domingo, outubro 07, 2007

Presidente do Timor-Leste propõe conferência internacional sobre Mianmar

EFE - 05/10/07 - 15:11

Berlim - O presidente do Timor Leste e Prêmio Nobel da Paz de 1996, José Ramos-Horta, disse hoje em entrevista exclusiva à agência Efe que a solução para a crise de Mianmar (antiga Birmânia) exige a realização de uma conferência internacional e não a imposição de sanções comerciais.

Ramos-Horta afirmou que um encontro do tipo precisaria ter o apoio dos Estados Unidos e da União Européia (UE).

"As mensagens de coragem do presidente (dos EUA), George W. Bush, e de sua secretária de Estado, Condoleezza Rice, não têm nenhum impacto. Impor sanções não derrubará a Junta Militar nem abrirá o processo de diálogo em Mianmar. A estratégia é errada", disse Ramos-Horta.

Para ele, as sanções são uma expressão de confronto que entram em choque com o espírito asiático em geral e particularmente com um povo budista, como o birmanês.

"Mianmar não é um país industrializado. É pobre. As sanções comerciais só afetarão as famílias com pequenos negócios, o povo comum. A insatisfação da comunidade internacional com a Junta birmanesa deve ser expressada de outra maneira", acrescentou.

Segundo o presidente timorense, o impulso para a mudança deve ser dado pela Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), da qual Mianmar faz parte, mediante a realização de uma conferência internacional com participação de todos os países que exercem influência na região, principalmente a China.

Ramos-Horta explicou ainda que o objetivo dessa conferência seria a elaboração de um plano de paz para o início e o desenvolvimento de um processo de diálogo e reconciliação nacional birmanesa.

Ex-guerrilheiro durante os anos 1970, ele utilizou várias vezes o adjetivo "prudente" ao se referir a um possível plano.

"Não podemos nos enganar. Mesmo se o regime militar birmanês cedesse o poder, a presença militar na vida diária seria importantíssima", alertou.

De acordo com Ramos-Horta, uma das primeiras coisas que devem ser aprendidas na política é ser paciente.

"Os militares birmaneses não vão desaparecer milagrosamente. Não fizeram isso na Indonésia, nas Filipinas, na Tailândia nem nas primeiras décadas da democracia chilena. Por isso, é preciso ser prudente", afirmou o Nobel da Paz.

Em meio ao assunto, ele lembrou uma visita feita ao Chile nos primeiros anos da redemocratização e a raiva e a frustração sentidas pelas vítimas da repressão de Pinochet ao verem militares andarem impunemente pelas ruas.

"Nem todos entenderam que aqueles primeiros anos não eram o momento de fazer justiça, mas sim o tempo de reconciliação nacional, para assentar pouco a pouco a democracia até torná-la irreversível", disse.

"A prioridade é fazer com que a parte militar e a civil, liderada por Aung Sang Suu Kyi, se sentem para conversar e cheguem a um consenso para tirar o país da exclusão", acrescentou.
Ramos-Horta destacou que essa é exatamente a estratégia de Suu Kyi, também vencedora do Prêmio Nobel da Paz. Segundo ele, ela jamais respondeu aos militares com mensagens subversivas ou de ódio, mas sempre com ofertas de diálogo.

O comandante da Junta Militar de Mianmar, general Than Shwe, afirmou na noite de quinta-feira na televisão oficial que está disposto a se reunir com Suu Kyi caso ela "abandone a postura de confronto".

Ramos-Horta acha que essa disposição de Than Shwe ao diálogo pode ser fruto de uma intervenção discreta de alguns membros da Asean, "os únicos que têm poder econômico e político para mudar o rumo das coisas".

"Eu, como Prêmio Nobel, tento mobilizar outros (vencedores do) Nobel a apoiarem Suu Kyi, mas sou consciente de que essa ação não passará do campo simbólico. Nosso poder é unicamente moral", declarou.

Mesmo assim, Ramos-Horta enviou à birmanesa uma mensagem de solidariedade e apoio em sua oferta permanente de diálogo: "Suu Kyi sabe que, sem a colaboração da instituição militar, nunca haverá democracia em Mianmar".

"Na Ásia, há uma forma de fazer as coisas, e meu próprio país é um exemplo. Se os militares indonésios não tivessem aceitado se retirar do Timor, não seríamos um país independente agora", disse.

Ele afirmou que, por causa disso, mais do que ressentimento, há uma relação de gratidão.
As relações entre Díli e Jacarta são quase fraternais apesar dos crimes e massacres cometidos durante a ocupação indonésia, algo que pode chocar no ocidente, mas que reflete a personalidade asiática.

Sobre a situação no Timor, Ramos-Horta reconheceu que ainda há muito a fazer e por isso se mostrou confiante na renovação anual da missão da ONU em seu país até 2012.

Ramos-Horta viajou a Berlim para entregar o Quadriga-Preis, prêmio dado na Alemanha no aniversário da reunificação do país, e que faz menção ao monumento existente no topo do Portão de Brandenburgo, símbolo da capital alemã.

1 comentário:

Anónimo disse...

NOTAS:
Portão de Brandenburgo = Porta de Brandeburgo
Quadriga-Preis = Prémio Quadriga

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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