António Sampaio (Texto) e Manuel Almeida (Fotos), da Agência Lusa Díli, 10 Jun (Lusa) - Localizada no coração de Becora, um dos bairros da capital de Timor-Leste onde se registaram nas últimas semanas alguns dos confrontos mais graves, a cadeia de Díli é considerada um dos locais mais seguros da cidade.
Palco de pelo menos dois motins, durante o período de transição sob administração das Nações Unidas, a cadeia tornou-se agora num quase oásis de calma, enquanto em seu redor, nas últimas semanas, se multiplicavam os confrontos entre grupos armados, que provocaram duas dezenas de mortos, e a destruição de propriedades.
Ao contrário de outros funcionários públicos, os guardas prisionais mantiveram-se sempre em funções, chegando mesmo a reforçar a segurança em dias de maior tensão ou conflito, e os reclusos "nunca causaram qualquer problema", como explicou Ermenegildo Mendonça, supervisor do centro.
"Nunca saímos daqui. Sempre aqui ficámos", realça um dos guardas prisionais, Paulo Sequeira.
Entre os 168 reclusos actualmente em Díli, todos homens, apenas quatro foram detidos no período desde finais de Abril, marcado por violentos confrontos, saques e destruição e pilhagem de propriedades públicas e privadas.
Todos eles - três timorenses acusados de incendiarem propriedades e um indonésio acusado de violação - foram detidos pelos efectivos da GNR presentes em Díli, tendo sido ouvidos por um juiz que decretou a sua prisão preventiva, enquanto aguardam julgamento.
Para o local poderão vir a ser transferidos alguns dos presos, cerca de uma dezena, actualmente no Centro de Detenção temporário, instalado no antigo comando distrital de Díli da Polícia Nacional de Timor-Leste, controlado por militares australianos.
Com a polícia timorense fragmentada e nenhuma das esquadras da cidade a funcionar, o centro de detenção é uma "esquadra" improvisada, servindo para processar, numa primeira fase, suspeitos detidos por efectivos internacionais em operações em Díli.
A necessitar urgentemente de obras, como tantas outras infra- estruturas em Timor-Leste, a cadeia só ainda não se tornou uma "dor de cabeça" porque os reclusos se têm mantido calmos, como explicou uma funcionária internacional afecta ao serviço prisional.
Os espaços exteriores, que mais se assemelham a jardins de uma qualquer escola da cidade, são marcados pela proliferação de potenciais armas, com chão de tijolos, muitos dos quais soltos, e outros montículos de potenciais "armas de arremesso".
O complexo é formado por sete blocos de celas, a que se somam vários outros pavilhões, um recentemente convertido em biblioteca, um usado como clínica, um como igreja e outro como espaço para a formação e ensino de Português, língua oficial de Timor-Leste, a par do Tétum.
Perante as carências que se sentem noutros pontos da cidade, porém, e numa altura em que dezenas de milhares de timorenses sobrevivem em campos de deslocados com condições paupérrimas, estar em Becora é quase um luxo.
O local nunca esteve sob ameaça, nem interior nem do exterior, e os reclusos têm comida e segurança, ainda que Paulo Sequeira admita que faltam legumes e carne.
Carências que ficam longe das que se sentem fora dos portões e que fazem relembrar a história de Tobias Araújo, que em Fevereiro de 2000 - muito depois da cadeia ter sido destruída e abandonada na onda de violência pré-referendo de 1999 - continuava a "viver" numa das celas da cadeia, com o argumento de que fugir era mais perigoso do que estar preso.
ASP.
Lusa/Fim
sábado, junho 10, 2006
Cadeia de Becora é um dos locais mais "seguros" de Díli
Por Malai Azul 2 à(s) 19:15
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
1 comentário:
E ontem no telejornal da RTP ouvi alguns dos guardas prisionais com simplicidade a explicarem que "não podiam deixar os presos sem comida". Explicação que me deixou um nó na garganta e uma vontade de os abraçar a todos.
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