domingo, julho 09, 2006

O longo silêncio do General Taur (Matan Ruak)

Transcrição (da Margarida) do Expresso, por não estar on-line:

Com um novo Governo em Timor, o problema agora é lidar com um Exército que se vê como o pilar da soberania.

O LONGO SILÊNCIO DO GENERAL TAUR
Micael Pereira, Expresso, 08/07/06

Em Dili, há um homem que tem resistido em silêncio a todas as provocações feitas ao Exército timorense desde que começou a crise no país, a 28 de Abril, depois dos militares se terem envolvido em confrontos com desertores e civis, provocando vários mortos e dezenas de feridos. Não se sabe ainda quando é que o General Taur Matan Ruak estará disposto a contar publicamente a sua versão dos factos (ainda ontem recusou dar uma entrevista ao Expresso), mas é nele que vão estar concentradas as atenções, depois de passada a euforia mediática em torno do novo primeiro-ministro de Timor-Leste, cujo anúncio é esperado para hoje.

Considerado mais do que certo no cargo, Ramos-Horta tem consciência para onde canalizar as suas energias nas próximas semanas, dizendo há dias ao Expresso, numa tentativa “mediática” de aproximação: “Tenho uma admiração pessoal pelos membros das Falantil-FDTL, em particular pelo general Taur Matan Ruak, e pelos outros heróis veteranos da nossa luta, que sofreram e viram o seu orgulho e prestígio abalados por esta crise.” Ramos-Horta acrescentou mesmo que, se há uma coisa que não gostaria de abdicar no novo Governo, é precisamente a pasta da Defesa, que acumulou com os Negócios Estrangeiros desde que o ministro Roque Rodrigues se demitiu. “Ficaria decepcionado se isso acontecesse”.

Passada a fase mais delicada do diálogo entre Xanana Gusmão e os líderes da Fretilin, a verdade é que um dos problemas-chave que o Governo de gestão de Timor tem pela frente é o Exército. Sobretudo porque o seu núcleo-duro de 800 militares (todos eles antigos guerrilheiros das montanhas) se mantém armados nos quartéis e continua a obedecer à cadeia de comando. O sentimento generalizado entre eles é de que são, de facto, os verdadeiros herdeiros da resistência durante a ocupação indonésia.

Embora assumindo uma posição de respeito institucional, ao remeter para os políticos a resolução da crise, Matan Ruak não parece disposto a abrir mão daquilo que ele considera ser o pilar da soberania nacional.

Ao Contrário da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL), que acabou por se desmembrar nos confrontos de 22 a 25 de Maio e foi desarmada mais tarde pelas forças australianas, os militares das Falantil não estarão dispostos a ser desmobilizados. Fontes próximas do chefe do Estado-Maior-General das F-FDTL garantem que, para ele, a desmobilização não é vista sequer como uma hipótese aceitável.

Sem Xanana. O futuro mais imediato das Falantil também passa pela reconciliação entre a cúpula militar e as instituições políticas em Dili.

Depois de quebrado o elo de confiança com o Governo de Mari Alkatiri, que se mostrou incapaz de lidar com a reivindicação de 600 desertores do Exército (conhecidos por “peticionários”) e chegou a pedir a intervenção dos militares numa manifestação, a ligação do Exército ao Presidente da república também saiu deteriorada.

Durante os confrontos de 22 a 25 de Maio, Xanana Gusmão não contactou uma única vez com Taur, apesar de ser ele o chefe supremo das Forças Armadas. A falta de apoio de Xanana foi muito notada e mal compreendida, sabe-se. Daí a preocupação redobrada de Ramos Horta, que percebeu que é a ele que cabe agora dar um “afago” aos velhos heróis de Timor.

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4 comentários:

Anónimo disse...

Tenho pelo General Taur Matan Ruak, uma admiração muito grande. É gente de boa têmpera, é honesto e nunca abusou do poder. Ruak é das figuras da resistencia que sempre se manteve igual a ele proprio. O Dr Ramos Horta se ama a justiça deve manter o General Ruak no seu posto port todas as qualidades que ele possui. O meu voto vai para o General Ruak

Anónimo disse...

Pouco depois de assegurar a pasta da Defesa, na sequência do pedido de demissão de Roque Rodrigues, Ramos-Horta garantiu à rádio portuguesa TSF e ao Diário de Notícias que tinha uma grande admiração pelo general Taur Matan Ruak, que mantinha a sua confiança no comandante das F-FDTL e que devia manter esse comando.

Anónimo disse...

Convém não perder a atenção... no meio de tanta confusão e sobretudo manipulação, de que este blog é sui generis, que: Xanana Gusmão disse ter reencontrado um irmão que tinha perdido... sendo Matan Ruak honesto e não abusador do Poder, vejam lá se o tiro não sai pela culatra à Fretilin!?

Mas já agora, não foi Matan Ruak que assumiu a posição de "despedimento" dos 591?
Será que já explicou a Xanana Gusmão o dilema?

Assim parece...

Anónimo disse...

Ouvi dizer a um oficial general americano na reserva que o General Taur Matan Ruak poderia emparceirar com muitos dos oficiais de igual patente americanos!
As suas caracterísicas pessoais, morais e militares são motivo de orgulho para Timor-Leste!
A provar agora esta afirmação foi a sua atitude institucional, contida e e controlada durante toda esta crise.
Ele e todos os seus companheiros das montanhas, são foram e serão os verdadeiros heróis do seu país.
Talvez agora se compreenda quão injustos foram os políticos que não respeitaram devidamente quem deu a vida, e o melhor dos seus anos a lutar por uma independência, agora quase desperdiçada, pela inabilidade política e tratamento injusto e desrespeitoso aos seus heróis.(As ossadas dos mortos já estão em repouso no monumento?)
Repare-se que quem são os "peticionários" são aqueles que não lutaram realmente durante 24 anos nas montanhas! Reivindicavam, reivindicavam...reivindicavam. Dólares?...O cheiro do dinheiro não era conhecido pelos veteranos. e...já agora, para que se saiba, no dia que receberam em parada os seus primeiros dólares (o vil metal) pediram (num ritual comovedor) desculpa aos mortos por terem que aceitar esse pagamento!!!! Pouquissimas pessoas sabem disto!
Pensem bem quem alguma vez ponha em causa ou dúvida a integridade, generosidade, valentia daqueles ex-guerrilheiros!
À frente deles esteve um Homem, bem acompanhado por outros tantos que humildenente se calam, porque os verdadeiros Homens não precisam de dizer que o são. Eles são-no, simplesmente!
Respeito, muito respeito.
E cuidem-se quem alguma vez pensou que estes heróis alguma vez voltarão as suas armas contra o seu povo.Além de não as voltarem contra o povo...também não as largarão! Seguramente!
A História repete-se... os melhores filhos das revoluções são ESQUECIDOS pela própria revolução.
Não conhecem outro exemplo em português????

Grande abraço ao General Taur e todos os seus heróis e companheiros!
Tenham fé! Timor-Leste continuará a existir. Não foi em vão o vosso sangue derramado!
Viva Timor-Leste!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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