Blog Timor Lorosae Nação
18.11.2007
Ana Loro Metan
Ainda ontem gabei o bom tempo que fazia em Portugal, principalmente na Grande Lisboa, mas hoje já experimentei alguns arrepios de frio e, segundo dizem, vem lá chuva por toda a semana que vem. Nota-se que a temperatura desceu substancialmente, a esta hora estão uns miseráveis doze graus e a previsão é para uma mínima de nove.
Brrrr, parece que saímos de Dili e subimos, subimos, desembocando na mais alta e inóspita montanha.
É o preço a pagar para passar o Natal e uns bons tempos com parte da família cujas saudades já estavam a rebentar com o pote das ditas. Esta coisa de nos sentirmos divididos dá lugar a um mau estar que é permanente e irremediável. Adiante.
Com origem naquilo que escrevi ontem, tive dois ou três amigos que comentaram e me questionaram praticamente no mesmo sentido.
Fazem-me um convite para ser franca comigo própria e “questionar, sinceramente, até que ponto é que o incidente de 28/29 de Abril contribuiu para o agravar da situação que levou à crise…”.
A referência é clara e tem a ver com “a formação das milícias armadas da Fretilin” que certamente “faziam parte de algum plano para perpetuar o poder da Fretilin pelos 50-100 anos como os seus lideres diziam publicamente e com os peitos inchados…”.
Eu sei que corro um risco danado em continuarem a dizer que tenho inclinações para a Fretilin e Alkatiri, mas não me importo que o façam por somente defender aquilo que considero ser os reais interesses do milhão e meio de timorenses de que faço parte – é que há quase meio milhão espalhado pelo mundo, na diáspora.
Aquilo que Rogério Lobato fez não consigo aprovar. No entanto, convido os amigos que me interpelaram a perguntarem-se até que ponto é que concordaram com as declarações do nosso presidente da República quando diz “depois da acção vem a reacção”, a propósito do que recentemente se passou em Comoro.
É que se concordam com esta teoria, forçosamente têm de compreender Rogério Lobato. Rogério reagiu da forma mais errada possível ao golpe de estado em curso.
Procedeu assim pela sua péssima formação, há que dizê-lo. Provavelmente fê-lo ao arrepio da direcção da Fretilin – acredito que sim – e cometeu a maior asneira da sua vida por nos ter prejudicado a todos ao fornecer pretextos aos golpistas para actuarem e encontrarem razões inexistentes para tomarem o poder.
Certo, é que a Central Golpista sabia que ele iria assim reagir e estendeu-lhe a artimanha. Isso sabe-se hoje e já há uns bons tempos. Temos Railos, Salsinha e outros.
Considero insuficiente a penalização dada ao então ministro Rogério Lobato, até porque com isto morreu também um familiar meu, até porque as suas tendências para a “democracia musculada” eram conhecidas e mal vistas.
A “história” dos cinquenta ou cem anos de Alkatiri nunca me causou receios. Sempre considerei que o disse por analogia a “vamos governar bem, não temos que nos preocupar, seremos os mais eleitos durante uns bons tempos”.
Era um convencimento de Alkatiri e da Fretilin que estavam a governar bem.
Já o disse, em muita coisa não estavam!
Exactamente por isso é que há eleições de quatro em quatro anos e os seus opositores deviam proceder democraticamente. Aguardarem, contestando democráticamente o mau governo, propor melhor e submeterem-se à vontade eleitoral de todos nós.
Evidentemente que hoje estaríamos bem, sem mortes e destruição, de certeza absoluta, com um governo sem ponta por onde lhe pegar, verdadeiramente saído de eleições sem engenharias eleitorais de um presidente da República de alguns, que hoje já quase que são a minoria. As más acções de Horta a isso têm conduzido.
O facto de eu, presentemente, ser uma critica de Horta e de Xanana, entre outros, não significa que seja pró Alkatiri. As coisas, tudo na vida, não são só preto e branco, há muitas outras cores, muitas outras vertentes que podemos abordar e escolher.
Pela parte que me toca, escolho quem promover a preservação da nossa ancestral cultura. Quem promover a cultura, educação e formação da actualidade no mundo civilizado e democrático. O desenvolvimento e todos os direitos e deveres que estão implícitos na nossa Constituição, para não ir mais longe, nem por mais na escrita.
Uma coisa é certa: todos somos timorenses, somos povo e aqueles que deixaram de ser povo passaram a elite por empurrão, conveniências, oportunismos, falcatruas ou mérito próprio… mas não estão a fazer o melhor pelo nosso país, sim por eles, pelo seu ego, pelos seus amigos e familiares, pelas suas conveniências e nossos prejuízos.
Esperemos que tenha conseguido satisfazer os meus agradáveis interlocutores, sendo certo que escrevo aqui por também eu procurar contribuir de algum modo para que a liberdade de expressão não se acabe em Timor-Leste, não exista o pensamento único na sociedade, na informação, nos governos, etc.
O meu contributo é muito modesto, sei isso, mas é o possível. Não é por acaso que em Portugal sinto-me outra, muito mais pessoa livre e segura. Temo muito pelos meus irmãos timorenses que labutam no dia-a-dia, sem um mínimo de condições, a serem usados e espezinhados pelas elites. Pelos que querem gastar fortunas em alcatrão de estradas mas não olham para as bermas dos descalços e desprotegidos que também os do alcatrão ajudam a agravar a sua situação.
Sobre a visita de Ramos Horta a Portugal, tenho percebido reacções de grande desilusão relativamente à sua pessoa. Alguns consideraram uma ofensa os seus comportamentos. Não só portugueses mas também timorenses e outros amigos da lusofonia.
Quero abordar este assunto com bastante distanciação e muito mais informação dos bastidores, se possivel.
Sei que é certo que esta visita, nos moldes em que Horta a protagonizou, pode ter sido prejudicial para Timor. É isso que nenhum de nós quer.
Uma andorinha não faz a primavera.
segunda-feira, novembro 19, 2007
UMA ANDORINHA NÃO FAZ A PRIMAVERA!
Por Malai Azul 2 à(s) 02:14
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
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