segunda-feira, novembro 20, 2006

Comandante de Timor-Leste pede inquérito parlamentar

(Tradução da Margarida)

The Southeast Asian Times
NOTÍCIAS PARA O NORTE DA AUSTRÁLIA E O SUDESTE DA ÁSIA

Comandante das forças armadas de Timor-Leste, Taur Matan Ruak

Por John Loizou

Dili, Novembro 20: O papel legendário que o Brigadeiro General Taur Matan Ruak, 50 anos, teve nos 24- anos de luta para acabar a ocupação Indonésia do seu país — o seu compromisso, integridade, capacidades de organização e de liderança — significa que apesar de ser um Protestante, ele ganhou o respeito da maioria dos cidadãos da República, cerca de um milhão, a maioria Católicos Romanos.

Significa também que se o discurso do homem pequeno – cujo nome no seu Tétum nativo significa “olhar o mundo com os dois olhos” – e o seu comando das forças armadas de 1,100 homens e mulheres de Timor-Leste é gracioso e sem dar nas vistas, as suas palavras têm o som de um trovão.

E quando o encontrei no seu quartel imediatamente fora de Dili, para onde ele e as suas bem–disciplinadas forças armadas recuaram de acordo com instruções depois da violência de Abril e Maio - incluindo lutes entre soldados e polícias – que empurraram a re-introdução duma força de polícias e militares liderada por Australianos para re-estabelecer o domínio da lei no novo país independente, ele estava determinado que o mundo deveria ouvir a sua mensagem.

Ele não foi anti-Australiano.

“Lutei contra a Indonésia durante 24 anos sem ser um anti-Indonésio,” disse. “Por isso porque é que agora seria anti-Australiano? “Nunca vi um povo mais generoso que os Australianos.

“Quando em 1975 — depois da invasão Indonésia — a nossa gente fugiu para a Austrália foram os Australianos que os apoiaram como refugiados.

“Foram Australianos quem pressionaram para ajudar a garantir que Timor-Leste obtivesse a sua parte dos recursos do Mar de Timor.”

Mas o Brigadeiro General, que estava a responder a relatos dos media que alguns Timorenses se tinham queixado sobre o comportamento de soldados Australianos e a sua crença de que as tropas internacionais não podiam resolver a crise, estava menos confiante com o comportamento do governo Australiano. Somente o governo Australiano reconhecera a anexação de Timor-Leste pela Indonésia, disse. Agora o mesmo governo tem de lidar com um Timor-Leste que é independente há somente quatro anos.

“É uma nova experiência para o Governo Australiano: Lidar com um povo novo e uma nação nova e terá que aprender como fazê-lo.

“Mas reconhecemos que ambas, a Indonésia e a Austrália são nossas vizinhas e podemos escolher os nossos amigos mas temos de viver com os nossos vizinhos,” disse.
O Brigadeiro General tinha outras opiniões que queria expressar enfaticamente. Quer que o Parlamento de Timor-Leste faça uma investigação completa à violência de meado do ano que desestabilizou o seu país para “determinar os objectivos políticos e as estratégias” desses responsáveis – os intelectuais que foram os seus autores directos e indirectos.

Indicará os nomes deles?

Isso era para o Parlamento, disse. “Mas ainda quero que isso seja feito. É um objectivo claro e lutaremos por isso mesmo se levar outros vinte anos e eu tiver 70.” Nem estava ele satisfeito com o trabalho feito pela comissão de três homens nomeada pelo Secretário-Geral da ONU Kofi Annan para investigar a violência. A tarefa da comissão tinha sido determinar os factos e as circunstâncias da irrupção mas falhou e não o fez. O O relatório deles falhou em não tomar em consideração o contexto politico da crise e é por isso que ele apela por uma investigação parlamentar que considerará esses factos quando analisar os eventos que aconteceram durante a crise.

“Um exemplo foi o 25 de Maio quando nove policies foram mortos e mais de 20 feridos, alguns pelos meus soldados,” disse. Os Comissários identificaram os soldados mas falharam em distribuir qualquer culpa aos oficiais da ONU que tinham posto em risco os polícias. E apesar de todas as armas das forças armadas terem sido computadas, mais de 200 armas entregues pela polícia, incluindo pistolas e espingardas de longo alcance, estão ainda em falta.

Contudo os três comissários da ONU não recomendaram nenhuma investigação à polícia — com a excepção do antigo Ministro do Interior Rogério Lobato — enquanto propuseram a investigação do antigo Ministro da Defesa Roque Rodrigues, dele próprio e de quase toda a liderança das forças armadas.

Falharam também em declarar claramente que era falsa uma alegação em relação à existência de três contentores supostamente com armas ilegalmente importadas. “Isso faz-me às vezes pensar que a ONU quer acabar com as nossas forças armadas” disse.

Perguntei se tinha sido difícil para ele e para as suas forças armadas que não fosse declarada a lei marcial quando a violência se desenrolava. Depois de tudo não era a primeira vez que os seus soldados tinham sido obrigados a observar a capital deles a ser destruída?

“Regressámos aos nossos quartéis porque nos foi pedido para fazer isso,” disse.

“Somos as forças armadas mais gentis do mundo. Não há outras forças no mundo que fizessem o que nós fizemos.

“Dispararam contra a minha casa e pilharam-na e puseram em risco os meus dois filhos.

“Contudo cumprimos as nossas ordens.

“Quando Nova Iorque foi atacada em 11 de Setembro dois países – Afeganistão e Iraque – foram invadidos.

“Quando dois soldados Israelitas foram capturados, o Líbano foi destruído.”

“O que foi mais ofensivo foi o esforço para nos desonrarem. Algumas das acusações foram feitas por estrangeiros, algumas pelos nossos próprios compatriotas.”

E então o futuro?

“As forças armadas estão sempre prontas para actuar de acordo com as nossas leis,” disse.

“São umas forças armadas pequenas e alguns consideram que não são umas forças armadas regulares mas lutou uma Guerra de 24 anos contra uma das forças mais profissionais no mundo – as forças armadas Indonésias.

O Primeiro-Ministro em exercício de Timor-Leste, José Ramos-Horta avisou os desertores Major Alfredo Reinado Alves e Vicente “Railos” da Conceição, que são suspeitos de terem ainda armas na sua posse para as entregarem ou enfrentarão consequências medonhas. A prisão de “Railos” é um caso de polícia, disse o Brigadeiro General Taur Matan Ruak. Acredita que o treinado pelos Australianos Major Reinado que desertou em 4 de Maio de 2006 e mais tarde fugiu da prisão em 30 de Agosto, é perigoso.

“Mas o Reinado compreende que o uso da violência também se sairá cara. É essencial que o domínio da lei e da ordem seja implementado neste país.”

Então é possível que o Brigadeiro General Taur Matan Ruak tente a eleição de Presidente de Timor-Leste no próximo ano?

“Devotei 31 anos da minha vida ao meu país,” respondeu.

“Estou preparado para fazer seja o que for que me peçam.”

The Southeast Asian Times
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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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