Lusa – 4 Julho 2007 - 18:28
Pedro Rosa Mendes, da agência Lusa
Díli - A vitória da Fretilin sem maioria absoluta nas legislativas de 30 de Junho, anunciada quinta-feira pela aritmética de uma contagem que ainda não terminou, marca o momento em que Timor-Leste "muda de regime" mesmo que não mude de governação.
O apuramento provisório das legislativas aponta um dado essencial: a Fretilin ganhou as eleições mas perdeu a hegemonia, afinal o seu principal instrumento de poder nos cinco anos em que dominou o governo, o Parlamento e o aparelho de Estado, desde a independência.
Outro dado: nenhuma das alternativas ou contestações à direcção e ao estilo de Francisco Guterres "Lu Olo" e de Mari Alkatiri, incluindo as internas, teve argumentos ou força para capitalizar, nas urnas, a crispação e frustração de amplos sectores da sociedade timorense com o chamado Grupo de Maputo, que, pelo menos desde 2005, mantém Timor-Leste entre a fervura e o derrame.
Mário Viegas Carrascalão, presidente do Partido Social Democrata, foi o primeiro a comentar a nova paisagem política: "Vamos entrar em crise aberta", afirmou hoje à agência Lusa.
É uma crise paradoxal: a ingovernabilidade anunciada produzida por um Parlamento mais pluralista.
Outro paradoxo: a dificuldade de formação do IV Governo Constitucional não é um problema de números (há, aliás, várias coligações possíveis), mas um problema de inimizades políticas e pessoais.
O novo Parlamento faz-se de várias grandes derrotas - a de Xanana Gusmão, que não cumpre a vitória tão anunciada, e a de Fernando "La Sama" de Araújo, por ele reconhecida hoje.
E de algumas pequenas vitórias - a de Fernanda Borges, do Partido de Unidade Nacional, e, talvez, a de Cornélio Gama "L7", da UNDERTIM.
Os resultados, os bons como os maus, são todos curtos, e, por isso, não houve até agora regozijo de ninguém.
Para a Fretilin, o patamar de 30 pc é um mau resultado porque equivale a cerca de metade da votação de 2001 e porque pode significar que não tem condições para exercer o poder que conquistou nas urnas.
É, por outro lado, bom, considerando que o partido maioritário conseguiu segurar, em três eleições seguidas, o mesmo eleitorado fiel, digamos, a Francisco Guterres "Lu Olo".
É uma vitória apesar da erosão natural de um mandato, contra a crispação da Igreja, da geração urbana educada fora da epopeia da Resistência, da pressão dos deslocados e da constatação inapelável de que 40 por cento dos timorenses vive hoje abaixo do limiar da pobreza.
A leitura do resultado do CNRT é também múltipla: um bom resultado para um novo partido sem estrutura é, para Xanana Gusmão, uma derrota pessoal.
Os números indicam que o carisma de Xanana não foi suficiente para o pôr directamente na cadeira que pertenceu a Mari Alkatiri.
Mas chegou para sangrar votos dos aliados naturais do CNRT, conforme repararam já hoje, amargos, Mário Viegas Carrascalão e Fernando "La Sama" de Araújo, os homens com quem terá de negociar qualquer acordo de regime.
Lusa/fim
quinta-feira, julho 05, 2007
Timor-Leste/Eleições: A II República da Fretilin e a derrota de Xanana
Por Malai Azul 2 à(s) 15:14
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
2 comentários:
Gostei desta análise honesta sobre o resultado eleitoral.
A grande derrota é sem dúvida de Xanana, que não conseguiu superar a Fretilin.
Foi a derrota da retórica barata que se desdobrou em artigos no jornal e em golpes baixos como o recurso à sigla CNRT, à bandeira da Fretilin e aos seus militantes rebeldes - os mudansas - para tentar atrair a simpatia do eleitorado.
Foi a derrota de oportunistas como os mudansas e outros que se apressaram a mudar de partido, perante a possibilidade do "CNRT" poder ganhar e distribuir tachos a todos. Apostaram no cavalo errado e verificaram que o povo não lhes dá crédito nenhum.
Foi a derrota de marginais usados e protegidos pelo grupo de Balibar, como Rai Los, Reinado, etc.
Como dizia Xanana, "Ganhámos esta guerra!"...
A GRANDE DERROTA EH A DA FRETILIN QUE DE 57% BAIXOU PARA 32%. O DISCURSO DO MARI DEVE SER DE TRISTEZA, RESIGNACAO E PONDERACAO EM RELACAO AO FUTURO.
A GRANDE VITORIA EH DOS PEQUENOS PARTIDOS QUE IRAO PARA O PARLAMENTO
COBRAR DIVIDENDOS DE CINCO ANOS A COMEREM SAPOS VIVOS.
O CNRT TEM UMA GRANDE VIRTUDE, A DE "ANIMAR A MALTA" E TRANSFORMAR
UMA MONARQUIA ABSOLUTA EM DEMOCRACIA.
PARLAMENTARIO
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