Quarta-feira, Julho 09, 2003
Memórias da Resistência
Estamos no ano 1997 d. C.
Todo o Timor-Leste está ocupado pelos indonésios. Todo?... Não! Uma pequena aldeia de irredutíveis timorenses resiste ainda e sempre ao invasor...
É de noite. Um galo canta, um cão ladra, uma galinha é atropelada, um porco passeia e uma mulher foge do marido.
Zé Ximenes monta guarda à aldeia. De súbito, um barulho suspeito.
Zé Ximenes: Quem vem lá?
Tó Ximenes: Oi, irmão, di'ak ka lae.
Zé Ximenes: Di'ak, o tanas! Qual é a senha?
Tó Ximenes: "Pescoço cortado, bufo calado".
Zé Ximenes: Ao que vens?
Tó Ximenes: Quero alistar-me na Frente de Libertação Popular Timorense, que luta contra a opressão imperialista, o elitismo burguês, a injustiça humana e a violência doméstica.
Zé Ximenes: Informaram-te mal. Nós aqui somos da Frente de Libertação do Povo Timorense, que luta contra a opressão imperialista, o elitismo burguês e a injustiça humana.
Tó Ximenes: Não posso alistar-me?
Zé Ximenes: Sim.
Tó Ximenes: Sim?... Posso alistar-me?
Zé Ximenes: Não.
Tó Ximenes: Não posso alistar-me na Frente de Libertação Popular Timorense?
Zé Ximenes: Sim.
Tó Ximenes: Sim?...
Zé Ximenes: Não.
Tó Ximenes: Não?... Porquê?
Zé Ximenes: Porque, como te disse, somos da Frente de Libertação do Povo Timorense.
Tó Ximenes: Mas a Frente de Libertação do Povo Timorense não defende também a filosofia de unidade dos românticos e o historicismo de Hegel, como formas de desresponsabilização do indivíduo sobre si mesmo?
Zé Ximenes: O historicismo de Hegel não é uma verdade absoluta. Os guerrilheiros da Frente de Libertação Popular Timorense é que defendem isso. Mas nós, os guerrilheiros da Frente de Libertação do Povo Timorense, ascendemos ao plano estético de Kierkegaard e, ainda que vivamos completamente no mundo dos sentidos, estamos expostos aos sentimentos de angústia e de vazio.
Tó Ximenes: Mas Berkeley afirmou que "a minha alma pode ser causa dos meus pensamentos, mas só uma outra vontade ou espírito pode ser causa das ideias que constituem o nosso mundo material".
Zé Ximenes: Sim, é verdade. Mas não te esqueças que Berkeley é estudado, nas montanhas, pelos da Frente de Libertação Popular Timorense, o que condiciona o livre espírito da afirmação. Por isso é que nós, os da Frente de Libertação do Povo Timorense, já superámos, aos fins de tarde, a incapacidade discursiva e estética da "Praça da Alegria" e optámos pelo existencialismo de Jean-Paul Sartre, cuja palavra-chave, como para Kierkegaard, é "existência", um termo que não significa o mesmo que "existir".
Portanto é que Sartre diz que o ser humano se sente estranho num mundo privado de sentido. Mas claro que, quando descreve a alienação do homem, aceita ideias centrais de Hegel e de Marx.
Mas, como já te disse, Hegel é com os da Frente de Libertação Popular Timorense e nós somos da Frente de Libertação do Povo Timorense... Nada de confusões!...
Da noite estrelada sobrevém um longo silêncio...
Um galo canta, um cão ladra, uma galinha é atropelada, um porco passeia e uma mulher foge do marido...
Resistentemente vosso,Tonho do Ramelau
quarta-feira, maio 17, 2006
Remember Kona Ba Liu Liu...
Por Malai Azul 2 à(s) 03:06
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
2 comentários:
excelente sentido de humor.a experiência existencialista em Timor esta a dar frutos de boa qualidade
Grande blog... precisava de ressuscitar!
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