sexta-feira, abril 06, 2007

"Vou fazer um golpe democrático"

Expresso
06-04-07
Micael Pereira

Na primeira entrevista ao Expresso desde a crise de Maio de 2006, Xanana fala dos planos que traçou com o primeiro-ministro Ramos-Horta para afastar a Fretilin do poder em Timor-Leste.

P. Acredita na vitória de Ramos-Horta nas eleições presidenciais?

R. Sim. Não promete coisas fúteis e tem sido coerente. Não ataca nem ofende ninguém, sabe o que diz, o que pensa e tem uma visão do que pode fazer pelo povo.

P. Admite que existe uma aliança entre si e Ramos-Horta para uma confrontação com a Fretilin?

R. Agradecia que retirasse a palavra confrontação. Isto é uma competição democrática. Posso dizer que buscamos os melhores aliados para um processo a que nos comprometemos.

P. Ramos-Horta tem um verdadeiro programa de governo. Ele fala de distribuição de verbas, de isenção de impostos... as medidas apresentadas na candidatura dele são partilhadas por si?

R. Sim. Servem para dizer ao povo que para resolvermos a situação sócio-económica do país temos de proceder a algumas mudanças. Por isso estamos juntos.

P. É verdade que a igreja está a dar apoio às vossas candidaturas?

R. Apoio moral. Não se esqueça de que em 2005 a Igreja fez manifestações durante 19 dias. Nós, ao aparecermos, estamos a corresponder à sua expectativa.

P. A crise de Abril e Maio de 2006 foi resolvida da melhor forma?

R. As questões fundamentais da crise ainda não foram resolvidas. Por isso, se fala de aliança, é preciso dizer que se trata de uma aliança de princípios e objectivos em que é muito importante estarmos juntos para colocar os interesses gerais do povo acima dos interesses individuais ou de grupo. É preciso que todas as entidades e instituições do Estado pensem a mesma coisa. E isso não tem acontecido.

P. Como vê a coabitação nos últimos meses de Ramos-Horta com a Fretilin no Governo?

R. Ficou revelado mais uma vez a incapacidade de os timorenses sobreporem os interesses da nação aos interesses de grupo. Ramos-Horta foi indicado, mas não era da Fretilin e não tinha apoio suficiente do próprio elenco governamental.

P. Numa entrevista, Mário Carrascalão diz que pessoas envolvidas nos massacres em 1975 estão hoje no Governo.

R. Queremos pôs o passado para trás, comprometendo-nos que não se irá repetir. Mas em Abril de 2006 acabámos por cometer os mesmos erros. Esse é o problema e é por isso que nasce o (partido) CNRT e esta aliança, para corrigir as mentalidades. Estamos num sistema multipartidário mas há pessoas que querem impor um sistema controlador dos cidadãos.

P. Está a falar de Mari Alkatiri e do grupo de Maputo?

R. Se a mensagem é, assim, entendida pela Fretilin, então é à Fretilin que me refiro.

P. Tem sido criticado pelo facto de o seu partido imitar a sigla do antigo CNRT (do qual a Fretilin fazia parte). E acusado de usurpar um nome suprapartidário.

R. Existe um código de conduta que as pessoas não respeitam. Em vez de falarem dos seus programas, atacam os outros. E Xanana é o alvo número um. Só prova a grandeza de espírito desses políticos que provocaram a crise. Acusaram-me de originar a crise e de tentar fazer um golpe de Estado. Agora eu vou fazer um golpe democrático através das eleições. Não preciso de golpes de Estado.

P. Imagine que a Fretilin perde as eleições presidenciais e as eleições legislativas. Nesse cenário, o risco de violência em Timor será maior?

R. Nós sabemos de alguns núcleos e sítios de onde podem aparecer alguns tiros. Aí veremos o sentimento democrático de pessoas que têm acusado outras mas que não sabem aceitar uma derrota política. O povo está atento às ameaças que se ouvem.

R. Os seus críticos - e inclusive jornalistas australianos - dizem que teve uma atitude de protecção em relação ao rebelde major Reinado.

R. Não tive. Existe um comité de alto nível e as decisões são tomadas nesse comité. Foram tomadas colegialmente.

P. A condenação do ex-ministro do Interior Rogério Lobato (vice-presidente da Fretilin) foi justa?

R. Não posso dizer se foi ou não justa. O que se conseguiu provar foi a independência e a capacidade dos nossos tribunais em se pronunciarem mesmo que isso se relacione com um antigo governante.

P. Rai-Los, o líder do esquadrão que foi armado pelo ex-ministro Rogério Lobato, ainda não foi condenado. Dizem que ele é seu apoiante.

R. Em Portugal, há o problema das listas de espera para consultas médicas. Aqui, a lista de espera é longa no tribunal. Não temos recursos humanos e os casos vão-se resolvendo um a um. Mas de certeza que Rai-Los vai responder em tribunal.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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