Lusa – 11 Junho 2007, 12:51
Díli - Mário Carrascalão afirmou hoje que "fez-se muito mais" nos dez anos em que foi governador sob a ocupação indonésia do que antes, no tempo colonial português, ou nos cinco anos da independência de Timor-Leste.
"Não direi que governei melhor, mas mobilizei toda a população para o desenvolvimento", afirmou em entrevista à Agência Lusa o líder do Partido Social-Democrata (PSD) de Timor-Leste.
"Fez-se muito mais em desenvolvimento físico nesses dez anos do que em toda a época colonial. E em tempo de guerra! Quanto mais agora, nestes cinco anos, em que não se fez nada", declarou o presidente do PSD.
Sobre a "campanha total" do seu partido para as legislativas, em todo o país, Mário Viegas Carrascalão frisou que as propostas sociais são mais importantes do que o discurso político ou ideológico. "Este povo viveu muito de doutrinas, de mauberismos. O povo não quer saber nada disso", afirmou o candidato.
"Quer saber se consegue comer três vezes ao dia, se consegue ter uma casinha, se tem água em sua casa, se consegue arranjar emprego, se os seus filhos podem ir à escola, se consegue tratar da saúde e se tem algum dinheiro a dispor, para dar um passeio ao distrito. É esse o povo que temos aqui em Timor", declarou.
"Depois há a elite, embora em Timor não seja uma elite rica. Não olha para baixo, não olha para a maioria. Querem o povo na mesma situação. Por isso não tocam nos temas sociais", acusou o ex-governador.
"O Estado é composto por terra, governo e povo. O governo só tem tratado de si próprio. À terra e ao povo não têm ligado muito", acrescentou.
Mário Viegas Carrascalão cita a sua experiência na governação do território, recordando que deixou "mais de mil quilómetros de estradas asfaltadas" pelo território.
"Quando cá cheguei, havia 13 quilómetros alcatroados, daqui até Tíbar", na periferia oeste da capital. "Era preciso pontes e eu construí 52, daquelas verdadeiras, que ainda hoje se aguentam em pé", acrescentou o líder do PSD.
Mário Carrascalão, candidato da coligação PSD/ASDT (Associação Social Democrática Timorense) às eleições legislativas de 30 de Junho, foi governador de Timor-Leste entre 18 de Setembro de 1982 e 18 de Setembro de 1992.
Na entrevista concedida à Lusa a meio da campanha da coligação, Mário Viegas Carrascalão sublinhou que se apresenta ao eleitorado como o candidato a primeiro-ministro, estando definido entre os dois partidos que o presidente da ASDT, Francisco Xavier do Amaral, é o candidato a presidente do Parlamento.
Algumas prioridades de 1982, explicou o ex-governador, estão nas preocupações actuais: "Educação, agricultura, infra-estruturas, administração e saúde".
"Quando eu fui para a escola, havia uma única escola oficial do Governo e éramos 25 alunos", recordou Carrascalão, referindo que a recuperação da destruição da invasão japonesa de Timor, iniciada no final dos anos 50, foi depois interrompida pelo início das guerras coloniais em África e, após 1975, pelo conflito com a Indonésia.
"Em 1982, a educação era fundamental para criar quadros, porque a maior parte estavam refugiados na Austrália ou em Portugal ou tinham ido para o mato e esses acabaram por ser liquidados pelos indonésios".
"A administração estava entregue aos indonésios, com um timorense à cabeça. Mas eu acabei com essa brincadeira, aos poucos. Não acabei de uma vez porque tive que treinar muitos quadros", explicou o ex-governador.
"Não havia praticamente um único administrador de subdistrito timorense com capacidade no início. Eram indonésios. Quando saí, praticamente em todos os subdistritos havia um indivíduo formado em administração", acrescentou.
O presidente do PSD manifestou "surpresa por se anunciar a educação obrigatória em 2015, quando isso foi introduzido em Timor em 1983, aproveitando o surgimento da educação obrigatória na Indonésia".
"Era de má qualidade, sem dúvida nenhuma, e com maus professores, mas toda a gente começou" a frequentar a escola, sublinhou.
Para os níveis superiores, recordou Mário Carrascalão, foi criado um programa de bolsas para timorenses no valor de 800 milhões de rúpias indonésias, "uma verba muito razoável".
Nos anos 1980, Timor-Leste Jacarta concedia um orçamento anual de cerca de 50 milhões de dólares, "o que era substancial, mas só que 40 ou 50 por cento desaparecia" na corrupção.
"Timor não tinha nada. Em 1982, não havia uma única casa a ser construída em Díli. As pessoas não tinham confiança, ninguém sabia qual era o dia de amanhã", recordou.
"Eu dizia que o dinheiro da Indonésia vinha fazer visita turística a Timor, através das empresas dos militares, antes de regressar à Indonésia".
Mário Viegas Carrascalão afirmou que hoje, como há 30 anos, "combater a corrupção não é difícil", considerando importante "dar voz ao povo".
Havia no Palácio do Governo, em Díli, uma caixa de sugestões e denúncias de corrupção, como a que foi introduzida na Indonésia pelo vice-Presidente Sudarmono.
Apenas Mário Viegas Carrascalão tinha a chave e era ele que abria diariamente as cartas deixadas anonimamente, para não haver represálias sobre os queixosos.
"Só depois de eu ler é que as cartas iam para os serviços. E 70 por cento dos casos tinham fundamento", destacou.
O actual presidente do PSD recebeu duas condecorações nesse período, uma pela dinamização das cooperativas no território e a outra, a "Bintang Mahaputera Utama", "pela forma como governou Timor durante esses dez anos".
"Havia dois grupos de timorenses que eu administrava, entre os que não estavam em armas na resistência: os que estavam aliados de todas as formas às forças ocupantes, poucos; e os que podiam não concordar mas estavam aqui", resumiu Mário Viegas Carrascalão.
"Nunca ficou escrito que eu seria governador só dos pró-indonésios. Cumpri integralmente as leis indonésias, mas quando a lei sai é para beneficiar toda a gente", concluiu o presidente do PSD. PRM - Lusa/Fim
terça-feira, junho 12, 2007
Timor-Leste/Eleições: "Fiz mais sob a ocupação do que o Governo independente" - Mário Carrascalão
Por Malai Azul 2 à(s) 03:22
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
3 comentários:
Já leram o livro do Eng. Mário Carrascalão, o "Timor antes do futuro"? Então leiam porque vale a pena. Parabéns ao autor!
A. Lança
Desculpem o desabafo mas não me consigo conter:
Sr Mário Carrascalão VÁ BUGIAR! Se está com saudades vá pra Jakarta.
Laumalai
o ne coitado liu laumalai!! viva mario carrascalao!!
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