Agência Brasil
23 de Março de 2008
Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente do Timor Leste, José Ramos-Horta, teve alta esta semana depois de mais de um mês internado em um hospital da Austrália. Nas próximas semanas, deve reassumir o comando de seu país.
A concertação com as forças de oposição e a resistência em busca da união nacional será o principal desafio de Ramos-Horta na avaliação do novo embaixador do Brasil no Timor Leste, Édson Monteiro.
Ramos-Horta foi atingido a tiros no dia 10 de fevereiro, em sua residência, em Dili. O ataque foi comandado pelo major Alfredo Reinado, que morreu em troca de tiros com os seguranças do presidente. Em 2006, o major liderou um movimento rebelde de militares demitidos, que resultou em uma onda de violência pelo país.
O embaixador brasileiro - que assume a representação diplomática no Timor Leste no próximo dia 25 - acredita que a desejada estabilidade só será alcançada se o atual governo acalmar as dissidências nas Forças Armadas e entrar em acordo com a Frente Revolucionária de Timor Leste Independente - Freitilin, grupo que comandou a luta pela independência do país e hoje tem a maior bancada no Parlamento timorense, mas está fora do poder.
Colonizada por portugueses, a parte oriental da ilha de Timor foi abandonada pelo governo de Lisboa em 1975, após a Revolução dos Cravos. Até 1999, a região foi dominada pelo governo da Indonésia. Em 1999, em referendo organizado pela Organização das Nações Unidas, 98% dos timorenses decidiram pela independência.
Milícias contrárias à independência e as próprias tropas indonésias promoveram atos de violência e a destruição do país. Com a retirada da Indonésia, até a independência, em 2002, o Timor Leste ficou sob administração transitória das Nações Unidas, a cargo do brasileiro Sérgio Vieira de Melo, então subsecretário-geral para Assuntos Humanitários da ONU.
O Brasil participa desse processo desde o princípio. Em 1999, logo após o plebiscito, foram definidas áreas com potencial para cooperação técnica. Em 2000, o governo brasileiro assinou um protocolo de cooperação com a administração transitória das Nações Unidas. Em 2005 foi promulgado o acordo básico, que dá sustentação aos projetos de cooperação bilateral.
Hoje, o Brasil apóia iniciativas de reconstrução e estabilização e monta projetos de cooperação técnica para transferência de conhecimento.
O regimento interno do Parlamento timorense, o plano nacional de educação do Timor Leste e o primeiro projeto de criação de um sistema tributário no país foram elaborados por profissionais brasileiros.
O Timor- Leste é o terceiro país no qual o Brasil mais investe. Não há transferência de recursos, mas custos de projetos. Dos US$ 22,97 milhões destinados pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) à cooperação Sul-Sul até 2006, US$ 2,1 milhões foram gastos em projetos no país asiático – montante inferior apenas aos investimentos no Haiti (US$ 2,7 milhões ) e em Cabo Verde (2,2 milhões).
“É a maior atividade conjunta de organismos internacionais em qualquer lugar do mundo: Nações Unidas, Banco Mundial, Banco da Ásia. Há um grande programa de cooperação, porque o país precisa de quase tudo em termos de organização como país”, resume o novo embaixador do Brasil no Timor-Leste.
“Tem que se organizar governo, o Parlamento, os planos e os currículos para educação, a maneira de cobrar imposto, de refazer uma infra-estrutura, que foi quase inteiramente destruída no período de luta pela independência”, enumera.
Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, Édson Monteiro cita as áreas de cooperação atual e futura do Brasil com o único país asiático de língua portuguesa, faz uma análise do atual contexto político timorense e fala sobre o papel do Brasil e da comunidade internacional no processo de reconstrução e estabilização do país.
Agência Brasil - Os recentes atentados contra o presidente José Ramos-Horta e o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, demonstram que ainda falta muito para o Timor-Leste se estabilizar politicamente? Ainda há forças de resistência à independência?
Édson Monteiro - Existem dissensões dentro do país. Se pode imaginar as tensões que se criaram em 24 anos de ocupação indonésia. Uns se revoltaram completamente, outros se conformaram e alguns aderiram. Muitos dos que aderiram efetivamente e até participaram da repressão e do controle do país se refugiaram na parte indonésia da ilha do Timor, mas muitos ficaram. Há um processo de reconciliação que precisa ser feito, que ainda não está completo, ainda há desconfianças. É até geográfico, há uma tensão entre a parte mais a leste da ilha, longe da Indonésia, e a parte mais próxima. É nesta área que se concentrou boa parte da atividade dos membros da Fretilin [Frente Revolucionária de Timor Leste Independente] que lutavam contra a Indonésia. E essa tensão também e manifesta dentro das Forças Armadas. Este é um dos motivos da briga de 2006. Alguns militares acharam que estavam sendo prejudicados. E há um problema geral que é o reconhecimento do que os guerrilheiros fizeram na luta pela independência, eles têm que ter algum tipo de prêmio, de pensão, de título. Isso é uma coisa que vinha sendo discutida de uma forma muito indecisa. Depois de 2006, tornou-se um tema premente e o governo tem a determinação de realmente atender a essas reivindicações. Aquele militar que estava rebelado simbolizava estas dificuldades, mas que não são incontornáveis. O que o presidente Ramos-Horta estava fazendo, e disse isso aqui no Brasil, era negociar uma saída. Ele antecipou seu retorno ao país dizendo que as negociações estavam avançando e precisava estar no Timor.
ABr - Que tipo de negociação, em qual direção? Isso inclui a oposição?
Monteiro - No sentido de trazer o militar rebelde de volta, deixar claro para ele que seriam atendidas as reivindicações consideradas justas e também fazer um acordo político com a oposição. Essa oposição é fundamentalmente a Fretilin, que foi a força que comandou a luta pela independência. É uma situação politicamente complicada. O grupo que comandou a luta pela independência hoje está fora do poder. Eles têm o maior número de deputados, mas os outros se uniram e elegeram o presidente do Parlamento, o que deixou alguma insatisfação. Em seu livro, Ramos-Horta diz que depois da independência seria necessário um governo de união nacional, todas as forças do país deverão estar juntas em um projeto de reconstrução nacional.
ABr - Esse é o ideal de qualquer governante...
Monteiro - Na prática a coisa não é tão fácil, mas é necessário.
ABr - Mas é possível? Qual o papel da comunidade internacional?
Monteiro - A contribuição internacional deve ser no sentido de estimular todos os grupos políticos do Timor a se aproximarem, a deixarem de lado as diferenças e trabalharem juntos em um projeto nacional. Toda vez que eu me encontrar com um deputado timorense terei este mesmo discurso: vocês precisam se entender, precisam se unir, colocar o interesse do país acima destas diferenças.
ABr - Isso não terá um preço, como em qualquer país?
Monteiro - A Fretilin poderá dizer que só faz isso se ganhar um ministério. Aí se vê isso aqui no Brasil, se vê em todos os lugares. É preciso negociar e encontrar uma fórmula que preserve o interesse de um lado e atende ao desejo de outro.
ABr - Há disposição do atual governo de fazer este tipo de negociação, de ceder espaço a todos os grupos?
Monteiro - Acho que sim, toda a comunidade internacional está dizendo isso a eles. Não há outra saída, eles não podem isolar a Fretilin, ela tem uma força enorme, é realmente o partido mais organizado. Acho que eles têm consciência. Como acomodar isso é uma decisão que os timorenses terão que tomar com o nosso incentivo e o nosso apoio. Quando será? Espero que em breve, espero que o presidente volte e quem sabe volte reforçado para convencer os seus partidários de que é preciso acomodar o outro lado. Não vejo como encontrar outra forma de contornar esses conflitos internos que realmente existem.
segunda-feira, março 24, 2008
Entrevista 1 - Estabilidade no Timor só será alcançada se o governo acalmar dissidências, diz embaixador
Por Malai Azul 2 à(s) 02:02
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
1 comentário:
Aceita um conselho, Sr. Embaixador? Estude melhor os dossiês antes de falar tanta bobagem!... Essa de os brasileiros terem preparado o plano nacional de educação e o primeiro projeto de criação de um sistema tributário dá vontade de rir... Além de que "projeto" é isso mesmo: projeto... Wishfull thinking! Não é bem a mesma coisa que Lei... E VEXA parece querer fazer passar uma coisa por outra...
Se modere, se modere...
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