sexta-feira, julho 27, 2007

Alfredo Reinado "acabou" e "nem com os anjos aceita o diálogo"

Público, 22.07.2007
Pedro Rosa Mendes

Leandro Isaac diz que o major Reinado, um dos protagonistas da crise de 2006 em Timor, "está cercado" e perdeu o apoio popular

"O Alfredo [Reinado] não quis, por estupidez natural, entender a visão do Xanana [Gusmão]"

Leandro Isaac, de 52 anos, um dos actores da crise de 2006, era deputado independente ao Parlamento de Timor-Leste até decidir juntar-se, em final de Fevereiro, ao major fugitivo Alfredo Reinado. Sobreviveu com ele ao ataque de tropas australianas em Same e a quatro meses de clandestinidade nas montanhas do sul. Há duas semanas, voltou a Díli. Entrevista na sua casa sobre a capital, com vista para um país "em guerra fria": "Reinado é um aventureiro. Sempre foi essa a base da vida dele".

PÚBLICO - Para onde vai Alfredo Reinado?

Leandro Isaac - Ele não pensa, o Alfredo. As fases e as oportunidades, ele não aproveitou. Ele diz que defende a verdade, em tétum, lialós. Que vá então para o tribunal, se tem mais provas que o Mari [Alkatiri], que o [coronel] Lere, seja quem for, o próprio [Presidente José Ramos-]Horta, ou o Xanana [Gusmão]. Que apresente as provas, com a companhia que tem de advogados.

PÚBLICO - Xanana Gusmão teve algum papel de apoio a Alfredo Reinado?

Leandro Isaac - Eu digo mais: quando foi da manifestação pelos peticionários [Abril de 2006], quem alimentou e aguentou com os jovens, de forma humanista? O Horta também apoiou, não a manifestação em si mas os jovens que estavam ali a sofrer. Deu arroz também. Assim também o Xanana o fez. Assim também o Mari fez. O [brigadeiro-general Taur Matan] Ruak fez. Não por fins políticos, mas por humanismo, por um fim de paz. Vejo isso na pessoa do Xanana.

PÚBLICO - O que fez Xanana zangar--se tanto com Alfredo, como mostrou em Março no discurso ao país?

Leandro Isaac - O Alfredo não quis, como se costuma dizer, por estupidez natural, entender a visão ou o objectivo do Xanana ou mesmo do Estado. Ainda há dias saiu na rádio o Alfredo a insultar o [procurador-geral da República] Longuinhos Monteiro dos pés à cabeça.

PÚBLICO - O que espera ele do futuro do seu processo judicial?

Leandro Isaac - Só com um golpe de Estado é que ele se livra, em que ele seja primeiro-ministro ou Presidente da República. O Alfredo acabou! E agora está cercado. Eu mandei há dias uma mensagem ao Presidente da República: o senhor tem um pai, como eu tenho. Um pai dá pão e dá pau. Se não, nunca mais educamos o nosso povo, se continuamos nesse círculo vicioso da reconciliação e do processo de diálogo. Nunca mais!

PÚBLICO - A decisão de Reinado sair para Fatuahi (23 de Maio de 2006, lugar de um ataque a elementos das F-FDTL) foi dele ou de alguém mais?

Leandro Isaac - Essa é outra conversa... Há tudo isso, mas na altura era tudo legal. Nós queríamos livrar-nos dessa situação. A Polícia estava toda desmantelada. Depois, era uma guerra civil que poderia acontecer naquele momento. Mas tudo era provocado. Não sei se foi em Fatuahi que isso aconteceu. Ou se foi por acaso que os peticionários (que fizeram uma petição livre), depois de voltarem aos quartéis, foram "empurrados" por alguém a sair de novo? Será que a decisão do Matan Ruak, que ama os seus combatentes, de expulsar os peticionários, foi tomada por ele, ou por algum assessor, ou em telefonemas?...

PÚBLICO - Qual é a situação actual?

Leandro Isaac - Ligou-me há dias o padre Natalino, de Suai, pedindo-me que eu pedisse ao Presidente da República para mandar parar o cerco [das Forças de Estabilização Internacionais, ISF]. Eu respondi que isto eu não faço mais. Já dei tudo o que tinha a dar, incluindo a minha vida. Eu destruí a minha carreira política em defesa dos interesses que eu julguei ser justos do Alfredo. Agora não faço mais. Alfredo afirmou várias vezes que aceitava o diálogo, em declarações que eu também escrevi. Mas ele nem com os anjos aceita o diálogo. O que ele quer mais? O mimo acabou. Alfredo vai ter de sofrer e passar por esta situação. E já temos sorte, porque o Presidente tem um coração grande de mais. Mesmo com o abuso de o Alfredo exibir armas em Same, ele mandou suspender a captura. Extraordinário!

PÚBLICO - Qual o objectivo actual do major Reinado?

Leandro Isaac - A realidade ultrapassou Alfredo. Ele retardou-se em compreender que a crise entre lorosae e loromonu passou. Hoje não há nenhum F-FDTL que vá a Same ou Maliana para matar mais pessoas. Alfredo não tem um objectivo claro. Ele diz que defende o povo. Como? Quem é que assalta o povo depois destas eleições? Líderes de partidos políticos originários de loromonu foram fazer campanha a Lospalos e Viqueque. Líderes originários de lorosae foram fazer campanha em loromonu. Esta crise acabou, por si, nas legislativas. Não me venham dizer que existe ainda essa diferença. Depois de tantos discursos, milhões de dólares gastos pela comunidade internacional, ninguém resolveu o problema que, finalmente, foi resolvido pelo povo. Quem elegeu Ramos-Horta? Setenta por cento significa votos de Lospalos a Oecussi. E Ramos-Horta é, pela mãe, um filho de Same. E Alfredo ainda vem com o discurso de defender o povo.

PÚBLICO - A juventude de Díli está com Alfredo Reinado?

Leandro Isaac - O apoio que ele tinha há seis meses acabou. Caiu drasticamente! Vi isso em Alas, antes de vir trazer o [Felisberto] Garcia. O Susar tinha fugido para o mato. O que a população me disse foi: se tem contacto com o Susar ou com o Alfredo, diga-lhes que, se querem fazer guerra, que vão para outro lado; aqui não queremos mais guerra, queremos a liberdade! Isto quer dizer que o povo não quer mais.

PÚBLICO - Quem coordenou a violência em Díli na noite do ataque a Reinado em Same?

Leandro Isaac - Coordenada ou não, foi uma espontaneidade que este povo demonstrou.

PÚBLICO - Isso pode acontecer outra vez?

Leandro Isaac - Não! Não. Naquela altura, o povo dizia: é melhor destruir tudo isto e vamos construir de novo. Chega! Vamos à guerra! Esta era a palavra de ordem do povo, de velhas e velhos e crianças. Hoje, é: o que vocês querem mais? O que é que o Alfredo quer? Querem sossego já, para poderem lutar pela vida. Aqui como em Alas.

PÚBLICO - Susar continua com o major Reinado?

Leandro Isaac - Continua. Está com medo. Ainda ontem telefonou ao Garcia, perguntando se havia garantias de que os australianos não disparam. O Alfredo está a manipular estes mercenários inconscientes.

PÚBLICO - Já pensou no seu futuro?

Leandro Isaac - Eu acompanho e quero ver até onde chega e pára esta bola de neve que está ainda a rolar. A neve, com este processo, vai desaparecendo aos poucos e depois eu verei onde está a bola original. Depois eu jogo. Agora ainda não.

ExclusivoPÚBLICO/agência Lusa

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Traduções

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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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