domingo, julho 02, 2006

O nosso Xanana

Por Daniel Olieira
Expresso
1.07.2006

Como o próprio Presidente timorense bem resumiu, «onde há petróleo há problemas». E enquanto tudo isto acontecia, os portugueses foram acordando da sua candura. É que nem Xanana é o Nodi, nem Alkatiri é Fidel Castro.

O RIGOR, quando chega a Timor, é abatido logo na praia. As paixões associadas a Timor nascem de uma certa condescendência colonial. Uma genuína solidariedade misturada pelo incómodo de ver outra potência no nosso lugar, provocou, há sete anos, uma onda nacional de revolta. Esse momento deu aos portugueses uma visão infantilizada dos timorenses, em que Xanana foi transformado num super-herói da Marvel. E assim se manteve. Convenhamos que é mais fácil gostar de um católico do Benfica, simpático e atrapalhado, do que de um sisudo muçulmano de nome impronunciável.

Só que a verdade é mais dura. Xanana é um político inábil, embriagado pela sua própria figura. Até à chegada dos australianos andou a jogar à bola enquanto Alkatiri tratava da política e a situação se degradava. Já com o país a ferro e fogo percebeu-se que estava melhor quando estava calado.

O discurso de Estado que fez antes de empurrar Alkatiri borda fora é digno dos Gatos Fedorentos. Xanana transformou-se num joguete fácil às mãos dos interesses na região.
Alkatiri, com todos os seus defeitos, é, pelo contrário, um estadista frio mas responsável, sem carisma mas pragmático. Apesar de erros de palmatória, como o despedimento em massa de militares, foi minorando os estragos e contendo os seus apoiantes, ao mesmo tempo que as sedes da Fretilin eram destruídas em Díli. Fez tudo para evitar uma guerra civil. Imerso em erros e inexperiência, andou, durante os últimos anos, a tentar o improvável: impedir que Timor se transformasse de novo num satélite da Austrália e da Indonésia, procurando parceiros comerciais com menores interesses na região, como a China, o Koweit e o Brasil.

É o preço dessa ousadia necessária que está agora a pagar. Porque, como ele próprio bem resumiu, «onde há petróleo há problemas». E enquanto tudo isto acontecia, os portugueses foram acordando da sua candura. É que nem Xanana é o Nodi, nem Alkatiri é Fidel Castro.

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6 comentários:

Anónimo disse...

Mais um idiota teorista da conspiracao.
Se o Alkatiri e tao bom levem-no pra portugal que os timorenses nao o querem.

Anónimo disse...

Mais outro cultor das generalidades ocas, que com sobranceria fala dos “erros de palmatória, como o despedimento em massa de militares”, omitindo que não foi do PM a decisão e que não era de “militares” mas sim de desertores (e muitos deles golpistas) que se tratava, que rebarbativamente repete “Imerso em erros e inexperiência”, sem apontar um único exemplo. E que, sendo dirigente dum partido que até à data a única atitude que tomou foi não tomar qualquer atitude, remata com uma daquelas frases coloridas mas sem qualquer substância, chutando para o lado, tipo não me comprometas. E afinal quem é o Nodi?

Anónimo disse...

Não são teorias são factos e tenho a certeza que nada perguntou aos timorenses sobre o que Eles querem ou não.
Emitam opiniões, é bom mas não falem em nome do Povo, dos timorenses porque os timorenses são muitos mais para além daqueles do circulo que frequentam.
A Indónésia também dizia que o povo timorense queria a integração. Não estava a mentir porque ainda hoje há muitos timorenses que o querem.
Meu caro anónimo, hoje a vontade do Povo não é a a sua, a minha, a de Xanana, a de Alkatiri ou de seja quem for.
A vontade do povo faz-se ouvir pelo voto.
Por isso meu caro neste momento nenhum de nós, nem Xanana, nem Alkatiri, sabem o que os TIMORENSES QUEREM.
Ou será que já se realizaram eleições e ainda sabemos?

Anónimo disse...

Não mas para lá se caminha. Aliás se tivesse havido eleições, como deveria ter havido após constituida a Constituição, talvez os apuros da Fretilin não tivessem esta dimensão.

Portanto vamos lá mas é a votos para confirmar as teorias. Acontece que isto não é brincadeira nenhuma e é o próprio Governo que é o responsável político pela situação.

Só não o é para quem se esquece de 4 anos de Governação para alguns! E o resto do povo, como bem refere? Desloca-se? Coloca-se numa situação de pânico, de fome? Sabe onde esles estão acantonados?

Abram os olhos. A crise está a ser tratada por aqueles que afinal parecem estar melhor posicionados. A retilin estava posicionada onde? Que fez ela? Uma das maiores vergonhas, foi o que fez!

Apanhem mas é os anormais que desenvolveram clandestinamente esta situação. Muitos deles no próprio aparelho de Estado, ou não é assim?

Quando os empresários para investirem em Timor-Leste têm de pagar para a Agência bem como para os cofres de um partido a coisa vai muito mal mesmo, pior ainda quando esse é o partido que aqui se continua a dizer maioritário!? Não é isto uma ditadura de partido único com todos os atropelos desde 2001?

Anónimo disse...

Anónimo das 2:14:42 AM : a crise foi criada pelo PR, Ministro dos Estrangeiros, Igreja, americanos e australianos, como parece ser o único que ainda não percebeu.. O mandato que a Fretilin teve foi para governar até 2007. E quanto aos pagamentos para os cofres da Fretilin, já se queixou aos tribunais? Se não o fez está simplesmente a caluniar e a fazer chincana. E falar-se de "ditadura de partido único" numa democracia que tem mais ONG's por metro quadrado que qualquer outra e doze partidos representados no Parlamento Nacional é o cúmulo da burrice.

tms disse...

Conforme diz um anterior anónimo: "Vamos lá para eleições!"... Até ganhar aqueles que os australianos e americanos querem... Aparentemente Ramos Horta!

(Mais uma vez a Margarida continua a fazer um excelente trabalho traduzindo e emitindo opiniões que são as suas. Mais uma vez se assiste neste blogue, tal como já sucedeu noutros, a uma marcação cerrada de anónimos do insulto. A ti Margarida o meu obrigado!)

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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