segunda-feira, junho 12, 2006

A diplomacia derrotada

Ana Sá Lopes
ana.s.lopes@dn..pt

Havia um mistério na crise timorense: porque é que os revoltosos prosseguiam armados? Porque é que o"comandante" Reinado descansava em sossego com a protecção australiana? Ontem, o brigadeiro Slater, número um da força australiana, veio esclarecer tudo: as tropas não desarmam os rebeldes porque Xanana não lhes pediu. Simples. Quando Xanana lhes pedir, estão prontos. Ou, nas palavras do brigadeiro, "quando chegar o tempo certo".

Aparentemente, segundo Slater, o Presidente timorense está a tentar a reconciliação entre as partes. Com 2000 homens sob o seu comando, Slater diz que não arrisca: "Se cada um actuar independentemente e fizer algo que não seja aceitável para todas as partes corremos o risco de provocar maior turbulência."

Enquanto isto, "os nossos rapazes" da GNR estão no epicentro de um turbilhão de consequências imprevisíveis. Comandados por António Costa (a sério, a sério), apresentaram-se em Díli sem qualquer garantia e foram tratados pelos australianos com a mesma simpatia com que os analistas de Camberra avaliam o papel de Portugal em Timor. Igual a zero. Foram, depois, acantonados pelos australianos em Comoro, bairro periférico que une Díli ao aeroporto. António Costa, comandante das tropas, já teve a primeira derrota no terreno.

Portugal prepara-se, agora, para uma derrota diplomática: pode ser que, com a alegria do Mundial e o aumento das exportações, a coisa passe despercebida. Na terça-feira, nas Nações Unidas, a Austrália apresentará o seu projecto de controlo do futuro de Timor que, aparentemente, tem a bênção do ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, José Ramos-Horta. De Xanana nada se sabe, nos últimos tempos: mas todos os seus passos (nomeadamente os da sua mulher, Kirtsy) não iludem que concorda com a aliança. Alkatiri é o monstro que, até agora, nem Xanana, nem Ramos-Horta (todos os dias esclarece estar pronto para ser primeiro-ministro), nem o Governo australiano conseguiram ainda erradicar. Mas, na ONU, o papel decisivo será dos EUA: duvida-se que a diplomacia americana fique ao lado de Alkatiri. Se for aprovado o plano australiano para o controlo de Timor, a imagem dos GNR a patrulhar Comoro é uma metáfora. Não é grande coisa, mas é uma metáfora.

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5 comentários:

Anónimo disse...

Não a diplomacia derrotada mas sim Timor!

As decisões sobre o destino dos povos são tomadas por homens "nobéis" e da "paz".

Anónimo disse...

Bom de qualquer modo não desanimem, não se esqueçam que a China e a Rússia também são membros permanentes do Conselho de Segurança, e esses aí não me parece que estejam para "ajudar" os australianos.

Anónimo disse...

Enquanto no palco se vive o buliço do "barulho" australiano, "na ONU, o papel decisivo será dos EUA"
"O poder do silêncio!"
Não se dispersem em questões menores, não alimentem o monstro.
Mas Xanana, Alkatiri, Lu-Olo, sabem. Também o souberam antes.

Anónimo disse...

Por decisão de UK&USA é delegado nos aussies o papel de -gendarmes- de Timor Leste...

O -Timor gap- precisa de um tutor que garanta a paz, leia-se, o retorno do capital, do -oil-&-LNG-.

Portugal alimenta o País da esperança (na poesia de Xanana), como guerreiro, poeta e missionário do presente alimentando a visão histórica do passado...

Haja Deus!...e claro, como não podia deixar de ser, muita esperança.

Ficamos assim...o normal
Malai X

Anónimo disse...

Faço minhas as palavras do Manuel Leiria de Almeida que roubei do seu blog:

"Tenho-me lembrado tanto de vocês, anarquistas!...
É... Nestes dias, por causa da situação em Timor Leste e das "enormidades" que tenho visto e, principalmente, ouvido --- parece que há uma competição para ver quem diz e faz mais asneiras. Deve ser do Campeonato do Mundo... --- tenho-me lembrado muito da vossa famosa frase: "Desistimos! A realidade ultrapassou-nos!..."
Mas, pelo menos por enquando, ainda não desisto...
É a melhor homenagem que posso prestar aos meus amigos timorenses!"

posted by Manuel Leiria de Almeida
http://tatamailau.blogspot.com/

PS: É que a Ana escreve bem mas com este seu modo de pensar ainda os timorenses não se teriam libertado do colonialismo português. E quer queiram quer não hoje detém a soberania e o futuro graças à sua teimosia e luta.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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