroteios e assim aconteceu», referiu o chefe do Estado-Maior das F-FDTL.
Nuno Anaia, que encabeçava a coluna dos PNTL ao volante de uma viatura da ONU, é o único dos 17 elementos das Nações Unidas presentes no tiroteio que ainda permanece em Timor-Leste.
O oficial saiu ileso do tiroteio mas a sua viatura esteve sob fogo cruzado das F-FDTL e foi atingida por duas balas.
O comissário da UNPol foi ouvido pelo Tribunal de Recurso como «lesado» no incidente de 25 de Maio de 2006, após ter sido autorizado a testemunhar pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
No final da audiência, o juiz-presidente Ivo Rosa informou o comissário Nuno Anaia de que «não existe nenhuma imunidade» que impeça um elemento da ONU de testemunhar em tribunal.
Um parecer da assessoria legal da missão da ONU em Timor-Leste (UNMIT) alegou esse tipo de imunidade, até Ban Ki-moon autorizar o comissário da UNPol a comparecer no Tribunal de Recurso.
Os doze arguidos no processo do massacre dos oito polícias timorenses são acusados de homicídio pelo Ministério Público.
terça-feira, outubro 23, 2007
Oficial português difere de CEMGFA timorense sobre massacre
Por Malai Azul 2 à(s) 19:17
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
2 comentários:
1 – Disse o brigadeiro-general Taur Matan Ruak no Tribunal na semana passada“que o tiroteio em Caicoli, junto ao ministério da Justiça, parou a pedido do coronel Fernando Reis e elementos da ONU, porque elementos das PNTL desejavam render-se.
«Os membros das Nações Unidas não pediram ou não ordenaram às F-FDTL para se desarmarem e retirar do Ministério da Justiça e outros locais».
«Continuavam a dizer que a PNTL desejava render-se, sem explicar os pormenores da rendição».
«Os dois membros da ONU seguiram para o quartel-general da PNTL, dei ordens aos membros (das F-FDTL) para pararem os tiroteios e assim aconteceu».
2 – Disse o comissário Nuno Anaia, hoje no Tribunal que “o brigadeiro-general Taur Matan Ruak concordou com um cessar-fogo.
«Sei que o coronel Fernando Reis chegou a acordo com o brigadeiro-general Taur Matan Ruak para um cessar-fogo com algumas condições».
«As condições eram que os PNTL entregassem as armas, que saíssem do quartel-general da Polícia a pé e que saíssem com as Nações Unidas».
3 - É o próprio Relatório da COI quem diz que pela UNOTIL “Não foi reunida qualquer equipa de gestão de crise”, não houve “uma estratégia de comunicação, com as autoridades nacionais”, nem “nenhum plano colectivo foi divisado para a intervenção”.
Que não houve “suficientes canais de comunicação antes de ou durante a intervenção”. Que “nenhuma directiva específica foi dada às pessoas” e que “se depositaram grandes esperanças nas experiências pessoais de militar e de polícia de determinados indivíduos”.
Parece-me que nem o relatório da COI tem as certezas que tem o Comissário.
Mas eu digo-lhe que foi assim.
O COI não diz tudco e fala em reuniões,contactos etc, que numa situação de emergência, em que é preciso actuar no imediato, e evitar mortes não fazem sentido.
Claro que a UNOTIL não estava preparada para situações estas, mas ai deviam pedir responsabilidades ao SRSG.
Sobre o que realmente aconteceu em 25 de Maio, o Brig MTR está a baralhar um pouco as coisas ou a sua memória já não é o que era, ou então não lhe interessa dizer tudo, o que me entristece. Sabe que fui ao encontro dele, com o meu adjunto LtCol David Mann, para que cessasse o fogo sobre o comando da PNTL, dizendo que tinha informação recebida por radio na UN, que se queriam render mas não o conseguiam contactar, e que vinha da parte do SRSG e me oferecia para mediar. Disse-lhe ainda que estavam lá 5 elementos da UNPOL. Respondeu-me que acedia ao pedido de cessar fogo mas que os elementos da PNTL teriam de sair desarmados e que os que lá ficassem com armas seriam atacados. Disse-me ainda que os levasse e às armas deles para onde quisesse.Foi depois de ordenar o cessar fogo à nossa frente que seguimos de viatura para o comando da PNTLonde dialogamos com o Com Afonso.A coluna apeada, comigo à frente de bandeira da UN na mão, seguia ladeada por viaturas da UN.
O tiroteio foi iniciado por um elemento, que tinha sido mandado afastar do cruzamento do M da Justiça pelo David, que procurou na coluna um determinado elemento da PNTL e atirou sobre ele( na altura, desconfiado com a presença próxima de militares armados, tinha-me virado para trás, pelo que vi o que aconteceu). Depois foi o que se sabe.
Na verdade eu e o David, quando verificámos que estava a ser prestado socorro às vitimas,fomos atrás dos 3 elementos que à nossa vista abriram fogo e dirigimo-nos ao Brig MTR (já tinha acabado o tiroteio) que estava perplexo com o tiroteio.Demonstrei a minha mágoa , tristeza e a traição sofrida, pois o Brig MTR tinha assegurado que sairiamos em segurança. Foi ai que deu ordem para procurarem quem abriu fogo e para os trazerem à nossa presença. Vieram 3 elementos(parece que um deles era major), reconheci 2 , um deles o que tinha iniciado o tiroteio, e que assumiram ali que tinham aberto fogo sobre a coluna. O Brig MTR repreendeu-os veemente lembrando o acordo (e o facto de terem atingido pessoal desarmado) que tinha estabelecido comigo e disse-nos para os levar para a UN e fazer com eles o que quiséssemos.Achei que não havia condições para os levar para o Obrigado, onde estavam os policias atingidos mas ficou a promessa de o Brig MTR os entregar quando fosse solicitado.
Na altura pediu-nos desculpas, com sinceridade e de uma maneira que não vou aqui dizer.
Esta é a verdade.
Lembro que tivemos 2 elementos da UNPOL que seguiam comigo a pé feridos, e se mais não fomos atingidos, tantos os ricochetes, era porque aquele não era o nosso dia.....
Espero ter avivado a memória do senhor Brigadeiro.
Cor Reis
Nota: Para a Lusa,que não reviu os apontamentos,eu não era assessor das F-FDTL, era o SMA/CMTA da UNOTIL
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