** José Sousa Dias, da Agência Lusa **
Lisboa, 19 Fev (Lusa) - O cenário de eleições antecipadas em Timor-Leste estava a ser discutido pelos principais partidos políticos com Ramos-Horta, antes do duplo atentado de 11 deste mês, disse à Agência Lusa o líder do Partido Social Democrata (PSD) timorense.
Mário Carrascalão, que está em Lisboa praticamente desde o dia dos atentados ao Presidente e ao primeiro-ministro timorenses, José Ramos-Horta e Xanana Gusmão, adiantou em entrevista segunda-feira à Lusa, que o assunto foi analisado numa reunião ocorrida a 07 de Fevereiro na residência do chefe de Estado com as principais forças partidárias do país.
No entanto, disse Mário Carrascalão, o encontro acabou por tornar-se inconclusivo e deveria ser seguido por mais "duas ou três reuniões" para tentar obter um consenso, mas o duplo atentado, perpetrado quatro dias mais tarde, acabaria por as inviabilizar.
Segundo o líder do PSD timorense, a reunião foi precipitada por uma carta enviada pelo secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, ao secretário-geral das Nações Unidas, em que o antigo primeiro-ministro timorense pedia a Ban Ki-moon que pressionasse Ramos-Horta a antecipar eleições gerais.
"Ramos-Horta disse-me que, quando viu o conteúdo da carta (de Alkatiri a Ban Ki-moon), foi encontrar-se com o (Francisco) Lu Olo (Guterres, presidente da Fretilin) para falarem sobre a forma como levar isso para diante", afirmou Carrascalão, dando conta de uma conversa que manteve com o Presidente timorense na residência da sua irmã Gabriela, na noite de Natal de 2007.
O líder do PSD adiantou à Lusa que, nessa "conversa", Ramos-Horta lhe disse que Alkatiri estava a "insistir muito" para antecipar as eleições presidenciais e legislativas para 2009.
O chefe de Estado, recordou Mário Carrascalão, "disse que eleições antecipadas só com duas condições: uma, que o Presidente também seja eleito de novo, e, outra, que todos os partidos concordem." Ramos-Horta, adiantou o líder do PSD, não se recandidataria ao cargo.
"Disse-me que estava cansado e que era uma oportunidade boa para se esquivar da posição de Presidente" afirmou, lembrando que Ramos-Horta pretendeu, em vão, alterar a Constituição, de forma a dar um cariz presidencialista ao sistema político.
Segundo o líder do PSD, na reunião realizada em casa do Presidente timorense, o primeiro-ministro garantiu que a Aliança para uma Maioria Parlamentar (AMP, coligação de quatro partidos no poder) conseguiria, sozinha, resolver os problemas de Timor-Leste.
As condições para o fazer, disse, eram várias e, entre outras, tinham de garantir soluções para as questões dos deslocados, do major Alfredo Reinado, dos peticionários, das reformas na Justiça, Defesa, Segurança e Administração e da boa governação.
Quando chegou à reunião com Ramos-Horta, contou Carrascalão, já lá se encontrava cerca de uma dezena de dirigentes da Fretilin, entre eles "Lu Olo", Alkatiri, José Manuel Fernandes, Ana Pessoa, Arsénio Bano, Ilda Conceição e Cipriana Pereira.
"A dada altura, após uma hora de conversas mornas, o Presidente fez a conclusão e disse: 'Bom, uma vez que o governo da AMP, sozinho, não está capacitado para resolver o problema, então vamos antecipar as eleições'", recordou Mário Carrascalão à Lusa.
O líder dos sociais-democratas prosseguiu a sua descrição da reunião: "Mas eu inquiri: 'As conclusões do Presidente não condizem com as do primeiro-ministro.' Então, o Presidente virou-se para Xanana e disse: 'Senhor primeiro-ministro, o que diz a isto?'"
Segundo Carrascalão, "Xanana respondeu: 'Como primeiro-ministro tenho de dizer que somos capazes.' E Ramos-Horta acrescentou: 'Eu, se fosse primeiro-ministro, também dizia que era capaz.'"
Ainda de acordo com o presidente do PSD, Ramos-Horta afirmou, depois: "Então ainda não estamos em completo entendimento. Vamos ter de fazer mais duas ou três reuniões."
Por fim, disse Carrascalão, a reunião ficou por aí: "Viemos embora e, depois, fiquei surpreendido com tudo o que se passou a seguir", com o duplo atentado contra Ramos-Horta, que está internado num hospital australiano em estado estável mas ainda grave, e Xanana, que escapou ileso. Reinado morreu baleado na residência do Presidente timorense.
Por outro lado, Carrascalão afirmou ver "com muita preocupação" as Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL) receberem a missão de "ir à caça" do líder dos peticionários, major Gastão Salsinha, aliado de Reinado.
"Isto é que é a questão de fundo em Timor: Loromonu ou Lorosae", defendeu, numa alusão à crise de 2006, que opôs originários de oeste e de leste do território, inicialmente no seio das forças armadas e depois em actos de violência civil no país, sobretudo em Díli, provocando milhares de deslocados. "Quem pôs as F-FDTL na missão está a querer criar uma guerra civil.
Quem tomou a decisão é um inconsciente. Se foi o primeiro-ministro então é um primeiro-ministro inconsciente", sustentou.
"Quem quer que seja que está por trás disto está a preparar alguma coisa em Timor-Leste e precisa de ser confrontado com alguma coragem. É preciso dizer a quem tomou a decisão que será responsabilizado por uma hipótese de guerra civil em Timor", sublinhou.
Andam a passar-se "coisas estranhas" no país, disse o líder do PSD, prometendo que, quando regressar a Díli, na próxima quarta-feira, vai averiguar as causas do duplo atentado em Timor-Leste.
"O ataque a Xanana Gusmão cheira-me a montagem de alguém que não sei quem é. Quem conhece aquela estrada, sabe que ninguém escapa a uma emboscada. Ninguém ficou ferido", afirmou.
Quanto ao atentado contra a Ramos-Horta, o líder do PSD defendeu que Reinado, a quem chama sempre Alfredo, "não queria assassinar" o Presidente, sustentando a tese de que alguém lhe montou uma "cilada".
"Não foi o Alfredo que quis assassinar o Horta, pois (o Presidente) era a sua única hipótese e (Reinado) sabia disso", sustentou.
"Para mim é uma cilada. Ramos-Horta estava a tentar modificar a situação em Timor.
Tentava abrir uma porta para a solução dos problemas. Essa foi a razão por que Horta foi alvo.
Não sei se dos australianos, se dos peticionários que estavam acantonados ou mesmo uma facção das F-FDTL. Qualquer uma destas três hipóteses é viável."
Lusa/Fim
terça-feira, fevereiro 19, 2008
Ramos-Horta e principais partidos ponderavam eleições antecipadas - Mário Carrascalão
Por Malai Azul 2 à(s) 22:02
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
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