Blog Lorocae
Sexta-feira, 15 de Fevereiro de 2008
por Hernâni Carvalho
Ajudar não é intrometer. Na primeira declaração do primeiro-ministro australiano, após o atentado ao presidente Ramos Horta, a prioridade foi afirmar o envio de mais tropas e polícias australianas para Timor. Ainda mais?
Falar na morte de Alfredo Reinado é falar de um homem leal. O major foi sempre leal a quem o alimentou, sustentou e introduziu na tecitura timorense. Morreu ao serviço de quem sempre lhe deu cobertura. Provavelmente de forma inglória. Mas foi um agente leal...
A história há-de encarregar-se de o explicar. Timor sofreu apenas mais uma das dores de parto do nascimento de um país. Os que em Lisboa, no passado distante, disseram que a independencia de Timor era um disparate e que num passado mais recente se engalanaram para tirar dividendos políticos da dita independência, tornam hoje, nos corredores da política, a dizer à boca pequena que “aquilo nunca teve viabilidade”.
Aquilo é um Povo. E se tem tido mais dores de parto é porque todos querem meter a colher e daí tirar o que melhor houver. Há petróleo e gás natural a mais em Timor. É a ganância de muitos actores internacionais que mais mal tem feito a Timor. Ajudar não é intrometer.
Na primeira declaração do primeiro-ministro australiano, após o atentado ao presidente Ramos Horta, a prioridade foi afirmar o envio de mais tropas e polícias australianas para Timor. Ainda mais? É interessante cruzar esta afirmação com o lamento do coronel timorense Lehere que afirmou no próprio dia do atentado que as suas forças militares foram impedidas pelos militares australianos de avançar para os locais estratégicos de protecção à cidade. O relatório internacional feito pelo enviado especial da ONU a Timor falava há meses da urgente necessidade da organização da segurança nacional no território. Falava de uma polícia timorense menorizada e de umas forças armadas sem poder efectivo.
Afinal a quem é que mais interessa que as coisas se mantenham assim em Timor?
Hernâni Carvalho
LOROCAE - Centro de Apoio aos Jovens em Timor
domingo, fevereiro 17, 2008
Atentado em Timor
Por Malai Azul 2 à(s) 05:40
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
4 comentários:
Forças timorenses e internacionais lançam operação contra rebeldes
Público, 17.02.2008
Jorge Heitor
A GNR não participa na busca de Gastão Salsinha e dos demais elementos rebeldes que estão a ser procurados nas montanhas em volta da capital
Decorre em Timor-Leste uma operação militar para tentar localizar os elementos rebeldes que são suspeitos de terem estado envolvidos nos incidentes em que, no dia 11, morreu o major Alfredo Reinado e ficou gravemente ferido o Presidente José Ramos-Horta. Mas o capitão português João Martinho, comandante do subagrupamento Bravo da GNR, esclareceu ontem à imprensa que os seus 140 homens não se encontram envolvidos no dispositivo, por não ser essa a sua missão. Quem confirmou a operação nas montanhas dos arredores de Díli foi o chefe do Estado-
-Maior das Forças Armadas, general Taur Matan Ruak.
Enquanto isto, soube-se que os 70 polícias australianos enviados para Timor-Leste pouco mais de 24 horas depois dos incidentes nas residências de Ramos-Horta e do primeiro-ministro Xanana Gusmão vão actuar de forma absolutamente autónoma em relação às Nações Unidas e às próprias forças locais de segurança.
Quanto à GNR, a sua missão oficial é "garantir a segurança e a tranquilidade pública" na capital, tendo recebido ontem um agradecimento de Kirsty Sword-Gusmão, mulher de Xanana, segundo a qual só com a chegada dos portugueses, na segunda-feira, é que ela e os filhos se sentiram seguros para sair de casa.
Têm circulado diversas versões sobre o que é que aconteceu há seis dias, desde uma tentativa de golpe de estado até um descambar circunstancial de acontecimentos que, em princípio, não visariam ferir o Presidente da República ou o primeiro-ministro.
Tanto o sucessor interino de Ramos-Horta, Fernando Lasama de Araújo, como o Conselho de Segurança da ONU já manifestaram o interesse de ver tudo cabalmente esclarecido. E o juiz português Ivo Rosa sublinhou que há mais de um ano se esforçava em vão para que fosse cumprida a decisão judicial que mandava deter Reinado e outros agitadores.
Horta e Reinado
Público, 17.02.2008
Quatro semanas antes dos acontecimentos de 11 de Fevereiro, o Presidente José Ramos-Horta esteve em Maubisse, a 80 quilómetros de Díli, a almoçar cabra, cordeiro e galinha com o major Alfredo Reinado, que andava então a monte, contou ontem ao Sydney Morning Herald o ministro timorense da Economia e Desenvolvimento, João Gonçalves. No encontro, o chefe de Estado e o fora-da-lei teriam estabelecido um acordo para dar novo alento à frágil nação.
Diário Económico, 14/02/08
Timor-Leste
A jovem democracia de Timor tem sido muito sofrida. Um processo difícil e, em alguns momentos, dramático.
Apesar do empenhamento e da ajuda internacional, designadamente das Nações Unidas, os timorenses confrontam-se com problemas internos difíceis de ultrapassar.
A geração da “resistência” – política e militar – digladia-se. Há uma forte clivagem nas organizações partidárias. Militares que devem deixar as armas, revoltam-se e desencadeiam acções violentas.
Por último, a geração seguinte, constituída por um elevado número de jovens, essencialmente nas maiores cidades, não encontra emprego nem referências.
Não é um impasse, mas é uma conjuntura muito difícil de ultrapassar e que vai precisar de um maior empenhamento da comunidade internacional.
Há pouco mais de um ano a conflitualidade parecia ter a ver com o petróleo.
Hoje, confirma-se que a situação é mais complexa.
Sabemos ainda pouco, a confusão da informação é imensa, mas para o povo de Timor e para a Comunidade Internacional é vital chegar até ao fundo, nas investigações e punir os responsáveis sejam eles quais forem, senão…
____
Jorge Coelho, Membro do Conselho de Estado
Diário Económico, 13/02/08
Os atentados de Timor
Timor não tem Estado, ou o que tem é tão débil que mal resiste a espécimes lunáticos como estes major Reinado e tenente Salsinha.
Pedro Lomba
Todas as vezes que dizem que o nosso mundo é já pós-hobbesiano, a minha inclinação natural é logo desconfiar. Pós-hobbesiano, pós-moderno, pós-político, pós-democrático, parecem-me pós a mais. Não anunciem o fim de uma coisa antes de ela ter mesmo caducado ou se tornar inútil: podemos preservar por mais algum tempo as nossas antigas certezas. E, na verdade, se a primeira preocupação de Hobbes era que o Estado garantisse a segurança de uma sociedade organizada, o mundo está ainda cheio de exemplos em que a lição não foi aprendida. Sem Estado não há segurança; sem segurança não há liberdade. Por mais que compliquem, as melhores teorias políticas são as que se definem com frases curtas.
Em Timor, por exemplo, bandos armados têm florescido nos últimos anos com quase absoluta impunidade e complacência. Actos de violência, incidentes, tumúltos, tornaram-se rotina. Timor não tem Estado, ou o que tem é tão débil que mal resiste a espécimes lunáticos como estes major Reinado e tenente Salsinha (por que razão os autores de atentados políticos ostentam sempre nomes tão estranhos?). A segurança do território não tem sido possível porque, para começar, não é certo sequer de quem depende principalmente essa responsabilidade. A Austrália passou primeiro a incumbência para a ONU; e a ONU, que os críticos dizem demasiado tolerante com o actual estado de coisas, começou este mês a transferência de funções para a polícia de Timor. O resultado é o vácuo; o mesmo vácuo donde saíram os atentados de anteontem a Ramos Horta e Xanana Gusmão. Interrogado sobre o assunto, não foi por acaso que um porta-voz da missão especial da ONU em Timor veio lembrar, para que todos ouvissem, que a ONU está a fazer a transição de poder para as autoridades timorenses e que, no caso dos atentados, cabia à polícia de Timor proteger a casa de Ramos Horta.
No imaginário nacional, sempre olhámos os timorenses com certo romantismo, como se não os considerássemos capazes de agressões em série. A tranquilidade reinaria sobre a região sem problemas. Mas amigos meus que viveram nos últimos anos longas temporadas em Timor dizem-me que a primeira coisa que se observa na terra é a desproporção com que o timorense revoltado reage ao desalento. À menor provocação, o timorense mete-se num tropel de perseguições e loucuras e, como aconteceu agora, vai bater à porta da casa do Presidente para o alvejar. Generalizo, bem sei. Mas, infelizmente, Timor não permite outra coisa.
pedro.lomba@eui.eu
____
Pedro Lomba, Jurista
Enviar um comentário