Publico
9.06.2006
A distribuição em Díli, pelo contingente australiano, de cartazes tipo "acção psicológica" foi mal recebida por sectores portugueses, que olham com desconfiança e ressentimento a política timorense da Austrália.
Missionários e cooperantes portugueses, acompanhados por parte da população timorense de maior influência cultural portuguesa, não perdoam aos sucessivos governos australianos - à esquerda e à direita, indiferentemente - o apoio expresso dado à ocupação indonésia. Apesar da condenação da invasão e ocupação do território, pela ONU, que sempre o considerou sob administração portuguesa, a Austrália não só reconheceu a integração, como fez um acordo de partilha das riquezas petrolíferas do mar de Timor com a Indonésia.
A liderança da Interfet, pelas forças australianas - as primeiras a chegar a Díli e a conterem as milícias pró-indonésias em 1999 - bem como os estratagemas negociais usados por aquele país para atrasar as negociações sobre o petróleo, só agravam as desconfianças destes sectores. O apoio "desinteressado" de Portugal aos timorenses, acusam, contrasta com a "cupidez" dos interesses dos australianos, a quem um dos representantes mais conhecidos desta tendência, padre Felgueiras, tratava sistemática e pejorativamente, por "cangurus".
O ressentimento, com laivos de hostilidade, que a facção portuguesa alimenta, só encontrará paralelo na incompreensão, com laivos de desprezo, com que alguns sectores australianos olham para os sinais da presença portuguesa no país, em particular da língua, e para afectividade que ainda marca as relações entre os dois povos, e de que foi exemplo a recepção calorosa prestada aos militares da GNR, domingo passado.
Esta disputa, surda, de influências entre portugueses e australianos desenrola-se tendo como pano de fundo a continuação da violência de carácter étnico, que irrompeu trazida no bojo por um conflito institucional só aparentemente resolvido.
Numerosos habitantes de Díli, oriundos da parte oriental da ilha, continuam a abandonar a cidade, por verem que o incêndio de casas de lorosaes prossegue, perante a indiferença dos vizinhos. Pela primeira vez desde o início do conflito, desconhecidos atacaram a tiro e incendiaram uma sede da Fretilin, bem como a casa do vice-coordenador deste partido na região de Ermera.
Ao mesmo tempo, na região de Liquiçá, um grupo de populares com fardamentos da guerrilha, dispararam armas diante da câmara de um repórter da estação de televisão australiana ABC, dizendo que estas lhes haviam sido oferecidas pelo antigo ministro do Interior, Rogério Lobato, entretanto escolhido para vice-presidente da Fretilin, pelo comité central deste partido, reunido em Díli.
O primeiro-ministro, Mari Alkatiri, rejeitou as alegações do grupo, mas acusações no mesmo sentido têm vindo em crescendo, nos últimos dias, lançadas pelos militares que abandonaram a cadeia de comando e que exigem a Xanana Gusmão que demita o Governo e dissolva o Parlamento.
AG, em Díli
sábado, junho 10, 2006
Atrito Portugal-Austrália com drama timorense ao fundo
Por Malai Azul 2 à(s) 17:16
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
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