quarta-feira, dezembro 12, 2007

Entrevista especial do Jornal Nacional Semanário ao Director da EDTL Comoro, António Soares

JNSemanário
12.12.07

A falta de energia eléctrica deveu-se à falta de cooperação entre funcionários da Electricidade de Timor-Leste (EDTL), entre funcionários timorenses e estrangeiros, em particular funcionários da Companhia “Manitoba”, do Canadá.

O Director da EDTL Central Comoro, António Soares (AS), referiu-se a esta e a outras questões em entrevista especial com o Jornalista do Jornal Nacional Semanário, Noémio Falcão, no seu local de trabalho.

JNS : Qual é o número de funcionários activos nos serviços da EDTL Central de Comoro?

AS : Os funcionários activos constituem um total de 19 pessoas: na parte de electricidade, 3 funcionários; operadores de quatro “sift”, tendo cada “sift” 4 funcionários, dá um total de 16 funcionários.

Relativamente aos serviços, afirmo que todos nós trabalhamos mas a questão é a falta de cooperação com a Companhia Manitoba, do Canadá. A referida companhia muitas vezes não faz os trabalhos como desejamos e nunca fizeram nada.

Os serviços de controlo até agora decorreram normalmente e informei sempre a Companhia Manitoba. Porém, as informações nunca foram consideradas ou tomadas em causa.

Quero explicar que os nossos funcionários usam um sistema para controlar os geradores eléctricos, mas neste caso a Companhia Manitoba nunca cooperou com os funcionários timorenses.

Esperamos que tudo possa funcionar para o bem comum, mas se a Companhia Manitoba, que foi contratada pelo Governo, não fizer os serviços segundo o contrato, a mesma poderá ser substituída por outra companhia.

Nunca esperamos pelos funcionários dessa companhia para fazer os nossos serviços, mas trabalhamos segundo as nossas capacidades.

De facto, muitos assuntos foram apresentados à Companhia Manitoba. Porém, não se obteve nenhum resultado, por exemplo, a proposta de reparação do Gerador Nigata, que apresentámos à companhia. Até agora, ignoramos o seu processo.

JNS : Quais as condições de serviço dos funcionários da EDTL até agora?

AS : Acerca das condições de serviço, segundo o meu entender, os funcionários trabalham bastante e intensamente, porque havendo geradores que são reparados hoje, amanhã eles ou outros ficam avariados e isto causa a falta de descanso dos funcionários, que não têm um salário suficiente. Portanto não podemos obrigar uma pessoa a trabalhar muito sem haver uma garantia de melhoria de condições de serviço para o próprio funcionário.

JNS : E falando da capacidade técnica e mecânica dos funcionários?

AS : Penso que o Governo deve resolver em primeiro lugar o problema dos recursos humanos. Os funcionários que trabalham na EDTL Central Comoro são na maioria técnicos de 1975 e nunca foram enviados pelo Governo para participarem em cursos de formação a fim de desenvolver as suas capacidades e os seus conhecimentos técnicos noutras áreas necessárias.

JNS : Garante que a energia eléctrica funcionará normalmente em Dezembro?

AS : Penso que neste momento, como cristãos, temos a preocupação de que nos dias mais importantes da Igreja toda a gente possa ter acesso à energia eléctrica. Mas é importante que toda a gente saiba que os nossos esforços não serão suficientes, se não houver um esforço sério do Governo para apoiar o que for necessário na resolução dos problemas de electridade. Penso que os nossos esforços não resolverão nada sem o apoio do Governo.

Por outro lado, apesar de trabalharmos fora do horário normal e não recebermos pagamento extraordinário, continuamos a trabalhar, nunca abandonámos os serviços nos dias de feriado e dias santos. Contudo, o Governo nunca deu atenção à nossa situação.

A Electricidade Central Comoro não funcionará normalmente em Dezembro porque os geradores que estão a operar têm uma capacidade mínima. São geradores que, reparados hoje, amanhã estarão novamente avariados.

Esses geradores estão “fora de prazo”, são geradores que operam desde os tempos da Indonésia até à data.

Caso o Governo deseje fazer uma antecipação para os dias de Natal e do Ano Novo deverá comprar com urgência os geradores que foram aprovados no Parlamento Nacional, visto que os geradores em operação têm mínimas capacidades.

JNS : Quantos geradores estão em operação?

AS : Os geradores em operação são: Gerador NIGATA I Caterpilar, com capacidade de 4.700 KW Cummins Overhoul 5 KW. Mas o Nigata I logo à tarde (no dia desta entrevista) poderá ser reparado novamente. Os geradores que neste momento estão a operar são: MAK I, com capacidade de 1.700 KW; MAK II, com capacidade de 1.200 KW; MAK III, com capacidade de 2.200 KW; Nigata II, com capacidade de 3.900 KW e Cummins, com capacidade de 1.950 MW.

JNS : As ligações ilegais causam impacto na capacidade dos geradores?

AS : As actividades de ligação ilegal feitas pelos consumidores provocam um enorme impacto na capacidade da electricidade. Neste momento, o consumo de electricidade ( out put ) situa-se num total de 15.700 KW. A capacidade de electricidade oferecida pela Central EDTL Comoro é apenas de 10.950 KW.

Em relação à capacidade de electricidade que os técnicos indonésios aumentaram, desejo comunicar ao público que os referidos técnicos não repararam nenhum gerador, apenas aumentaram a capacidade do gerador MAK III, de 2 MW para 2,4 MW. Desde Sábado até este momento (no dia da entrevista), estamos a fazer a reparação do NIGATA I e, em relação ao Caterpilar, para tal reparação a Companhia Trakindo convidou um técnico americano.

JNS : Refira-se à cooperação entre funcionários timorenses e funcionários da Companhia Manitoba do Canadá.

AS : Quero dizer ao público, particularmente ao Governo, que a Companhia Manitoba nunca fez os serviços segundo o contrato assinado. Neste caso, pedimos a intervenção do Governo para fazer uma revisão do contrato realizado com a companhia. Segundo o meu ponto de vista, os funcionários desta companhia não trabalharam nada, apenas aguardam receber salários.

Toda a gente sabe que a Companhia Manitoba do Canadá é responsável pela gestão da EDTL mas não se tem feito nada.

3 comentários:

Anónimo disse...

O Natal sempre foi o periodo mais critico do abastecimento de energia, neste tempo as máquinas têm que estar a 100%.
O António Soares é um bom profissional e um bom homem, a imagem do timorense respeitador e educado a sua entrevista deixa antever essa marca.
Apenas quero dizer que o problema é muito complexo e que a verdadeira questão não passa já por investir em COMORO é tempo e dinheiro perdido tudo o que aí fizerem.
A solução passa pela construção de uma nova central de 25MVA e esta levará cerca de 5 anos desde o projecto à entrada em serviço, até lá será um grande sofrimento.
Não percam mais tempo ...

Anónimo disse...

"apesar de trabalharmos fora do horário normal e não recebermos pagamento extraordinário, continuamos a trabalhar, nunca abandonámos os serviços nos dias de feriado e dias santos. Contudo, o Governo nunca deu atenção à nossa situação."

"As actividades de ligação ilegal feitas pelos consumidores provocam um enorme impacto na capacidade da electricidade."

"a Companhia Manitoba nunca fez os serviços segundo o contrato assinado."

Como disse há pouco tempo o PM, "Saaaaaaaai!".

Começando por ele próprio?

Anónimo disse...

Quando as coisas correm mal, a culpa e':



dos outros...

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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