quarta-feira, julho 12, 2006

O processo de cura. Eleições livres e justas.

Tradução da Margarida:

De um leitor: Sobre o Post "E Agora?" também traduzido pela Margarida.

Este texto resume bastante bem a enormidade da tarefa e aponta correctamente que tais questões não se podem resolver em 10 meses. Por essa mesma razão o sucesso deste novo governo não pode ser medido em termos de conseguir ou não a resolução de todas essas questões mas pela sua habilidade em estabelecer bases necessárias para a cura se processar e continuar no futuro próximo.

Ao contrário do que é defendido pelo autor, esta situação desvaloriza o legítimo direito do regresso de Alkatiri à política ou pelo menos como um possível PM dado que isso se traduziria numa contrariação de todo o processo de cura que terá lugar no caminho para as eleições de 2007. Por isso, o regresso possível de Alkatiri podia ter um efeito catastrófico e podia possivelmente mergulhar o país numa nova crise. Esta decisão e responsabilidade contudo está na mão da Fretilin e na habilidade da sua liderança de ser capaz de pôr o interesse nacional à frente do seu próprio ou da carreira política do próprio Mari Alkatiri.

Há contudo alguns pontos que não foram bem agarrados pelo autor.

Em primeiro lugar, o Presidente não foi o único a culpar desta crise "todos os outros" mas simplesmente na inabilidade do governo em resolver a questão dos peticionários e na subsequente crise que derivou daí. Os que acusam "todos os outros " incluindo os autores estrangeiros foram de facto o próprio Alkatiri e a liderança do núcleo duro da Fretilin as quais até à data não foram substanciadas.

Em segundo lugar, a responsabilidade não cairá simplesmente sobre Xanana ou Ramos Horta como tais, mas em vez disso o sucesso do novo governo dependerá grandemente na Fretilin mostrar ao povo que apesar de tudo é um partido políticamente maduro e genuinamente mais comprometido em fazer o país regressar à normalidade do que em continuar com a postura de finca pé do passado em detrimento da paz e estabilidade do país. Esse compromisso deveria ser exprimido através do estabelecimento duma cooperação de trabalho positiva e frutuosa com o seu novo PM e todas as instituições estatais. Vale a pena também notar que apesar do PM ser independente, o governo permanece muito um governo da Fretilin como resultado da insistência do partido.

Isto pode ser ilustrado através das próprias palavras do autor que cito:

“A FRETILIN não foi arredada como consequência da crise, ainda tem influência no corrente Governo, ainda tem um grande poder no Parlamento e nenhuma das duas situações é inconstitucional.”

Se é verdade, como foi dito por Mari Alkatiri no passado, que somente a Fretilin pode criar estabilidade ou instabilidade, os próximos 10 meses provarão sem margem de dúvida com qual dessas é que a Fretilin está verdadeiramente comprometida.


A resposta de outro leitor:

Pelo contrário, Mari não abandonou a Politica. Continua a ser altamente respeitado pela liderança da Fretilin (por ambos "núcleo duro" ou moderados), por agora regressou ao Parlamente e continua a ser o Secretário-geral da FRETILIN. Como foi sublinhado se Mari não for considerado responsável por nenhuma das alegações contra ele, não vejo porque é que não pode regressar à política.

Há duas questões fundamentais deixadas de fora;

Foi a crise orquestrada (Golpe de Estado)?

E se a FRETILIN ganhar as eleições em 2007 pela mesma margem?

Estas duas questões são fundamentais numa Democracia.

Se Mari não for considerado responsável por nenhuma alegação feita contra ele, não vejo porque é que não pode regressar à politica ou ao cargo de Primeiro-Ministro. Isto tem a ver com o facto de ser o Secretário-Geral da FRETILIN um posto que normalmente assume o cargo de Primeiro-Ministro se a FRETILIN ganhar as eleições. Penso que se ficar provado que esta crise foi orquestrada e se a FRETILIN ganhar as eleições e Mari for ainda o Secretário-geral ele será um candidato forte a Primeiro-Ministro. Penso que neste cenário somente Mari decidirá sair do cargo de Primeiro-Ministro.

Uma vez que este cenário de desenrole, o que o anonymous 8:15:56 PM anota “o regresso possível de Alkatiri podia ter um efeito catastrófico e podia possivelmente mergulhar o país numa nova crise.” é uma ameaça para a própria Democracia, se a FRETILIN regressar com a mesma maioria tem todo o direito de escolher o Primeiro-Ministro e ser respeitada por essa escolha. Quanto à possibilidade de mergulhar o país na crise, é da responsabilidade de todos os líderes partidários respeitar o resultado em qualquer eleição livre e justa.

Mas entretanto, tudo depende do Procurador-Geral ter sucesso em montar um caso forte contra, e da FRETILIN ganhar as próximas eleições com Mari como Secretário-geral do partido.

A questão da crise ser orquestrada, se a FRETILIN ganhar as eleições então deverá ter a maturidade para olhar para o futuro e reconciliar-se com todos os outros partidos políticos incluindo os Independentes.

O processo de cura deve começar com todos os líderes políticos e cívicos da nossa sociedade respeitando os resultados de qualquer eleição livre e justa.


De um leitor:

Compreendo donde vem, e respeito as suas ideias dado que estão bem construídas e dirigidas para o debate mas deve compreender que a política Timorense tem muito a ver com idealismo e pragmatismo.

Tal como foi a influência de Xanana durante a remoção de Mari. Mesmo apesar de alguns não concordarem, Xanana foi muito idealista na resolução da crise. Apesar de nos vários discursos que o PR fez terem claramente comentários inflamatórios e serem a raíz dalguma violência étnica, ele manteve-se calado durante a maior parte da crise e só se tornou crítico quando a crise ameaçava fugir do controlo (foi lento nas suas reacções em resolver a crise desde o princípio em Janeiro quando os soldados rebeldes fizeram uma petição). Num ambiente politico pragmático isto teria sido o final de qualquer carreira politica. Mas Xanana, como os politicos Timorenses também se dá bem com um ambiente idealista.

Ao contrário da sua opinião o PR não foi capaz de reduzir a influência da FRETILIN, porque o PR manobrou para remover Mari do cargo de PM mas não a FRETILIN do Parlamento, uma coisa que várias vezes ele ameaçou, bastante fortemente, fazer.

Dependente do resultado dos interrogatórios, não penso que a FRETILIN mude muito antes das eleições. Pode parecer à superfície que a FRETILIN precise de consolidar-se através de mudanças internas, mas a FRETILIN existe para além dos limites e dos políticos de Dili. É nas áreas rurais de Timor que está a maioria da população e dos apoiantes, é lá que não há sinais de violência e de casas queimadas.

Não estou a defender que Mari deva ser o próximo PM, o que estou a dizer é que a opção para Mari ser o Primeiro-Ministro outra vez ainda está aberta. A FRETILIN é uma unidade disciplinada, existiu 25 anos em circunstâncias piores, perdeu líderes maiores, contudo prevaleceu sem grandes mudanças no estilo da liderança e sem mudanças na liderança corrente. É minha opinião que não mudará por causa de um problema que afectou maioritariamente Dili num espaço de cerca de 3 a 4 meses.

Caso a FRETIIN falhe nas próximas eleições penso que sem dúvida haverá mudanças no seio da FRETILIN, então poderemos dizer com confiança que Mari está fora do retrato político, coisa a que tenho a certeza Horta e Xanana darão as boas vindas.

.

5 comentários:

Anónimo disse...

Não parece que sejam só Xanana Gusmão e Ramos Horta a dar as boas-vindas à mudança na Fretilin... isso é coisa que parece não ter sido sequer reconhecido dentro da própria. É o próprio povo que se medo não tivesse já vos teria explicado porquê... mas há grandes receios não há?

Anónimo disse...

O povo quer é a barriga cheia nem que isso lhe custe um caminho mais rápido para a morte.
Passam anos até que perceba que foi enganado.
Já assim foi com os Indonésios.

Anónimo disse...

Ainda não percebi quem está a enganar quem. Mas cá para mim parece-me que uma minoria radical se engana a si própria. Se visão alargada houvesse teria resolvido as questões que desembocaram neste pântano. E agora é no pantanal que querem continuar a chafurdar? Sinceramente não há paciência. Só um santo mesmo... bem e quanto a isso vamos mas é lá ver se os "santos" não armam uma tremenda acção de limpeza. Pela persistência a coisa vai lá. Não pode é haver radicalismo que já se viu que a coisa não passa...

As coisas vão-se compôr a bem ou a mal. Ponto.

Anónimo disse...

Malai Azul e Margarida: A traducao da seguinte fraze foi mal feita e infere um sentido muito diferente e enganoso ao do origial. Penso que o Malai Azul quer um debate honesto no seu blog.

Traducao de margarida: "Ao contrário do que é defendido pelo autor, esta situação desvaloriza o legítimo direito do regresso de Alkatiri à política ou pelo menos como um possível PM dado que isso se traduziria numa contrariação de todo o processo de cura que terá lugar no caminho para as eleições de 2007."

Original: "Unlike that which is postulated by the author, this situation very much discounts an ouright return of Alkatiri to politics or in the very least as a possible PM as that would translate into a reversal of all the healing work that will take place in the lead up to the 2007 elections."

DEVE-SE LER: "Ao contrário do que é defendido pelo autor, esta situação impossibilita o regresso total de Alkatiri à política ou pelo menos como um possível PM...", e nao "desvaloriza o legítimo direito do regresso de Alkatiri..."

Agradeco desde ja ao Malai Azul a correcao desse grave erro de traducao.

Do autor: RaiDobenTimor

Anónimo disse...

O PENULTIMO COMENTARIO DESTE POST DEVIA SER:

Your arguments are sound in principle but based on idealism, a view of how the world should be and how people should react.
The game of politics is not governed by idealism but pragmatism. The scenario put forward by me is based on a pragmatic view of the world and people and a description of a very likely result should Fretilin insist holding on to Alkatiri as a candidate for PM.

I was not making a moral judgement on the righteousness of such scenario but merely stating the obvious.
Having said that I think Alkatiri himself understands such possibility when he suggested in an interview that maybe Fretilin should choose other names for the position.

Emotions aside, It is very hard for anyone to refute that regardless of the outcome of the investigations Alkatiri's image has been severely tarnished and his candidacy for Prime Ministership will not only trigger anxiety amongst the people in general but more importantly within Fretilin itself.

Fretilin needs to consolidate its position in readiness for the next election through a leader whose standing can span across the divide within the party itself. Whether Fretilin has this person or not is another matter. However, no one can convincingly argue that Alkatiri is still such person as this latest crisis has showed there to be an increasing opposition to his leadership. This opposition could be suficient to further unsettle the party's cohesiveness and jeopardise Fretilin's chances at the next elections if they are not brought back on board under a more unifying leadership.
If the current leadership chooses to ignore this it will do so to the party's own detriment. Despite claims to the contrary, Fretilin has been severely affected by this crisis and could well fail the test come next election if it does not fully heals its wounds.

RaiDodenTimor

E A RESPOSTA AO ULTIMO COMENTARIO DO POST FOI:

It is perhaps then the idealism embbeded in the Timorese politics that is the source of recurrent instability given that ideals will vary from individual to individual with a vast array of supporting arguments for each position. However, we know as a matter of principle that the welfare of a nation must be driven by the type of political pragmatism that sees the right decisions being made not, to only serve sectarian interests, but the interests of the nation as a whole.
Here we must remove ourselves from the notion of politics serving local political groups and concentrate on the other kind of politics and decisions that need to be made in order to serve national interests. Thus, I propose to place the debate in that context.

For this purpose I will not engage in a lengthy discussion on the merit or fault of the local actors such as the President or the former PM but merely take as the starting point the political and military crisis that the country has just gone through, its real impacts for East Timor as a nation in a community of nations.

My previous coment was not in any way developed to argue that the President has irreparably undermined Fretilin’s worth as a political organisation or its resiliance in the face of adversity but merely to state that Dr. Mari Alkatiri, unjustly or not, is no longer a unifying figure in the Timorese political landscape. He could well maintain a prominent role and influence within Fretilin as a political party but a Prime Minister, as the head of a national government, must be an acceptable unifying force well beyond party boundaries and into the national realm. This I believe is a role that Dr. Mari Alkatiri can no longer fulfill not because he is not a capable politician but because he’s public image has suffered greatly in this crisis.

I believe you are seriously understating the impact of this crisis when you argue that it was confined to Dili and that the rural areas were undisturbed. Again this might be true locally and in terms of the impact on Fretilin but the real damage to Timor as a nation was great and it will be felt for many years to come.

East Timor was slowly establishing itself as a stable country in the international community, a pre-requisite for the desperately needed foreign investment and the development of a strong private sector that can serve as the driving force for a heakthy national economy.
This crisis has managed to undo all that. It was already a difficult task to attract foreign investment in the non-oil sector before the crisis, we now face an even bigger battle not only to attract new investors but also the ones that have now left and to keep others that are still considering their fates.
Needless to say that the major influential factor for the latter will be the perceived capacity of East Timor to once again restore and maintain steady political stability.
In this sense, and as argued previously, a possible return of Dr. Mari Alkatiri as the head of government will create an atmosphere of anxiety locally and in the international business community and a sense of more political instability along the road. Timor will present itself as a sleeping volcano prone to erupt again and unexpectedly. For foreign investors East Timor will be too risky a place in which to conduct business. Taking into account that East Timor was, for many reasons such as comparatively high salaries, lack of adequate infra-structure, etc, already uncompetitive in the region the possibility of future political instability would effectively remove it from the highly competitive race of attracting scarse foreign dollars.

For these very reasons I argue that Fretilin, being the majority party that it still is, must make pragmatic decisions based on national interests rather the party pride. It must be able to show that the politica career of one person is not above national interests.
I argue that “the whole is more than the sum of its parts” and therefore Xanana, Mari Alkatiri, Ramos Horta or anyone else (the parts) are expendable when their continuation, unjustly or not, undermines the interests of the “whole”.

I agree that if cleared of all charges Dr. Mari Alkatiri has the right to pursue his political career as the PM but the question is whether that would be in the nation’s interests.

This is the reason why I previously argued that: “If it is true, as stated by Mari Alkatiri in the past, that only Fretilin can create stability or instability, the next 10 months will prove beyond reasonable doubt which one of those Fretilin is trully commited to achieve.”


RaiDobenTimor

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.