O País
(Semanário Independente)
10.08.07
(Júlio Mendes)
Fui um dos que participou e se entusiasmou sem meias-medidas com a independência daquele país irmão asiático. Era o fim de anos de sofrimento de um povo humilde, perpetrado por países ambiciosos que demonstraram ao longo do tempo uma gritante desorientação na sua política externa. Era a vitória de uma causa que Moçambique acompanhou desde o princípio, através de loobies junto das Nações Unidas e em outros fóruns, no apoio directo aos membros seniores da Fretilin, e nao só.
Quando em 1998 vivemos aquela alegria, a imagem que se tentou transportar para o mundo externo era de que aqueles lideres que sempre lutaram pela independência estavam comprometidos com a causa do povo maubere, e eram os mais indicados para dirigir, com seriedade e comprometimento, o país. Estávamos convictos de que o objectivo comum era a restauração do país. Mas, tal como muitos, enganei-me redondamente. Volvidos poucos anos, o país nao andou. Muito do que transpirou para fora relaciona-se com os conflitos interpessoais dos destacados líderes.
E hoje após aquela palhaçada do ano passado, quando o sistema previamente montado tentou denegrir impiedosamente Mari Alkatiri, imputando-lhe várias culpas que culminaram com constantes manifestações e ondas de desordem por todo o país, sendo a mais grave a de alegadamente ter participado na distribuição de armas aos insurgentes, obrigando-o assim a ceder o cargo de primeiro-ministro, uma posição conquistada democraticamente, eis que a máscara começa a cair em Timor-Leste, com o anúncio do convite formulado por Horta a Xanana para que este último seja primeiro-ministro.
Segundo o pensamento crítico de alguns analistas não comprometidos com o sistema indo-australiano, que parece estar a instrumentalizar alguns políticos timorenses, Xanana Gusmão nunca foi um santinho pelo poder como sempre pretendeu se fazer passar. O mesmo pode-se dizer de Ramos Horta, que após o Prémio Nobel da Paz, partilhado com o grande Madiba, se tentou fazer passar por um democrata puro. No entanto, o derrube estratégico de Mari Alkatiri e o golpe político nas últimas eleições daquele país estão a demonstrar que estamos em presença de dois senhores bastante ambiciosos e com uma agenda que ultrapassa as fronteiras do pequeno espaço timorense.
Numa altura em que a questão de petróleo deveria ocupar os grandes debates daquele país, pelas possibilidades que o “ouro negro” abre para o desenvolvimento e para a erradicação da pobreza, eis que os políticos perdem mais tempo em conflitos pessoais, muitos dos quais consequentes das diferenças de opinião em relação à estratégia a adoptar na política externa, com a amizade com a Austrália à cabeça.
No dia 30 de Junho passado realizaram-se eleições legislativas, nas quais a Fretilin venceu, sem maioria absoluta, com 29.02 % dos votos. Como primeira consequência, Aniceto Guterres, candidato da Fretilin para a presidência da Assembleia Nacional Timorense, perdeu o cargo para Fernando “La Sama” de Araújo, líder do Partido Democrático. Em face dos resultados, e para atingir os seus objectivos, os quatro partidos derrotados nas eleições uniram-se para fazer frente à Fretilin. Até aqui nada a questionar, pois faz parte da estratégia política coligar-se. O que não se compreende muito bem é o papel que a dupla Xanana e Horta tenta desempenhar, quando à partida seriam os mediadores da boa convivência, unidade entre os timorenses, bem como pela responsabilidade e carisma que ambos ostentam. Mas como tinha acontecido aquando da queda de Alkatiri, os dois assumiram-se claramente anti-Fretilin, mas desta feita com objectivos claros, pela forma como instrumentalizaram o processo eleitoral e fizeram desacreditar a Fretilin junto das populações e parte da comunidade internacional.
A partir dai as coisas começaram a ficar difíceis para Mari Alkatiri e companhia. E com o desfecho das eleições, a estratégia de Ramos Horta e Xanana começou a ter pernas. E para que não restassem dúvidas, eis que na última semana chegam notícias segundo as quais Horta convidou Xanana para primeiro-ministro, uma proposta que nunca até então chegou a ser equacionada com muita propriedade. No entanto, para muitos, estava mais do que claro que Xanana nunca se adaptou à posição de presidente, dado que o regime político daquele país confere mais protagonismo e poderes ao primeiro-ministro. Agora, numa clara estratégia em que a igreja católica não está totalmente isenta, Xanana pode a qualquer momento ser confirmado primeiro-ministro, para fazer aquilo que sempre pretendeu. Mesmo que este não ocupe lugar, será alguém da sua inteira confiança e disponível para cumprir as suas ordens, o que não pode acontecer com Alkatiri, que até agora se mostrou íntegro e fiel às suas convicções. Aí é que o mundo vai poder saber, de concreto, a agenda com que a dupla Horta-Xanana se guia.
Por outro lado, com o cenário actual, fica mais evidente que Alkatiri nunca esteve envolvido com a desordem havida ano passado naquele país, pois tudo não passou de uma montagem para o desacreditar como líder político. Em parte foi conseguido, pois o eleitorado ficou bastante dividido, acabando por vencer por forma tímida e “cinzenta” as eleições, muito embora a Fretilin continue a demonstrar força no seio das comunidades.
Com os cenários menos agradáveis que se colocam no país, quem fica a sofrer é o povo, aquele que seria o ponto número um da agenda dos políticos. As ameaças de todas as agremiações políticas, de bloquear o desempenho da Assembleia caso nao fiquem satisfeitos com o desfecho que pretendem, podem ter um impacto que pretendem, mas o grande perdedor é o próprio país, que perde tempo em discutir pessoas ao invés de projectos concretos de combate a pobreza.
.............
domingo, agosto 12, 2007
Timor Leste: a queda da “máscara” Xanana-Horta
Por Malai Azul 2 à(s) 21:52
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
Sem comentários:
Enviar um comentário