terça-feira, março 04, 2008

Timor: «A democracia está em risco»

Considerou Mari Alkatiri

Jornal Digital
2008-03-04 07:03:15

Díli – O duplo atentado, 11 de Fevereiro, contra o chefe de Estado timorense, Ramos-Horta, e o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, reforçou a tensão inter partidária. Em entrevista à PNN, Mari Alkatiri insistiu que as duvidas sobre o duplo atentado estão a pôr em risco a democracia, para saída da crise apenas aceita que a Fretilin participe no Governo se «for para liderar o Governo.»

Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin, considerou que se as interrogações do duplo atentado não ficarem esclarecidas podem por em causa o processo democrático em Timor e teme que o impasse da actual situação se torne numa «bomba retardatária».

O secretário-geral da Fretilin afirma que o relato relativo ao ataque contra Xanana Gusmão, «é uma ficção barata» e lembra que Mário Carrascalão, numa entrevista à Lusa, já considerara o mesmo ataque como uma «montagem».

Em entrevista à PNN, Mari Alkatiri realçou mistérios que envolvem o ataque ao primeiro-ministro, segundo fontes do secretário-geral da Fretilin, o veículo de Xanana Gusmão inicialmente apresentava impactos de duas balas, pouco depois foi apresentado com a marca de 16 tiros. «Enviámos imediatamente uma pessoa ao local que tirou fotografias», contou Alkatiri, «dizia-se que o carro tinha ido pela ribanceira abaixo, e depois estava parado na estrada. Só mais tarde é que foi pela ribanceira.»

O secretário-geral da Fretilin continua a afirmar que ainda existem fortes suspeitas relativamente ao atentado.

«Como é que o Alfredo Reinado vai atacar a pessoa (Ramos-Horta) que estava a procurar uma solução airosa para si mesmo? Quem foi atacado primeiro, foi o Reinado ou o Presidente da Republica? Se foi o Reinado, segundo os primeiros dados, este terá sido morto uma hora antes.

Se foi morto antes, porque que os homens do Reinado e os do Presidente da República ficaram a olhar uns para os outros até ao Presidente chegar?» questionou Alkatiri.

O mesmo responsável político defendeu a necessidade de uma comissão de inquérito independente. «Países que têm aqui presença, nas áreas da justiça ou assessores na área da segurança, não podem ter os seus elementos a fazer parte desta comissão», e sublinha que se os atentados ocorreram «com toda esta presença, e se a investigação incriminar a presença internacional, ou a ONU, a tendência é naturalmente encobrir» e lembrou que existem países que não estão presentes em Timor capazes de efectuar um inquérito independente.

Em relação à presença do FBI em Timor, com o objectivo de proceder às investigações sobre os atentados, Alkatiri é céptico: «Ao fim e ao cabo, são instrumentalizados. Mesmo que queiram ser sérios, não podem.» Receia, também, que as conclusões do FBI fiquem apenas nas mãos do Procurador-Geral da Republica e não sejam apresentadas ao público.

Os motivos que levaram ao duplo atentado são ainda um enigma, o secretário-geral da Fretilin sugere que existem indícios que assentam na intenção de Ramos Horta convocar eleições antecipadas. «Presidente da Republica tinha dito claramente que haveria eleições antecipadas em 2009. É claro que quem governa não gosta disso. Estas dúvidas precisam de ser esclarecidas para o bem das pessoas que estão envolvidas.

Eu no lugar do Xanana, seria o primeiro a dizer que queria esta investigação fosse feita de forma independente. Eu fui também vítima de tudo isto em 2006» e afirma: «Não vale a pena escudar-se na imunidade e tentarmos encontrar caminhos que não convencem.»

Para Mari Alkatiri a actual crise é a sequência da crise de 2006. «2006 aconteceu porque Xanana queria o poder e não tinha o poder. E agora, depois de estar como primeiro-ministro sentia que não tinha o poder» afirmou o mesmo responsável político. Questionado pela PNN se considera que Xanana Gusmão está a caminho de uma ditadura Alkatiri responde: «Xanana Gusmão gosta do poder. Democracia para Xanana é ter todos juntos mas sob o seu comando. Todos falam, mas ele é que manda.»

«Xanana é um patriota e rejeito que digam que vendeu a pátria aos australianos. Mas Xanana não consegue pensar como Estado, pensa como guerrilheiro. Para ele, a guerrilha é assim. Já quando era líder no tempo da resistência, foi ele que abriu as portas para os partidos todos mas o comando era dele. Ele pensa que tudo tem de continuar assim. Pensa que é o único que consegue ainda congregar todos» considerou Mari Alkatiri.

Para a saída da crise Mari Alkatiri defendeu como primeira medida o fim do Estado de Sitio: «Os cidadãos quando se sentem livres, perdem o medo e podem dizer as verdades.»

O mesmo responsável político considerou que o Estado de Sitio, e Emergência, «está a ser usado para intimidar as pessoas. A população vai-se cansar com todas essas medidas, particularmente nos bairros de Díli. Já estamos a regressar ao tempo da indonésia, as pessoas já não dormem em casa. Bairros de Tunanara, Pité, são jovens que têm medo que a polícia os vá buscar à noite”, e qualifica o risco da população se revoltar como “uma bomba retardatária.»

«O poder deve acreditar que a melhor forma de controlar esta população é meter-lhes medo, para não haver manifestações, qualquer outra acção violenta. Não há direito a manifestação, não há direito a reuniões públicas. Costumo reunir em minha casa com muita gente e há alguns dias passaram aqui os polícias a perguntar aos meus seguranças o que é que nós estávamos a fazer» testemunhou Alkatiri.

O secretário-geral da Fretilin, defende «mais do que nunca» eleições antecipadas, e exige a saída do actual Governo o qual «não tem capacidade para sozinho enfrentar as dificuldades» e considerou a AMP (Aliança Maioria Parlamentar, liderada por Xanana Gusmão) como uma «manta de retalhos». Evocando a necessidade de da criação de uma Junta de Salvação Nacional só aceita a participação do seu partido no Governo se «for para liderar o Governo.»

Rui Neumann e Tiago Farinha

(c) PNN Portuguese News Network

Sem comentários:

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.