terça-feira, janeiro 09, 2007

LUSA erra e continua a insistir que Railos implicou Mari Alkatiri

LUSA erra, erra e volta a errar:

Depoimentos em tribunal voltam a implicar... (ACTUALIZADA)

Díli, 09 Jan (Lusa) - Fortes medidas de segurança rodearam hoje em Díli a primeira sessão efectiva do julgamento do ex-ministro do Interior timorense Rogério Lobato, acusado de ter distribuído armas a civis, com os primeiros depoimentos a implicarem também o ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri.

Iniciado no passado dia 30 de Novembro, o julgamento teve então que ser adiado devido à ausência de um dos arguidos, Marcos Piedade "Labadae", que foi hoje o primeiro a
prestar declarações, questionando parte da acusação que o implica na criação de um grupo civil alegadamente armado por Rogério Lobato.

Mas esta primeira sessão efectiva do julgamento teve como novidade o fa cto da principal testemunha da acusação, Vicente da Conceição "Railós", ter reencontrado Rogério Lobato, o que aconteceu pela primeira vez desde que denunciou a distribuição de armas, há cerca de oito meses.

Foi um reencontro marcado pela confirmação das declarações que prestou anteriormente, voltando a implicar tanto o ex-ministro como o ex-chefe do governo na distribuição de armas a civis, em plena crise político-militar espoletada e m Abril de 2006.

No exterior do Tribunal de Recurso, milhares de apoiantes de Rogério Lobato vitoriaram-no à saída, gritando palavras de ordem de incentivo, perante um forte aparato policial montado pelas Nações Unidas, em que participaram ainda f ectivos da Polícia Nacional de Timor-Leste, e sem que se tivessem registado quaisquer incidentes.

O julgamento iniciou-se a meio da manhã (hora local), com 45 minutos de atraso face à hora marcada, 09:30 (00:30 em Lisboa), e com a lotação da sala esgotada, o que obrigou
alguns populares e jornalistas a permanecerem de pé.

à entrada no perímetro exterior, depois de ultrapassadas barreiras levantadas pela Polícia das Nações Unidas (UNPOL), a assistência era ainda sujeita a duas revistas de malas e sacos, antes de entrar na sala de audiências.

Após a leitura do auto da acusação, Marcos Piedade questionou, designadamente, o facto do tribunal deixar de fora alguns indivíduos armados, enquanto ele, alegou, tinha entregue a arma que lhe fora distribuída e estava agora a ser julgado.

Questionado pelo colectivo de juízes - liderado pelo português Ivo Rosa e que integra ainda a portuguesa Teresa do Rosário e o timorense António Gonçalves -, pela acusação e pela defesa, Marcos Piedade centrou as suas declarações e m Eusébio Salsinha, antigo chefe de gabinete de Rogério Lobato, que citou como tendo sido quem lhe distribuiu oito armas automáticas, para posterior entrega a v árias pessoas.

Num depoimento marcado por contradições, designadamente ao referir que nunca tinha pegado em armas e que durante a resistência contra a ocupação indonésia lutou de armas na mão, Marcos Piedade implicou ainda o deputado Jacinto Maia, da FRETILIN, o partido maioritário, como tendo sido uma das pessoas a quem entregou uma das oito armas automáticas, e munições, que recebera do chefe de gabinete de Rogério Lobato.

Eusébio Salsinha, que chegou a ser constituído arguido pelo Ministério Público neste processo, foi posteriormente ilibado de todas as acusações, mas, segundo Marcos
Piedade, terá sempre invocado instruções provenientes de Rogério Lobato para a criação de um grupo civil armado.

Segundo Marcos Piedade, o objectivo final da entrega de armas era a "eliminação física de adversários políticos" de Rogério Lobato e da FRETILIN, partido de que o
ex-ministro é vice-presidente e a que Marcos Piedade garante pertencer.

Negando que tivesse usado a arma que recebera em qualquer acto de violência, Marcos Piedade reconheceu que apenas disparou um tiro, "para o ar", a 25 d e Maio, na área da
sua residência, em Railaco, no distrito de Liquiçá, a cerca d e 40 quilómetros a oeste de Díli.

Enquanto Marcos Piedade depunha, a pouco mais de um metro de distância, Rogério Lobato manifestava a sua opinião, meneando negativamente a cabeça.

Depois do depoimento de Marcos Piedade, o Ministério Público chamou a sua primeira testemunha, Vicente da Conceição "Railós", antigo comandante da resistência contra a ocupação indonésia.

Vicente da Conceição confirmou todas as declarações prestadas anteriormente, mas introduziu informações inéditas, nomeadamente que aquando da reunião que alega
ter mantido a 08 de Maio de 2006 na residência do então primeiro-ministro Mari Alkatiri, na presença, entre outros, de Rogério Lobato, o antigo chefe do governo terá dado indicações ao seu ministro para que "despachasse qualquer coisa" para "Railós".

Questionado pelo juiz Ivo Rosa de que coisa se tratava, Vicente da Conceição respondeu que pensava que iria receber arroz, para distribuir aos cerca de 105 homens que juntara, correspondendo a um pedido de Rogério Lobato para que reunisse antigos combatentes e guerrilheiros.

Ao longo das suas declarações, Vicente da Conceição variava as formas d e tratamento a Mari Alkatiri e Rogério Lobato, ora referindo-se-lhes como "senhores" ora como
"camaradas".

Segundo Vicente da Conceição, a primeira referência a armas surgiu depois da conversa com Mari Alkatiri, e já na residência de Rogério Lobato, contígua à do antigo primeiro-ministro, no bairro do Farol, em Díli.

Contou que foi num telefonema feito alegadamente à sua frente que Rogério Lobato instruiu António Cruz, comandante da Unidade de Polícia de Fronteira, que integra a Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL), para que organizasse a entrega de armas e fardas daquele corpo de elite da PNTL a Vicente da Conceição.

Munido das armas e acompanhado de mais 30 homens, Vicente da Conceição alegou ter cumprido ordens de Rogério Lobato e de Mari Alkatiri, posicionando-se a 23 de Maio em Tibar, a cerca de 10 quilómetros a oeste de Díli, para contrariar um eventual ataque de militares, que tinham abandonado meses antes as forças armadas, contra a capital, e identificados como "peticionários".

Foi após o confronto que disse ter mantido com efectivos das forças armadas leais ao governo, na área de Tibar e Taci Tolo, onde se situa o quartel-general das
Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), a 24 e 25 de Maio, que decidiu informar o Presidente Xanana Gusmão, contrariando o que expressamente alegou ter-lhe
sido pedido por Mari Alkatiri e Rogério Lobato: que não dissesse uma palavra a Xanana nem ao comandante da PNTL, Paulo Martins.

"Eu fui lá com ordens para atacar os peticionários e acabei por ser atacado pelas F-FDTL. Telefonei ao primeiro-ministro (Mari Alkatiri) e ao ministro do Interior (Rogério Lobato) e Mari Alkatiri disse-me que ia telefonar a Roque Rodrigues (ministro da Defesa) para saber porque é que as forças armadas estavam a atacar o meu grupo", declarou.

"Não sei por que razão Rogério Lobato me disse para ir para aquele sítio (Tibar) e por que Mari Alkatiri mandou as forças armadas atacar-nos", acrescentou.

Instado pelo juiz Ivo Rosa a explicar porque decidiu contar tudo a Xanana Gusmão, Vicente da Conceição justificou a carta que lhe enviou, a 28 de Maio, por se tratar do Comandante Supremo das Forças Armadas, porque a sua situação no terreno lhe era desfavorável e porque tinha sofrido quatro baixas nos confrontos com os militares leais ao governo.

A sessão foi entretanto interrompida, tendo o tribunal marcado o reinício dos trabalhos para as 09:30 de quarta-feira (00:30 em Lisboa).

EL.

Lusa/Fim

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2 comentários:

Anónimo disse...

O réu e a testemunha metem os pés pelas mãos. Nem a ajudinha da Lusa lhes vale.

Assim, o julgamento será de facto célere, como prevêem Bernardo Fernandes e Paulo Remédios.

Anónimo disse...

10-01-2007 13:22:00. Fonte LUSA. Notícia SIR-8656120
Temas: justiça conflitos política timor-leste

Timor-Leste: Principal testemunha acusação omite Alkatiri e cita apenas Lobato


Díli, 10 Jan (Lusa) - A principal testemunha no processo da alegada distribuição de armas a civis em Timor-Leste entrou hoje em contradição em relação à fase de instrução, ao omitir o nome do ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri como estando envolvido no caso. (...)

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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