segunda-feira, junho 26, 2006

PR tem encontrar solução no Parlamento ou dissolvê-lo, Jorge Miranda

Lisboa, 26 Jun (Lusa) - A queda do governo de Timor-Leste com a demissão do primeiro-ministro, Mari Alkatiri, coloca o Presidente Xanana Gusmão perante duas hipóteses: procurar uma solução no Parlamento existente ou dissolver o órgão legislativo, disse à Lusa o constitucionalista Jorge Miranda.
Em qualquer dos casos "o primeiro passo é consultar os partidos e o Conselho de Estado", sendo que o governo demissionário se mantém em funções até à tomada de posse do próximo, adiantou.
O presidente da República de Timor-Leste anunciou hoje que aceitou a demissão do primeiro-ministro, Mari Alkatiri, com efeitos imediatos e convocou uma reunião do Conselho de Estado para terça- feira.
Segundo Jorge Miranda, se Xanana Gusmão optar pela primeira hipótese o novo governo pode sair da FRETILIN, o partido maioritário no Parlamento timorense, ou eventualmente ser de unidade nacional, integrando elementos de outros partidos de Timor-Leste representados no Parlamento Nacional.
O ministro de Estado, dos Negócios Estrangeiros e da Defesa timorense, José Ramos-Horta, disse hoje que os ministros Arsénio Bano, Rui Araújo ou Ana Pessoa poderão suceder a Mari Alkatiri na chefia do novo governo de Timor-Leste.
No executivo de Mari Alkatiri, Arsénio Bano tutelava o Ministério do Trabalho e da Reinserção Comunitária e Rui Araújo o da Saúde, sendo Ana Pessoa ministra do Estado e da Administração Estatal.
Adiantando que o novo governo deverá estar formado no prazo de "dois a três dias", Ramos-Horta admitiu que Ana Pessoa seria a sua "primeira candidata" para o chefiar, salientando que tem a "total confiança da FRETILIN [no poder], integridade e sólida reputação".
No entanto, se Xanana Gusmão entender não haver condições para nomear um novo governo, o que depende sempre da avaliação do presidente da República, pode optar por dissolver o Parlamento.
De acordo com o artigo 86 da Constituição da República Democrática de Timor-Leste, alínea f, compete ao presidente da República "dissolver o Parlamento Nacional, em caso de grave crise institucional que não permita a formação de governo ou a aprovação do Orçamento Geral do Estado por um período superior a sessenta dias, com audição prévia dos partidos políticos que nele tenham assento e ouvido o Conselho de Estado".
O texto constitucional determina, no artigo 100, que "o Parlamento Nacional não pode ser dissolvido nos seis meses posteriores à sua eleição, no último semestre do mandato do Presidente da República ou durante a vigência do estado de sítio ou do estado de emergência", mas nenhuma das situações se observa.
Dissolvido o Parlamento Nacional, Xanana Gusmão pode antecipar a convocação de eleições legislativas, previstas para o primeiro trimestre do próximo ano, ou decidir-se pela nomeação de um governo transitório de iniciativa presidencial.
O constitucionalista Jorge Miranda assinalou que "um governo de iniciativa presidencial dependerá da aceitação da FRETILIN [o partido maioritário]", dado que uma escolha do presidente da República tem que ser aceite no Parlamento.
A Constituição timorense indica no artigo 106 que "o Primeiro- Ministro é indigitado pelo partido mais votado ou pela aliança de partidos com maioria parlamentar e nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos políticos representados no Parlamento Nacional".
No caso de ter sido dissolvido o Parlamento e não terem sido convocadas eleições antecipadas, a Constituição timorense prevê a existência de uma Comissão Permanente.
Segundo o artigo 102 da lei fundamental, "a Comissão Permanente funciona durante o período em que se encontrar dissolvido o Parlamento Nacional, nos intervalos das sessões e nos restantes casos previstos na Constituição".
"A Comissão Permanente é presidida pelo Presidente da Parlamento Nacional e composta pelos Vice-Presidentes e por Deputados indicados pelos partidos, de acordo com a respectiva representatividade no Parlamento", indica o ponto dois do mesmo artigo.
Aquela comissão tem como competências "acompanhar a actividade do Governo e da Administração, coordenar as actividades das comissões do Parlamento Nacional", promover a convocação deste sempre que tal se mostre necessário, preparar e organizar as sessões do mesmo, "dar assentimento à deslocação do Presidente da República, dirigir as relações entre o Parlamento Nacional e os parlamentos e instituições análogas de outros países e autorizar a declaração do estado de sítio e do estado de emergência".
A possibilidade de eleições antecipadas foi hoje rejeitada por José Ramos-Horta, que considerou que "o país não está preparado devido à falta de condições políticas e psicológicas", defendendo que as eleições legislativas devem realizar-se "em Fevereiro ou Março de 2007".
"Quero que as Nações Unidas dirijam a organização das eleições, porque o governo timorense não está preparado para isso", disse.
Quanto ao futuro primeiro-ministro, depois de apresentar a sua equipa ao presidente da República, deverá apresentar no prazo de 30 dias o programa de governo no Parlamento Nacional, adiantou Ramos- Horta.
Segundo o responsável, um dos pontos principais do programa do novo executivo deverá ser "sarar as feridas abertas com a actual crise político-militar".
A demissão do primeiro-ministro segue-se a mais de dois meses de contestação a Alkatiri, acusado de não ter sabido gerir a crise político-militar desencadeada por um movimento de quase 600 ex- militares que abandonaram os quartéis em protesto por alegadas medidas discriminatórias da hierarquia.
Em plena crise, no final de Maio, Alkatiri foi reeleito secretário-geral da FRETILIN, num congresso marcado pela substituição do voto secreto por uma votação de braço no ar, alteração que levou à desistência da única candidatura alternativa, protagonizada pelo embaixador de Timor-Leste em Washington e na ONU, José Luís Guterres.
Nos últimos dias de Maio, as autoridades timorenses reconheceram a sua incapacidade para manter a ordem no país, pedindo a Portugal, Austrália, Nova Zelândia e Malásia o envio de forças militares e policiais, e apelando à ONU para o envio de uma força internacional.
A onda de violência no país provocou cerca de três dezenas de mortos e mais de 145 mil deslocados.
PAL/EL.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não está fácil atingir os últimos objectivos do golpe.
O mundo já viu, já ouviu, já não acredita na propaganda inconsistente difundida à volta da crise.
O mundo passou a conhecer Alkatiri e Xanana Gusmão que navegam em águas distintas.
Há medida que o tempo passa torna-se cada vez mais dificil manter a propaganda difundida pelos média australianos.
E pela primeira vez na história da tão jovem Nação o mundo questiona o até aqui inquestionável Xanana Gusmão.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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