segunda-feira, novembro 12, 2007

Comment: On Timor's hard road

The Australian - November 10, 2007

Phillip Adams

There are many East Timors. Here, a dry, dusty Mexican border town. There a Boot Hill Cemetery on a hilltop, an ideal setting for a spaghetti western. You climb to a tiny village perched in a setting as Andean as Machu Picchu. Or walk from a Hawaiian beach into a jungle straight out of Borneo. This church is Portuguese, that army base recalls Iraq. The seemingly endless stretches of destroyed buildings evoke Nagasaki.

But most of all East Timor reminded me of Israel. A tropical version of that promised land. Here’s why. Both are relatively newborn – Israel 59 years ago, East Timor just five. Both are absurdly small. At birth, Israel was 27,000sq km; East Timor even tinier at just 15,000sq km. At independence the population of Israel was 700,000 – about the same as East Timor when the Portuguese left. In East Timor, after 25 years of resistance killed hundreds of thousands, it has reached 1 million.

In both cases, determined people faced hopeless odds yet miraculously endured. Both had their demands for nationhood reluctantly ratified by a UN that found all the fuss embarrassing. And both are organised around religions that, in their regional context, are starkly anomalous. Both are surrounded by vast populations of Muslims. One is Jewish, the other Catholic.

For all their apparent cohesion, both are towers of Babel – places of ethnic complexity and language differences. A common enemy has bonded each of them. Remove that threat and Israel’s seething internal differences – between the Orthodox, the liberals and the secular Jews, for openers – would intensify. And with the Indonesians no longer showing interest in East Timor, the fracture lines have opened up among its people.

Having paid such a heavy price for their little nations, both the Israelis and the Timorese are clearly formidable. Of course, the parallels break down in terms of comparative international clout and military capacity, with the Timorese as poor as anyone on Earth. Yet in another vital regard they resemble the Israelis. Everyone in the country is fiercely interested in politics.

With the executive producer of Radio National’s Late Night Live, Chris Bullock, I spent two weeks in Timor-Leste. We went from the main cities to remote coastal communities and villages high in the mountains. We met thousands, interviewed scores, returning with 16 hours of recording. People would emerge from their mushroom-shaped homes of thatch and bamboo to tell us their stories, with dignity, sadness, anger. And the talk was of politics.

While 1400km might sound like a walk in the park, we’re talking the world’s worst roads. And everywhere we heard battered radios (often the only technological development to separate villagers’ lives from the worlds of the ancestors they revere) playing the parliamentary broadcasts from Dili. It was the budget debate, and lasted a week. They were listening as though their lives depended on it. Which, in fact, they do. For unless wise decisions are made about the money that is starting to trickle from oil and gas royalties, East Timor won’t make it. The problems are so vast, the needs so desperate. For electricity, shelter, clean water, education, and medical attention to lower the infant morality rate. For road-building and for jobs.

Having paid a higher per capita price for independence than any nation on Earth, the Timorese recently turned on each other. The fires lit by the departing forces didn’t just destroy Dili – we didn’t see a village anywhere that escaped Indonesian vengeance – and the Timorese finished the job. Not even the power of Catholicism in their lives was enough to prevent old enmities flaring up.

With the rains coming, those impossible roads will soon be impassable. Villages separated by wrecked bridges will be cut off. The Australian army and the UN will try to help with food – as will the new government, with Xanana Gusmao as PM and Jose Ramos-Horta as President.

Even the demonised Mari Alkatiri, the head of Fretilin who was forced from the prime ministership last year, convinced me of his best intentions – and of his determination to keep the lid on further violence.

But the skyrocketing birth rate has produced many thousands of unemployed youths, and they’ll have to move fast to head off their anger. That’s hard in a country without a trained bureaucracy – especially one recovering from 25 years of war and that more recent impulse for self-immolation.

But like the Israelis, the Timorese are a remarkable people. They have proved themselves indomitable. Ask the Indonesian military. And as Ramos-Horta reminded me, repeating the story he recently told the UN General Assembly: “We’ve only had five years of independence – and it takes that long to establish one Chinese restaurant in Manhattan.”

Next week, why politics is personal in East Timor.

TRADUÇÃO:

Comentário: na estrada difícil de Timor

The Australian - Novembro 10, 2007

Phillip Adams

Há muitos Timores-Leste. Aqui, uma cidade Mexicana de fronteira seca e empoeirada. Acolá um Cemitério Boot Hill no topo de um monte, um cenário ideal para um filme de cow-boys spaghetti. Sobe-se a uma pequena aldeia pendurada num cenário como o de Machu Picchu nos Andes. Ou caminha-se duma praia Haitiana directamente para uma selva de Bornéu. Esta igreja é Portuguesa, aquela base militar lembra o Iraque. As ruas que parecem não ter fim de edifícios destruídos lembram Nagasaki.

Mas mais que tudo Timor-Leste lembra-me Israel. Uma versão tropical dessa terra prometida. Aqui está por quê. Ambos são relativamente acabados de nascer – Israel há 59 anos, Timor-Leste apenas há cinco. Ambos são absurdamente pequenos. Quando nasceu, Israel tinha 27,000 km2; Timor-Leste ainda mais pequeno com apenas 15,000 km2. Na independência a população de Israel era de 700,000 – cerca da mesma de Timor-Leste quando os Portugueses saíram de Timor-Leste, depois de 25 anos de resistência mataram centenas de milhares, chegou a um milhão.

Em ambos os casos, gente determinada enfrentaram diferenças sem esperança contudo aguentaram miraculosamente. Ambos tinham as suas exigências para a formação da nação ratificada relutantemente por uma ONU que achou que toda a confusão era embaraçosa. E ambos estão organizados à volta de religiões que no seu contexto regional, são fortemente anómalas. Ambos estão cercados por vastas populações de muçulmanos. Um é Judeu, o outro Católico.

Apesar de toda a sua coesão aparente, ambos são torres de Babel – lugares de complexidade étnica e diferenças linguísticas. Um inimigo comum uniu ambas. Removam essa ameaça e as diferenças internas acalmadas de Israel – entre os judeus Ortodoxos, liberais e seculares, para abridores – intensificar-se-ão. E com os Indonésios a não mais mostrarem interesse por Timor-Leste, as linhas de fractura abriram-se entre o seu povo.

Tendo pago um preço tão pesado pelas suas pequenas nações, ambos, Israelitas e Timorenses são claramente formidáveis. Obviamente, os paralelos acabam em termos comparativos de importância internacional e de capacidade militar, com os Timorenses pobres como mais ninguém na Terra. Contudo noutra questão vital assemelham-se aos Israelitas. Toda a gente no país está ferozmente interessado na política.

Passei duas semanas em Timor-Leste com Chris Bullock o produtor executivo do Late Night Live da Radio National. Fomos de cidades principais a comunidades remotas na costa e a aldeias no alto de montanhas. Encontrámo-nos com milhares, entrevistámos muitas, regressámos com 16 horas de gravações. As pessoas emergiam das suas casas em forma de cogumelo de bambus e palha para nos contarem as suas histórias, com dignidade, tristeza e raiva. E a conversa era de política.

Conquanto 1400 km possa soar a um passeio no parque, estamos a falar das piores estradas do mundo. E em todo o lado ouviamos em rádios de pilhas (muitas vezes o único desenvolvimento tecnológico a separar as vidas dos aldeões do mundo dos seus ancestrais que veneram) as emissões parlamentares de Dili. Era o debate do orçamento, e durou uma semana. Estavam a escutar como se as suas vidas disso dependessem. De que de facto, dependem. Porque, a não ser que se tomem decisões sábias acerca do dinheiro que está a começar a pingar das royalties do petróleo e do gás, Timor-Leste não chegará lá. Os problemas são tão vastos, as necessidades tão desesperadas. Para electricidade, abrigo, água potável, educação, e atenção médica para baixar a taxa de mortalidade infantil. Para construção de estradas e para empregos.

Tendo pago um preço per capita mais alto pela independência do que qualquer outra nação na Terra, os Timorense viraram-se uns contra os outros recentemente. Os fogos acendidos pelas forças na retirada não destruíram apenas Dili – não vimos em lado algum uma aldeia que tivesse escapado à vingança Indonésia – e os Timorenses acabaram o trabalho. Nem mesmo o poder do Catolicismo nas suas vidas foi suficiente para prevenir que velhas inimizades se inflamassem.

Com as chuvas a chegarem, em breve estas estradas impossíveis estarão intransitáveis. Aldeias separadas por pontes destroçadas estarão divididas. Os militares Australianos e a ONU tentarão ajudar com comida – bem como o novo governo, com Xanana Gusmão como PM e José Ramos-Horta como Presidente.

Mesmo o demonizado Mari Alkatiri, o responsável da Fretilin que foi forçado do cargo de primeiro-ministto no ano passado, convence-me das suas melhores intenções – e da sua determinação em manter mão para que não haja mais violência.

Mas a altíssima taxa de nascimento tem produzido muitos milhares de jovens desempregados, e terão de andar depressa para cortar a sua raiva. Isso é duro nem país sem uma burocracia treinada – especialmente num que recupera de 25 anos de guerra e do mais recente impulso para a auto-imolação.

Mas tal como os Israelitas, os Timorenses são um povo notável. Demonstraram a si próprios que são indomáveis. Perguntem aos militares Indonésios. E como Ramos-Horta me lembrou, repetindo a história que recentemente contou na Assembleia Geral da ONU: “Apenas tivémos cinco anos de independência – o mesmo tempo que demora criar um restaurante Chinês em Manhattan.”

Próxima semana, porque é que a política é pessoal em Timor-Leste.

1 comentário:

Anónimo disse...

Tradução:
Comentário: na estrada difícil de Timor
The Australian - Novembro 10, 2007

Phillip Adams

Há muitos Timores-Leste. Aqui, uma cidade Mexicana de fronteira seca e empoeirada. Acolá um Cemitério Boot Hill no topo de um monte, um cenário ideal para um filme de cow-boys spaghetti. Sobe-se a uma pequena aldeia pendurada num cenário como o de Machu Picchu nos Andes. Ou caminha-se duma praia Haitiana directamente para uma selva de Bornéu. Esta igreja é Portuguesa, aquela base militar lembra o Iraque. As ruas que parecem não ter fim de edifícios destruídos lembram Nagasaki.

Mas mais que tudo Timor-Leste lembra-me Israel. Uma versão tropical dessa terra prometida. Aqui está por quê. Ambos são relativamente acabados de nascer – Israel há 59 anos, Timor-Leste apenas há cinco. Ambos são absurdamente pequenos. Quando nasceu, Israel tinha 27,000 km2; Timor-Leste ainda mais pequeno com apenas 15,000 km2. Na independência a população de Israel era de 700,000 – cerca da mesma de Timor-Leste quando os Portugueses saíram de Timor-Leste, depois de 25 anos de resistência mataram centenas de milhares, chegou a um milhão.

Em ambos os casos, gente determinada enfrentaram diferenças sem esperança contudo aguentaram miraculosamente. Ambos tinham as suas exigências para a formação da nação ratificada relutantemente por uma ONU que achou que toda a confusão era embaraçosa. E ambos estão organizados à volta de religiões que no seu contexto regional, são fortemente anómalas. Ambos estão cercados por vastas populações de muçulmanos. Um é Judeu, o outro Católico.

Apesar de toda a sua coesão aparente, ambos são torres de Babel – lugares de complexidade étnica e diferenças linguísticas. Um inimigo comum uniu ambas. Removam essa ameaça e as diferenças internas acalmadas de Israel – entre os judeus Ortodoxos, liberais e seculares, para abridores – intensificar-se-ão. E com os Indonésios a não mais mostrarem interesse por Timor-Leste, as linhas de fractura abriram-se entre o seu povo.

Tendo pago um preço tão pesado pelas suas pequenas nações, ambos, Israelitas e Timorenses são claramente formidáveis. Obviamente, os paralelos acabam em termos comparativos de importância internacional e de capacidade militar, com os Timorenses pobres como mais ninguém na Terra. Contudo noutra questão vital assemelham-se aos Israelitas. Toda a gente no país está ferozmente interessado na política.

Passei duas semanas em Timor-Leste com Chris Bullock o produtor executivo do Late Night Live da Radio National. Fomos de cidades principais a comunidades remotas na costa e a aldeias no alto de montanhas. Encontrámo-nos com milhares, entrevistámos muitas, regressámos com 16 horas de gravações. As pessoas emergiam das suas casas em forma de cogumelo de bambus e palha para nos contarem as suas histórias, com dignidade, tristeza e raiva. E a conversa era de política.

Conquanto 1400 km possa soar a um passeio no parque, estamos a falar das piores estradas do mundo. E em todo o lado ouviamos em rádios de pilhas (muitas vezes o único desenvolvimento tecnológico a separar as vidas dos aldeões do mundo dos seus ancestrais que veneram) as emissões parlamentares de Dili. Era o debate do orçamento, e durou uma semana. Estavam a escutar como se as suas vidas disso dependessem. De que de facto, dependem. Porque, a não ser que se tomem decisões sábias acerca do dinheiro que está a começar a pingar das royalties do petróleo e do gás, Timor-Leste não chegará lá. Os problemas são tão vastos, as necessidades tão desesperadas. Para electricidade, abrigo, água potável, educação, e atenção médica para baixar a taxa de mortalidade infantil. Para construção de estradas e para empregos.

Tendo pago um preço per capita mais alto pela independência do que qualquer outra nação na Terra, os Timorense viraram-se uns contra os outros recentemente. Os fogos acendidos pelas forças na retirada não destruíram apenas Dili – não vimos em lado algum uma aldeia que tivesse escapado à vingança Indonésia – e os Timorenses acabaram o trabalho. Nem mesmo o poder do Catolicismo nas suas vidas foi suficiente para prevenir que velhas inimizades se inflamassem.

Com as chuvas a chegarem, em breve estas estradas impossíveis estarão intransitáveis. Aldeias separadas por pontes destroçadas estarão divididas. Os militares Australianos e a ONU tentarão ajudar com comida – bem como o novo governo, com Xanana Gusmão como PM e José Ramos-Horta como Presidente.

Mesmo o demonizado Mari Alkatiri, o responsável da Fretilin que foi forçado do cargo de primeiro-ministto no ano passado, convence-me das suas melhores intenções – e da sua determinação em manter uma em mais violência.

Mas a altíssima taxa de nascimento tem produzido muitos milhares de jovens desempregados, e terão de andar depressa para cortar a sua raiva. Isso é duro nem país sem uma burocracia treinada – especialmente num que recupera de 25 anos de guerra e do mais recente impulso para a auto-imolação.

Mas tal como os Israelitas, os Timorenses são um povo notável. Demonstraram a si próprios que são indomáveis. Perguntem aos militares Indonésios. E como Ramos-Horta me lembrou, repetindo a história que recentemente contou na Assembleia Geral da ONU: “Apenas tivémos cinco anos de independência – o mesmo tempo que demora criar um restaurante Chinês em Manhattan.”

Próxima semana, porque é que a política é pessoal em Timor-Leste.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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