Público, 21.07.2007
O juiz português Ivo Rosa, colocado em Díli no mês de Setembro do ano passado, renovou esta semana o mandado de detenção do major rebelde e fugitivo Alfredo Alves Reinado, contrariando assim a suspensão da operação de captura que fora determinada pelo Presidente da República de Timor-Leste, José Manuel Ramos-Horta, noticiou a Lusa.
Os mandados são para "cumprir por qualquer autoridade policial ou militar", recordou o magistrado, que questionou o facto de até hoje os comandantes de diferentes forças ainda não terem conseguido deitar a mão a um oficial que em 30 de Agosto do ano passado se evadiu da cadeia de Becora, na capital timorense, com mais meia centena de detidos.
Rosa, em documento enviado à Presidência e a outras entidades, considerou "ilegais" as ordens para que fossem dados salvo-condutos a Reinado e a outros elementos do seu grupo, pois que "as decisões dos tribunais são de cumprimento obrigatório e prevalecem sobre as de quaisquer autoridades".
sábado, julho 21, 2007
Reinado continua a dar polémica
Por Malai Azul 2 à(s) 20:30
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
16 comentários:
Reinado: a armadilha montada
Expresso, 21 JUL 07
Micael Pereira, enviado a Timor-Leste
O cerco australiano ao major rebelde nas montanhas vai continuar indefinidamente. Querem vencê-lo pela fome, mas para já vão-lhe valendo os cocos.
As ISF não vão pousar as armas até Reinado se render ou ser capturado
Desde o dia 8 de Julho, quando concedeu uma entrevista ao Expresso, que o major Alfredo Reinado está cercado por um contingente de militares australianos em Alas, perto de Same, numa operação que já dura há duas semanas.
Segundo o seu advogado, o líder rebelde e o grupo de 19 homens que o acompanham viram ser-lhes cortado qualquer contacto com a população local, a quem recorriam até à altura para se reabastecerem de comida. Agora, pelo menos de acordo com a informação que o escritório de advogados vai recebendo do mato, a única comida disponível tem sido os cocos das árvores.
O Expresso apurou que as indicações dadas ao comando das ISF (Forças Internacionais de Estabilização), liderado pelo brigadeiro australiano Rerden, são para prosseguir com o cerco por tempo indeterminado, até que o major rebelde desista e entregue as armas que estão na posse do seu grupo.
O poder judicial não pode ser desautorizado
O juiz português Ivo Rosa, que tem o caso Reinado consigo, enviou entretanto esta semana um despacho dirigido ao brigadeiro Rerden com a renovação do mandado de captura ao major e com uma longa nota de esclarecimento jurídico. «A decisão proferida pelo tribunal é de cumprimento obrigatório para todas as entidades e só pode ser alterada, suspensa ou revogada por decisão judicial.
Ou seja, nem o Parlamento Nacional, nem Governo, nem a Presidência da República e nem o senhor Procurador-geral da República têm poder para interferir no conteúdo e execução da decisão proferida pelo juiz do processo», pode-se ler no despacho, numa clara referência a ingerências feitas pelo presidente Ramos-Horta e pelo procurador-geral da República Longuinhos Monteiro, que chegou a emitir salvo-condutos para alguns homens de Reinado.
«A decisão do senhor Procurador-geral da República (…) constitui uma grave violação e interferência no poder judicial e das regras do estado de direito democrático», diz ainda o documento.
Em resposta, o brigadeiro Rerden assegurou que os militares australianos farão para que o mandado de captura seja executado.
Alfredo Reinado "acabou" e "nem com os anjos aceita o diálogo"
Público, 22.07.2007
Pedro Rosa Mendes
Leandro Isaac diz que o major Reinado, um dos protagonistas da crise de 2006 em Timor, "está cercado" e perdeu o apoio popular
"O Alfredo [Reinado] não quis, por estupidez natural, entender a visão do Xanana [Gusmão]"
Leandro Isaac, de 52 anos, um dos actores da crise de 2006, era deputado independente ao Parlamento de Timor-Leste até decidir juntar-se, em final de Fevereiro, ao major fugitivo Alfredo Reinado. Sobreviveu com ele ao ataque de tropas australianas em Same e a quatro meses de clandestinidade nas montanhas do sul. Há duas semanas, voltou a Díli. Entrevista na sua casa sobre a capital, com vista para um país "em guerra fria": "Reinado é um aventureiro. Sempre foi essa a base da vida dele".
PÚBLICO - Para onde vai Alfredo Reinado?
Leandro Isaac - Ele não pensa, o Alfredo. As fases e as oportunidades, ele não aproveitou. Ele diz que defende a verdade, em tétum, lialós. Que vá então para o tribunal, se tem mais provas que o Mari [Alkatiri], que o [coronel] Lere, seja quem for, o próprio [Presidente José Ramos-]Horta, ou o Xanana [Gusmão]. Que apresente as provas, com a companhia que tem de advogados.
PÚBLICO - Xanana Gusmão teve algum papel de apoio a Alfredo Reinado?
Leandro Isaac - Eu digo mais: quando foi da manifestação pelos peticionários [Abril de 2006], quem alimentou e aguentou com os jovens, de forma humanista? O Horta também apoiou, não a manifestação em si mas os jovens que estavam ali a sofrer. Deu arroz também. Assim também o Xanana o fez. Assim também o Mari fez. O [brigadeiro-general Taur Matan] Ruak fez. Não por fins políticos, mas por humanismo, por um fim de paz. Vejo isso na pessoa do Xanana.
PÚBLICO - O que fez Xanana zangar--se tanto com Alfredo, como mostrou em Março no discurso ao país?
Leandro Isaac - O Alfredo não quis, como se costuma dizer, por estupidez natural, entender a visão ou o objectivo do Xanana ou mesmo do Estado. Ainda há dias saiu na rádio o Alfredo a insultar o [procurador-geral da República] Longuinhos Monteiro dos pés à cabeça.
PÚBLICO - O que espera ele do futuro do seu processo judicial?
Leandro Isaac - Só com um golpe de Estado é que ele se livra, em que ele seja primeiro-ministro ou Presidente da República. O Alfredo acabou! E agora está cercado. Eu mandei há dias uma mensagem ao Presidente da República: o senhor tem um pai, como eu tenho. Um pai dá pão e dá pau. Se não, nunca mais educamos o nosso povo, se continuamos nesse círculo vicioso da reconciliação e do processo de diálogo. Nunca mais!
PÚBLICO - A decisão de Reinado sair para Fatuahi (23 de Maio de 2006, lugar de um ataque a elementos das F-FDTL) foi dele ou de alguém mais?
Leandro Isaac - Essa é outra conversa... Há tudo isso, mas na altura era tudo legal. Nós queríamos livrar-nos dessa situação. A Polícia estava toda desmantelada. Depois, era uma guerra civil que poderia acontecer naquele momento. Mas tudo era provocado. Não sei se foi em Fatuahi que isso aconteceu. Ou se foi por acaso que os peticionários (que fizeram uma petição livre), depois de voltarem aos quartéis, foram "empurrados" por alguém a sair de novo? Será que a decisão do Matan Ruak, que ama os seus combatentes, de expulsar os peticionários, foi tomada por ele, ou por algum assessor, ou em telefonemas?...
PÚBLICO - Qual é a situação actual?
Leandro Isaac - Ligou-me há dias o padre Natalino, de Suai, pedindo-me que eu pedisse ao Presidente da República para mandar parar o cerco [das Forças de Estabilização Internacionais, ISF]. Eu respondi que isto eu não faço mais. Já dei tudo o que tinha a dar, incluindo a minha vida. Eu destruí a minha carreira política em defesa dos interesses que eu julguei ser justos do Alfredo. Agora não faço mais. Alfredo afirmou várias vezes que aceitava o diálogo, em declarações que eu também escrevi. Mas ele nem com os anjos aceita o diálogo. O que ele quer mais? O mimo acabou. Alfredo vai ter de sofrer e passar por esta situação. E já temos sorte, porque o Presidente tem um coração grande de mais. Mesmo com o abuso de o Alfredo exibir armas em Same, ele mandou suspender a captura. Extraordinário!
PÚBLICO - Qual o objectivo actual do major Reinado?
Leandro Isaac - A realidade ultrapassou Alfredo. Ele retardou-se em compreender que a crise entre lorosae e loromonu passou. Hoje não há nenhum F-FDTL que vá a Same ou Maliana para matar mais pessoas. Alfredo não tem um objectivo claro. Ele diz que defende o povo. Como? Quem é que assalta o povo depois destas eleições? Líderes de partidos políticos originários de loromonu foram fazer campanha a Lospalos e Viqueque. Líderes originários de lorosae foram fazer campanha em loromonu. Esta crise acabou, por si, nas legislativas. Não me venham dizer que existe ainda essa diferença. Depois de tantos discursos, milhões de dólares gastos pela comunidade internacional, ninguém resolveu o problema que, finalmente, foi resolvido pelo povo. Quem elegeu Ramos-Horta? Setenta por cento significa votos de Lospalos a Oecussi. E Ramos-Horta é, pela mãe, um filho de Same. E Alfredo ainda vem com o discurso de defender o povo.
PÚBLICO - A juventude de Díli está com Alfredo Reinado?
Leandro Isaac - O apoio que ele tinha há seis meses acabou. Caiu drasticamente! Vi isso em Alas, antes de vir trazer o [Felisberto] Garcia. O Susar tinha fugido para o mato. O que a população me disse foi: se tem contacto com o Susar ou com o Alfredo, diga-lhes que, se querem fazer guerra, que vão para outro lado; aqui não queremos mais guerra, queremos a liberdade! Isto quer dizer que o povo não quer mais.
PÚBLICO - Quem coordenou a violência em Díli na noite do ataque a Reinado em Same?
Leandro Isaac - Coordenada ou não, foi uma espontaneidade que este povo demonstrou.
PÚBLICO - Isso pode acontecer outra vez?
Leandro Isaac - Não! Não. Naquela altura, o povo dizia: é melhor destruir tudo isto e vamos construir de novo. Chega! Vamos à guerra! Esta era a palavra de ordem do povo, de velhas e velhos e crianças. Hoje, é: o que vocês querem mais? O que é que o Alfredo quer? Querem sossego já, para poderem lutar pela vida. Aqui como em Alas.
PÚBLICO - Susar continua com o major Reinado?
Leandro Isaac - Continua. Está com medo.
Ainda ontem telefonou ao Garcia, perguntando se havia garantias
de que os australianos não disparam. O Alfredo está a manipular estes mercenários inconscientes.
PÚBLICO - Já pensou no seu futuro?
Leandro Isaac - Eu acompanho e quero ver até onde chega e pára esta bola de neve que está ainda a rolar. A neve, com este processo, vai desaparecendo aos poucos e depois eu verei onde está a bola original. Depois eu jogo. Agora ainda não.
ExclusivoPÚBLICO/agência Lusa
O político com Steyr
Público, 22.07.2007
Pedro Rosa Mendes
Nos meses em que esteve escondido na montanha, Leandro Isaac afirma ter habitado "numa caverna escolhida pelo povo de Same, usada no tempo da ocupação". Por companhia, "apenas os macacos". E livros, em particular "Ética Política", obra de um jesuíta indonésio que se opunha ao Presidente Suharto.
Desde que se juntou a Reinado, Isaac não teve qualquer contacto com o presidente do parlamento, Francisco Guterres "Lu Olo", também presidente da Fretilin.
"Telefonei--lhe mas ele nunca atendeu". Não tentou nenhum encontro pessoal depois de regressar da montanha. "Não gastaria o meu tempo com um homem que não tem um coração de carne. "Lu Olo" é um homem pequeno com um pequeno coração de pedra".
A Comissão Especial Independente recomendou a investigação de uma eventual responsabilidade criminal de Isaac no ataque à casa do chefe do Estado-Maior das Falintil, há um ano, num dos dias em que foi visto com uma arma na mão. "Era só o que faltava, só por ser deputado não me defender quando tenho meios ao alcance", explica, rindo-se. Leandro Isaac empunhava nessa altura uma espingarda automática Steyr. P.R.M./Lusa
O Juiz meteu-se num atoleiro do qual não vai conseguir sair “por cima” e ao mesmo tempo lixou a cooperação portuguesa no domínio da justiça. Qual é a posição do Cláudio Ximenes?
O major Reinado dormia sem sequer ter as botas calçadas
Público, 22.07.2007
Pedro Rosa Mendes
Leandro Isaac acusa Alfredo Reinado de "estar a dormir sem sequer ter as botas calçadas" no momento em que as Forças de Estabilização Internacionais (ISF) atacaram, na noite de 3 para 4 de Março, a colina no centro de Same onde o major e os seus homens estavam cercados há seis dias.
"O senhor major dormia", diz o ex-deputado independente, que enfrentou o ataque das tropas australianas "de mãos vazias, apenas com insultos", no sopé da colina, "no meio dos jovens que impediram a passagem dos blindados deitando--se no chão".
Leandro Isaac responsabiliza também Alfredo Reinado pela morte de cinco dos seus homens no ataque de Same, sobretudo "o homem de maior confiança dele, da Polícia Militar, o Deolindo".
"O Deolindo já estava morto e o senhor major ainda dormia", acusa o companheiro de cerco e de fuga de Reinado.
"Nós recebemos informações do comando australiano - nós temos lá gente dentro também! - nesse dia a anunciar o assalto militar para as 23h00. Depois, mudou para a 1h00", conta Leandro Isaac.
"Mas o Alfredo não acreditou. Disse que acabava de receber um telefonema de Camberra a dizer que os australianos não iam atacar. E foi dormir".
"É uma pura mentira que nos tivessem deixado fugir", afirmou Leandro Isaac, que passou "os três dias seguintes escondido numa horta, a poucos metros de soldados australianos e com helicópteros a voar por cima".
No momento do ataque das forças australianas, segundo Leandro Isaac, foi Felisberto Garcia, um veterano da Unidade de Intervenção Rápida (acolhido há duas semanas na escolta do Presidente da República, José Ramos-Horta), "quem ofereceu o corpo a combate para cobrir a retirada do Alfredo, que foi puxado por um braço por Susar e saiu por uma janela, a disparar".
Para Leandro Isaac, o brigadeiro--general Mal Rerden, comandante das ISF, "não percebeu nada da mentalidade timorense nem da história da resistência".
"Se ele está a dizer que não apanhou Reinado porque não conseguiu, está a dar razão aos boatos que dizem que o major é um menino dos australianos", comentou o deputado.
"Mas Mal Rerden não conseguiu mesmo. O povo foi muito mais forte", explicou Leandro Isaac, que salienta a importância da "intervenção directa e o apoio popular" a Alfredo Reinado.
Este apoio, acrescentou Leandro Isaac, integra-se numa tradição arreigada de "apoio a quem quer que seja visto como perseguido. Não importa a causa. Aprendemos isso na ocupação".
Sobre os rumores desencontrados do paradeiro de Reinado após o ataque a Same, e das hipotéticas incursões do major a Díli nos meses seguintes, Leandro Isaac, rindo, explicou que "esta foi uma guerra fria de ataques psicológicos, de dizer que "eu amanhã estou no quarto do Alkatiri", "eu amanhã estou no quarto do Ramos-Horta"".
"Nós, timorenses, após os 24 anos de ocupação, somos hipócritas e oportunistas", afirmou Leandro Isaac a propósito do papel da dissimulação no conflito.
"Um dia disse a Ramos-Horta aqui em minha casa: se hoje estou aqui a falar consigo é porque consegui mudar a minha atitude com o inimigo", explicou o ex-deputado.
"Se o indonésio vier a minha casa, eu vou ser simpático com ele, dar-lhe tudo para lhe agradar. Se não tenho, vou roubar, vou pedir. Até pare ele me proteger. Mas na primeira oportunidade... mato este homem!" P.R.M./Lusa
"Timor do Norte a Sul "
Com poemas de Mau Dick
Idalina Silva
E tantos outros !
Este é o endereço
http://timordonorteasul.blogspot.com/
Obrigado
Maracuja Maduro
Timor-Leste: «Reinado não compreendeu que a crise acabou"», ex-deputado Leandro Isaac
Expresso, 22 JUL 07
Díli, 22 Jul (Lusa) - O ex-deputado Leandro Isaac, companheiro de cerco e de fuga de Alfredo Reinado, afirmou em entrevista à agência Lusa que o major fugitivo "não compreendeu que a crise entre 'lorosae' e 'loromonu' acabou".
"A realidade ultrapassou Alfredo", acusou Leandro Isaac, explicando a sua desilusão com o major Reinado, a quem acusa de ser "um menino mimado sem capacidade militar nem de liderança".
"Ele tardou a compreender que a crise entre 'lorosae' e 'loromonu' passou. Hoje não há nenhum [militar] F-FDTL que vá a Same ou Maliana (oeste) para matar mais pessoas", explicou Leandro Isaac.
"A crise acabou com estas eleições", insistiu o ex-deputado independente, referindo-se aos confrontos de há um ano entre timorenses originários dos distritos ocidentais e orientais do país.
"O apoio que Alfredo tinha há seis meses caiu drasticamente", afirmou, e a violência de rua a que se assistiu em Díli em Março "não seria possível hoje".
Numa extensa entrevista realizada a semana passada na sua residência, nos arredores de Díli, Leandro Isaac passou em revista os quatro meses que passou com Alfredo Reinado nas montanhas do sul do país e as razões que o levaram a juntar-se ao militar no cerco de Same e, recentemente, a abandoná-lo.
Leandro Isaac e um dos homens de confiança de Alfredo Reinado, Felisberto Garcia, regressaram do mato para Díli e entregaram as suas armas, há duas semanas, a José Ramos-Horta, na Presidência da República.
Leandro Isaac admite que mudou a sua opinião sobre José Ramos-Horta, que tem mostrado "um coração bom de mais" no processo negocial com Alfredo Reinado e os peticionários.
Na altura do assalto a Same pelas Forças de Estabilização Internacionais (ISF), a 03 de Março, Leandro Isaac referia-se ao então primeiro-ministro como "prémio Nobel da guerra".
"É verdade, fui muito duro". Hoje, o ex-deputado afirma que o chefe de Estado já foi longe demais nas oportunidades "extraordinárias" de diálogo e abertura, incluindo pernoitar em Alas "sob escolta armada, com bala na câmara, do grupo de Reinado".
"Ele não pensa, o Alfredo. As fases e as oportunidades, ele não aproveitou", acusa o ex-deputado.
Leandro Isaac é referido no relatório da Comissão Especial Independente de Inquérito à crise de há um ano como tendo "algum envolvimento" no ataque à casa do chefe do Estado-Maior das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), brigadeiro-general Taur Matan Ruak.
A Comissão recomendou a investigação de uma eventual responsabilidade criminal de Leandro Isaac nesse episódio, num dos dias em que foi visto com uma espingarda automática Steyr.
Leandro Isaac, na entrevista à Lusa, acusou o então comandante-geral-adjunto da Polícia Nacional, Abílio Mesquita, de "perder o controlo" e de liderar o ataque à casa de Taur Matan Ruak, a 24 de Maio de 2006.
"Acusam-me de atacar a casa quando fui eu que protegi a residência e garanti a saída das filhas do Ruak no início dos problemas, que não tinham culpa nenhuma de nada".
Leandro Isaac manteve nesses dias contacto "permanente" por telemóvel com Taur Matan Ruak - com quem tem laços familiares indirectos - e com José Ramos-Horta, então chefe da diplomacia timorense.
"A casa só foi saqueada quando os polícias que a guardavam por ordem do comandante da PNTL foram expulsos de lá por soldados australianos, que depois também foram embora", contou Leandro Isaac.
"Eu tinha ido a Ainaro visitar a minha mãe".
"Na altura, era tudo legal", comentou o ex-deputado sobre o confronto entre o grupo de Alfredo Reinado e as F-FDTL em Fatuahi, que provocou vários mortos.
"Nós queríamos livra-nos dessa situação. A Polícia estava toda desmantelada. Depois, era uma guerra civil que poderia acontecer naquele momento. Mas tudo era provocado", acusou Leandro Isaac.
PRM.
Lusa/fim.
http://expresso.clix.pt/Lusa/Interior.aspx?content_id=407491
Timor: «Intercalares fora de questão» diz Ramos-Horta
Diário Digital / Lusa
23-07-2007 8:51:29
O Presidente da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta, declarou hoje que a terceira ronda negocial para a formação de governo foi inconclusiva mas excluiu a realização de eleições intercalares.
José Ramos-Horta afirmou que a reunião entre os líderes dos partidos com assento parlamentar "não produziu nenhum nome para primeiro-ministro nem o partido que formará governo".
O Presidente continuará as consultas com os partidos hoje à tarde (início do dia em Lisboa) e amanhã, porque pretende anunciar a solução para o impasse político na próxima quarta-feira.
«A eleições antecipadas, eu diria como os meus amigos franceses, “hors de question”, fora de questão», declarou o Presidente da República quando interrogado sobre a hipótese de eleições legislativas no início de 2008.
A Fretilin, o partido no poder, venceu as eleições de 30 de Junho sem maioria absoluta e uma coligação de quatro partidos da oposição reclama formar ou liderar o IV Governo Constitucional.
O Congresso Nacional de Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), a coligação Partido Social Democrata/Associação Social Democrática Timorense (PSD/ASDT) e o Partido Democrático formaram a Aliança para Maioria Parlamentar (AMP) e recusam incluir um governo liderado pela Fretilin.
José Ramos-Horta repetiu hoje que a sua preferência vai para «um governo de grande coligação, ou grande inclusão».
«Há pontos de discordância e pontos de aproximação. Ainda há dúvidas sobre as vantagens e a viabilidade de um governo de grande inclusão mas também todos têm consciência de que cada elemento em si, ou a Fretilin ou a AMP, não reúne condições políticas para garantir uma governação estável e estabilidade neste país».
«Não havendo estabilidade, não é possível falar-se em recuperação económica», acrescentou o chefe de Estado.
Zacarias da Costa, presidente do Conselho Nacional do PSD, afirmou à agência Lusa no final da reunião de líderes que «para a Aliança o primeiro valor é a democracia, não é a estabilidade».
No final das três rondas negociais, o Presidente da República tem três opções: decidir por um governo liderado pela Fretilin; convidar a AMP a formar governo; propôr à Fretilin e à AMP que dividam a legislatura a meio, exercendo cada uma o poder durante dois anos e meio.
Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin, Arsénio Bano, novo vice-presidente do partido, e Xanana Gusmão, presidente do CNRT, não prestaram declarações à saída da reunião.
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=10&id_news=287360
cara Malai Azul,
Venho reforçar o meu pedido para ajudar o Sr. Jacinto César, pois apesar desta não ser uma luta política, é uma luta humana e penso que a solidariedade é um bem precioso que todos devemos praticar para com o próximo.
O Sr, Jacinto César deseja muito encontrar um familiar ou seus descendentes em Timor. O familiar se for vivo terá 70 e muitos anos e chama-se Vitorino Calçona, viveu em Elvas de onde a família é natural, tendo ido viver para Timor.
O Sr. Jacinto pede ajuda no sentido de lhe fornecer o nome de qualquer organização ou organizações que o possam ajudar a encontrar estes meus parentes, se é que os há!
Como infelizmente não me encontro em Timor,não sei que organizações o poderão apoiar mas gostaría muito de poder ajudar.
Espero que me consiga dar algumas informações para http://sitiodosolnascente.blogspot.com/
Obrigada desde já.
Laumalai
Timor-Leste: «Ninguém sabe o que pensa Reinado»
Diário Digital / Lusa
24-07-2007 8:35:00
O comandante das Forças de Estabilização Internacionais (ISF) afirmou que «ninguém sabe o que pensa Alfredo Reinado» mas adiantou em entrevista à agência Lusa que «não há nenhuma ameaça significativa à segurança em Timor-Leste».
«Aprendi muitas coisas no meu tempo aqui, mas uma delas foi não pensar que é fácil perceber o que lhe vai na cabeça».
«O comportamento de Alfredo Reinado muda constantemente», declarou o brigadeiro-general Mal Rerden, comandante das tropas australianas e neozelandesas que integram as ISF.
«Ele tem uma personalidade complexa. Revela um lado de mentalidade militar 'machista' que, muitas vezes, se atravessa numa abordagem mais lógica da situação», analisou o oficial australiano.
Como adversário, Mal Rerden detecta em Alfredo Reinado «influências e prioridades opostas: algumas vezes parece pensar apenas nele próprio e noutras parece responsável por muito mais gente», acrescentou o brigadeiro-general das Forças de Defesa Australianas (ADF).
O major Alfredo Reinado, sobre quem pende um mandado de detenção, é alvo de uma operação de captura pelas ISF desde o final de Fevereiro de 2007.
Questionado sobre se, em algum momento, deu uma ordem directa e operacional às suas tropas para interromper a captura de Reinado, Mal Rerden respondeu apenas que «as ISF estão em Timor-Leste para garantir um ambiente seguro».
«A dificuldade do terreno» é a explicação de Mal Rerden para o facto de um fugitivo com cerca de 20 homens ter escapado durante 5 meses a uma força internacional de 1250 soldados.
«Em Timor-Leste, quem quiser escapar a coberto da noite e esconder-se na montanha consegue fazê-lo, como sempre aconteceu no passado», recordou o comandante das ISF.
«Esta é a realidade e, para impedir isso, seriam necessários dezenas de milhares de homens».
«Os timorenses têm muita experiência em esconder-se no mato e infelizmente isso deu-lhes várias capacidades e conhecimento em partes remotas da ilha», explicou o comandante australiano.
«Os líderes timorenses foram incrivelmente pacientes com Alfredo Reinado», afirmou também Mal Rerden.
O brigadeiro-general, entrevistado pela Lusa no quartel-general das ISF em Díli, Camp Phoenix, a poucos dias do final da sua missão em Timor-Leste, declarou-se «muito satisfeito» com a «melhoria constante da situação de segurança».
Mal Rerden sublinhou que tem «muito orgulho» no contingente que chefiou desde o final de Outubro de 2006.
«Não é fácil a um exército agir em operações de manutenção de paz», explicou o oficial australiano, «mas os militares das ISF foram sempre muito profissionais e muito controlados».
Dos onze meses que passou em Timor-Leste, Mal Rerden diz ter aprendido, «em primeiro lugar, a resistência dos timorenses».
«É gente muito, muito dura, com uma grande capacidade de resistência, em circunstâncias diferentes, tanto fisica como psicologicamente».
«A segunda coisa é a adaptabilidade dos timorenses, a sua versatilidade. Perante uma dada situação, conseguem encontrar uma maneira de contornar, ou passar por cima, ou lidar com uma situação em que a maior parte das pessoas ficaria bloqueada», declarou Mal Rerden.
«Mesmo no sentido político, são muito flexíveis e acho isso interessante».
«A última coisa que também me surpreendeu foi que, sendo pessoas tão pobres e sem privilégios, os timorenses ainda consigam ser felizes e estejam interessados e em condições de participar na vida», acrescentou o comandante australiano.
O brigadeiro-general, que desempenhou missões em várias representações diplomáticas da Austrália na Europa e Médio Oriente, regressa ao seu país para funções nas ADF.
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=10&id_news=287545
Timor-Leste: Xanana abandona reunião com Ramos-Horta
Diário Digital / Lusa
24-07-2007 14:13:00
Xanana Gusmão, presidente do Congresso Nacional de Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), abandonou hoje a reunião da Aliança para Maioria Parlamentar (AMP) com José Ramos-Horta, disseram à agência Lusa fontes dos partidos envolvidos.
«A reunião correu muito mal», adiantou à Lusa o presidente de um dos quatro partidos que integra a AMP e que participou no encontro com o chefe de Estado timorense.
Nenhum dos participantes contactados pela Lusa quis comentar o que se passou na reunião, «porque já antes de começar se fez um acordo de ninguém dizer uma palavra sobre o que lá foi dito», explicou um dirigente da AMP.
O Presidente da República reuniu hoje, em separado, com a Fretilin, ao princípio da tarde, e com a AMP, ao final do dia, na tentativa de encontrar uma saída para o impasse pós-eleitoral quanto à formação do novo governo.
Na primeira reunião da tarde, «a Fretilin repetiu que está pronta para ser convidada a formar governo», afirmou à Lusa o vice-presidente do partido e membro do actual Governo, Arsénio Bano.
«Aceitamos, no entanto, que o Presidente da República fale outra vez com os outros partidos, sobretudo com o CNRT», acrescentou Arsénio Bano.
O ministro do Trabalho e Reinserção Comunitária declarou que a reunião da Fretilin com José Ramos-Horta «correu bem».
Três cimeiras de líderes partidários, realizadas por iniciativa de José Ramos-Horta nos últimos dez dias, não produziram uma solução para a formação do IV Governo Constitucional.
Segunda-feira, perante a falta de acordo dos partidos para a formação de um governo de «grande inclusão», José Ramos-Hortas lançou a proposta de a Fretilin e a AMP governarem cada uma em metade da legislatura.
A AMP reúne os quatro maiores partidos da oposição: o CNRT, a coligação do Partido Social-Democrata e da Associação Social Democrática Timorense (PSD/ASDT) e o Partido Democrático (PD), além de contar com o apoio político do Partido de Unidade Nacional (PUN).
A Fretilin venceu as legislativas de 30 de Junho sem maioria absoluta, com 29,02 por cento dos votos.
O novo parlamento reúne-se pela primeira vez a 30 de Julho.
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=10&id_news=287637
Ana Pessoa indigitada Primeira Ministra? Por quem? Pela Fretilin? Pelo Presidente da República?
Tentativa de formação do novo Governo
Xanana Gusmão abandonou reunião com Ramos-Horta
Público, 25.07.2007 - 09h31 Lusa
Xanana Gusmão, líder do Congresso Nacional de Reconstrução de Timor-Leste (CNRT) e da Aliança com Maioria Parlamentar (AMP), abandonou uma reunião com o Presidente do país, José Ramos-Horta.
"A reunião correu muito mal", disse à Lusa o presidente de um dos quatro partidos que integram a AMP e que participou no encontro.
O Presidente reuniu-se ontem, em separado, com a Fretilin e com a AMP.
A Fretilin disse que o encontro com Ramos-Horta correu bem. Arsénio Bano, vice-presidente do partido, reiterou que a frente "está pronta a ser convidada a formar Governo".
Nas legislativas de Junho, o CNRT de Xanana foi o segundo partido mais votado (atrás da Fretilin) e juntou-se à Associação Social Democrata Timorense, ao Partido Social Democrata e ao Partido Democrático na AMP, na expectativa de esta ser convidada para a formação do novo Governo.
A Fretilin, porém, insiste em ficar à frente de um Governo de grande inclusão, mais abrangente.
Entrevista ao PÚBLICO
Ramos-Horta: "Tomo uma decisão em 1 de Agosto se até lá Fretilin e AMP não chegarem a acordo"
25.07.2007 - 18h03 Adelino Gomes
O Presidente da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta, dispõe-se a esperar por um acordo de governo entre os dirigentes partidários até 31 de Julho, data provável da eleição do novo presidente do Parlamento Nacional, a segunda figura mais elevada na hierarquia do Estado.
Se nenhuma solução interpartidária sair das consultas que vem mantendo, nos arredores de Díli, tomará uma decisão no dia 1 de Agosto, com base nos artigos nº 85 (alínea d) e 106º da Constituição, disse, numa entrevista por e-mail, que o PÚBLICO divulgará na íntegra na sua edição impressa de amanhã.
Nesta entrevista, o Presidente timorense defende que seria "de toda a prudência" uma solução em que "os líderes e partidos maiores" do país "se juntassem e formassem um governo bem abrangente e representativo de todos, e em que todos os timorenses se sintam representados".
Pragmatismo, humildade e prudência precisam-se em Timor-Leste, diz o Prémio Nobel da Paz, lamentando que a Fretilin, de Alkatiri, e o CNRT, de Xanana Gusmão, não se entendam, após as eleições de 30 de Junho, cujos resultados revelaram "uma profunda clivagem regional".
Ramos-Horta contesta declarações do juíz português Ivo Rosa, que declarou ilegais as ordens presidenciais de suspensão das buscas do major Alfredo reinado. "O Presidente da República, em sintonia com todos os órgãos de soberania e com a UNMIT, decidiu suspender todas as operações militares contra o Sr. Reinado. Não se pronunciou sobre o mandato de captura, já que todos os presentes nas reuniões temos consciência das fronteiras que nos separam em termos das nossas respectivas prerrogativas", explicou.
"Estamos no bom caminho, com sobressaltos pelo meio", disse, comentando actos de violência entre gangs de jovens, nas ruas de Díli, domingo passado.
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1300484&idCanal=11
"Ninguém tem o monopólio da verdade, da virtude e das soluções"
Público, 26.07.2007
Adelino Gomes
O Presidente timorense quer um governo de "grande inclusão". Se os partidos não chegarem a acordo, avançará com a sua decisão
José Ramos-Horta dispõe--se a esperar até 31 de Julho, data provável da eleição do novo presidente do Parlamento Nacional, a segunda figura mais elevada na hierarquia do Estado. Se os líderes dos partido - com quem, entretanto, tem vindo a manter reuniões, nos arredores de Díli - não chegarem a acordo quanto à constituição do próximo governo, tomará uma decisão na próxima quarta-feira, 1 de Agosto. Nesta entrevista, cujas respostas foram recebidas ontem de manhã, por correio electrónico, o presidente timorense defende que seria "de toda a prudência" uma solução em que "os líderes e partidos maiores " do país "se juntassem e formassem um governo bem abrangente e representativo de todos e em que todos os timorenses se sintam representados". Pragmatismo, humildade e prudência precisam--se em Timor-Leste, diz o Prémio Nobel da Paz, explicando as razões que levam a Fretilin, de Alkatiri, e o Congresso Nacional de Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), de Xanana Gusmão, a não se entenderem.
Qual é a deadline presidencial para que os partidos cheguem a acordo para um governo de grande inclusão?
O novo Parlamento inicia os seus trabalhos, isto é, a nova legislatura, no dia 30 de Julho, um mês após as eleições. Vamos ver primeiro a eleição do novo presidente do Parlamento Nacional. Lá para o dia 1 de Agosto anunciarei a minha decisão, de acordo com os art.º 85 e 106 da Constituição da República Democrática de Timor-Leste (RDTL).
Esta terça-feira, os jornalistas viram sair da reunião [com ar zangado] o presidente do CNRT, Xanana Gusmão, o que foi interpretado como sinal de que não houve acordo. Acha possível uma solução sem o acordo de uma figura-chave como Xanana Gusmão?
Pensei que ele saiu para fumar porque Xanana não consegue estar muito tempo sentado sem fumar. Claro, não houve acordo. E, se não houver, tomarei uma decisão no dia 1 de Agosto.
Um governo de grande inclusão é a sua solução preferida. Porquê, se toda a crise em que o país mergulhou há mais de um ano teve como base as posições irreconciliáveis entre a liderança da Fretilin, por um lado, e o presidente Xanana, hoje líder do maior partido a seguir à Fretilin, e os outros partidos que formaram com o CNRT uma coligação governamental, por outro?
Continuo a defender que - dado o resultado eleitoral, que revelou uma profunda clivagem regional, e dada a situação ainda frágil que nós atravessamos - seria de toda a prudência que os líderes e partidos maiores deste país se juntassem e formassem um governo bem abrangente e representativo de todos e em que todos os timorenses se sintam representados, canalizando as nossas experiências para duas áreas prioritárias: a estabilização e a recuperação económica. Propus uma agenda de 10 pontos para dois anos.
A recém-formada Aliança de Maioria Parlamentar (AMP), liderada pelo CNRT de Xanana Gusmão, quer ser ela a governar; a Fretilin quer ser ela a governar porque é o partido mais votado mas não conseguiria fazer passar o seu programa e orçamento. Acredito sempre que mesmo as posições mais irredutíveis podem ser conciliadas quando há um objectivo maior, mais sublime, mais nobre, a alcançar, que é a paz, a tranquilidade, o bem--estar. Os agentes políticos deviam ser mais sensíveis, inteligentes, pragmáticos, humildes, prudentes. Disse várias vezes nas nossas reuniões: ninguém tem o monopólio da verdade, das virtudes e da solução para Timor--Leste. No passado, a Fretilin parecia pensar que tinha a exclusividade das verdades e soluções. Hoje já não pensa assim. Fizeram uma reflexão e concluíram que não podem governar sozinhos. Mas teimam em liderar um novo governo abrangente. A AMP parece agora pensar que ela detém o monopólio da verdade, das virtudes e das soluções. Enfim, talvez quando começarem a governar vão ver que governar não é só através de declaração de princípios, que a governação é bem mais complexa e terão que fazer concessões, compromissos e vão precisar da Fretilin.
Já disse que está fora de causa a convocação de eleições intercalares. As opções que restam são: convidar a Fretilin ou a AMP para formarem governo. Posteriormente, surgiu uma terceira, algo surreal: cada um destes partidos dividirem a legislatura ao meio. Qual destas soluções (ou outra) favorece? Porquê?
Tomarei uma decisão entre as duas previstas na Constituição[convidar o partido mais votado ou a coligação com maioria parlamentar] no dia 1 de Agosto.
A violência voltou a Díli, no domingo. Um porta-voz da polícia das Nações Unidas admitiu a hipótese daqueles actos terem tido motivações relacionadas com o major Reinado. Um juiz português considerou "ilegais" as ordens presidenciais para que cessassem as buscas para a sua detenção. Em declarações reiteradas, quer de Reinado, quer de Leandro Isaac [no PÚBLICO de 22/7], tudo indica que Reinado não se entregará. Que solução preconiza, perante estes novos dados?
O sr. juiz enganou-se (juízes também se enganam, não são superinteligentes ou sapientes) e podia ter-se informado melhor. O Presidente da República, em sintonia com todos os órgãos de soberania e com a UNMIT (Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste, sigla em inglês), decidiu suspender todas as operações militares contra o sr. Reinado. Não se pronunciou sobre o mandado de captura, já que todos os presentes nas reuniões temos consciência das fronteiras que nos separam em termos das nossas respectivas prerrogativas. Tenho apostado e investido muito no diálogo para que o sr. Reinado se entregue à Justiça, e vou continuar a fazê-lo.
Apesar da demissão de Mari Alkatiri e das eleições presidenciais e legislativas, actos tidos por clarificadores da situação, continua tensa a situação em Timor-Leste. Porquê e o que é necessário para a ultrapassar?
Tensa às vezes. Raras vezes surgem actos de violência, mas não de grande escala. A situação em mais de 99 por cento do país é muito calma. A maior parte de Díli está calma, com muito comércio, muito tráfego, agora com semáforos, iluminação nocturna nalguns bairros, etc. Estamos no bom caminho, com sobressaltos pelo meio. Vamos continuar com determinação, serenidade, com a consciência da nossa inexperiência, logo das nossas falhas, mas com apoio da ONU, Austrália, Nova Zelândia, Portugal, e outros países vizinhos vamos chegar a bom porto em pouco tempo. A economia está a crescer. Mais embaixadas vão abrir em Díli. A do Kuwait é uma delas. A Comissão Europeia já elevou a sua missão aqui para full delegation. Países asiáticos como Índia, Paquistão, etc., querem abrir embaixadas. Companhias de petróleo de Itália, Índia, Malásia, estão a acorrer ao mar de Timor. Vamos investir algumas centenas de milhões de dólares nos próximos cinco anos em infra-estruturas, estradas e outros investimentos que vão criar milhares de empregos, reduzindo ou mesmo eliminando o desemprego. Portanto, estou optimista, sem exageros, ciente dos desafios, riscos.
A AMP, de Xanana Gusmão, terá que compreender que governar implica fazer concessões, diz Ramos-Horta
"Ninguém tem o monopólio da verdade, da virtude e das soluções"
Público, 26.07.2007
Adelino Gomes
O Presidente timorense quer um governo de "grande inclusão". Se os partidos não chegarem a acordo, avançará com a sua decisão
José Ramos-Horta dispõe--se a esperar até 31 de Julho, data provável da eleição do novo presidente do Parlamento Nacional, a segunda figura mais elevada na hierarquia do Estado. Se os líderes dos partido - com quem, entretanto, tem vindo a manter reuniões, nos arredores de Díli - não chegarem a acordo quanto à constituição do próximo governo, tomará uma decisão na próxima quarta-feira, 1 de Agosto. Nesta entrevista, cujas respostas foram recebidas ontem de manhã, por correio electrónico, o presidente timorense defende que seria "de toda a prudência" uma solução em que "os líderes e partidos maiores " do país "se juntassem e formassem um governo bem abrangente e representativo de todos e em que todos os timorenses se sintam representados". Pragmatismo, humildade e prudência precisam--se em Timor-Leste, diz o Prémio Nobel da Paz, explicando as razões que levam a Fretilin, de Alkatiri, e o Congresso Nacional de Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), de Xanana Gusmão, a não se entenderem.
Qual é a deadline presidencial para que os partidos cheguem a acordo para um governo de grande inclusão?
O novo Parlamento inicia os seus trabalhos, isto é, a nova legislatura, no dia 30 de Julho, um mês após as eleições. Vamos ver primeiro a eleição do novo presidente do Parlamento Nacional. Lá para o dia 1 de Agosto anunciarei a minha decisão, de acordo com os art.º 85 e 106 da Constituição da República Democrática de Timor-Leste (RDTL).
Esta terça-feira, os jornalistas viram sair da reunião [com ar zangado] o presidente do CNRT, Xanana Gusmão, o que foi interpretado como sinal de que não houve acordo. Acha possível uma solução sem o acordo de uma figura-chave como Xanana Gusmão?
Pensei que ele saiu para fumar porque Xanana não consegue estar muito tempo sentado sem fumar. Claro, não houve acordo. E, se não houver, tomarei uma decisão no dia 1 de Agosto.
Um governo de grande inclusão é a sua solução preferida. Porquê, se toda a crise em que o país mergulhou há mais de um ano teve como base as posições irreconciliáveis entre a liderança da Fretilin, por um lado, e o presidente Xanana, hoje líder do maior partido a seguir à Fretilin, e os outros partidos que formaram com o CNRT uma coligação governamental, por outro?
Continuo a defender que - dado o resultado eleitoral, que revelou uma profunda clivagem regional, e dada a situação ainda frágil que nós atravessamos - seria de toda a prudência que os líderes e partidos maiores deste país se juntassem e formassem um governo bem abrangente e representativo de todos e em que todos os timorenses se sintam representados, canalizando as nossas experiências para duas áreas prioritárias: a estabilização e a recuperação económica. Propus uma agenda de 10 pontos para dois anos.
A recém-formada Aliança de Maioria Parlamentar (AMP), liderada pelo CNRT de Xanana Gusmão, quer ser ela a governar; a Fretilin quer ser ela a governar porque é o partido mais votado mas não conseguiria fazer passar o seu programa e orçamento. Acredito sempre que mesmo as posições mais irredutíveis podem ser conciliadas quando há um objectivo maior, mais sublime, mais nobre, a alcançar, que é a paz, a tranquilidade, o bem--estar. Os agentes políticos deviam ser mais sensíveis, inteligentes, pragmáticos, humildes, prudentes. Disse várias vezes nas nossas reuniões: ninguém tem o monopólio da verdade, das virtudes e da solução para Timor--Leste. No passado, a Fretilin parecia pensar que tinha a exclusividade das verdades e soluções. Hoje já não pensa assim. Fizeram uma reflexão e concluíram que não podem governar sozinhos. Mas teimam em liderar um novo governo abrangente. A AMP parece agora pensar que ela detém o monopólio da verdade, das virtudes e das soluções. Enfim, talvez quando começarem a governar vão ver que governar não é só através de declaração de princípios, que a governação é bem mais complexa e terão que fazer concessões, compromissos e vão precisar da Fretilin.
Já disse que está fora de causa a convocação de eleições intercalares. As opções que restam são: convidar a Fretilin ou a AMP para formarem governo. Posteriormente, surgiu uma terceira, algo surreal: cada um destes partidos dividirem a legislatura ao meio. Qual destas soluções (ou outra) favorece? Porquê?
Tomarei uma decisão entre as duas previstas na Constituição[convidar o partido mais votado ou a coligação com maioria parlamentar] no dia 1 de Agosto.
A violência voltou a Díli, no domingo. Um porta-voz da polícia das Nações Unidas admitiu a hipótese daqueles actos terem tido motivações relacionadas com o major Reinado. Um juiz português considerou "ilegais" as ordens presidenciais para que cessassem as buscas para a sua detenção. Em declarações reiteradas, quer de Reinado, quer de Leandro Isaac [no PÚBLICO de 22/7], tudo indica que Reinado não se entregará. Que solução preconiza, perante estes novos dados?
O sr. juiz enganou-se (juízes também se enganam, não são superinteligentes ou sapientes) e podia ter-se informado melhor. O Presidente da República, em sintonia com todos os órgãos de soberania e com a UNMIT (Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste, sigla em inglês), decidiu suspender todas as operações militares contra o sr. Reinado. Não se pronunciou sobre o mandado de captura, já que todos os presentes nas reuniões temos consciência das fronteiras que nos separam em termos das nossas respectivas prerrogativas. Tenho apostado e investido muito no diálogo para que o sr. Reinado se entregue à Justiça, e vou continuar a fazê-lo.
Apesar da demissão de Mari Alkatiri e das eleições presidenciais e legislativas, actos tidos por clarificadores da situação, continua tensa a situação em Timor-Leste. Porquê e o que é necessário para a ultrapassar?
Tensa às vezes. Raras vezes surgem actos de violência, mas não de grande escala. A situação em mais de 99 por cento do país é muito calma. A maior parte de Díli está calma, com muito comércio, muito tráfego, agora com semáforos, iluminação nocturna nalguns bairros, etc. Estamos no bom caminho, com sobressaltos pelo meio. Vamos continuar com determinação, serenidade, com a consciência da nossa inexperiência, logo das nossas falhas, mas com apoio da ONU, Austrália, Nova Zelândia, Portugal, e outros países vizinhos vamos chegar a bom porto em pouco tempo. A economia está a crescer. Mais embaixadas vão abrir em Díli. A do Kuwait é uma delas. A Comissão Europeia já elevou a sua missão aqui para full delegation. Países asiáticos como Índia, Paquistão, etc., querem abrir embaixadas. Companhias de petróleo de Itália, Índia, Malásia, estão a acorrer ao mar de Timor. Vamos investir algumas centenas de milhões de dólares nos próximos cinco anos em infra-estruturas, estradas e outros investimentos que vão criar milhares de empregos, reduzindo ou mesmo eliminando o desemprego. Portanto, estou optimista, sem exageros, ciente dos desafios, riscos.
A AMP, de Xanana Gusmão, terá que compreender que governar implica fazer concessões, diz Ramos-Horta
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