quinta-feira, junho 29, 2006

O governo Australiano avança com planos para dominar Timor-Leste

Tradução da Margarida:


Por Peter Symonds via sam
Quarta-feira, Junho 21, 2006 at 12:53 PM

Nem Horta nem os seus apoiantes Australianos querem testar o seu “tremendo apoio” nas eleições do próximo ano. “O problema é, obviamente, pode o país suportar os próximos seis, os próximos nove meses com esta pressão continuado sobre o primeiro-ministro para resignar?” perguntou Horta. “Podemos suportar esta crescente perda de credibilidade do governo e a má imagem do país? Ou deve o primeiro-ministro dizer, ‘Bem, eu saio no interesse do meu próprio partido. Parece que eu sou uma desvantagem para o meu próprio partido, se não para o país’.” A ameaça de acusações criminais é obviamente maquinada para obrigar Alkatiri a tomar aquela decisão.

Tendo estabelecido um exército de ocupação em Timor-Leste, o governo Australiano engajou-se numa luta política corrente em várias frentes para garantir o seu domínio sobre metade da ilha. Nas Nações Unidas, diplomatas Australianos estão a pressionar para garantir que Canberra retém o controlo sobre a nova missão da ONU. Como parte dessa ofensiva, os media Australianos conduzem uma campanha sem paragem contra o Primeiro-Ministro Mari Alkatiri, que é visto como demasiado próximo do rival Portugal e portanto um obstáculo aos interesses Australianos.

Os Australianos de Murdoch mais uma vez esboçaram a agenda a maioria deles abertamente. Num comentário no Sábado, o editor dos assuntos estrangeiros Greg Sheridan argumentou que enquanto outros países precisavam de contribuir para o re-estabelecimento duma força de polícia em Timor-Leste, Canberra tinha que reter, sobre tudo o controlo. “O Conselho de Segurança da ONU está a considerar Timor-Leste e os requerimentos do seu policiamento futuro agora mesmo É uma tarefa vital para a diplomacia Australiana obter a fórmula certa disso,” declarou.

Sheridan declarou que era vital que “A Austrália desempenhe a tarefa sozinha” no treino da polícia. “A ONU em Timor tem sido um caminho para a confusão e disfunção. Em particular tem sido um caminho para a influência Portuguesa, um negócio de mão-cheia, na verdade.” No princípio deste mês, Sheridan classificou Portugal como o “inimigo diplomático da Austrália em Timor-Leste” e identificou Alkatiri como “a chave para a influência deles”.

Enquanto que o governo de Howard não se pode dar ao luxo de ser tão aberto, com o apoio de Washington, está envolvido numa ofensiva diplomática para garantir que a Austrália lidera a operação da ONU em Timor-Leste. A manobra é particularmente cínica porque os USA e a Austrália têm-se oposto sistematicamente a pedidos feitos pela ONU, Timor-Leste e Portugal para uma extensão da presença da ONU no país. Tão recentemente quanto no início de Maio, Canberra e Washington opuseram-se vigorosamente a qualquer extensão da missão da ONU.

As diferenças vieram à superfície abertamente no Conselho de Segurança da ONU na semana passada quando o Embaixador Australiano Robert Hill se opôs a uma proposta do Secretário-geral da ONU Kofi Annan de uma operação formal de capacetes azuis para tomar o lugar da presente força militar liderada pelos Australianos. O plano do governo de Howard, modelado conforme a ocupação liderada pelos Australianos das Ilhas Salomão, é reter o controlo militar exclusivo ao mesmo tempo que preside sobre uma força policial multi-nacional e instala funcionários Australianos em postos administrativos chaves. Hill argumentou que estrangeiros deviam ser postos à frente da força policial Timorense, e privadamente sugeriu o antigo Comissário da Polícia Federal Australiana Mick Palmer para o lugar.

Portugal e a Malásia que têm ambos contingents policiais em Timor-Leste, apoiaram o pedido de Annan para a ONU tomar a completa responsabilidade do controlo da presença militar e policial. O Embaixador de Portugal João Salgueiros disse ao Conselho de Segurança: “Timor-Leste é um filho das Nações Unidas. Por isso precisa da universalidade e imparcialidade das Nações Unidas, que deve uma vez mais tomar o papel liderante.”

Uma reunião de ministros dos estrangeiros da CPLP no Domingo decidiu enviar uma missão a Timor-Leste para avaliar a situação. O Ministro dos Estrangeiros Português Diogo Freitas do Amaral declarou: “Timor-Leste não é um Estado falhado. Temos de defender a necessidade de enviar uma força das Nações Unidas na qual todas as nações membros participem activamente.” Na semana passada a Comissão Europeia, que foi apoiada pelas ambições de Portugal em Timor-Leste, assinou um acordo com o governo de Alkatiri para providenciar 18 milhões de euros em ajuda com um foco na “construção de capacidade institucional,” bem como no alívio da pobreza.

Ontem o Embaixador dos USA John Bolton entrou na cena diplomática apoiando o pedido de controlo para Canberra. Opondo-se a “uma presença da ONU para sempre” em Timor-Leste, argumentou que era necessário “apoiar os Australianos e Neozelandezes que estão lá”. Obviamente, se a intervenção nas Ilhas Salomão é um guia, o governo de Howard tem a intenção de ficar em Timor-Leste não somente meses, mas anos.

Esta luta de braços diplomática reflecte o agudizar de antagonismos inter-imperialistas, não só sobre Timor-Leste, mas internacionalmente. Em jogo está o controlo sobre significativas reservas de petróleo e de gás no Mar de Timor bem como a posição estratégica de Timor-Leste na Ásia do Sudeste, a meio-caminho de estradas navais chaves. O governo de Howard explorou conflitos de facções no governo e nas forças de segurança de Timor-Leste para começar a destacar 1,300 tropas Australianas para a ilha em 24 de Maio. A última preocupação de qualquer das potências em competição é a luta dos Timorenses atingidos pela pobreza, muitos dos quais fugiram para campos de deslocados.

A Campanha contra Alkatiri
As divisões na OBU têm um paralelo na luta de facções no próprio Timor-Leste, onde os aliados Australianos— o Presidente Xanana Gusmão e o Ministro dos Estrangeiros José Ramos Horta— estão engajados numa mal disfarçada campanha para expulsar Alkatiri. Segundo a constituição do país, o presidente não tem o poder de despedir o primeiro-ministro sem um voto de não confiança no parlamento, onde o partido Fretilin de Alkatiri tem uma maioria absoluta. Como resultado disso, os media Australianos têm procurado inventar bases para acusações criminais contra Alkatiri, que o forçariam a sair.

O último tiro na campanha foi disparado ontem à noite no programa “Four Corners” da Australian Broadcasting Corporation. Numa peça de propaganda desavergonhada, a repórter da ABC Liz Jackson tentou demonstrar que Alkatiri, juntamente com o antigo ministro do interior Rogério Lobato, tinha entregue armas a antigos guerrilheiros da Fretilin para formar um esquadrão de ataque contra os seus opositores políticos. Desdenhando abertamente de Alkatiri e da sua negação de qualquer acção errada, Jackson apresentou, sem contraditório, um mosaico de comentários e de documentos, todos fornecidos pelos inimigos políticos do primeiro-ministro e apresentados fora do contexto.

Deve ser lembrado que as alegadas más acções tiveram lugar no meio da luta faccional incipiente, na qual 600 soldados rebeldes, a que se juntaram secções da força de polícia, ameaçavam lançar uma guerra civil war se Alkatiri não saísse imediatamente. Mesmo se isso fosse completamente verdade, o que toda a “evidência” demonstrava é que Alkatiri e Lobato, como os rebeldes, estavam a armar os seus apoiantes. O lado parcial do programa da ABC tornou-se uma farsa quando Jackson pressionou Alkatiri sobre a ilegalidade de “armar os civis,” ao mesmo tempo que ignorava o facto de, os que ela caracterizou como “os heróis da luta anti-Alkatiri” serem, em termos estritamente legais, culpados de motim e traição.

Nos seus esforços para apresentar Horta como o popular próximo primeiro-ministro, “Four Corners” talvez revelou mais do que tinha a intenção de revelar. Horta tem tentado apresentar-se a si próprio como estando acima dos políticos em luta — o homem para reunir todas as facções juntas. Mas a cobertura da ABC da sua reunião com os líderes rebeldes em Gleno, imediatamente antes de uma concentração da oposição em 6 de Junho em Dili, mostrou Horta a fazer trabalho de facção abertamente com forças anti-Alkatiri. Ao ser-lhe perguntado acerca desta actividade, Horta declarou desavergonhadamente: “Em todos os sítios para onde tenho ido — Baucau e todos os lugares — eu tenho tido tremenda simpatia, apoio, calor das pessoas aos milhares, às centenas. E eu sinto-me ultrapassado, talvez porque elas estão desesperadamente à procura de liderança, à procura de gente em quem possam confiar.”

Nem Horta nem os seus apoiantes Australianos querem testar este “apoio tremendo” nas eleições previstas para o próximo ano. “O problema é, obviamente, pode o país suportar os próximos seis, os próximos nove meses com esta pressão continuado sobre o primeiro-ministro para resignar?” perguntou Horta. “Podemos suportar esta crescente perda de credibilidade do governo e a má imagem do país? Ou deve o primeiro-ministro dizer, ‘Bem, eu saio no interesse do meu próprio partido. Parece que eu sou uma desvantagem para o meu próprio partido, se não para o país’.” A ameaça de acusações criminais é obviamente maquinada para obrigar Alkatiri a tomar aquela decisão.

De acordo com o jornal The Age baseado em Melbourne na Segunda-feira, o Presidente Gusmão está a considerer usar os seus poderes constitucionais para lançar um inquérito judicial sobre as alegações da ABC e doutros media Australianos. Horta estava a considerar uma visita ao alegado líder do esquadrão de ataque, Vincente “Railos” da Conceição, para reunir evidência e levá-la para Gusmão. “O presidente não é indiferente, pelo contrário. Está atento a estas alegações, e... está a juntar toda a informação disponível, e agirá na altura devida se tiver de,” explicou Horta.

Estas sórdidas maquinações politicas iluminam o absurdo da assim chamada independência proclamada em 2002 como um passo em frente para o povo Timorense. Numa era de produção globalizada, a pequenina meia-ilha nunca será independente dos poderes globais e regionais, ou das instituições financeiras internacionais como o Banco Mundial e o FMI. Longe de gozar paz e prosperidade, Timor-Leste tornou-se uma outra área para rivalidades imperialistas, na qual cada clique local procura garantir a sua posição política pela obtenção do apoio de um ou de outro dos poderes em competição. Longe de pôr fim ao conflito em Timor-Leste, a intervenção Australiana está a construir a base para uma futura guerra civil pois Canberra pretende instalar os seus próprios clientes.

http://www.melbourne.indymedia.org/news/2006/06/115261.php

4 comentários:

Anónimo disse...

É bom lembrar que estas sórdidas maquinações políticas são urdidas pelo governo Australiano, lavadas e tornadas respeitáveis pelos media Australianos (e não só, a Lusa, Expresso, Público, rádios e televiões públicas e privadas têm ajudado, e de que maneira) e executadas pelo PR e pelo ministro dos estranfeiros e da defesa da RDTL.

É bom lembrar também que contra ventos, marés, Australianos e Indonésios depois duma longa luta de 31 anos, a Fretilin, com a sua luta teve um papel determinante na conquista da independência. Por isso, até porque agora está mais forte e tem muita mais experiência, há todas as razões para confiar que a Fretilin não permitirá que estas maquinações tenham êxito. E que Timor-Leste ultrapasse esta crise e reganhe por completo a sua independência e soberania.

Anónimo disse...

Ai ai FRETILIN...

Anónimo disse...

Os Bispos a ouçam Margarida poue Deus demora muito tempo para ouvir Timor

Anónimo disse...

Isto sim é informação.
Um excelente trabalho.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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