segunda-feira, junho 25, 2007

"Presença portuguesa em Timor-Leste é uma farsa"

Lusa - 24-06-2007

Candidato socialista timorense diz que os líderes "mentem a Portugal" sobre a língua oficial
Avelino Coelho, candidato a primeiro-ministro pelo Partido Socialista Timorense (PST), afirmou hoje à Lusa que "a presença portuguesa em Timor-Leste é uma farsa" e que os líderes timorenses "mentem a Portugal" sobre a língua oficial.
"Os timorenses não foram sinceros (com Portugal) e apostaram no cavalo errado", afirmou, em entrevista à Lusa, Avelino Coelho, falando sobre a questão da língua oficial em Timor-Leste e das relações entre os dois países.
"Se fossem sinceros e se quisessem mesmo a língua portuguesa em Timor-Leste, cinco anos depois da independência já teríamos todas as escolas primárias com o ensino do português e já teríamos uma lei exigindo que quem investir em Timor fale e escreva em português", declarou Avelino Coelho.
"Passaram cinco anos", acrescentou o cabeça-de-lista do PST, e os líderes timorenses "vão para Portugal com discursos satisfatórios, regressam e não conseguem satisfazer o povo".
Os dirigentes timorenses, acusou Avelino Coelho, "vivem entre duas realidades: precisam dos apoios de Portugal, precisam daquele calor humano conseguidos dentro de 300 ou 400 anos da marcha da Humanidade, aos solavancos, mas estão perante esta realidade social: os jovens" que cresceram sob a ocupação indonésia.
"Podiam investir muito dinheiro nos primeiros anos, com reciclagem dos funcionários, se nós quiséssemos português", adiantou o líder do PST.
Também Portugal não contribuiu para a expansão da sua língua em Timor, acusou Avelino Coelho. "Eu disse aos portugueses quando lá estive em 2000: se quiserem que o português seja a nossa língua oficial, não será uma língua em que falamos nos hotéis, nos restaurantes com os ovos estrelados". "Invistam em Timor, disse aos empresários portugueses: 500 televisores, 500 professores, um para cada suco. Trabalhávamos em um ou dois anos e todo o Timor falaria português".
"A relação histórica entre Timor e Portugal é vinculada por dois elementos, a língua portuguesa e a religião, mas a identidade timorense é o tétum.
A ligação histórica que une os dois povos é esta. Não há problemas", afirmou Avelino Coelho, descendente de um minhoto que foi enviado para Timor pelo Estado Novo.
Se o PST fosse governo, colocaria em marcha legislação e programas para fazer do tétum "uma língua evoluída, a par do estudo do português".
Segundo Avelino Coelho, os falantes de português em Timor-Leste não devem ultrapassar hoje "5 a 6%" da população.
Sobre a contribuição de Portugal para o desenvolvimento de Timor-Leste, Avelino Coelho comentou que a antiga potência colonial "fez aquilo que podia fazer, os timorenses é que não souberam aproveitar este apoio".

1 comentário:

Anónimo disse...

Acredito que as preocupações de Avelino Coelho sejam sinceras, bem como a sua disponibilidade para acelerar o desenvolvimento do Português e do Tétum em Timor.

No entanto, a situação não é assim tão negra. Em todas as escolas primárias e pré-secundárias já se ensina em Português; a formação de funcionários públicos, incluindo deputados, prossegue a bom ritmo e já está dando os seus frutos.

A ideia dos 500 televisores é boa e muito simples. No entanto, TL já recebeu equipamento novo para a TVTL e estão sendo instalados meios que possibilitem a transmissão de TV para fora de Dili.

Os professores portugueses não serão 500, mas andam lá perto. Não esquecer os brasileiros (cerca de 100) e, sobretudo, os professores timorenses formados pelos seus colegas lusófonos, que são a peça fundamental nesta engrenagem.

Quanto ao Tétum, quero realçar o extraordinário trabalho que foi feito pelo INL, durante vários anos, contra muitas adversidades. Isso, contudo, não impediu os seus valorosos membros (amaioria dos quais timorenses) de levar a cabo verdadeiras façanhas, como dicionários, gramáticas e uma ortografia padronizada.

Infelizmente, desde os tristes acontecimentos de 2006 que tudo isso parou. Agora, está nas mãos dos timorenses retomar esse trabalho e, se necessário, sensibilizar Portugal para que apoie também a tarefa de desenvolver o Tétum.

Estou completamente de acordo quanto à necessidade de acarinhar e integrar os jovens que estudaram em escolas indonésias, para que estes não se sintam marginalizados.

Gostei sinceramente da crítica honesta e objectiva de Avelino Coelho, que mostra preocupação com o seu país e tenta contribuir com algumas ideias.

Oxalá que os seus colegas de outros partidos sigam o seu exemplo e ponham de lado os ódios e invejas, que não nos levam a lugar nenhum (excepto talvez para o precipício).

Espero que essas ideias de AC possam chegar até Lisboa, para que Portugal adapte melhor a sua ajuda às necessidades timorenses.

Portugal está disposto a apoiar os timorenses, pois é assim que os amigos devem ser. Mas se as coisas não estiverem a correr bem, basta conversar e corrigir o que estiver mal. Sobretudo, deve haver diálogo permanente entre Dili e Lisboa.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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