sexta-feira, setembro 28, 2007

Pobreza alimentou milícias em 1999, afirma antigo líder miliciano

Notícias Lusófonas
27.09.2007

Um antigo líder de uma milícia pró-indonésia afirmou hoje que, em 1999, a pobreza levou muitos civis timorenses a aderirem à luta contra o movimento independentista de Timor-Leste.


"Havia dinheiro e as pessoas não precisavam de ir para as zonas rurais. Havia arroz e era tudo muito bom", referiu Francisco Lopes de Carvalho durante a quinta sessão da Comissão para a Verdade e Amizade Timor-Leste/Indonésia.

Segundo o líder e fundador do Barisan Rakyat (Frente Popular), milícia pró-integracionista, assim que entravam nas diferentes organizações, os civis timorenses eram "avisados" de que só havia um inimigo: o movimento independentista.

"Era difícil não matar um timorense, tal como lhes era ordenado. Se alguém quisesse abandonar as milícias, era morto. Mais, se recusasse matar um timorense, a essa pessoa eram-lhe dados comprimidos "mad dog"", sublinhou Lopes de Carvalho, que reside há vários anos em Java, Indonésia.

Relatos dos acontecimentos de então dão conta de que, durante a onda de violência que assolou Timor-Leste antes, durante e depois do referendo de autodeterminação - que levaria à independência do país em 2002 -, os membros das milícias pró-integracionistas davam os tais comprimidos para encorajar os "operacionais" a matar.

"Depois, quando se mata, acaba-se na prisão", acrescentou Lopes de Carvalho, apontando para Johnny Marques, que se encontrava na audiência.

Johnny Marques, antigo líder de uma outra milícia pró-integracionista, a Alfa, testemunhara momentos antes e, nas suas declarações, afirmou ter estado sob o efeito de drogas quando chefiou uma operação que causou a morte de várias freiras e padres em Los Palos, em Setembro de 1999.

"Sei que não o devia ter feito, mas foi o mau corpo a reagir às drogas. Senti-me com raiva e estava desejoso de matar alguém", afirmou Johnny Marques, condenado a 33 anos de prisão efectiva pelo seu envolvimento na violência.

Por seu lado, Lopes de Carvalho acusou as autoridades militares indonésias de nunca lhe terem pago os "milhões de rupias prometidos" num hotel de cinco estrelas em Jacarta quando assinou um documento em que se comprometia a recrutar civis timorenses e a armá-los.

"Até agora, nunca recebi dinheiro nenhum", afirmou, sublinhando que o pagamento em numerário "era uma prática corrente" das autoridades militares indonésias em Timor-Leste.

No entanto, admitiu ter recebido um montante significativo em dinheiro do antigo comandante do Aquartelamento de Wira Dharma, coronel Tono Suratman.

Tal com o sucedeu a outros oficiais indonésios, Tono Suratman foi absolvido pelo tribunal "ad hoc" de Direitos Humanos das acusações de crimes contra a humanidade em Timor-Leste.

Lopes de Carvalho entregou também à Comissão uma série de documentos, incluindo certificados entregues pelos treinadores das milícias, assinados pelo então comandante militar de Udayana, major general M. Simbolon.

"Como é que é possível que os militares indonésios ou os membros do governo (de Jacarta) nunca tenham sido condenados?", questionou Lopes de Carvalho.

Lopes de Carvalho pediu à Comissão que entregue todos os dados resultantes das diferentes sessões que já decorreram - todo o processo de investigação foi iniciado em Janeiro deste ano - a um tribunal internacional, defendendo o "fracasso" de eventuais processos judiciais, quer na Indonésia, quer em Timor-Leste.

A Comissão, cujas investigações e audições começaram em Janeiro último, deverá concluir os seus trabalhos até ao fim deste ano, prevendo-se que apresente um relatório em Janeiro de 2008.

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Traduções

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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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