Díli, 16 (Mai) - O brigadeiro-general Taur Matan Ruak, chefe do Estado-Maior, é o primeiro a reconhecer que "não há tradição naval" na meia-ilha que é Timor-Leste, mas é no mar que está o horizonte estratégico das suas Forças Armadas.
Díli recebe, este fim-de-semana, a X reunião dos ministros da Defesa da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Governo e militares pretendem que a cooperação de defesa no espaço lusófono ajude a concretizar a modernização das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL).
A falta de recursos humanos é o principal obstáculo à concretização da modernização das F-FDTL, como afirmou o secretário de Estado da Defesa, Júlio Tomás Pinto, em entrevista à agência Lusa.
Uma força de três mil homens com uma componente naval, privilegiando destacamentos de fuzileiros e embarcações ligeiras, capaz de proteger as águas territoriais e os interesses timorenses no Mar de Timor, é o horizonte estratégico das F-FDTL.
O caderno estratégico para o futuro das forças armadas timorenses, mais conhecido como relatório "2020", sublinha a herança da guerrilha e das Falintil, equaciona a defesa da fronteira com a Indonésia mas perspectiva o mar, sobretudo o Mar de Timor (a sul da ilha), como horizonte mais importante dos desafios à segurança e integridade do país.
O extenso caderno, que define em detalhe as estratégias de curto, médio e longo prazo, perspectiva um Exército de três mil homens "nos próximos 15-20 anos, sendo necessário redefinir a missão principal".
"No quadro do relacionamento de Timor-Leste com o mar, defende-se que o país deve dispor de uma Força Naval Ligeira com quatro vectores principais a desenvolver sistematicamente de uma forma integrada", segundo o relatório.
"A Força Naval Ligeira deve possuir uma capacidade de desencorajar qualquer acto de humilhação do Estado de Timor-Leste no mar, ou atentatório dos seus interesses vitais", lê-se no caderno estratégico.
O quarto vector dessa Força refere "navios combatentes (classe de fragatas e corvetas, incorporado com mísseis terra-terra e terra-ar)" e apoiada por um "núcleo de navios patrulha oceânicos, unidade de helicópteros de apoio e ataque, radares e sensores da última gama, Fuzileiros Navais e mergulhadores para contra-medidas de minas".
Timor-Leste e a China assinaram em Abril de 2008 um memorando de entendimento para a construção de dois navios de patrulha oceânica, de 43 metros, que poderão estar em águas timorenses em 2010 se o acordo se concretizar.
As F-FDTL dispõem já de uma Componente Naval com duas lanchas oferecidas por Portugal, além da formação das tripulações e da recuperação da Base Naval de Hera, a leste de Díli.
A Componente Naval ocupa o lugar relevante no horizonte estratégico das F-FDTL, apesar de o caderno "2020" referir a "herança" da guerrilha e considerar, em cada valência da futura Força, os ensinamentos de 24 anos de resistência à ocupação indonésia (1975-1999), além de se preocupar com a segurança da fronteira terrestre com a Indonésia.
O documento suscitou a condenação liminar da Austrália, após uma notícia num jornal com o título "Plano secreto de mísseis para forças armadas de Timor-Leste", sobre o relatório "2020".
Alexander Downer, ex-ministro australiano dos Negócios Estrangeiros, reagiu à notícia considerando a estratégia timorense "completamente irrealista".
Timor-Leste "não pode pagar" uma Marinha de guerra equipada com mísseis e o país "deveria concentrar os seus recursos no desenvolvimento da economia, educação e saúde para o seu povo", afirmou o então chefe da diplomacia australiana.
"As responsabilidades com a soberania nacional não podem ser transferidas para países terceiros", sublinham os autores da Força 2020, um documento com data de 20 de Julho de 2006, elaborado durante quase dois anos, mas apenas com circulação confidencial até Junho de 2007.
Só essa estratégia, explica o documento, tornará as forças armadas "eficazes e merecedoras da credibilidade nacional, através de medidas que se enquadrem na cultura e realidade timorenses, sem serem influenciadas por desconfianças e miopias político-militares e pelos interesses de países terceiros".
"Nesta tarefa importa ter presente que Timor-Leste não pode perder a capacidade de se defender no mar e de cuidar dos seus principais recursos aí localizados, o que implica ter uma Componente Naval verdadeiramente operaciona", sublinha o documento.
O relatório dedica especial atenção ao entrosamento de forças de actuação em terra e no mar e a "necessidade" de constituir uma força de fuzileiros com grande mobilidade e capacidade.
"Eu sei bem que não temos tradição naval. Por isso é importante começarmos já e aprender com a experiência", afirmou Taur Matan Ruak às suas tropas pouco depois de concluído o relatório "2020".
PRM
Lusa/fim
sábado, maio 17, 2008
Componente Naval no horizonte estratégico das Forças Armadas timorenses
Por Malai Azul 2 à(s) 00:19
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
1 comentário:
Esse quarto vector da força naval deve causar grande azia aos australianos, porque assim é-lhes mais difícil pilhar o Mar de Timor.
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