Díli, 11 Abr (Lusa) - As autoridades timorenses estão a investigar a alegada fuga para a Indonésia de uma dezena de homens ligados ao 11 de Fevereiro e a Alfredo Reinado, afirmaram à Agência Lusa fontes das forças de segurança.
O passado comum do ex-comandante de milícias pró-indonésias Eurico Guterres e do ex"gangster" Hércules Rosário Marçal, um inivíduo conhecido em Timor-Leste por controlar operacionalmente várias actividades criminosas em Jacarta.
Eurico Guterres, libertado segunda-feira da prisão de Cipinang, em Jacarta, encontra-se na capital de Timor-Ocidental, Kupang. O ex-líder das milícias Aitarak e Hércules Rosário Marçal fizeram carreiras violentas na Indonésia, um percurso que "preocupa" também as chefias militares timorenses.
Oficiais envolvidos na operação "Halibur" não excluem que o major Alfredo Reinado pudesse completar o triângulo de relações suspeitas.
Em apoio desta tese estão declarações feitas em privado por Hércules em 2007 a antigos camaradas timorenses das forças especiais indonésias, os Kopassus.
"Estamos à procura de confirmação da fuga dos dez elementos após os acontecimentos de 11 de Fevereiro", afirmou à Lusa um oficial timorense que pediu para manter o anonimato.
"Recebemos essa indicação de elementos de fontes credíveis em Jacarta com quem mantemos contacto", afirmou à Lusa o mesmo oficial, que reúne informações no âmbito da operação de captura de Salsinha, antigo líder dos peticionários das Falintil-Forças de Defesa (F-FDTL).
Reinado e Salsinha foram os protagonistas de um duplo ataque em 11 de Fevereiro contra o Presidente da República, Ramos-Horta, e contra o primeiro-ministro, Xanana Gusmão.
Nesse dia, Reinado morreu, Ramos-Horta ficou gravemente ferido, Xanana Gusmão saiu ileso e Salsinha encontra-se a monte desde então, tendo sido montada a "Operação Halibur" para o capturar.
As informações sobre a alegada fuga daquele grupo e "outras pistas" sobre apoios recebidos de timorenses em Jacarta foram obtidas em contactos com ex-timorenses bem colocados no aparelho militar e de inteligência indonésios.
As F-FDTL e a Polícia Nacional (PNTL), que participam em conjunto na operação "Halibur", estão também "preocupadas" com a possibilidade de Eurico Guterres e de Hércules Rosário Marçal poderem tentar alguma aproximação ao grupo de Gastão Salsinha.
Após 1999, "Eurico Guterres e Hércules trabalharam juntos em várias actividades, e fundaram uma associação de timorenses que sempre procuraram a desestabilização de Timor-Leste", afirmaram à Lusa oficiais das F-FDTL e da PNTL que conhecem a ligação antiga entre ambos.
"Depois do referendo em 1999, os timorenses na Indonésia foram-se separando entre aqueles que querem pôr uma pedra sobre o assunto e outros que pretendem criar oportunidades para desestabilizar Timor-Leste", afirmou à Lusa um oficial que conhece pessoalmente Hércules e Eurico Guterres.
"Eles conhecem-se há muitos anos, porque alguns dos generais que os protegiam em Jacarta eram os mesmos", sublinhou a mesma fonte.
Eurico Guterres, natural de Uatulari, distrito de Viqueque (oeste), ficou órfão depois de militares indonésios matarem o seu pai, nos primeiros anos da ocupação. Ligado à resistência timorense no leste e na capital, Guterres foi detido em 1989 porque as forças indonésias descobriram que estava envolvido num plano para assassinar o Presidente Suharto durante a visita a Díli.
Foi nessa altura que chamou a atenção de Prabowo Subianto, genro de Suharto e um dos militares mais brilhantes da sua geração, que desempenhou várias missões em Timor-Leste, incluindo o de comandante do Batalhão 328 da Kostrad.
Foi Prabowo Subianto que colocou Eurico Guterres na senda de agente duplo e, depois, de fiel servidor dos indonésios no território.
"Eurico não era o mais inteligente mas era o que dava mais garantias de fidelidade e de não abrir excepções nas actividades contra os independentistas", explicou à Lusa um oficial das F-FDTL sobre a posição de destaque que lhe foi atribuída a partir do final de 1998 na formação das milícias autonomistas.
Durante esses anos, Hércules Rosário Marçal, ou Hércules como é apenas conhecido, fazia nome em Jacarta como um dos chefes do submundo da capital indonésia.
Hércules, natural de Ainaro, a sul de Díli, ficou órfão de pai e mãe, mortos num bombardeamento indonésio em 1978, segundo apurou a Comissão de Acolhimento Verdade e Reconciliação timorense.
"É um 'gangster' muito popular", resumiu, em declarações recentes à Lusa, o antigo governador de Timor sob a ocupação, Mário Viegas Carrascalão.
"Era um homem altamente perigoso, protegido dos generais no tempo de Suharto. Em 1999, quando eu vivia em Jacarta, soube que Hércules estava a preparar a minha eliminação. Foi por isso que fugi da Indonésia para Macau e depois para Portugal", contou Mário Viegas Carrascalão à Lusa.
A base para as actividades de Hércules, incluindo extorsão e agressão, foi o bairro de Tanah Abang em Jacarta, centro do maior mercado têxtil do Sudeste Asiático, uma área muito rentável e disputada por diferentes grupos.
No final dos anos 1990, Hércules vivia em casa do general Zacky Anwar Makarim, representante militar indonésio na comissão criada para colaborar com as Nações Unidas na organização do referendo pela independência, em 1999.
O general Zacky Anwar foi posteriormente acusado de crimes contra a humanidade pelo seu papel na direcção da violência que caiu sobre o território em 1999.
Ian Wilson, um especialista da Universidade de Perth que entrevistou Hércules no âmbito da sua tese sobre o mundo do crime indonésio, avança como provável a ligação de Hércules também a outros generais, como Prabowo Subianto, numa entrevista recente ao jornal australiano "The Sunday Age".
Eurico Guterres, por seu lado, foi um dos peões do general Zacky Anwar na orquestração da violência em 1999.
Guterres é suspeito de estar ligado ao massacre de Liquiçá, a 06 de Abril de 1999, e incitou, numa manifestação em Díli transmitida pela rádio e televisão, ao massacre que ocorreu em seguida na casa da família Carrascalão, a 17 de Abril.
A vitória da independência aproximou "naturalmente" Eurico Guterres e Hércules.
O antigo "gangster" de Jacarta visitou Díli em final de Janeiro deste ano, integrado numa delegação empresarial indonésia, e manteve um encontro de grande visibilidade com o primeiro-ministro, Xanana Gusmão.
Mário Viegas Carrascalão lançou há dias, no Parlamento, um pedido inflamado de explicações sobre este encontro.
Para alguns oficiais da "Halibur", no entanto, a preocupação com Hércules é outra: "Em 2007, ele mandou uma mensagem a um amigo do Kopassus em Díli, dizendo que 'é preciso ajudar o Alfredo (Reinado), nem que isso custe muito dinheiro'".
Na quinta-feira, a página online do semanário Expresso noticiou a existência de registos telefónicos, no final de 2007, dando conta de contactos entre Salsinha e Reinado com interlocutores localizados na Indonésia.
"A análise pelo Expresso dos registos telefónicos feitos desde o final de 2007 por Reinado e pelo tenente Gastão Salsinha, que sucedeu ao major à frente do grupo de rebeldes, e o confronto das chamadas e de SMS para números de telefone indonésios com alguns dos seus proprietários provam que existiu apoio material", escreve o semanário, acrescentando que há também "indícios de uma forte contribuição financeira e de uma influência directa na decisão do líder rebelde em atacar Ramos-Horta e Xanana Gusmão, o actual primeiro-ministro".
PRM.
Lusa/fim
domingo, abril 13, 2008
Forças timorenses investigam apoios de Reinado na "diáspora" da Indonésia
Por Malai Azul 2 à(s) 04:12
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
2 comentários:
Pelos vistos, as chamadas e mensagens do telemóvel de Reinado estão disponíveis para quem quiser ver. No entanto, parece que ninguém tem coragem de falar sobre elas. Esta notícia menciona o assunto, é certo, mas há muito mais a revelar.
NOTA: Não sei o que é um "ex-timorense". Quem for timorense é-o para toda a vida.
Mais de dois meses após o atentado que sofreu
Ramos-Horta volta ao trabalho na quinta-feira e diz não temer pela sua segurança
14.04.2008 - 11h23 Lusa
O Presidente de Timor Leste, José Ramos-Horta, afirmou ontem que não teme pela sua segurança quando regressar ao seu país, na quinta-feira, mais de dois meses após o atentado que sofreu.
Ramos-Horta, em declarações prestadas ontem em Darwin (norte da Austrália), disse que já se encontra quase plenamente recuperado dos ferimentos e que retomará as suas tarefas de chefe de Estado logo a partir do momento em que ponha de novo os pés no Timor Leste.
"Deus e os timorenses estão do meu lado", afirmou o Presidente para justificar a sorte que teve quando um projétil passou a apenas dois milímetros da sua coluna vertebral.
O prémio Nobel da Paz (1996) deixou no dia 19 de Março o hospital onde estava internado desde o atentado sofrido a 11 de Fevereiro.
Ramos-Horta foi atingido por três balas, duas nas costas e uma no estômago, tendo recebido tratamento de emergência em Díli antes de ser transferido para Darwin, onde foi submetido a várias cirurgias e de onde saiu há três semanas da unidade de cuidados intensivos.
O Presidente de Timor Leste foi atacado em frente a sua casa por soldados rebeldes do comandante Alfredo Reinado, que morreu no tiroteio. O primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, saiu ileso no mesmo dia de um atentado contra o seu veículo.
Em 2006, Reinado liderou protestos de 599 militares expulsos do exército por insubordinação, que desencadearam uma onda de violência em que morreram 37 pessoas e cerca de cem mil tiveram de abandonar as suas casas. A crise originou o envio para o país de forças de paz estrangeiras sob comando da Austrália e das Nações Unidas e levou à demissão do então primeiro-ministro, Mari Alkatiri.
Enviar um comentário