sexta-feira, março 30, 2007

Timorense conta como foi seviciada pelas milícias em 1999


Lisboa, 30 Mar (Lusa) - Uma mulher timorense testemunhou hoje na Comissão da Verdade e Amizade como foi repetidamente violada, mesmo já grávida, pelas milícias pró integracionistas em Timor-Leste na sequência da vitória do "sim" no referendo sobre a independência, em 1999.

Depondo na Comissão, que integra personalidades timorenses e indonésias, Esmeralda dos Santos afirmou que, na altura dos incidentes, era uma jovem estudante residente em Suai, 80 quilómetros a sul de Díli, e que, tal como pelo menos 45 outras raparigas, foi alvo de frequentes violações sexuais.

Num testemunho que chocou os membros da Comissão, citado pela imprensa australiana e indonésia, a jovem contou que, no seu caso, foi pontapeada por um membro das milícias mal se soube que estava grávida, tendo sublinhando que as agressões visavam obrigá-la a abortar, o que nunca chegou a acontecer.

"Lembro-me bem da cara do meu violador que, depois de saber que eu estava grávida, continuou a violar-me e pontapeava-me para que eu abortasse", narrou Esmeralda dos Santos, que explicou que, caso se recusasse a manter relações sexuais, era ameaçada de morte.

Esmeralda dos Santos referiu que no início de Setembro de 2005, em conjunto com mais três jovens estudantes, foi raptada da sua escola em Suai inicialmente pelo exército indonésio, tendo, depois, "ficado à guarda" de um membro das milícias, que a violava "quase todos os dias, de manhã e à noite".

"Depois de me roubarem o dinheiro, brincos e anéis, e como não tinha mais nada, começaram a violar-me dia e noite", relatou, lembrando que as três colegas de escola sofreram os mesmos "tratamentos" e que três familiares seus, todas mulheres, foram também violadas.

"às vezes, obrigavam-me a ter relações sexuais em frente aos meus familiares", sublinhou Esmeralda dos Santos Oito dias mais tarde, a jovem, que nunca saíra de Suai, foi levada para uma pequena localidade de Timor Oriental, onde foi mantida cativa pelo mesmo membro das milícias, que continuou sistematicamente a violá-la.

"Durante um mês foi espancada e pontapeada porque ele queria que eu abortasse. Depois, consegui fugir e, em Novembro (de 2005), regressei a Timor-Leste", acrescentou, sublinhando que, quando relatou o sucedido às autoridades de Suai, foi-lhe respondido que a questão era um "assunto pessoal".

Esmeralda dos Santos contou, por outro lado, que, enquanto durou a repressão em Suai e antes de ser raptada, se refugiava todas as noites numa igreja local porque a população era "aterrorizada quer pelas TNI (Forças Armadas indonésias) quer pelas milícias".

A jovem afirmou perante a Comissão que a igreja estava repleta, com mais de meio milhar de refugiados, quando o complexo religioso de Suai começou a ser atacado pelo exército indonésio pelas milícias, a 06 de Setembro de 1999, uma semana após o referendo e dois dias após o anúncio da vitória do "sim" à independência.

"Morreram muitas pessoas atingidas por tiros", afirmou Esmeralda dos Santos, corroborando os dados oficiais do ataque à igreja, que provocaram 31 mortos, dos quais dois sacerdotes católicos, entre as mais de 1.500 vítimas da onda de violência que assolou então Timor-Leste.

A Comissão da Verdade e Amizade, que tem por missão averiguar e julgar os acontecimentos violentos que se registaram em Timor-Leste antes e depois do referendo, iniciou em Fevereiro último os seus trabalhos em Bali, tendo a segunda fase começado há uma semana em Jacarta.

Além de Esmeralda dos Santos, foram ouvidas quinta-feira 18 outras mulheres que testemunharam os incidentes e que foram alvo de idênticas privações.
JSD-Lusa/Fim

Sem comentários:

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.