«A população civil foi empurrada para a morte»
João Carlos Santos
Num momento de impasse em que as facções adversárias em Timor-Leste sustêm a respiração mas não largam as armas, o primeiro-ministro Mari Alkatiri fala do episódio crítico que levou os rebeldes para as montanhas: o alegado «massacre de Raikotu» de 28 de Abril.
Na semana passada, disse ao EXPRESSO que acreditava que não eram só miúdos a agir sozinhos nas ruas de Díli e que havia uma organização por detrás deles. De quê ou de quem está a falar exactamente?
Felizmente essa já não é só a minha opinião. As forças que estão no terreno, e que são forças internacionais, também já chegaram à conclusão que existe gente por detrás dos grupos que estão a desencadear assaltos e a queimar casas, porque têm rádios e walkie talkies. Comunicam entre si, o que dá entender que há uma organização central a gerir tudo isso. Alguns grupos desses estão activos. Outros grupos organizam-se apenas para aproveitar o caos na cidade.
Está a referir-se a grupos criminosos associados às ex-milícias pró-indonésias de 1999?
Alguns grupos, sim. Mas não podemos dizer que todos os grupos que estão a queimar casas são da mesma natureza. Há uns que o estão a fazer com o objectivo claro de atingir determinadas pessoas. Não por serem loromunos ou lorosaes, mas pessoas-chave.
Quem são essas pessoas-chave?
O objectivo é amedrontar funcionários de um certo nível para neutralizar a acção do governo, para criar o colapso político.
E acha que os grupos interessados no colapso político estão associados aos rebeldes do major Alfredo, dos majores Marcos e Tara e do tenente Salsinha?
Eu não tenho dados exactos para dizer que estão associados ao major Alfredo ou ao Tara. Não posso fazer essa acusação, mas a verdade é que eles próprios, nalgumas declarações, deixam transparecer isso: que vão fazer tudo para que haja um colapso na governação e que têm grupos infiltrados. Há outros grupos que aparecem espontaneamente que são oportunistas e que se aproveitam do momento para roubar. A maioria, até, é desse género.
Os rebeldes continuam a insistir que só aceitam começar o diálogo depois do primeiro-ministro se demitir.
Um grupo de rebeldes não pode querer determinar o futuro de um país. Isso não se pode admitir em lado nenhum.
Essa é uma condição que não vai mesmo aceitar?
Nunca. O país nunca mais seria um país. Hoje são eles, amanhã serão outros.
Os rebeldes acusam-no de ter dado ordens no dia 28 de Abril para que o exército das FDTL usasse a força sobre a população civil.
A ordem foi dada por mim. A polícia estava completamente destruturada, sem comando. Há leis que dizem que quando a polícia não é capaz de fazer o seu trabalho, as forças armadas podem ser solicitadas a intervir para repor a lei e a ordem. Mas a ordem não foi dada para atirar sobre populações civis e sim para controlar e afastar.
No Hospital Nacional de Díli, onde o EXPRESSO esteve, há a confirmação de que houve mais de 60 civis que foram baleados [cinco mortos confirmados, todos civis, embora o número possa ser maior porque os feridos graves foram levados pelas famílias]. Os rebeldes chamam-lhe «massacre de Raikotu». No momento em que lhe exigem que preste contas por isso, quem deve ser responsabilizado?
Sei que houve pessoas que até atiraram granadas sobre o exército. Uma granada explodiu e outra não. Morreram duas pessoas por causa da reacção das forças armadas a essas granadas, mesmo antes da ordem que eu dei. Fala-se em população civil mas a população civil anda de granadas na mão? A população civil anda com armas automáticas? Deve-se continuar a tratar essa população civil como população civil?
Está a dizer que os peticionários [desertores do exército] e os civis que se encontravam com eles estavam armados?
Claro. E se não estavam armados não deviam estar com os peticionários. Por que é que os peticionários empurraram a população civil para a frente, como escudo humano para poderem actuar? Essa foi a estratégia - uma estratégia usada pelas forças de Suharto muitas vezes aqui em Timor Leste.
No quartel-general das Falintil/FDTL, onde o EXPRESSO também esteve, os soldados dizem que os peticionários são milícias.
A verdade é esta: a população civil foi empurrada para a morte, para poderem acusar e provocar a queda do governo. E as forças armadas não podiam deixar-se caçar por eles, porque se não seria um desastre total.
Não atribui a responsabilidade ao coronel Lere Anan, que comandava as forças nesse dia?
Que responsabilidade?
A responsabilidade do exército ter disparado sobre civis.
É melhor fazer-se uma investigação primeiro.
Mas a investigação está a ser feita?
Não, não está a ser feita. Mas é preciso fazê-la, para descobrir quem disparou sobre quem. Os outros também estavam armados. Há soldados que apanharam tiros pelas costas.
Essa investigação não é urgente?
Nós já a pedimos em todo o lado.
E quem deve investigar?
O ministro dos Negócios Estrangeiros até já escreveu para a comissão dos direitos humanos, para fazer o seu relatório. Somos o primeiro país do mundo a pedir isso. Já escrevemos também para as Nações Unidas, para participar na investigação. Temos todos os sistemas de justiça a funcionar para a iniciar. Temos procuradores e juízes internacionais no nosso sistema de justiça, destacados pelas Nações Unidas. Não são só timorenses. Tudo isso vai ser feito. Como o que se queria é que tivesse morrido muita gente para se poder acusar o governo, continuam a apontar mais de 60 mortos. O último número do tenente Salsinha já fala em mais de 500 pessoas. Multiplicou-se por dez. Se morreram 60 pessoas, quem são elas? Onde estão os familiares que ficaram sem elas? Isto é uma investigação simples, não é como no tempo da Indonésia, quando Suharto não deixava ninguém vir aqui para investigar. Quantos jornalistas estão nesta cidade agora? Os jornalistas também têm uma certa capacidade de investigação. Ninguém avança os nomes dos mortos, nem sequer dos familiares das vítimas. No entanto, continuam a falar. Cheira a propaganda.
Tem informação precisa sobre as armas que têm sido apreendidas em Díli?
Não tenho dados oficiais. Falou-se em mais de 400 armas de fogo apreendidas, mas não posso confirmar. Espero bem que seja verdade, porque significa que há menos 400 armas nos bairros.
Está a correr bem a comunicação com as forças internacionais?
Ainda agora estiveram comigo o ministro de Defesa australiano e os respectivos comandantes que estão no terreno - da Austrália e da Nova Zelândia.
Existe uma tese da conspiração que defende que a Austrália está por detrás da situação caótica em Timor Leste. É um facto que continua ainda em aberto com o governo de Canberra o dossiê da exploração do gás natural nas águas marítimas timorenses. Isto faz algum sentido?
Para quem queira fazer uma análise de tudo isto, naturalmente tem de pegar em todas as peças do puzzle para perceber qual é origem deste conflito. Para quem governa o país, é preciso resolver agora e objectivamente o problema da estabilidade e o problema da lei e da ordem.
Há uma tensão com a Austrália sobre a decisão do pipeline de gás natural dos poços de Great Sunrise, por exemplo. A empresa operadora dessa área é australiana [Woodside] e existe um acordo que está à espera de ser ratificado pelo parlamento de Timor Leste que pode pôr em risco as pretensões futuras do seu governo em alargar os limites do Mar de Timor.
Não concordo com a interpretação de que esse acordo pode pôr em risco as pretensões timorenses. Há países no mundo com séculos de história que ainda não têm as fronteiras marítimas definidas. É melhor ter um acordo com um país vizinho para explorar os recursos marítimos do que adiar esse acordo. Se insistirmos com as fronteiras, não chegaremos a um consenso e precisaremos de mais 30 ou 40 anos. Depois desta crise actual, vamos poder responder muito mais rapidamente aos problemas de reconstrução do país porque já teremos recursos. Tudo o que tem sido feito com a Austrália no sentido de uma distribuição mais equitativa das receitas tem sido positivo.
Como é que vê a postura e as declarações do primeiro-ministro australiano John Howard? Ele pôs em causa a sua prestação à frente do governo em Díli.
A única interpretação que posso fazer é que John Howard não tem acompanhado a governação em Timor Leste, de certeza. Porque se tivesse acompanhado não teria dito a asneira que disse, acusando a governação de ter sido má quando ela foi elogiada por tudo e por todos, incluindo o governo australiano. Em Abril, estiveram em Díli os parceiros para o desenvolvimento de Timor Leste, onde uma importante delegação australiana esteve presente e todos elogiaram a governação. Agora de repente, em dois meses, virei um demónio para os media australianos. Se eu fosse primeiro-ministro de um país poderoso nunca interferiria na gestão política dos países pequenos.
A imprensa australiana sugere que estava a tentar reforçar o seu poder pessoal. No último congresso da Fretilin, os militantes tiveram de votar de braço no ar em si. Foi escrito também que não queria que as eleições de 2007 fossem acompanhadas pela ONU.
Isso é mentira. Estão a tentar demonizar alguém, como se demonizou outros líderes no mundo para depois os derrubar. Se alguém que se levantou no congresso da Fretilin o voto secreto, fui eu. Todos ignoraram isto. Quando as propostas vieram dos distritos para que a votação fosse de braço no ar, eu levantei-me a pedir o voto secreto. Só que a maioria votou pelo braço no ar. E o envolvimento da ONU nas eleições foi solicitado pelo governo.
Por si?
Sim, através da ministra da Administração Estatal. Pedimos à ONU que enviasse uma equipa de avaliação para saber o que é preciso fazer. Agora, o que pretendem é uma lei eleitoral aprovada pelo conselho de segurança [da ONU] e não pelo parlamento nacional. Isso não é possível. Este é um estado com orgãos de soberania que podem aprovar as leis. Porque se não continuaremos a ser um protectorado das Nações Unidas. Nós não somos um protectorado - nem sequer das Nações Unidas. Mas nós queremos a participação das Nações Unidas nas eleições. Porquê tanto barulho?
E o facto de ter reforçado a capacidade da polícia? A polícia estava mais bem armada do que o exército das FDTL.
A polícia nem sequer foi formada pelo governo. Nós herdámos uma polícia formada pelas Nações Unidas.
Mas foi reforçada por si. Criou novas unidades dentro da polícia.
Quando surgiram problemas em Ermera, Atulia e Elsabe de reintrodução de milícias que andaram a matar pessoas, houve necessidade de se enviar forças para lá, porque a presença internacional via isso como um conflito interno e que não podia envolver-se em problemas internos. Foi a decisão do estado, na altura. Do presidente Xanana. O estado decidiu enviar as FDTL para Atulia e Elsabe. Isto foi em Janeiro de 2003. A partir daí, porque enviámos as Falintil/FDTL para combater aquele grupo armado, fomos criticados por ser uma questão de polícia. Só que o grupo estava a usar metralhadoras e a nossa polícia tinha pistolas. Onde é que se viu uma polícia com pistolas ir combater um banditismo armado com metralhadoras? A partir daí nasceu a ideia de criar um grupo especial na polícia, a unidade de reserva, que são 80 homens.
E o que é que eles fazem?
Eles servem para combater esses grupos armados nas zonas rurais. São 80. Essa unidade foi criada quando as Nações Unidas ainda tinham a responsabilidade da defesa e da segurança.
Como é que explica as divisões internas dentro do exército e dentro da polícia?
Foram politizadas. Se falar com os comandos das FDTL fica a saber que a primeira coisa que aconteceu foi uma tentativa de aliciá-los para apoiar um golpe militar.
O general Matan Ruak [chefe do Estado Maior das Forças Armadas] foi aliciado por alguém?
Eu disse o comando, não falei de nomes.
E o comando foi aliciado por quem?
Eu não vou falar de nomes. As pessoas que me ouvirem sabem a quem me estou a referir. Houve uma tentativa de aliciar o comando das FDTL para apoiar um eventual golpe de estado.
Um golpe de estado ligado a milícias?
Ligado a vários sectores do país. Sectores fora do estado. O comando foi claro a dizer que só haveria mudanças por vias constitucionais e por vias eleitorais e que não permitem golpes. A partir daí, a melhor forma foi enfraquecer as Falintil/FDTL.
Tem recebido apoio suficiente de Portugal na gestão desta crise?
Sim. Falei inúmeras vezes com o primeiro-ministro José Sócrates. Há uma disponibilidade total por parte de Portugal no sentido de nos ajudar, mais uma vez, a restabelecer a lei e a ordem e em dar-nos assistência na recuperação económica de Timor-Leste. Só tenho de agradecer. A postura portuguesa tem sido exemplar ao não se envolver nos ditos questiúnculos internos, mas em apenas ajudar.
Acredita que vai ganhar as eleições em 2007?
Não tenho dúvidas.
Sente-se nervoso?
Não. Eu trabalho muito bem sob pressão. Fico mais nervoso quando não tenho pressão.
Não tem medo?
Não. Se tivesse medo já teria morrido de susto.
E tem conseguido dormir?
Não. Não por ter medo ou por estar nervoso, mas porque tenho preocupações e tenho sentido de responsabilidade. Durmo alguma coisa. Não uso medicamentos para dormir. De vez em quando, tomo mais um uísque ou dois. Remédios, não.
Micael Pereira, enviado a Timor
19:02 9 Junho 2006
sábado, junho 10, 2006
Entrevista Expresso - Mari Alkatiri
Por Malai Azul 2 à(s) 15:56
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
5 comentários:
Pergunta: "Os rebeldes acusam-no de ter dado ordens no dia 28 de Abril para que o exército das FDTL usasse a força sobre a população civil."
O PM responde: "A ordem foi dada por mim. A polícia estava completamente destruturada, sem comando. Há leis que dizem que quando a polícia não é capaz de fazer o seu trabalho, as forças armadas podem ser solicitadas a intervir para repor a lei e a ordem. Mas a ordem não foi dada para atirar sobre populações civis e sim para controlar e afastar."
1- Esta claro a confirmacao do PM em ter mobilizado as F-FDTL.
2- As "leis" a que o PM se refere deve ser a Lei Organica Das F-FDTL que realmente preve a actuacao das F-FDTL em cooperacao com as PNTL (artigo 3), MAS tambem e mais importante estabelece as condicoes em que as F-FDTL podem desenvolver essa actuacao (artigo 18).
Ou seja o artigo 3 preve a intervencao das F-FDTL em questoes de seguranca interna mas o artigo 18 estabelece que a "missao de apoio as autoridades civis" deve ser feita mediante a declaracao de "estado de Crise" que deve ser declarada pelo Governo em CONCERTACAO com o Presidente da Republica.
Existem serias duvidas que essa CONCERTACAO foi estabelecida aquando da mibilizacao das F-FDTL a 28 de Abril em Taci-tolu (raikotu) que foi a primeira intervencao das F-FDTL e que provocou a contestacao e desercao do Maj. Alfredo Reinado e outros Majores assim como a maioria das PNTL.
Se nao houve realmente CONCERTACAO a ordem foi ilegal.
HanoinTokBa
HanoinTokBa: pelo seu raciocínio devia-te ter ficado à espera que os cobardes que se esconderam atrás da população, levassem a água ao seu moinho, incendiassem o palácio, massacrassem os seus ocupantes, partissem depois para o Parlamento Nacional que também incendiariam e depois de decapitarem estes dois órgãos de soberania, completassem o trabalho junto do Tribunal Supremo, como dias depois tentaram fazer.
Compreendo que para os apoiantes dos desertores golpistas a pronta intervenção das FDTL na reposição da ordem pública foi um contratempo, por isso está tão chateado. Mas para grandes males, grandes remédios e na avaliação do PM foi necessário perante a situação explosiva no terreno, recorrer às FDTL. Fê-lo obrigado pelas circunstâncias. Foi uma decisão corajosa que impediu a consumação do golpe, logo aí. E é isto que você não lhe perdoa.
Cara Margarida: Fiquei incredulo e um tanto desapontado com a sua resposta
Vejo que faz muitas especulacoes quanto ao que iria acontecer se as F-FDTL nao tivessem intervido.
Fico preocupado pela sua atitude quando, por um lado nao refuta a ilegalidade da ordem do PM para a mobilizacao as F-FDTL, e logo a seguir elogia a "decisão corajosa" (ainda que ilegal) do PM argumentando que "Fê-lo obrigado pelas circunstâncias".
Lembro me ainda perfeitamente as nossas discussoes anteriores em que a Margarida defendia a estricta observancia da legalidade como argumento contra a demissao do PM. Criou e mim uma impressao de ser uma pessoa respeitadora e defensora da lei a todo o custo.
Desiludiu-me muito a sua resposta.
As especulacoes que faz relativamente a destruicao que PODERIA resultar caso o PM nao tivesse tido a "coragem politica" de disconsiderar a lei e enviar as F-FDTL para a evitar essa "destruicao" carece qualquer fundamento legal.
Mais que isso nao e uma avaliacao objeciva daquilo que acontecia no terreno e passo a explicar porque.
A denonstracao ocorreu a frente do palacio do governo e tornou-se violenta resultando em danos ao edificio do palacio e viaturas do governo como todos testemunhamos nos ecrans da televisao.
A maioria dos peticionarios estavam agrupados a varios quilometros do local (Raikotu, Taci-tolu). Foi apos a demonstracao violenta a frente do palacio do governo que as F-FDTL foram mobilizadas e enviadas para taci-tolu. A sua chegada nesse local desencandeou os confrontos que se prolongaram pela noite fora apos a area ter sido completamente isolada pelas F-FDTL.
Mediante este cenario devo dizer que tem razao quando diz que estou "chateado". Devo no entanto dizer que estar "chateado" e uma substimacao da maneira como sinto. O que eu estou e realmente INDIGNADO por uma actuacao ilegal que resultou na perda de muitas vidas dos meus conterraneos.Doi me a alma quando constato que as mortes ilegais nas maos de Forcas Militares a ordem das autoridades nao sao somente um facto do infeliz passado da ocupacao indonesia mas sim tambem uma realidade vivida num Timor-Leste independente onde supostamente a lei e a ordem, respeito pelos direitos humanos, democracia sao as palavras de ordem nos discursos proferidos pelos lideres em "worksops" e eventos publicos.
A sua resposta preocupa-me porque se a Margarida, uma portuguesa e longe de Timor, pensa assim quanto mais o PM em Timor e perante uma situacao de maior aperto politico a sua posicao.
O povo Timorense e um povo de fe, e peco a Deus que o PM nao tome mais nenhuma "decisao corajosa" semelhante aquela que tomou para Taci-tolu.
Peco a Deus que abencoe o povo simples de Timor para que encontrem a paz e sossego, e que os criminosos sejam trazidos a justica sejam eles quem forem.
HanoinTokBa
Poderia elogiar a sensatez aparente das palavras do nosso anónimo em contraste com a emotividade óbvia que move a Margarida.
Contudo – entrevejo obviamente – um contraste de tendências: Pró e anti Alkatiri, que leva a uma interpretação tendenciosa desde ambas as partes.
Se – por um lado – o nosso amigo anónimo demonstra relativamente bem como a emotividade da Margarida a pode levar a cometer imprecisões – e lhe dá o golpe subtil de a apontar no estrangeiro como forma de intimidar a sua intervenção no debate, o amigo anónimo cai no enredo das suas palavras aparentemente conciliadoras quando refere que:
“Se nao houve realmente CONCERTACAO a ordem foi ilegal.” (sublinhado da minha autoria)
Esta foi a declaração (de novo tendenciosa) do seu primeiro post.
“O que eu estou e realmente INDIGNADO por uma actuacao ilegal que resultou na perda de muitas vidas dos meus conterraneos.” (sublinhado da minha autoria)
Esta foi a declaração do seu segundo post.
Não havendo referência alguma a ilegalidades – por não haver referência a desconcertação alguma entre presidente e P.M, a tendenciosidade e manipulação de informação com vista a provocar uma reacção nos leitores baseada numa aparente análise ponderada dos dados existentes resulta crassa.
Mais, suponho que esta forma de arranjo em dados e informações parte do meio político (o conhecimento das leis nacionais é deveras meritório).
Contudo – e sempre – prefiro a forma aberta e honrosa do povo Timorense que demonstra o seu agrado ou desagrado de frente e olhos nos olhos.
Suponho que – uns mais outros menos – conhecemos as pressões internacionais de diversa índole e os vários interesses geo-estratégicos e de recursos que envolvem Timor.
Reconhecemos que – no plano internacional – todas as boas intenções têm por detrás uma necessidade intrínseca de se evitarem perdas económicas e de se retirarem dividendos. Sejamos pragmáticos ao ponto de admitir que – em questões estatais – nunca se fala de caridade ou compaixão mas sim de política.
Dito isto. Admiro Timor por se manter uma barca que navega. Uma barca humilde e com madeira forte de árvores ancestrais com raízes profundas. Uma barca simples, com velas suaves e pacatas. Uma barca que está no centro do furacão de uma tempestade dos tempos que correm… e, ainda assim – se mantém para desgosto de muitos e esperança de alguns.
Num mundo onde todos temos bases estrangeiras em terreno próprio, onde divisas alheias controlam os tempos que oferecemos às verdades mais convenientes para outrem que não o amor próprio – Timor – dói e incomoda a muita gente. Mas dá esperança a tantos outros.
Como o amigo anónimo, posso esperar que o coração pacífico e sossegado do povo Maubere encontre forma de se fazer ouvir. Que a justiça que vem da simplicidade e da naturalidade que emana da sua própria identidade se sobreponha a toda influência externa – por muito bem intencionada que possa parecer. E que – finalmente livres de salvadores e representantes de papel – possam seguir o governo ancestral de homens de direito, nascidos na tradição e no sangue da terra que os criou, alimentou e edificou como Mauberes de raiz.
Bem haja.
Simbelmune:
Discordo consigo quando diz:
"Não havendo referência alguma a ilegalidades – por não haver referência a desconcertação alguma entre presidente e P.M, a tendenciosidade e manipulação de informação com vista a provocar uma reacção nos leitores baseada numa aparente análise ponderada dos dados existentes resulta crassa."
A falta de "Concertacao" como prescreve a lei necessaria para a declaracao de Estado de Crise que possibilita a actuacao das Forcas Armadas esta evidenciada pela ausencia de um anuncio publico do Presidente da Republica relativamente a esse Estado de Crise antes da mobilizacao das F-FDTL e do icidente de Taci-tolu.
O contrario aconteceu na altura em que o Presidente conjuntamente com o Governo declarou a existencia desse estado de crise e pediu o apoio de forcas militares internacionais para reporem a ordem n pais.
Quanto a minha tendensia, devo dizer que e pro direitos humanos, e nao propriamente anti Mari Alkatiri.
Admito a existencia de pessoas que sejam anti Mari Alkatiri por ele ser Mari Alkatiri. Nao e esse o meu caso. Se sou anti, sou sim anti um acto ilegal que causou mortes de civis inocentes. Mas acho que a palavra anti em si e muito forte conotada com uma serie de sentimentos negativos que nao possuo
HanoinTonkBa
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