As impressões de Luís Costa Ribas, enviado especial da SIC a Timor.
08-06-2006
17:32
Quinta-feira, 8 de Junho
Que dia... O telefone tocou pouco depois das cinco da manhã. Os australianos tinham impedido a GNR de entregar detidos num campo de detenção e apontaram-lhes as metralhadoras. Portugal, ofendido, ponderava retirar a GNR de Timor Leste - foi o meu alerta, a história era esta.
Telefonaram-lhe uma hora depois da notícia sair no Jornal da Noite da RTP (que aqui passa às 4 da manhã) e nem sequer lhe foram capazes de a contar correctamente. Jornalista sofre.
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Coitadinhos de nós. Chegamos a Díli com 120 soldados, semanas depois dos outros. A Austrália tem aqui 2.600 efectivos há três semanas. ...
Se queremos "mandar" em Díli, apresentamo-nos cedo e preparados. Se dependesse de nós, Díli ainda estaria a arder.
Díli ardeu. Foi saqueada. Ainda hoje voltou a arder. E os 1.200 soldados australianos chegaram sempre tarde demais. E nas raras excepções que chegaram a tempo, nada fizeram.
E o que está em jogo não é querermos que a GNR mande em Díli, mas que proteja a sua população com a eficácia que lhe é reconhecida. Além do mais, tem o perfil que a tropa australiana não tem para o efeito. Assim se vê todos os dias.
07-06-2006
19:47
Quarta-feira, 7 de Junho
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De novo, a pobreza ah beira da estrada obriga-me a ponderar a infantilidade da "rixa" entre Portugal e a Austrália sobre quem é, ou devia ser, o mais influente em Timor.
A infantilidade da rixa pode traduzir-se na diferença entre Timor-Leste perder a sua soberania e voltar a levantar-se do caos provocado pela "ajuda externa".
06-06-2006
17:33
Terça-feira, 6 de Junho
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A manifestação teve muita energia. Um grupo de "loro monu" que não gosta do primeiro-ministro Alkatiri exigia a sua demissão. ...
2.000 kilowatts, desculpe, manifestantes.
Gostaria de ver se, tendo a oportunidade de se manifestar, os apoiantes do Governo o fariam com o mesmo vigor... Alias, é algo estranho observar a falta de apoio de rua ao primeiro-ministro por parte da FRETILIN, que há tão pouco o reelegeu...
No ano passado, em 2005, o jornalista não estava mas devia saber, houve uma manisfestação durante semanas organizada pela Igreja Católica. Teve cerca de 5.000 manifestantes, vindos de todo o país, além da população de Díli que conta com cerca de 200.000 habitantes.
Também nessa altura se pensou que Mari Alkatiri não resistiria a tanta contestação, e perguntava-se onde estavam os apoiantes dele, se é que existiam.
Passados uns dias da manifestação ter acabado, com o Governo e a Igreja a chegarem a um acordo, a Fretilin organizou um comício no campo da Liberdade, em Díli. Estavam cerca de 40.000 apoiantes de Mari Alkatiri.
E ainda bem, senhor jornalista, que a Fretilin não se manifesta nesta altura, mesmo com as pressões e provocações diárias. É um sinal do sentido de responsabilidade dos seus dirigentes.
De alguma forma, a manifestação, as palavras de ordem, as bandeiras, as pessoas a reivindicar na rua (mesmo que não se concorde) recordam-me o 25 de Abril.
Não me lembro no 25 de Abril de palavras de ordem dizerem "Abaixo os comunistas", "Viva a Igreja" ou "Viva Cristo". Ou é só uma questão de energia?
A revolução surpreendeu-me em jovem e ensinou-me que não se espera pelo que ser quer, exige-se.
Pois aqui em Timor-Leste, num estado de direito, com um governo democraticamente eleito, espera-se sim.
Espera-se pelas próximas eleições legislativas, de acordo com a Constituição, quer o senhor jornalista queira, quer não queira...
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5 comentários:
"Hoje tivemos brinde. Fomos a Maubisse, entrevistar o líder da rebelião que constituiu causa próxima desta crise timorense" disse o Ribas. Esqueceu-se de relatar quem lho deu...e já repararam na coincidência de serem os chefes dos Bureau em Washington que estão agora em Dili? Primeiro Mr. Cave, agora Mr. Ribas. Quem se seguirá? Mas convém estarmos atentos.
Costa Ribas? tem um lindo passaporte americano no bolso, um mau jornalismo e uma péssima figura em televisão... concordo em absoluto com a contratação para a ABC, esse jornalista faz o jogo dos australianos e tece comentários sem sentido. Será que é isto que o conselho de redacção da SIC gosta? parece que sim, são todos iguais
E não se arranja uma qualquer forma para contestar as noticias destes senhores publicamente?
Já cansa ver os senhores jornalistas a darem o sentido que querem às noticias. O povo lê/ouve o que lhes é dito e toma-o como certo. Quem está longe acaba por não ter grandes formas de adivinhar o que realmente é coerente com a verdade, cada vez que vê os senhores na tv, ou numa página de um jornal.
Nem toda a gente, ou, deveria dizer, muito pouca, tem acesso a, ou se preocupa o suficiente para procurar, blogs como este. Nem todos têm familiares por Timor que vão contando as coisas como são (cada um no seu ponto de vista, obviamente).
Na verdade, é frequente ouvir de amigos e colegas indagações como o porquê da GNR estar de facto em Timor-Leste; "se nem os australianos conseguem dar conta do assunto, para quê a GNR?"
Niguém sabe realmente como as coisas se passam, em todas as vertentes possíveis. Só naquelas em que as estações de televisão entendem ou, em ultima análise, os senhores jornalistas.
Pergunto-vos eu, não há forma de contestarem as noticias publicamente? De alguma forma apelarem à coerência?
Sim Viva a GNR!
mas vamos la ser honestos!
Que eu me lembre as demonstracao da Fretilin em 2005 contava com 10.000 e nao 40.000 como o Malai Azul diz.
Alem disso meus senhores isso foi em maio de 2005, um ano ja passou e as questoes que moveram essas pessoas todas eram diferenes das actuais.
Hoje nao se ve demonstracao nenhuma da Fretilin a apoiar o PM.
"aguas passadas nao movem moinhos"
Anónimo 10:32 PM: acha então que em vez de mobilizar apoios para os deslocados que estão nos tais 55 campos de deslocados (de que fala a imprensa) e de reforçar a segurança nomeadamente nos bairros de Dili onde ainda há ataques e queima de casas, deveriam dirigentes e militantes da Fretilin gastar tempo e energias em promover manifestações?
Acha mesmo que tal seria necessário? Olhe, o PM já o disse mais do que uma vez que isso não é necessário e até poderia atiçar uma guerra civil. É isso que você quer?
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