domingo, janeiro 07, 2007

Timor-Leste, uma mancha escura no legado de Ford

(Tradução da Margarida)

The Sydney Morning Herald
Hamish McDonald, Editor da Ásia-Pacífico
Janeiro 6, 2007

Nenhum dos elogios de Washington ou das necrologias dos media de referência, sobre o decente cidadão comum feito acidentalmente presidente depois das saídas forçadas de Richard Nixon e Spiro Agnew, fizeram referência a isso.

Isso foi o sinal verde que Ford deu ao Presidente Soeharto da Indonésia para a sua invasão de Timor-Leste em 1975.

Ford foi informado a primeira vez em Julho de 75 pelo então secretário de Estado, Henry Kissinger, que com os Portugueses a procurarem sair das suas colónias tão rapidamente quanto possível, que Soeharto planeava tomar Timor-Leste, pela força se necessário.

Soeharto deu fortes dicas disso numa visita a Washington mais tarde nesse mês, e não encontrou qualquer objecção. Em Agosto, um golpe instigado pelo grupo de Operações Especiais de Jacarta começou uma guerra civil entre partidos rivais Timorenses, com os Portugueses a porem-se de lado.

Tendo acabado de "perder" o Cambodia e o Vietname do Sul para forças comunistas forces, Kissinger deixou claro que os USA não estavam interessados em aborrecer o anti-comunista Soeharto por causa de Timor, especialmente porque o seu partido socialista Fretilin estava a emergir no topo. O seu enviado em Jacarta, David Newsom, disse a Richard Woolcott da Austrália que se a Indonésia invadisse, o devia fazer "efectivamente, rapidamente e sem usar o nosso equipamento".

Em Outubro, a Indonésia lançou uma invasão secreta do seu lado da ilha de Timor e no final de Novembro, quando os Indonésios avançavam devagar em direcção a Dili, a Fretilin declarou a formação de uma república independente.

Isso apressou os planos da Indonésia, para impedir o reconhecimento diplomático do novo Estado. Durante a primeira semana de Dezembro, batalhões de pára-quedas e unidades da marinha foram aprontadas para ataques por ar e mar em Dili e Baucau, as duas cidades com aeroportos.

Mas Ford estava previsto em Jacarta no Sábado, 6 de Dezembro, para uma breve mas importante visita para balancear uma visita ao doente Mao Zedong em Pequim. Foi lá que recebeu um telegrama do embaixador dos USA em Jacarta sobre os planos de invasão de Timor.

Soeharto receava que a invasão de Timor resultasse no corte da ajuda militar dos USA e de outras ajudas ao seu regime. Mas a sua conversa com Ford, a gravação da qual só foi desclassificada em 2001, sossegou-o.

O líder Indonésio afirmou que Jacarta não tinha nenhuma "ambição territorial" mas que a Fretilin tinha recusado negociar com os outros quatro partidos que queriam a integração com a Indonésia (três deles eram actualmente criações Indonésias, o outro estava ~virtualmente prisioneiro) e tinha declarado a independência.

"Queremos a vossa compreensão," disse Soeharto, "se considerarmos necessário tomarmos acção rápida ou drástica."

"Compreenderemos e não o pressionaremos nesse assunto," respondeu Ford. "Compreendemos o problema e as intenções que tem."

Kissinger comentou que "o uso de armas fabricadas nos USA podiam criar problemas", mas disse: "Depende de como fizer isso; se é em auto-defesa ou se é uma operação estrangeira." Acrescentou : "É importante que seja o que for que faça tenha sucesso rapidamente."

Soeharto lançou a invasão na madrugada seguinte quando Ford voava para casa.

Entrevistado pelo realizador de cinema Allan Nairn em 1991, Ford disse que não se lembrava do que dissera a Soeharto.

Ford foi na verdade o presidente para quem se cunhou a descrição de não ser capaz de "andar e mastigar pastilha elástica ao mesmo tempo”. Kissinger era de longe a parte responsável Americana mais conscientemente responsável.

Os arquivos dos USA acrescentam uma dimensão aos registos Australianos do princípio de 1976 acabados de liberar sob a lei dos 30 anos, quando o novo governo de Malcolm Fraser lidava com o facto consumado da invasão Indonésia.

Fraser não teria claramente nenhum apoio de Washington se se quisesse opor ou tentasse reverter a anexação de Timor.

Mas é improvável que o faria, de qualquer modo: em Setembro de 1975, o seu então porta-voz dos negócios estrangeiros, Andrew Peacock, tinha dito a figuras chaves das forças militares Indonésias que não seriam levantadas objecções à invasão, de acordo com um registo Indonésio que passou para fora.

Os historiadores argumentarão sobre se Gough Whitlam podia ter obtido o apoio dos USA para um processo de auto-determinação adequado para Timor – tivesse ele adoptado o conselho do oficial de defesa de Canberra, Bill Pritchett durante 1974 e 1975.

Depois de confrontos sobre o Vietname, Pine Gap, e noutros assuntos de segurança, as relações de Whitlam com Kissinger não eram calorosas, mas os Americanos podiam estar abertos ao argumento de Pritchett que uma invasão não seria rápida e limpa. Acabava sempre por usar armas americanas.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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