Diário Digital / Lusa
04-03-2007 10:34:00
Benjamin Marty não esperava que a sua noite de sábado incluísse uma
ameaça de assalto à casa e escritório, evacuação debaixo de tiro dentro
de um blindado da GNR e, por fim, um magnífico naco de vaca assada no
espeto.
Foi a tudo isso que Marty teve direito na madrugada de domingo, à mesma
hora em que o major Alfredo Reinado conseguia iludir o cerco das tropas
australianas em Same, em Timor-Leste, e fugia «a pé» das Forças de
Estabilização Internacionais (ISF).
Cerca da 01:00 de domingo (16:00 de sábado em Lisboa), tropas das ISF
apoiadas por helicópteros lançaram o ataque contra as posições do grupo
de Alfredo Reinado, usando reforços de tropas de elite chegadas da
Austrália nas últimas 48 horas.
No ataque, considerado «um sucesso» pelo brigadeiro- general Mal Rerden,
comandante das ISF, foram mortos quatro «timorenses armados» e feridos
outros dois.
As ISF fizeram um número ainda indeterminado de detenções.
Pouco depois, numa questão de minutos, vários incidentes estalaram em
simultâneo em diferentes bairros de Díli, com estradas cortadas por
pneus em fogo, pedras ou árvores abatidas, apedrejamento de viaturas,
casas incendiadas e combates de rua entre grupos rivais.
O bairro de Vila Verde, em pleno centro da cidade, foi um dos mais
afectados, com instalações do ministério da Educação (um auditório e o
armazém) a serem consumidas pelas chamas até ao amanhecer, sem que
ninguém acudisse.
Benjamin Marty, gestor financeiro do Conselho Norueguês dos Refugiados
em Timor-Leste, vive e trabalha em Vila Verde, na rua que liga o Bairro
da Cooperação Portuguesa ao quartel-general da missão internacional das
Nações Unidas (UNMIT).
«Quando vi uma multidão começar a bater no portão, não fiquei muito
preocupado mas liguei ao meu chefe, que me disse para me manter calmo»,
contou horas depois à Lusa.
«Dez minutos depois, vejo chegar a GNR, a disparar munições de borracha
à esquerda e à direita», recorda o financeiro do NRC.
«Gritaram e pediram-me para abrir o portão, mas de início nem percebi o
que queriam, porque não falo português. Em poucos minutos, já estava
dentro de um blindado, a Guarda saiu dali com a mesma velocidade com que
tinha entrado, sempre a disparar, com um tipo a desviar-se das
barricadas com muita perícia», acrescentou Benjamin Marty.
Benjamim Marty afirmou-se «espantado com o profissionalismo» com que a
GNR agiu, mostrando-se descontente com a inacção dos elementos da
Polícia das Nações Unidas (UNPol).
«Há UNPol à frente a ao lado da minha casa, os carros-patrulha estiveram
sempre parados e os polícias não fizeram nada», criticou o gestor da
NRC, adiantando que os elementos da Polícia das Nações Unidas também não
reagiram «horas antes quando algumas pessoas começaram a queimar dois ou
três pneus, a bater o metal para chamar os outros e a ´aquecer` com
bebida».
«Nem sequer se mexeram quando um tipo bêbedo passou a correr todo nu e
começou a partir coisas», acrescentou Marty.
Um oficial da GNR declarou à Lusa que, numa situação excepcional e num
cenário inverosímil, «o subagrupamento Bravo teve na rua os seus três
pelotões operacionais em permanência, durante sete horas».
Os incidentes, com disparos de armas de fogo em diferentes locais, foram
mais graves em Taibessi, em redor do Cemitério Chinês, Bairro Pité, Vila
Verde e à entrada do quartel-general da UNMIT, o perímetro de casernas e
escritórios conhecidos como Obrigado Barracks.
Cerca das 07:00, quando se tornou possível efectuar uma ronda de carro
pela cidade, Díli revelava as sequelas da madrugada violenta, com muitas
ruas da periferia intransitáveis com os restos das barricadas.
Em Banana Road, uma das principais artérias que atravessa a cidade, um
grupo de jovens fazia guarda a uma grande retrato de Alfredo Reinado,
«pinado em Ermera», segundo explicou à Lusa um homem que disse estar
disposto a defender o seu «herói».
«Nós somos defensores do major Alfredo, herói da justiça. Estamos
prontos a morrer para o defender», declarou o homem.
Em áreas como Taibessi, há vários dias que os postes de iluminação e
algumas árvores ostentam cartazes e faixas que glorificam Alfredo
Reinado.
Foi para esta juventude que cultiva a figura de Reinado que o Presidente
Xanana Gusmão dirigiu uma comunicação gravada a meio do dia no Palácio
das Cinzas.
Xanana Gusmão, num discurso ríspido e com expressão muito dura, comparou
o seu percurso com o de Reinado, recordando a sua luta na Resistência e
a curta carreira do jovem major e interrogando a qualidade de «aswain»
(herói, bravo) atribuída a Reinado.
«Esta biografia não demonstra que Alfredo é o ´aswain` e eu, Xanana, sou
o grande traidor do povo ou do Rai Lulik Timor Lorosa´e», a terra
sagrada de Timor-Leste.
O presidente sublinhou que «o Estado não volta atrás nas suas decisões»
e dirigiu-se ao militar fugitivo:
«O caminho é só um, entregar as armas e entregarem-se todos», disse.
De outros episódios se fez a madrugada de domingo, como a resposta dos
15 oficiais da PSP que, instalados no Hotel Elizabeth 2000, se
organizaram informalmente sem esperar ordens da UNPol, que não viriam.
Durante três horas, os 15 elementos da PSP, organizados pelo segundo
comandante do distrito de Díli da UNPol, o subintendente português
Leitão da Silva, enfrentaram sucessivos ataques de um grupo que descia
de Bairro Pité, um dos bairros mais perigosos da cidade.
«Uma pequena unidade de polícia formada», ironizou um dos oficiais
quando descreveu à Lusa o episódio.
Cerca das 05:00 (20:00 em Lisboa), Alfredo Reinado escapou do cerco de
Same «depois de dividir os seus homens em três grupos e ter feito
avançar dois deles, saindo pela retaguarda», contou à Lusa uma fonte que
acompanha a operação de captura.
A essa hora, Benjamin Marty recuperava ainda da maior surpresa da noite.
«Sabes como acabam as histórias do Astérix e do Obélix?», questionou.
No quartel do subagrupamento Bravo não havia javali, como na aldeia dos
gauleses, «mas uma vaca no espeto».
Os pelotões da GNR saíram directamente da sua festa mensal para as ruas
em brasa de Díli.
«Finalmente a evacuação foi óptima», concluiu Benjamin Marty.
quarta-feira, março 07, 2007
Timor: Reinado continua em fuga, Díli vive uma noite mais violenta
Por Malai Azul 2 à(s) 21:18
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
1 comentário:
O "aswain" (hihihi) Alfredo Reinado, manda as "suas tropas???" fazerem frente ás ISF, e foge com o rabo entre as pernas como um cobarde que é!
É este "heroi" que certos "Timorenses" querem para os governar???
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