Blog do Alto do Tatamailau – 09 Junho 2007
Há momentos próprios para ser embaixador, para ser bajulador e para ser PR!...
Manuel Leiria de Almeida
Sinceramente, as declarações abaixo do actual Presidente da República de Timor Leste não me espantam! Nas linhas ou nas entrelinhas, ele já dissera o mesmo anteriormente.
Vejam-se as declarações tal como citadas pela Kyodo News:
"Also in the interview, Ramos-Horta elaborated on his plan to make Indonesia's national language, Bahasa Indonesian, East Timor's working language and possible official language in the future.''Well, 30 to 40 percent of the population speaks Indonesian. Thirty to 40 percent is a very significant percentage. It is an absurdity that a language that is spoken by such a large percentage of population is not more encouraged in use,'' he said.
At his swearing-in ceremony last month, Ramos-Horta delivered a speech in four languages - East Timor's national language Tetum, Portuguese, English and Indonesian. He said he used Indonesian ''to signal to everyone that I intend to push for greater use of Bahasa Indonesian in public administration.''Although most East Timorese currently use Tetum or Portuguese, he said they should use Bahasa Indonesian in official communications. ''Slowly, gradually, I will push for it to be used more and more,'' he said."
Sempre disse que a questão da língua é um problema exclusivamente timorense e que não é por eu ser luso-falante que vou "exigir" que os timorenses também o sejam. Com que direito o faria?!... Com o de pretensos 450 anos de História comum?!... Terá sido assim tão comum como isso? E terão sido tantos anos MESMO?!... Seja como for, não creio que sejam argumentos suficientes para "obrigar" os timorenses a falarem português.
Se eles quiserem falar, óptimo. Se não quiserem, o problema é deles. Embora reconheça alguma validade nas teses que defendem o uso do português até como forma de dender e, principalmente, expandir o uso do tétum. Mas até nisso o problema tem de ser resolvido pelos timorenses e não por outros. "A quem de direito" cheguei a dizer que a melhor maneira de defender o português era defender o tétum e apoiar ao máximo a sua melhoria...
Do que fica dito se conclui que o que mais me amofina naquelas declarações é o facto de confirmar um comportamento repreensível, sem nível, da parte de quem deveria ter um comportamento exemplar.
De facto, estou (estamos) habituado - e concordo em grau e género... - a que os dirigentes políticos portugueses e dos demais países ocidentais (e não só) sejam extremamente escrupulosos no cumprimento de um princípio fundamental: não comentar fora do país, nomeadamente em visitas oficiais, assuntos que são relevantes para a vida dele. Este é um princípio "sacrosanto"!...
Estão a ver o Primeiro-Ministro inglês a anunciar em Paris que o Reino Unido vai aderir ao euro? Ou o Primeiro-Minstro espanhol a anunciar que o seu governo vai decretar o inglês como língua de trabalho no seu país porque muitos dos negócios internacionais do país são conduzidos nessa língua? (já agora: há aí alguém que diga em que outras constituições há uma definição das línguas de trabalho?)
Então, porque é que o PR Ramos Horta tem de ir a Jakarta dizer o que disse sobre as línguas de Timor Leste e, particularmente, sobre o indonésio? Porque será que ele se sente sempre na obrigação de "engraxar" o seu interlocutor? Será complexo de inferioridade e necessidade de se sentir apaparicado com um sorriso de orelha a orelha do seu ouvinte?
Se fala com os media australianos diz o que eles querem ouvir, nomeadamente que o exército aussie deve ficar no país mais dez anos; se fala com a imprensa portuguesa diz que os soldados da GNR são os melhores do mundo e que o português será uma das línguas oficiais do país per omnia secula seculorum. E assim sucessivamente. Porquê esta tendência irreprimível à bajulação?!... Herança de embaixador?!... Huummm! Não acredito que os embaixadores sejam assim...
E, principalmente, porquê insistir em falar fora de portas de coisas que são de política interna do seu próprio país. Ainda por cima põe-se a falar de coisas sobre as quais não tem, face à lei vigente, qualquer poder para determinar: a questão linguística está na Constituição do país e quem a pode alterar é o Parlamento Nacional a sair das próximas eleições. Porque não fala das coisas próprias nos locais próprios? É tão simples! E evita aquela sensação que, temo, se está a apoderar de muita gente: a de que o futuro do rule of law em Timor Leste... não tem grande futuro!
No fundo, todos querem desempenhar o papel de liural que aplica a lei a seu bel prazer. A lei não é para se cumprir mas sim para se adaptar à vontade dos poderosos. Que tristeza!... Vil e vã!...
Deveria ser a isso que se referia Xanana Gusmão quando, recentemente, teceu loas a Suharto, o especialista nº 1 no assunto.
PS - o curioso é que Ramos Horta confessa que o uso do indonésio decaiu muito em Timor (saber falar, mesmo mal como em muitos casos, não é o mesmo que usar... Eu também sei falar "franciú" e raramente o uso...). É raro ouvir alguém falar a língua e também não é utilizada universalmente na documentação oficial. Só é mais usada no ensino porque muitos dos livros de estudo são naquela língua e/ou porque não há em tetum os termos técnicos necessários.
domingo, junho 10, 2007
Há momentos próprios para ser embaixador, para ser bajulador e para ser PR!...
Por Malai Azul 2 à(s) 22:15
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
4 comentários:
Tradução:
Há momentos próprios para ser embaixador, para ser bajulador e para ser PR!...
Blog do Alto do Tatamailau – 09 Junho 2007
Há momentos próprios para ser embaixador, para ser bajulador e para ser PR!...
Manuel Leiria de Almeida
Sinceramente, as declarações abaixo do actual Presidente da República de Timor Leste não me espantam! Nas linhas ou nas entrelinhas, ele já dissera o mesmo anteriormente.
Vejam-se as declarações tal como citadas pela Kyodo News:
"Também na entrevista, Ramos-Horta elaborou sobre o seu plano para fazer da língua nacional da Indonésia, Bahasa Indonésio, língua de trabalho de Timor-Leste e possivelmente língua oficial no futuro. 'Bem, 30 a 40 por cento da população fala Indonésio. Trinta a 40 por cento é uma percentagem muito significativa. É um absurdo que uma língua que é falada por uma tão grande percentagem da população o seu uso não seja mais encorajado,'' disse.
Na sua cerimónia de tomada de posse no mês passado, Ramos-Horta fez o discurso em quatro línguas –Tétum a língua nacional de Timor-Leste, Português, Inglês e Indonésio. Disse que usou o Indonésio 'para mandar um sinal a toda a gente que tenho a intenção de puxar por um uso maior do Bahasa Indonésio na administração pública.''Apesar de a maioria dos Timorenses correntemente usarem o Tétum ou o Português, disse que devem usar o Bahasa Indonésio nas comunicações oficiais. “Devagar, gradualmente, puxaremos para ser usado mais e mais,'' disse."
Sempre disse que a questão da língua é um problema exclusivamente timorense e que não é por eu ser luso-falante que vou "exigir" que os timorenses também o sejam. Com que direito o faria?!... Com o de pretensos 450 anos de História comum?!... Terá sido assim tão comum como isso? E terão sido tantos anos MESMO?!... Seja como for, não creio que sejam argumentos suficientes para "obrigar" os timorenses a falarem português.
Se eles quiserem falar, óptimo. Se não quiserem, o problema é deles. Embora reconheça alguma validade nas teses que defendem o uso do português até como forma de dender e, principalmente, expandir o uso do tétum. Mas até nisso o problema tem de ser resolvido pelos timorenses e não por outros. "A quem de direito" cheguei a dizer que a melhor maneira de defender o português era defender o tétum e apoiar ao máximo a sua melhoria...
Do que fica dito se conclui que o que mais me amofina naquelas declarações é o facto de confirmar um comportamento repreensível, sem nível, da parte de quem deveria ter um comportamento exemplar.
De facto, estou (estamos) habituado - e concordo em grau e género... - a que os dirigentes políticos portugueses e dos demais países ocidentais (e não só) sejam extremamente escrupulosos no cumprimento de um princípio fundamental: não comentar fora do país, nomeadamente em visitas oficiais, assuntos que são relevantes para a vida dele. Este é um princípio "sacrosanto"!...
Estão a ver o Primeiro-Ministro inglês a anunciar em Paris que o Reino Unido vai aderir ao euro? Ou o Primeiro-Minstro espanhol a anunciar que o seu governo vai decretar o inglês como língua de trabalho no seu país porque muitos dos negócios internacionais do país são conduzidos nessa língua? (já agora: há aí alguém que diga em que outras constituições há uma definição das línguas de trabalho?)
Então, porque é que o PR Ramos Horta tem de ir a Jakarta dizer o que disse sobre as línguas de Timor Leste e, particularmente, sobre o indonésio? Porque será que ele se sente sempre na obrigação de "engraxar" o seu interlocutor? Será complexo de inferioridade e necessidade de se sentir apaparicado com um sorriso de orelha a orelha do seu ouvinte?
Se fala com os media australianos diz o que eles querem ouvir, nomeadamente que o exército aussie deve ficar no país mais dez anos; se fala com a imprensa portuguesa diz que os soldados da GNR são os melhores do mundo e que o português será uma das línguas oficiais do país per omnia secula seculorum. E assim sucessivamente. Porquê esta tendência irreprimível à bajulação?!... Herança de embaixador?!... Huummm! Não acredito que os embaixadores sejam assim...
E, principalmente, porquê insistir em falar fora de portas de coisas que são de política interna do seu próprio país. Ainda por cima põe-se a falar de coisas sobre as quais não tem, face à lei vigente, qualquer poder para determinar: a questão linguística está na Constituição do país e quem a pode alterar é o Parlamento Nacional a sair das próximas eleições. Porque não fala das coisas próprias nos locais próprios? É tão simples! E evita aquela sensação que, temo, se está a apoderar de muita gente: a de que o futuro do rule of law em Timor Leste... não tem grande futuro!
No fundo, todos querem desempenhar o papel de liural que aplica a lei a seu bel prazer. A lei não é para se cumprir mas sim para se adaptar à vontade dos poderosos. Que tristeza!... Vil e vã!...
Deveria ser a isso que se referia Xanana Gusmão quando, recentemente, teceu loas a Suharto, o especialista nº 1 no assunto.
PS - o curioso é que Ramos Horta confessa que o uso do indonésio decaiu muito em Timor (saber falar, mesmo mal como em muitos casos, não é o mesmo que usar... Eu também sei falar "franciú" e raramente o uso...). É raro ouvir alguém falar a língua e também não é utilizada universalmente na documentação oficial. Só é mais usada no ensino porque muitos dos livros de estudo são naquela língua e/ou porque não há em tetum os termos técnicos necessários.
O grave é que ele jurou cumprir e fazer a Constituição, e de acordo com a constituição em vigor as línguas oficiais são o tétum e o português!
Suas Majestades, Honoráveis Membros do Comité Nobel de Paz, Senhores Presidentes, Senhores Primeiros Ministros, Excelências:
Com vossa permissão as minhas primeiras palavras serão na língua de Camões, Fernando Pessoa, Agostinho Neto, Jorge Amado, Xanana Gusmão.
Apesar da brutal colonização indoneésia e da repressão cultural dos últimos 21 anos, da proibição de uma língua e cultura que chegaram a nossa região há cerca de 500 anos, em Timor Leste esta língua secular persiste teimosamente.
Sendo o segundo timorense de nacionalidade portuguesa a ser honrado com o Premio Nobel de Paz, o primeiro e o nosso respeitado e venerado bispo Dom Carlos Filipe Ximenes Belo, faltaria a minha herança histórica e consciência se não começasse esta minha intervenção na lingua que hoje une mais de 200 milhoes de pessoas nas cinco regiões do mundo.
Your Majesties, Honourable Members of the Nobel Committee, Presidents, Prime Ministers, Excellencies:
With your permission, my first words will be in the language of Camoes, Fernando Pessoa, Agostinho Neto, Jorge Amado and Xanana Gusmao.
In spite of the brutal Indonesian colonisation and cultural repression of the past 21 years that attempts to eradicate a language and culture that reached our region almost 500 centuries ago, in East Timor this rich centuries-old language survives stubbornly.
Being the second East Timorese of Portuguese nationality to be honoured with the Nobel Peace Prize (the first is our respected and revered bishop Carlos Filipe Ximenes Belo), I would be failing my own historical heritage and conscience if I were to start this Nobel lecture in another language other than in the language that unites more than 200 million people in the five regions of the world.
Uuuuuuiiii! Essa doeu mesmo!
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