domingo, janeiro 06, 2008

CNN - EXCERTOS DA ENTREVISTA A RAMOS HORTA

Blog Timor Lorosae Nação
Domingo, 6 de Janeiro de 2008

José Ramos Horta, presidente de Timor-Leste, foi entrevistado por Richard Quest para a CNN, programa que foi apresentado há cerca de uma hora e que com a preciosa colaboração de Margarida - que viu, ouviu, anotou e traduziu - podemos apresentar alguns excertos, quiçá os de maior destaque, com o propósito de saciar todos os amigos que aqui vêm para se actualizarem sobre o que se passa em Timor-Leste.

Descreve Margarida que “Foi como já se calculava um programa inteiro em honra do Horta, para atiçar culto da personalidade. Durou cerca de meia-hora."

O VISUAL PRESIDENCIAL

Comecemos pela apresentação: cabelinho cortado, menos barrigudo, camisinha bege ao princípio e azul celeste no fim, mãozinhas postas à Dalai Lama, mais uma vez no papel teatralizado do falso “herói” humilde, com bom-senso e desprendido.

TIMOR, O DUBAI DO SUDESTE ASIÁTICO

“Não quero enganar ninguém, não me comparo com o Nelson Mandela.
Detesto políticas partidárias. Desisti das políticas partidárias há 20 anos, não por pensar que estava acima dos outros mas por detestar políticas partidárias.

Tenho a sorte de ter passado 24 anos no estrangeiro. Cultivei muitos amigos nos USA, no Congresso dos USA, na Austrália, na Ásia. Hoje tenho o privilégio de ter amigos como o Bill Clinton.

Em TL o crescimento da população é muito elevado – não sei se isto é bom ou mau -, temos petróleo e gás, temos boas condições para o turismo.

Quero que TL se desenvolva como o Dubai, se investirmos e diversificarmos os investimentos podemos ser como o Dubai. Temos mais de 1,5 biliões investidos em acções nos USA e a aumentar todos os meses e mais para vir. Podemos ser como o Dubai.”

A ONU FOI EMBORA

“A ONU não é toda composta por irmãs Teresas e Einstein's. A ONU no nosso país foi muito importante e principalmente em 1999, quando mandou as tropas, mas depois autorizou que a sua Missão ficasse apenas dois anos para construir o Estado. Em Nova Iorque demora-se 3-5 anos para montar um Restaurante, mas aqui quiseram construir uma nação apenas em dois.

Em 2002 começámos do zero. Fui a única voz então a defender que a ONU devia ficar pelo menos cinco anos. Quando a ONU saiu só deixou ficar o esboço de um Estado, não deixou um Estado.”

A CRISE

“Muitas vezes os média estrangeiros são exagerados a relatar a violência em TL. Aqui não andaram políticos a matar-se uns aos outros. Na maioria dos casos a violência foi de alguns elementos das Forças Armadas e da Polícia e de alguns gangs juvenis – muitas vezes alcoolizados e frustrados.

Podíamos prevenir por nós próprios a guerra civil? Na altura era MNE, mas decidi esta questão, ouvindo muita gente, inclusive falei com os bispos e decidimos que não, que não podíamos arriscar a perda de vidas – as forças de segurança, Forças Armadas e Polícia, estavam divididas e pedimos ajuda aos nossos amigos da Austrália, Malásia, NZ e Portugal.”

NOVA IORQUE AOS 25

“A primeira vez que cheguei a uma grande cidade foi em Dezembro de 1975 quando cheguei a Nova Iorque para falar no Conselho de Segurança, tinha 25 anos. O meu primeiro grande encontro diplomático foi com o Embaixador Soviético que passou o tempo todo a dormir e eu com medo cada vez a falar mais baixo para não o acordar.

Os Americanos, os Nova-iorquinos não sabiam o que era TL – perguntavam se queria dizer esquimó ou Istambul – nunca desisti de explicar quem éramos, às vezes passava-me pela cabeça desistir mas nunca desisti, a minha consciência dizia que era trair.”

OS INDONÉSIOS E AS PERDAS DE FAMÍLIA

“Perdi uma irmã e dois irmãos mais novos, até hoje não sabemos como e onde estão e como foram mortos, a irmã teve mais sorte, as pessoas sabiam onde estava e cuidaram do corpo dela, acabei por a enterrar na campa da família em Dili há poucos anos.

Pessoalmente sou capaz de viver com isso, mas a minha mãe que vive na Austrália não aceita essa realidade, não está preparada para perdoar e não percebe como nós perdoámos.

Em 1979 estava muito zangado, mas com o passar dos anos, as tropas Indonésias foram humilhadas, derrotadas, engoliram o orgulho, temos de os compreender e normalizámos as relações - logo em 1999 fui a Jacarta para restabelecer relações.”

SOBRE O NOBEL E AL GORE

Richard Quest: Ramos Horta deu o dinheiro e a medalha do Prémio Nobel...

“Dei a medalha a quem a merecia. Quando soube do prémio fiquei chocado, achava que não merecia, depois achei que era bom para a paz e democracia do meu país. O convidado tem de já ter credibilidade antes, depois fica com mais.

Dei os parabéns ao Al Gore, não sei se chega fazer um filme e escrever um livro, quero pensar que há muita mais gente com credibilidade. Na Austrália o Dr. Bob Brown há 30 anos que tinha mais credibilidade. Não sei o que Gore fez em 8 anos na Casa Branca.”

PALÁCIO JUNTO AO MAR

“Vou mudar para um Gabinete frente ao mar, muito maior, vamos entrar na ASEAN e precisamos de um palácio para muitos mais empregados. Aqui todos os dias falo com os vizinhos. Recebo 8 a 10 pessoas por dia, luto para acabar com a pobreza. Não consigo falar com toda a gente que quer falar comigo. Ontem falei com uma velha senhora, com mais de 80 anos. Gosto muito de falar com gente simples.

Se as pessoas ficarem zangadas comigo, têm apenas de me mandar uma carta. Não preciso deste cargo. Não gosto deste cargo. Escrevam-me e eu vou-me embora. Não é preciso fazerem manifestações. Não sou Musharaf, não sou George Bush. Estou aqui porque muita gente me empurrou. Se não gostam de mim digam-me e eu vou-me embora."

Títulos e subtítulos da responsabilidade do TLN - A Fábrica agradece à Margarida

2 comentários:

Anónimo disse...

"D. José I, o saloio"!... Porque será que ele quer que Timor Leste seja o Dubai do Sudeste Asiático? Para os filipinos não terem que viajar tanto? É que a acreditar na Wikipédia ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Dubai ) mais de 3/4 da população do emirato (1,1 milhões, mais ou menos o mesmo de Timor) é de indianos e filipinos!...
Enxergue-se, homem, enxergue-se!...

Anónimo disse...

E esqueceu-se que na campanha eleitoral dizia que queria que Timor fosse como Singapura. É um cata-vento, diz a primeira coisa que lhe vem à cabeça, mas no fundo, no fundo o que ele queria era que Timor fosse mais um território da Austrália, ou dos USA.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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