domingo, julho 09, 2006

Quem beneficia da confusão em Timor-Leste?

Tradução da Margarida:

The Canberra Times - Sábado, Julho 8

Comentário: Quem beneficia da confusão em Timor-Leste?

Por Bruce Haigh [antigo diplomata Australiano e comentador politico. Durante o tempo em que esteve no DFAT trabalhou em questões Indonésias.]

Os media parecem ter a intenção de evitarem investigar as causas subjacentes da tensão em Timor-Leste. Há mais perguntas que respostas. Há contudo, alguns factos conhecidos. Xanana Gusmão e José Ramos Horta mudaram para se alinharem com a liderança de ambas a Austrália e a Indonésia. Ambos concordaram em engavetar acusações contra soldados Indonésios acusados de matar civis em Timor-Leste em 1999. Essa postura acalmou ambas Austrália e Indonésia. Ambos favorecem investimento privado dos interesses da Austrália e da Indonésia.

Nem a Indonésia nem a Austrália gostam de Mari Alkatiri. Ele é a favor da prossecução dos soldados Indonésios. Nesta questão a Indonésia tudo tem feito para evitar ter de responder por esses crimes e a Austrália mudou para evitar embaraçar a Indonésia.

O Ministro dos Estrangeiros Downer foi provocado pelas negociações teimosas de Alkatiri sobre as reservas de petróleo e gás no Mar de Timor.

O Primeiro-Ministro desconfia profundamente do seu passado comunista, da sua precaução com os homens de negócios e da sua hostilidade com o Banco Mundial e o FMI. Howard está preocupado com as suas ligações a Cuba e meteu na cabeça que o governo de Alkatiri podia ter-se preparado para abrigar terroristas. Esta linha de pensamento é apoiada pela Administração dos USA. Isto pode parecer um tanto histérico, mas a atmosfera intelectual dominante nos gabinetes de Howard e do Presidente Bush nesta altura. Por preguiça ou ignorância os media Australianos alinharam com este pensamento dominante e, a grande maioria, relata os eventos de Timor-Leste através desta óptica. À esquerda temos o mau, Mari Alkatiri e à direita temos Gusmão e Horta. Há tensão real em Timor-leste mas está a ser encorajada por influências superiores estrangeiras? Quem são os jovens do oeste de Timor-Leste?

Na minha opinião a sua tenacidade em se amotinarem foram para além da afronta e tiveram uma elasticidade e foco para além duma vulgar emoção compreensível. Destruíram provas forenses contra soldados indonésios guardados no Gabinete do Procurador-Geral em Dili e roubaram 36 computadores. Quantos amotinados alvejariam provas forenses e pilhariam 36 computadores quando podiam ter levado TVs ou aparelhagens de hi-fi? Mais recentemente alvejaram as casas de líderes da resistência que se mantiveram hostis à Indonésia. Porque é que estava um oficial treinado pelos Australianos das forças de defesa de Timor-Leste sentado nas montanhas a pedir a resignação de Alkatiri, tendo a sua família, antes, saído para a Austrália onde permanece com familiares? Alkatiri tinha e continua a ter apoio popular. Não foi derrotado no Parlamento Nacional, então do que é que este oficial reclamava? Porque é que Alkatiri sentiu a necessidade de demitir 600 soldados?

A ilusória teoria do esquadrão de ataque que foi trobeteada pela ABC pode ter alguma coisa a ver com isso mas a pergunta precisa de ser feita, de quem estava Alkatiri a procurar proteger-se? Em caso algum o pequeno número de pessoas alegadamente recrutadas por Alkatiri não seriam suficientes para cumprir o programa de assassinatos a que são ligados e com toda a certeza não podiam tomar conta das 600 tropas a quem Alkatiri deu guia de marcha. E porque é que o Ministro da Agricultura, que é um candidato ao posto de Primeiro-Ministro, veio à Austrália no clímax dos motins em Dili?

Se há uma uma não santa aliança entre a Indonésia e a Austrália sobre o desejo mútuo para se verem livres de Alkatiri, não durará para além do presente plano de jogo. A Austrália não quer que Timor-Leste seja um Estado pedinte. A Indonésia quer; seria um exemplo para outras províncias inquietas. Portanto continuará a mexer a panela. A Austrália aparentemente sabe isso. Há uma propostas para erigir rapidamente quartéis para abrigarem 3000 soldados. (Donde virão?) Contudo, nesta altura, na ausência de reportagens abrangentes ou investigativas, prevalece o spin. O spin dominou durante um tempo em 1999 quando o Downer disse que não havia ligação entre as forças armadas Indonésias e as chamadas milicias (elementos vadios, segundo Downer) mas a verdade veio a lume antes do fim desse ano, sem o mínimo pedido de desculpas de Downer ou de Howard, e o mesmo se passará outra vez.

Contudo, o perigo é que, a tentativa para embaraçar Alkatiri por uns meios ou por outros, tendo falhado, ele possa continuar numa posição que estrague o plano do jogo Australiano para a criação duma entidade concordante e ajude o plano do jogo Indonésio de manter Timor-Leste num estado de desassossego. Com dois vizinhos poderosos e rivais será sempre assim para Timor-Leste? Somente por causa dos jogadores envolvidos, os media Australianos não se deviam manter de fora nem se devia permitir que o spin dominasse. Precisamos de saber quem tirou vantagens dos motins prolongados quando, tendo em conta a dor reconhecida e mutualmente partilhada no passado, todos os Timorenses têm interesse em investirem num acordo negociado. É do interesse de quem ver-se livre de Alkatiri? Quem é que está a mexer a panela, qual a razão e o que é que se ganha com isso?

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4 comentários:

Anónimo disse...

Era bom que quem traduz se limitasse a fazê-lo sem achar-se no direito de salientar algumas partes em detrimento de outras. Assim tipo tradução isenta, por uma vez.
Porque não salientou, poe exemplo, a pergunta "Porque Alkatiri sentiu necessidade de demitir 600 soldados?"

Ou, mais importante ainda e revelador aí sim de oportunismo face à ausência de autoridade, "Destruíram provas forenses contra soldados indonésios guardados no Gabinete do Procurador-Geral em Dili e roubaram 36 computadores. Quantos amotinados alvejariam provas forenses e pilhariam 36 computadores quando podiam ter levado TVs ou aparelhagens de hi-fi?"

Louvado.
Ai Timor

Anónimo disse...

Eu a pensar que o Rai Timor vinha agora explicar ao pormenos as questõrs dos militares desertores, mas ainda não é desta.

Anónimo disse...

margarida, essas explicações não lhe sairão da boca dele agora, vão sair de onde têm de sair primeiro... depois talvez saiam é mais pormenores para fazer doer o estômago aos mais duros de cabeça.

"Quem beneficia da confusão em Timor-Leste?"
Não vislumbro outra resposta que não seja - AO NÚCLEO DURO DA FRETILIN!
Aliás estava isso já bem sinalizado muito antes de terem descambado na confusão... aquelas palavrinhas mágicas de profecias não são mesmo para esquecer...

Anónimo disse...

Estarão a Indonésia e a Austrália interessadas em destruir a Fretilin?
Como não se pode destruir TL sem antes destruir o povo, a dominação, ou a tentativa, deverá vir por cima.
Olho vivo timorenses!
Alfredo
Brasil

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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