Pedro Rosa Mendes, da Agência Lusa, em Díli
Díli, 14 Abr (Lusa) - No teatro de operações, alguns oficiais podem valer menos ou mais do que a sua patente. Na captura de Gastão Salsinha, em Timor-Leste, dois tenentes-coronéis portugueses fazem trabalho de general.
O Exército português tem uma presença discreta mas decisiva no comando conjunto da operação "Halibur" de captura do grupo responsável pelos ataques de 11 de Fevereiro, contra o chefe de Estado, José Ramos-Horta, e o primeiro-ministro, Xanana Gusmão.
O papel estratégico dos oficiais portugueses na "Halibur" é o corolário do trabalho de oito anos da Cooperação Militar portuguesa na formação das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL).
"É reconhecido que três oficiais, sem apoio praticamente nenhum, conseguem desenvolver mais trabalho e obter mais relevância e reconhecimento das estruturas timorenses do que outras organizações com dezenas de cooperantes e com meios financeiros incomparáveis", afirmou à agência Lusa o tenente-coronel António Martins.
São apenas três os oficiais que asseguram as actividades de formação das F-FDTL, o chamado Projecto número 3, que, em oito anos, já envolveu 34 oficiais e 30 sargentos em quatro processos de recrutamento.
O tenente-coronel António Martins assegura sozinho o Projecto número 1, como assessor pessoal do brigadeiro-general Taur Matan Ruak, chefe do Estado-Maior General das F-FDTL, e coordenador do grupo de assessores militares das Forças Armadas timorenses.
"O segredo é não ter medo de decidir nada e responder a tudo o que nos é pedido pela estrutura de comando", afirmou à Lusa o tenente-coronel Mário Álvares sobre a contribuição do Exército português no comando conjunto.
Taur Matan Ruak, em entrevista à Lusa, salientou o papel da Cooperação Militar e dos conselheiros portugueses nas F-FDTL.
"Têm sido fantásticos desde que se criou o comando conjunto", em 17 de Fevereiro, com a declaração do estado de sítio, explicou o brigadeiro-general.
Taur Matan Ruak acrescentou que "a equipa fantástica" do comando conta também com oficiais da Austrália e da Nova Zelândia, convidados pelo CEMGFA.
"São todos fantásticos mas há maior contacto com os portugueses por causa da língua", reconheceu.
Taur Matan Ruak lembrou que um esforço importante da Cooperação Militar portuguesa tem sido feito na Componente Naval das F-FDTL, com a oferta - e a reparação em 2006/2007 - de duas lanchas e o treino das tripulações.
Sobre as tarefas diárias na "Halibur", António Martins e Mário Álvares sublinharam a importância da "formação generalista" do Exército português, acrescida, no caso de ambos, do curso de Estado-Maior (dois anos) no antigo Instituto de Altos Estudos Militares.
"No comando conjunto fazemos praticamente de tudo", salientam os dois oficiais.
Aos dois tenentes-coronéis foi pedido, por exemplo, que definissem as regras de empenhamento da "Halibur" e que desenhassem os contornos da lei de estado de sítio, "que depois os assessores jurídicos aperfeiçoaram".
"Alguma estratégia" e "planos de preparação de reuniões" saem também da secretária dos dois oficiais portugueses.
Os tenentes-coronéis realizam ainda visitas ao terreno e são consultados "numa base informal" sobre as operações do comando conjunto.
"Hoje, apesar da crise política e social vivida em Timor-Leste, grande parte do trabalho está voltado para a realização do curso de progressão de carreira (promoção de capitão a major)", segundo o tenente-coronel Martins.
A partir de Maio, está planeado um curso para promoção de tenentes e capitães e de soldados a cabos. Ainda este ano, as assessorias portuguesas terão "um forte empenhamento" na formação de base e especialização de 600 novos militares, a recrutar em duas incorporações.
Em colaboração com a embaixada de Portugal, a Cooperação Militar assegura também cursos de Língua Portuguesa, com a consolidação de uma escola de Português no Centro de Instrução Nicolau Lobato, em Metinaro, a leste de Díli.
"O Português é uma língua difícil mas, quer queiramos quer não, temos que a aprender porque é uma língua oficial de Timor", afirmou à Lusa o capitão Isaías Xímenes, 28 anos, pertencente a uma geração de timorenses que cresceram no ensino oficial indonésio.
"O Onglês é mais simples, mas com o Português espero poder completar a formação em Portugal, com mais um curso", explicou o jovem oficial do curso de majores.
O capitão Alberto Santos, 46 anos, é da geração que teve mais contacto com a Língua Portuguesa, durante a resistência à ocupação, de que ele fez parte desde os 13 anos de idade.
O capitão Santos já esteve em Portugal, num curso de seis meses em Mafra. Foi aprovado, além de ter aprendido a falar em gíria.
"As coisas eram novas para nós, depois da instrução básica aqui. Tivemos que 'martelar' muito", contou o oficial timorense sobre a sua experiência com o Exército português.
O quotidiano do comando conjunto faz-se também de oficiais das F-FDTL que integraram, antes de 1975, o Exército português, caso, por exemplo, do major Ular.
O "espírito", resume o tenente-coronel Martins, continua a ser o mesmo, em Lisboa ou em Díli: "Todos os dias garantir o cumprimento da missão".
Lusa/fim
3 comentários:
Esta notícia não me surpreende.
Parabéns aos oficiais portugueses, que estão a fazer um excelente trabalho, e aos oficiais timorenses, que têm mostrado elevado profissionalismo e que já estão à altura dos desafios que a Nação lhes confia.
A instituição militar portuguesa honra os seus pergaminhos e mostra aos seus políticos como se trabalha a sério em prol do povo irmão timorense, sem regatear esforços. Um motivo de orgulho para os portugueses.
O que e esta língua "Onglês" que e tão simples para aprender? O inglês e difícil mesmo para falantes do português!
Big De-e-eal!!....Essa Forca Conjunta nao e mais forte que Deus.
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