(Tradução da Margarida)
DILI, 7 Dezembro 2006.
De Bob Boughton, em Dili.
Hoje é feriado público em Timor-Leste, que comemora a invasão da Indonésia em 7 de Dezembro de 1975. Guiando através da cidade, as ruas estão muito menos atarefadas do que num dia normal de trabalho. Ao longo da frente da praia, os pais observam as crianças a brincar nas águas que, à trinta e um anos atrás, corriam com sangue literalmente. Numa pequena cerimónia na Igreja Motael em frente estão presentes personalidades, polícias e membros das F-FDTL, e entregam algumas medalhas. Mas a atmosfera é sombria.
Estou de volta a Dili somente há cinco dias, depois duma ausência de quase dois meses. Regressou uma espécie de paz e a vida parece quase normal.
Os mercados estão a florescer, as bancas dos mercados estão ocupadas, o tráfego está muito mais caótico – há muitos mais veículos da ONU do que há um mês atrás.
A polícia da ONU está presente em todo o lado, Landcruisers brancos viajam para frente e para trás nas ruas principais. Os campos de deslocados são ainda muito visíveis, no aeroporto, frente ao complexo da ONU, nos terrenos de algumas igrejas e de algumas ONG’s. Mas têm muito menos gente, um efeito da política do governo de encorajar o regresso através da mediação comunitária e da redução do auxílio alimentar. Ainda se fala duma crise humanitária eminente, se a chuva vier e transformar os campos numa planície alagada; mas até hoje, agradecidamente, as chuvas não vieram. Não é tão bom para o conforto fora dos escritórios com ar condicionado; mas é melhor do que uma epidemia de febre de dengue ou de cólera que mataria rapidamente muitos dos mais vulneráveis ainda nos campos, crianças jovens e os idosos frágeis.
A maioria das escolas estão agora abertas e a operar, como está a universidade e o Centro de Educação Não-Formal onde estou na maioria dos dias. Por isso sim, num certo sentido, as coisas parecem estar a regressar ao normal.
Mas a violência ainda está lá, e o medo que a acompanha.
Quatro pessoas morreram em lutas de gangs de rua simplesmente desde o último Domingo. No gélido estilo terrorista que estes assassinatos podem tomar, um jovem teve as suas orelhas e língua cortadas. Um outro foi morto frente à família que o criou, depois do gang ter queimado a sua casa e a do lado. Um outro morreu no hospital, de feridas provocadas por um espancamento vicioso.
Os grupos que cometem estes crimes são chamados grupos de artes marciais. Ao mesmo tempo que dizem que estes últimos assassinatos fazem parte de um ciclo de vingança, não directamente política, os próprios gangs foram mobilizados para a violência política que começou em Abril, quando foram pagos para criar problemas e lhes foi dado drogas.
Talvez que os seus patrões políticos já não lhe dêem ordens, mas foram eles quem puseram em movimento o ciclo de violência. Porque é que os líderes destes gangs, os seus patrocinadores políticos, e quem os financiou não foram ainda levados aos tribunais? Isto está a acontecer já há sete meses. É a situação ainda demasiado 'delicada'? Terá a ONU, que assumiu o controlo total da polícia, feito alguma avaliação de risco (e concluído) que um nível baixo de violência é um preço que as pessoas terão de pagar pela paz a longo prazo?
Os líderes de gangs e os seus apoiantes políticos não são os únicos ainda ao largo. O Major Reinado, o líder amotinado que disparou contra tropas leais em frente das câmaras da SBS, está ainda à solta, três meses depois da sua fuga em 30 de Agosto da Prisão de Becora. E não está só ao largo; dá entrevistas a medias locais e internacionais, aparece em cerimónias tradicionais proclamadas como sendo sobre a construção da paz, e participa em seminários da paz onde é fotografado com tropas Australianas. O Primeiro-Ministro Horta, que deve a sua posição à crise política que o motim de Reinado ajudou a precipitar, comenta sobre a situação, dia sim dia não, de cada vez com uma explicação diferente.
Reinado devia ser preso imediatamente; será preso em breve; a sua prisão é uma matéria para os militares; está ainda ao largo porque a sua captura pode custar a perda de mais vidas; devia-se entregar; o seu caso está nas mãos do Ministério da Justiça. Assim vai dizendo, numa sucessão de comunicados e de conferências de imprensa organizados por uma equipa de manipuladores financiada pelos Australianos. Muita gente está a ficar cínica com estas não-explicações, e com o constante fluxo de comunicados de imprensa auto-laudatórios a emanarem do gabinete do PM. Este é um estilo de gestão política dos media familiar na Austrália, mas somente vista em Timor-Leste desde que começou a crise.
Entretanto, o homem que Horta depôs como PM, o Secretário-Geral da FRETILIN Mari Alkatiri, comenta ironicamente que, meses depois, meses depois de ter sido removido, supostamente para acabar a violência, esta continua; e enquanto os perpetradores reais do golpe estão ainda ao largo, as únicas pessoas que cooperam com o sistema de justiça são os alvos inocentes dos propagandistas do golpe.
O Presidente da FRETILIN, Lu-Olo, Presidente do Parlamento, é mais directo, apontando que Reinado e o seu gang armado estão lá para intimidar os apoiantes da FRETILIN na preparação das próximas eleições.
As deserções das forças armadas, os confrontos armados, o colapso da força da polícia, a remoção de Alkatiri, a violência política e de gang, e a subsequente impunidade que gozam os polícias e soldados amotinados, tudo contribui para um resultado – reduzir as oportunidades da FRETILIN regressar nas próximas eleições com uma maioria suficiente para continuar a governar conforme o seu direito, como faziam antes do golpe. Os partidos da oposição que lideraram as manifestações de rua a favor dos desertores das forças armadas e contra Alkatiri em Maio e Junho; as pessoas que alegaram massacres por tropas leais e um contentor cheio de armas em falta, e nada disto foi verificado pela equipa Especial de Investigação da ONU; os líderes conservadores da Igreja que atacaram Alkatiri e o programa secular e socialmente progressivo da FRETILIN – estarão entre os beneficiários de um chamado governo de 'unidade nacional' a ser forçado ao país. A conversa constante de 'diálogo' e 'justiça' e 'unidade nacional ' pode ser bem-intencionada na boca de alguns; mas são palavras falsas dos perpetradores do golpe e dos seus apoiantes nacionais e internacionais. Em nome da paz, inventa-se uma história para disfarçar a remoção pela violência de um governo eleito democraticamente, progressivo e nacionalista que teve a ousadia de se levantar contra minorias poderosas do seu próprio país e os poderes maiores da região.
Terá o golpe sucesso? Há trinta e um anos atrás, o primeiro governo da FRETILIN enfrentou uma invasão militar enviada para o derrubar por um dos maiores países do mundo. Ninguém lhes deu uma oportunidade. As pessoas que vaticinam a sua morte agora, ou pior ainda, que activamente trabalham para isso, deviam aprender com a história. Este não é um partido vulgar, e as pessoas que o elegeram não são pessoas vulgares. Na Terça-feira, vi 500 militantes encherem o salão da FRETILIN para saudar Alkatiri de volta do estrangeiro. Este foi um encontro que conforme a tradição os seus detractores chamam 'antiquado' - organizado, apaixonado, disciplinado, e comprometido. Como muitas outras iniciativas da FRETILIN que tenho visto nos últimos anos, era representativo de toda a sociedade, de alto a baixo – Ministros do Gabinete e ex-guerrilheiros misturando-se fácil e calorosamente com jovens homens e mulheres nem sequer nascidos em 1975.
Isso trouxe-me à mente o slogan que ouvi pela primeira vez nos dias mais negros depois da invasão de 1975: "A FRETILIN vencerá ".
.
domingo, dezembro 10, 2006
Ponto da situação
Por Malai Azul 2 à(s) 23:50
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
12 comentários:
Viva Fretilin...!!!!
Caro Bob
Fizeste uma boa analise da situacao. Ha que denunciar as tentativas de impor a cultura de impunidade em Timor-Leste para servir interesses de um grupo.
Estao a dar sinais de um regime ditatorial. Os civis sao julgados enquanto que os militares e policias sao impunes.
Nao deve haver quaisquer justificacoes para um criminoso. Reinado nao e preso porque alguem nao quer. Este alguem deve ser denunciado.
Ainda existe o complot e os autores nao vao parar de desestabilizar o pais.
As tradicoes estao a ser simplemente manipuladas para obtencao de fins politicos.
Mas estamos atentos a tudo isto.
Onde estava a Igreja Catolica ontem?
Quais sao os valores que devemos defender? Animistas ou cristas?
Sera que os promotores quererao as eleicoes antes de Maio 07? Ou sera que estao a criar as condicoes para o adiamento das eleicoes?
Atencao as manobras......
Dr. Bob Boughton is doing an academic research in Timor-Leste as well as working as adviser for the Timor-Leste government. He is also a foreign national. I question the wisdom of publicising such an article, be it an opinion. Boughton's article sounds more like a propaganda which is inflamatory and is not helpful to the people of Timor-Leste or Fretilin which he seems to support.
I am not against Dr. Bob Boughton or Fretilin nor am I pro Fretilin. However, foreign nationals should be more wise in making statements in order to create a conducive atmosphere amid the East Timorese people to overcome the crisis.
Segunda-feira, Dezembro 11, 2006 8:51:07 AM
Bob is entitled to his opinion, and the article doesn't say anything too controversial nor is it inflammatory. It raises important issues which need to be highlighted and which must be examined before a lasting peace can be found.
In my view, the person most guilty of inflamming tensions is the President with his anti-Fretilin rhetoric in which he has displayed his true hatred for Fretilin. I am not saying he is solely responsible for the crisis, however the comments of a foreigner (albeit a long time supporter of Timor Leste) pale in comparison to the President's speeches.
I am also concerned at this point about the use of traditional customs to wash over some of the acts of people who may be the main culprits behind the destabilisation/coup. Bob's article highlights some of the continuing inconsistencies in the application of the rule of law and the judicial system. Right now, it is only Fretilin members who are being tried, and it seems no real effort is being made to arrest Reinado and Railos and others recommended for prosecution by the UN report. Also, there is no concerted effort to investigate other people further up the chain who may have contributed to the crisis (for eg church hierarchy opposition parties, current PM and the President).
That is not to say these people/organisations are guility, but to find out the whole scope of events and truly understand the causes of the crisis these people/organisations need to be investigated and the truth behind their involvement uncovered. We are now trying to build a democracy in which institutions and the rule of law prevail over individual personalities.
I get the distinct feeling that traditional customs are being used to mask the responsibility of some key actors in the crisis.
If we shall go back to animism, why not?..that is the real culture and belief of our nation, so if to choose between animism and cristian, i will certainly and absolutly, as a timorese, choose animism.
Apart from preserving and promoting timorese real and genuine culture and belief, it's also a good way of expressing my concern toward the hipocricy and domination of catholic church in all aspects of Timorese life! I'm disgusted with political ambition of most of catholic hipocrit priests in timor! They are just a bunch of so called angels with demons' tails! So viva animismo!
Segunda-feira, Dezembro 11, 2006 10:40:13 PM
The problem is if animism is used to serve other means. I, also as a Timorese, have no problem with animism or Timorese customs, but I just don't want it serving political ends, particularly if its at the expense of the rule of law.
As for the Church in Timor- I am also not a supporter.
A Fretelin vai perder as eleisoens.
A Fretilin e um partido democratco
que nunca se preocupa com a perda das eleicoes.
A fretilin aceita e respeita a decisao do povo.Por isso anonymo podes ficar tranquilo vai sohando que aprossima eleicao a vitoria e tua.Espero que sim!!
VIVA PARTIDO HEROICO FRETILIN
Fretilin democratico? espero bem que sim e que as declaracoes do lider do partido " Se a fretilin perder as eleicoes ha derramamento de sangue" nao passaram de meras palvras ocas e pelas quais ele esta ja genuinamente arrependido.
Ate ver, nao sei nao...
Aos anonimatos outra ves ficam tranquilos que a fretilin aceitara qualquer resultado das proximas eleicoes legislativas de dois mil e sete.
Agosto de 1975 ate Maio e junho de 2007 quantos golpes que a Fretilin tinha feito?
Voltamos ao passado. Quem comecou o golpe de 1975?
Quem comecou o golpe de Maio e Junho de 2006?
A Fretilin nunca tinha feito golpes na sua historia com ja 31 anos da existencia sem interrupcao
da sua organizacao.
E agora pergunto eu. Quem esta a fazer o derramamnto de sangue e violar a Constituicao do Estado nesta crise? Isso e que se chama a democracia?
Que vergonha se Timor for governado por voces criminosos golpistas.
Boa pergunta anonimo anterior? Quem sera que esta a causar o derramamento de sangue agora? Sera politico? Sera um mero aproveitamento da situacao por parte de grupos criminosos ou sera ambos?
Na minha humilde opiniao o governo de Timor devia pensar seriamente em importar um ou dois poligrafos e submeter todos os lideres politicos a rigorosos testes para ver quem esta a dizer a verdade e quem esta a mentir.
Ai ficariamos logo a saber se o Alkatiri sabia ou nao da distribuicao de armas a civis para eliminar opositores, se o Xanana planeou ou nao um golpe, se Railos fala ou nao a verdade, se os partidos politicos estao ou nao por tras da violensia, etc, etc.
Com uma equipa de professionais com longa experiencia a manejar os poligrafos descobria se logo as carecas...
Sinceramente, o governo ou mesmo a PGR deviam considerar seriamente essa possibilidade.
O golpe de 1975 foi iniciado pela FRETILIN depois do regresso de Xavier e Nicolau Lobato de Mocambique.A FRETILIN fez bem? Fez mal? Nao eh isso que interessa. O importante eh ficarmos a conhecer a nossa verdadeira historia para a herdarmos aos nossos vindouros e por eles ser respeitada. O meu irmao esteve com o Presidente da FRETILIN quando em principios de Agosto de 1975 ele anunciou em Same o fim da era colonial e a sua subida ao poder em substituicao do governador colonial. Investiguem e logo verao que esta eh que eh a verdade.
Enviar um comentário