terça-feira, outubro 30, 2007

Timor-Leste: Alkatiri sobre "ressuscitado": "Brincadeira tinha que ter fim"

Lusa - 29 de Outubro de 2007, 07:51

Díli - O anunciado regresso de Vicente Reis "Sa'he", líder da resistência morto em 1979, "foi uma brincadeira a que tinha que se pôr fim", afirmou hoje à Lusa o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri.

A homenagem prestada ao ex-Comissário Político Nacional, sábado à noite, numa aldeia de Manufahi (sul), simbolizou "o regresso de Vicente Reis à sua família alargada, que é a Fretilin", acrescentou o ex-primeiro-ministro em entrevista à Lusa.

Veteranos da rede clandestina anunciaram há duas semanas que Vicente Reis estava vivo e iria ser apresentado em Díli.

Os restos mortais de Vicente Reis "Sa'he" (como era conhecido), morto numa emboscada por tropas indonésias, foram retirados da sua campa nas montanhas de Manufahi, sábado passado, e conduzidos domingo para Bucoli, perto de Baucau (leste).

"Há menos de 3 semanas, recebi um telefonema de pessoas dizendo que iam trazer Nicolau Lobato e Vicente Reis. Eu disse para os trazerem ", contou Mari Alkatiri à Lusa.

"Disse-lhes também que, se Nicolau Lobato e Vicente Reis estivessem vivos, eu ia sentir-me liberto", acrescentou o secretário-geral da Fretilin.

"Mas a primeira coisa que ia fazer seria perguntar-lhes onde é que andaram escondidos quando o povo precisava deles", declarou ainda Mari Alkatiri.

"Antes disso, tinha recebido um 'sms' que dizia que o Presidente da República, José Ramos Horta, antes de decidir escolher Xanana Gusmão e seus aliados para governar, tinha recebido em sua casa o falecido Presidente Lobato e 'Sa'he', precisamente", disse.

Segundo a mensagem, a sugestão dos dois mortos ao chefe de Estado, explicou Mari Alkatiri, "foi de entregar o poder ao Xanana" Gusmão, indigitado por José Ramos Horta no início de Agosto.

"Mandei na brincadeira um 'sms' ao Presidente da República e ele respondeu logo: 'Confirmo o alegado encontro, mas acrescento que vieram escoltados pelo meu irmão Nuno", morto, muito jovem, sob a ocupação indonésia.

"Achámos que as pessoas que andavam a anunciar o regresso do 'Sahe' eram pouco normais, mas chegou um momento em que havia que tomar a decisão correcta", explicou Mari Alkatiri.

"O governo usou o poder, a Fretilin usou a informação objectiva", resumiu Mari Alkatiri.

Elementos da Polícia Nacional (PNTL) e das Nações Unidas (UNPol) dispersaram a multidão que esperava a "descida" de Vicente Reis "Sa'he", dia 27 de Outubro, em Díli.

Horas depois, na aldeia de Holarua, mais de mil quadros e dirigentes da Fretilin homenageavam Vicente Reis "Sa'he", numa cerimónia que, como explicou Mari Alkatiri, serviu também para "reidentificar" as ossadas do líder desaparecido.

"Há um sebastianismo muito grande", comentou Mari Alkatiri sobre a facilidade com que muitos timorenses acreditam no regresso de heróis desaparecidos.

A homenagem de Holarua, coincidindo com três dias de retiro da Fretilin, "foi uma cerimónia simples" em que participou um dos irmãos de Vicente Reis, José Reis, dirigente da Fretilin, e o filho Talik.

"Seguiu-se a parte religiosa, tradicional e católica: as duas juntas, completamente diferentes, decorrendo uma em frente da outra", explicou Mari Alkatiri.

Foi preciso, também, contentar a população da aldeia junto da montanha conhecida por Casa dos Morcegos, que cuidou 28 anos da campa de Vicente Reis.

"A família explicou-lhes que leva com ela os ossos e a alma de Vicente Reis mas que a carne de 'Sa'he' fica naquele local, porque o corpo foi lá decomposto", relatou Mari Alkatiri à Lusa.

"Todo este povo vive esta dualidade do religioso e do tradicional", respondeu o secretário-geral da Fretilin sobre a forma de um muçulmano encarar a dupla cerimónia de Holarua.

"As religiões vão-se adaptando", referiu.

A homenagem de sábado serviu "para não deixar dúvidas que Vicente Reis, infelizmente, já morreu, e que era um dos quadros mais brilhantes da Fretilin", comentou.

Mari Alkatiri sublinhou que Vicente Reis "Sa'he" "produziu outros quadros, incluindo Xanana Gusmão, que nutre por ele uma grande admiração".

"Julgo, porém, que depois Xanana Gusmão se desviou muito do 'Sa'he'", alguém que "não faria alianças contra-natura como o primeiro-ministro está a fazer", criticou.

PRM-Lusa/Fim

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Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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