Tradução da Margarida:
WSWS - 10 Agosto 2007
Gusmão nomeado primeiro-ministro de Timor-Leste
Por Richard Phillips
Protestos e desordens iradas irromperam esta semana em Timor-Leste depois de o Presidente José Ramos-Horta ter nomeado Xanana Gusmão primeiro-ministro. O gabinete de 12 membros de Gusmão inclui José Luís Guterres como vice-primeiro-ministro. Guterres desafiou o antigo Primeiro-Ministro Mari Alkitiri para a liderança da Fretilin no ano passado lidera agora uma facção em saída da organização.
Mais de 70 pessoas oram presas durante os protestos, principalmente na capital Dili e em Baucau, na Segunda e Terça-feira. Tropas Australianas e polícia das Nações Unidas dispararam centenas de granadas de gás lacrimogénio e de balas de borracha durante os confrontos de rua.
Alguns manifestantes cantavam “Abaixo John Howard” e exigiam um governo da Fretilin, enquanto começam a aparecer cartazes nos campos de deslocados de Dili a acusar Ramos-Horta de ser uma marioneta dos governos Australianos e dos USA.
A Fretilin declarou imediatamente que o governo é “inconstitucional” e ameaçou derrubar a nomeação de Gusmão por meios legais. De acordo com a constituição de Timor-Leste, à Fretilin, que ganhou 21 lugares nas eleições de Junho e é o maior partido no parlamento de 65 membros, deve ser dada a primeira oportunidade para formar governo.
O CNRT de Gusmão, que ganhou 18 lugares nas eleições nacionais, afirmou, contudo, que tinha o direito de governar depois de ter formado uma aliança pós-eleitoral com a ASDT o PD. Isto deu ao bloco 37 lugares no parlamento.
Depois de negociações falhadas que envolveram a Fretilin e a coligação do CNRT, as conversas não resultaram ao fim do mês Ramos-Horta nomeou Gusmão em 6 de Agosto, primeiro-ministro.
O governo de Howard felicitou imediatamente o novo governo mas deixou claro que as quase 1,000 tropas do contingente de Canberra e os polícias permanecerão no país numa base de longo prazo. O Departamento do Estado dos USA emitiu uma declaração saudando as “eleições legislativas e presidenciais pacíficas, livres, e correctas”, ao mesmo tempo que Washington disse que assistirá Gusmão em “responder aos desafios em frente”.
O regime de Gusmão não o resultado de um processo eleitoral “livre e correcto” mas o resultado final da campanha política do governo de Howard contra o antigo governo da Fretilin que estava no poder em Timor-Leste desde a independência formal em 2002.
Canberra assegurou a parte de leão dos substanciais recursos offshore de gás petróleo d Timor-Leste no Mar de Timor, e tem intervido sistematicamente para bloquear qualquer desafio à sua dominação política e económica da pequena nação .
Quando Alkitiri e a antiga administração liderada pela Fretilin, que temporariamente tentou assegurar apoio económico e diplomático da China e Portugal, forçou algumas concessões da Austrália durante novas negociações sobre os recursos de gás no princípio do ano passado , Canberra reagiu com fúria.
Em Maio de 2006, o governo de Howard apoderou-se dos motins que irromperam em Dili como pretexto para enviar barcos da armada e tropas para o país para “restaurar a calma”. Ajudados e amimados pelos media Australianos, Horta, Gusmão e o clero de Timor-Leste, Canberra lançou uma campanha de truques sujos contra o Primeiro-Ministro Alkitiri para forçar a sua resignação como primeiro-ministro e mina o governo da Fretilin (ver “HHowAAustralia orchestrated ‘regime change’ in East Timor”).
Enquanto o governo Australiano dissimuladamente afirma que não teve nenhuma influência na nomeação do governo do CNRT de Gusmão, no final do mês passado e no meio deste braço de ferro pós-eleitoral, Howard subitamente visitou Timor-Leste e encontrou-se com Ramos-Horta.
O primeiro-ministro Australiano disse aos jornalistas que planeava também encontrar-se com Gusmão, descrevendo-o como o “provavelmente próximo primeiro-ministro”. Declarou também que as tropas Australianas se manterão em Timor-Leste por tanto tempo quanto Canberra entender.
Regime instável
Ramos-Horta e Gusmão são lambe-botas experimentados e testados do imperialismo Australiano. Mas mantém-se preocupações no seio da elite governamental Australiana sobre se o frágil novo governo pode conter as crescentes tensões sociais e políticas causadas pelo aprofundamento da pobreza, desemprego e oposição popular à dominação económica da Austrália.
Antecipando uma reacção explosiva à nomeação de Gusmão , Ramos-Horta encontrou-se com responsáveis da PNTL e das F-FDTL uma semana antes do anúncio do novo governo.
Ramos-Horta disse ao comandante da PTNL Afonso de Jesus que a polícia tinha de “permanecer neutra” enquanto o comandante F-FDTL Brigadeiro Taur Matan Ruak disse aos media estar ponto para “seguir as instrucções dadas pelo líder que dirigir esta nação”.
Ao mesmo tempo o Brigadeiro Australiano John Hutcheson substituiu o Brigadeiro Mal Rerden como responsável da chamada Força Internacional de Estabilização em Timor-Leste.
Hutcheson tem relações próximas com as forças militares Timorenses e serviu no país como “conselheiro de defesa” em 2001. Mais significativamente, liderou a componente militar da Missão d Assistência Regional da Austrália para as Ilhas Salomão (RAMSI), que tomou o controlo das maiores instituições do país —polícia, tribunais, prisões, media e departamento da defesa — em 2003.
Os media Australianas previsivelmente responderam ao novo governo e ao rebentar dos motins com louvores a Ramos-Horta e Gusmão como “democratas” e “amados lutadores da liberdade”, combinados com denúncias da Fretilin e Alkitiri.
Greg Sheridan, editor de política estrangeira do jornal de Murdoch, Australian, emitiu um ultimato à Fretilin, declarando que tinha de decidir se era “uma milícia armada ou um partido político respeitável ”. Isto exigia que a organização aceitasse o novo governo e disciplinasse os seus apoiantes descontentes, escreveu .
Do mesmo modo, um editorial no Sydney Morning Herald,descaradamente acusou a Fretilin de se a “maior fonte de instabilidade” no país. “Devemos tentar assegurar que Timor-Leste não se torna noutra Ilha Salomão, ou Papua Nova Guiné. A Austrália não precisa de outro Estado falhado como vizinho.”
A etiqueta “Estado falhado” tem-se tornado o pretexto para cada acção de agressão política e militar pela Austrália em Timor-Leste e no Pacífico do Sul na última década .
Isto foi ainda mais sublinhado pelo Ministro dos Estrangeiros Downer num discurso de fundo sobre política estrangeira em Canberra na Quarta-feira à noite. Downer especificamente nomeou a China e Taiwan como os rivais maiores na região e enfatizou que a Austrália não hesitará em montar mais intervenções militares para manter a sua dominação .
Afirmou que o aumento da presença da China e a sua competição com Taiwan como dadora no Pacífico do Sul, estava a minar as tentativas Australianas para estabelecer “boa governação” — uma frase de código para submissão política dos governos do Pacífico do Sul e Timor-Leste aos ditames Australianos.
Downer denunciou também os que criticam as violações Australianas da soberania nacional na região. O “grito d soberania”, declarou, estava a ser usado como uma “cortina de fumo” para “distrair a atenção de comportamentos corruptos e ilegais”.
A intimidação neo-colonial de Canberra sublinha ainda mais as questões em jogo para o governo Australiano e para os seus apoiantes dos grandes negócios.
Quando s intensifica a competição entre poderes regionais para recursos valiosos e posições estratégicas, o imperialismo Australiano não pode tolerar nenhuma tentativa por nenhuma secção das elites no poder em Timor-Leste e no Pacífico do Sudoeste em desenvolver alternativas económicas e alianças políticas .
Enquanto a Fretilin e Alkitiri continuam a denunciar Ramos-Horta e Gusmão, não têm nenhumas diferenças fundamentais com o novo regime. Como tal, têm trabalhado para bloquear e dissipar qualquer oposição de massas que ameace sair fora do controlo oficial. Alkitiri recuou ao tentar acomodar-se ele próprio com o CNRT, oferecendo apoiar Gusmão como primeiro-ministro se ele formasse um governo de coligação com a Fretilin.
No poder desde 2002, a Fretilin manteve um regime pró-negócios, implementando os ditames do Fundo Monetário Internacional e o mesmo tipo de programa de mercado livre como os abraçados por Ramos-Horta e Gusmão. Não tem nenhuma solução progressiva para os imensos problemas sociais que arruínam Timor-Leste,um dos países mais pobres no mundo, onde quase metade da população vive abaixo da linha de pobreza. Seis anos depois da chamada “independência”, o rendimento médio é d 55 US cêntimos por dia, o desemprego é de 40 por cento e a expectativa de vida está abaixo dos 57 anos de idade.
sábado, agosto 11, 2007
Um regime fabricado na Austrália
Por Malai Azul 2 à(s) 03:45
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
Sem comentários:
Enviar um comentário