quinta-feira, abril 10, 2008

Embaixador dos EUA diz que 11 de Fevereiro "tem consequências muito graves"

Díli, 09 Abr (Lusa) - Os ataques de 11 de Fevereiro "têm consequências muito graves para Timor-Leste", em termos de credibilidade e investimento estrangeiro, afirmou o embaixador dos Estados Unidos em Díli em entrevista à agência Lusa.

Hans Klemm, embaixador dos Estados Unidos desde Junho de 2007, sublinhou, no entanto, que "há alguns sinais bastante encorajadores depois dos acontecimentos" de Fevereiro, com a forma como "as autoridades responderam a esta crise muito melhor que à de 2006".

O embaixador norte-americano apelou para a rendição do ex-tenente Gastão Salsinha, notando que há uma maioria de timorenses que "sabem que a instabilidade é nefasta para o futuro do país" e outros "que apenas se ocupam de ambições pessoais".

"Há alguns que se ocupam mais com as suas próprias ambições egoístas e não querem pôr de lado o seu interesse a favor do interesse mais alto do seu país", declarou Hans Klemm na entrevista à Lusa.

"Na actual situação, encorajo com muita veemência a rendição do senhor Salsinha, que eu não conheço nem nunca encontrei, e que tem um mandado de captura em relação ao 11 de Fevereiro", afirmou o embaixador.

Hans Klemm acrescentou que a rendição de Salsinha "é não apenas no seu interesse mas no do país, se é isso que ele tem em mente".

O duplo ataque contra o Presidente José Ramos-Horta, pelo major Alfredo Reinado, e contra o primeiro-ministro Xanana Gusmão, por Gastão Salsinha, foi "uma surpresa completa" para a embaixada dos EUA em Díli, disse Hans Klemm.

O diplomata garantiu nada saber sobre o que se passou a 11 de Fevereiro, nem sequer o resultado da investigação conduzida em Díli por agentes do FBI, a polícia federal norte-americana.

"Os dois agentes do FBI (o terceiro esteve apenas em apoio da chegada da equipa e deixou o país passados dois dias) foram a resposta rápida dos EUA a um pedido do Presidente interino 'La Sama' de Araújo", informou Hans Klemm.

"A equipa do FBI já regressou há bastante tempo aos EUA, depois de cumprir a missão que lhe foi dada pelo Procurador-Geral da República. Não partilharam nada comigo", adiantou o embaixador.

"Ouço os mesmos rumores que toda a gente, mas não tenho informação adicional", concluiu Hans Klemm sobre a natureza dos ataques.

"O FBI e o governo americano continuam disponíveis para providenciar mais assistência", acrescentou o diplomata.

"Se tivéssemos esta conversa no início de Fevereiro ou no final de Janeiro e me perguntasse sobre a situação de segurança aqui, eu diria que tinha esperança no país", respondeu Hans Klemm.

"A minha percepção no final de Janeiro era que o país estava na senda da estabilidade. E que o governo saberia lidar com os problemas de curto prazo e poderia começar a enfrentar os desafios de longo prazo, a melhoria dos serviços públicos e (a atracção de) investimentos. E então aconteceu o 11 de Fevereiro", referiu.

Hans Klemm disse que "nos contactos com timorenses, muita gente refere este padrão de o país ter crises, às vezes grandes, outras vezes menos graves".

"Cada vez que o país avança, acontece um grande revés. Mesmo para as pessoas normais, é difícil planear para o futuro", notou o embaixador norte-americano.

Essas crises "têm consequências muito sérias", frisou, salientando que no caso do 11 de Fevereiro, "perdeu-se muito tempo, se não de facto, pelo menos psicologicamente".

Hans Klemm sublinhou nesta entrevista que "iniciativas que estavam em andamento foram suspensas após os ataques".

"Para lá da tragédia de o Presidente ter ficado em estado grave e do perigo que correu o primeiro-ministro, há um grande prejuízo para o país", frisou.

Hans Klemm deu o exemplo de uma intervenção da Millennium Challenge Corporation (MCC) em Timor-Leste.

"Trata-se de um dos grandes fornecedores de assistência económica ao desenvolvimento. Os responsáveis da MCC interrogam-se agora sobre a estabilidade geral do país e a capacidade do governo garantir o cumprimento dos critérios exigidos em termos de desempenho político aos países onde a MCC trabalha", explicou.

Para lá de "ajustes operacionais" de vária ordem, disse o diplomata norte-americano, "o que é realmente grave é que um estrangeiro que pretenda fazer negócios em Timor-Leste pensará duas vezes".

"É do nosso interesse investir no futuro de Timor-Leste. Timor está entre o nosso melhor aliado na região, a Austrália, e um parceiro cada vez mais importante dos EUA, a Indonésia", explicou Hans Klemm sobre a agenda norte-americana em Díli.

"Em resultado dessa posição, esperamos que Timor-Leste também possa ser um país estável e uma democracia próspera", declarou.

"Além disso, partilhamos as aspirações fundamentais dos timorenses", acrescentou.

Hans Klemm admitiu que "a esperança da comunidade internacional e dos EUA em 2002, na independência, era a de que o país tivesse um futuro mais próspero e estável do que hoje".

Na recente conferência anual de doadores, os EUA defenderam que o governo timorense "pode aumentar o seu investimento no próprio futuro".

Hans Klemm disse ter levantado a hipótese de o governo timorense decidir contrair empréstimos "em credores institucionais como o Asian Development Bank e o Japanese Yen Loan Program".

O embaixador dos EUA sugere também que, apesar de o Fundo do Petróleo timorense "ter um mecanismo que deve ser mantido", o governo deveria poder retirar mais receitas, tendo em conta o enorme aumento do preço do crude desde a criação do Fundo.

O Fundo do Petróleo timorense foi elogiado pelo secretário de Estado adjunto para a Ásia Oriental e Pacífico norte-americano, Christopher R. Hill, numa audiência com o ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri, durante a visita de dois dias que efectuou esta semana a Díli.


PRM
Lusa/fim

NOTA DE RODAPÉ:

A quem se refere o embaixador? Ou é apenas mais do mesmo?

3 comentários:

Anónimo disse...

O embaixador americano tem razão num aspecto: Timor-Leste é um país adiado há dois anos devido à irresponsabilidade dos seus políticos.

Entretanto, há vários investidores estrangeiros interessados em TL, que contudo são irritantemente mantidos à distância por esta interminável instabilidade. Quem quer investir num país assim?

Dir-se-ia que alguém está interessado em que esta situação se mantenha. Serão os tais que se preocupam "mais com as suas ambições" do que com o "interesse mais alto do país"?

Seria interessante saber quem são.

Anónimo disse...

Trata-se de um dos grandes fornecedores de assistência económica ao desenvolvimento. Os responsáveis da MCC interrogam-se agora sobre a estabilidade geral do país e a capacidade do governo garantir o cumprimento dos critérios exigidos em termos de desempenho político aos países onde a MCC trabalha", explicou.

Acima esta o mais interessante. O MCC, qual porgrama de investimento publico os EUA classificou Timor-Leste como qualificado em 2004, agora porvavelmente ja nao qualifica. Porque? Ele nao esclareceu, mas quem conhece o MC sabe que indicadores criticos incluindo baixo nivel de corrupcao, boa governacao, alto respeito aos direitos humanos e defesa forte o estado de direito: todos indicadores em que Timor-Leste desde a entrada do governo da AMP, esta a nao so cair atraz, mas afundar-se muito. Temos que perguntar exactamente porque eh que Timor-Leste agora esta a ser interrogado....nao eh so por um ou dois ou tres atentados.

Anónimo disse...

Por este caminho nem daqui a uma geração.
Este governo e em geral todo o dirigismo timorense, com algumas poucas excepções, tem de aprender que vai uma grande diferença entre diplomacia e rebaixismo, conivência, branqueamento. E aí vai uma grande diferença entre a fretilin e o resto das forças politicas, pois durante os quase 4 anos de governação desta até Abril de 2006, mesmo que com algumas criticas que se possam fazer no processo de reconciliação, manteve sempre uma linha clara dos valores que norteavam na relação entre o futuro moldável e um passado imutável, nunca passando, qual bulldozer, por cima dos mauberes martirizados durante 24 anos.
Ser PM não é ser ministro dos Negócios Estrangeiros nem um qualquer diplomata, ser PM tem uma carga simbólica fundamental, deve transmitir uma imagem de liderança moral, impoluta, referencial para toda a população, dando mostras à sociedade que se lidera a direcção que se preconiza para o futuro da mesma.
E neste caso o que parece tem muita importância, os actos simbólicos são representativos de ideais e valores e não são apenas actos desprezáveis. Posso dizer que o Sr. PM Xanana é apologista para a sociedade Timorense do uso indiscriminado da hipocrisia, da inexistência de passado, e da inexistência de honra perante os que mais sofreram. Passado???? Que é isso??? Haaaaaaa, é desprezível????? Não, não é com estas coordenadas, que eu quero ver a sociedade timorense desenvolver-se.
Do PM Xanana eu não consigo dizer quem é que ele respeita ou não, qualquer pessoa sabe que não é assim que se criam verdadeiras amizades. Vejam…..a Inglaterra recusou-se a ir à reunião da União Europeia com Africa por causa da presença do PM do Zimbabué, o PM português estava lá, mas não lhe deu grande abraço, nem sorrisos e gargalhadas, nem bolachinhas nem cházinhos.
Gostava de propor à fabrica, para que mais facilmente se entenda o que digo, que se faça um apanhado fotográfico da governação do antigo PM Alkatiri e do actual PM Xanana, os momentos de aperto de mão, as cerimonias solenes a que foram, ponhamos lado a lado ambas as compilações e vejamos…com quem, com que disposição, qual o grau de afabilidade, etc……tudo conta ( nesta noticia já temos um bom exemplo). O que parece tem imensa importância em todas as direcções, e não apenas naquela que dá mais jeito aos políticos.
PM Xanana, governo e dirigentes, aprendam a comportar-se perante quem vos deu o poder, honrem o povo TIMORENSE.

MALAI LARAN-KRAIK

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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